“O Olhar do Outro”, de Maria Filomena Mónica (2020)

Sempre achei curiosa a leitura de comentários de visitantes estrangeiros ao nosso país, depois do terramoto de 1755. Li-os, esporadicamente, em artigos de jornal.

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Maria Filomena Mónica fez-nos o favor de ler dezenas de publicações em que diversos autores estrangeiros comentam visitas ao nosso país, desde o século 18 ao século 20.

A lista de autores é extensa, começando com Giuseppe Baretti, logo a seguir ao terramoto, e passando por muitos outros, uns mais conhecidos que outros; destaco, apenas, William Beckford, Lord Byron, Joseph Forrester, Hans Christian Andersen, Mark Twain, Miguel Unamuno, Saint-Exupéry, Simone de Beauvoir, Sartre, Gabriel Garcia Marquez e Enzensberger.

Os diversos turistas que por cá passaram até ao final do século 19 e princípio do século 20 foram unânimes em considerar os portugueses feios, porcos e maus, as ruas de Lisboa sujas e cheias de cães e mendigos, os nobres uns pedantes iletrados e o povo, uma cambada de analfabetos, sujos e maltrapilhos.

Claro que uns mais e outros menos, acharam que o país era bonito, o povo é que nem por isso.

As coisas melhoraram um pouco, í  medida que o século 20 foi avançando e, depois da revolução de abril, as visitas foram sobretudo políticas. Destas, destaco os escritos de Gabriel Garcia Marquez, que, sobre a euforia post-25 de abril, escreveu:

“…Toda a gente fala e ninguém dorme. A maioria das pessoas trabalha sem horários e sem pausas, apesar de os portugueses terem os salários mais baixo da Europa. Marcam-se reuniões para altas horas da noite, os escritórios ficam de luzes acesas até de madrugada… Se alguma coisa vai dar cabo desta revolução é a conta da luz”.

Nem todos os visitantes do século 19 disseram mal dos trabalhadores portugueses. Forrester, que esteve por cá em 1831, escreveu:

“…Têm uma aparência desleixada, mas isso deve-se a serem pobres, andarem mal calçados e estarem mal alimentados. Mas são alegres, felizes, espertos, generosos, hospitaleiros, honestos, trabalhadores, sóbrios, sofredores, perseverantes e destituídos de ambições.”

Tantos adjectivos, deixam-nos confusos!

Oswald Crawfurd visitou Portugal em 1866, mas esta sua frase podia ter sido escrita actualmente:

“…Se for suficientemente rico, um nobre português vive em Lisboa ou no Porto e se tiver uma casa no campo, apenas a visita um ou dois meses no outono; e, mesmo quando é o caso, muitas vezes prefere a miséria de um casebre na praia, entre uma multidão, í  vida no interior do país.”

A primeira vez que Simone de Beauvoir veio a Portugal foi em 1945, em plena ditadura salazarista.

Eis o que escreveu:

“…Desde que uma miúda seja crescida, como aquela que vi a remexer nos caixotes de lixo do Porto ““ isto é, que tenha aí uns 14 ou 12 anos ““ procurará ganhar dinheiro seja de que maneira for. Das 194 prostitutas que haviam sido tratadas num centro de saúde, 43% eram menores; o governo dá uma carteira profissional í s mulheres desde que tenham 14 anos.”

E mais í  frente:

“…O povo português sempre foi pobre. Mas desde 1939 que o custo de vida aumentou 140% e, nalguns produtos, até mais, uma vez que um fato completo que, antes da guerra, custava 350 escudos, agora custa entre 1200 a 1500… Uma lei proíbe que as pessoas andem descalças no interior da cidade de Lisboa, bem como nos arredores, mas esta gente tira os chinelos porque não os quer gastar… pois não tinha possibilidade de comprar outros (sapatos)”.

O último visitante, Enzensberger, conclui:

“…Se as estatísticas fossem verdadeiras, a maior parte dos portugueses estavam mortos.”

Livro muito curioso e que fazia muita falta.

After Life, de Ricky Gervais (2019-2020)

Gervais encontrou, nesta série, o tom certo para “…brincar com coisas sérias”.

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Uma imagem com animal, exterior, sentado, mamífero

Descrição gerada automaticamenteAfter Life é uma série de apenas 12 episódios, divididos em duas temporadas, e que nos conta a história de um redactor de um jornal de província, Tony, que perdeu a mulher há pouco tempo, vítima de cancro. Tony está deprimido, suicida e, uma vez que acha que perdeu tudo na vida, diz e faz o que lhe apetece, sem remorsos, acabando por espalhar azedume í  sua volta – mas com muita graça.

Ricky Gervais é um Tony convincente, sempre de rosto fechado, só sorrindo quando, de algum modo, goza com os seus estranhos colegas do jornal.

A série decorre numa vila de província, com as suas figuras estranhas, o carteiro, a prostituta, a cuidadora do Lar, o psiquiatra (talvez a personagem menos conseguida, porque demasiado caricaturada).

Gostámos muito.

“Ozark”, de Bill Dubuque (2017-2020)

Terminámos hoje o visionamento de Ozark, uma série da Netflix.

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São três temporadas, cada uma com 10 episódios de uma hora e picos. Uma quarta e última temporada está quase pronta.

Ozark conta a história de um conselheiro financeiro de Chicago (Marty Byrde), que se muda com a mulher e os dois filhos para Ozark, depois do seu sócio ser assassinado pelo cartel mexicano dirigido por Navarro.

Byrde lava dinheiro para Navarro e acaba por envolver a mulher, Wendy, e os dois filhos, Charlotte e Jonah.

Marty Byrde é interpretado por um excelente Jason Bateman, que raramente se ri ao longo dos 30 episódios, consegue quase sempre manter a calma perante todas as adversidades, mesmo quando está quase a ser morto por vários tipos de diversas proveniências, quase sempre entalado entre o FBI, o cartel e vários mafiosos locais.

Wendy, interpretada por Laura Linney, a pouco e pouco vai entrando no negócio e, í s tantas, parece querer rivalizar com o marido em manobras e artimanhas.

Destaque ainda para Ruth (Jluia Garner), uma miúda local que começa a trabalhar para Byrde e que se envolve cada vez mais nos negócios e nas suas desgraças e Marlene (Lisa Emery), uma sessentona local, dona de um vasto terreno onde cultiva papoilas para o fabrico de heroína e que se torna sócia de Byrde, mas sempre com a ameaça de o trair.

Toda a série envolve momentos de grande tensão e violência latente, a fotografia é óptima, sempre sombria e, logo a partir do terceiro episódio, estamos com a impressão de que Marty Byrde vai ser assassinado por alguém.

Não vai ““ pelo menos, até ao fim da terceira temporada…

O estranho caso dos dois homens chamados Gil

Fenómenos muito estranhos se passam neste país e, muitas vezes, não nos damos conta deles.

O Público de hoje relata um desses fenómenos estranhos.

A estranheza começa logo pelo local onde o fenómeno ocorreu: as freguesias de Colmeias e Memória, no distrito de Leiria.

Um dos membros da Junta que une essas duas freguesias, demitiu-se em dezembro do ano passado e era preciso eleger um seu substituto. Com a entrada em cena do Covid, essa eleição acabou por só se realizar em maio. Foi então eleito para o lugar do demissionário, um outro elemento do PS, de nome Gil Costa, mecânico de profissão.

Um mês depois, já com o desconfinamento em vigor, a Junta de Freguesia de Colmeias e Memórias reúne-se novamente e é então que a garbosa Oposição repara que o Gil Costa recém-eleito não fazia parte da lista do PS; quem fazia parte da lista era a sua esposa.

De facto, na lista do PS constava um Gil Costa, mecânico, mas era outro.

Em resumo: nas freguesias de Colmeias e Memória, existem dois homens chamados Gil Costa e ambos são mecânicos de automóveis e ambos são do PS, só que um fazia parte da lista e outro, não, embora a sua mulher fizesse.

Quais são as hipóteses de isto acontecer em qualquer outro país?…

Atestados

A propósito de um twitter que vi por aí, de uma médica, sobre os atestados para carta de condução, lembrei-me que fiz uma lista dos atestados que me pediram ao longo dos anos.

Como médico de família, durante 33 anos, numa zona com vários bairros sociais, alguns desses atestados eram “especiais”.

Aqui fica a lista (não exaustiva), sem qualquer comentário:

– atestado de doença

– atestado para tirar e/ou renovar carta de condução

– atestado de uso e porte de arma

– atestado de robustez física para exercer determinada profissão ou para frequentar um curso

– atestado específico para certas faculdades (ausência de problemas de visão, audição, etc)

– atestado em como pode frequentar a creche, infantário e/ou ATL

– atestado para praticar natação ou qualquer outro desporto

– atestado para uso de arma de caça

– atestado para embarcação de recreio e patrão de mar

– atestado em como já não pode assinar o nome para que outra pessoa possa levantar a reforma

– atestado para os professores deixarem a filha ir í  casa de banho mais vezes

– atestado em como precisa de fazer acupunctura por sofrer de deficiência congénita

– atestado para não fazer ginástica quando está menstruada

– atestado em como a mãe está doente para que o filho, que está preso, seja transferido para uma prisão mais perto de casa

– atestado de doença crónica para que o filho receba bolsa de estudo

– atestado de necessidade de acompanhamento psicológico para que a ADSE comparticipe a psicoterapia

– atestado para que a cantina da empresa forneça dieta

– atestado para mudar do 4º andar para o 1º porque sofre de asma

– atestado de doença crónica para que a assistente social arranje creche para a filha

– atestado para o filho não ficar muito atrás na sala de aula porque vê mal

– atestado para não fazer natação e/ou ginásio durante determinado mês, para não perder a inscrição

– atestado para reaver o dinheiro de tratamento estético post-parto

– atestado para reaver o dinheiro já pago para uma viagem que não se realizou por motivo de doença

– atestado para a filha deficiente poder levar um objecto metálico numa viagem de avião

– atestado de deficiente mobilidade para que lhe instalem um poliban

– atestado de doença crónica para a filha ter direito a bolsa de estudo

– atestado de doença crónica para ter prioridade no atendimento em serviços públicos

– atestado para poder dançar

– atestado para ser reembolsada do preço do bilhete de um concerto a que não assistiu porque estava com dores na sacro-ilíaca

– atestado para não usar luvas com pó de talco

– atestado para não dar aulas no próximo ano lectivo

– atestado para a criança não ir para o infantário porque a mãe fracturou um pé e não pode conduzir

– atestado para poder beber água nas aulas de educação física

“Elucidário de Conhecimentos Quase Inúteis”, de Roby Amorim (1985)

Roby Amorim (1927-2013) foi jornalista, tendo trabalhado em diversos órgãos de comunicação, nomeadamente O Século, Diário de Lisboa, agência Lusa, entre outros.

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Conheci-o em 1985, no ano em que ele publicou este pequeno livrinho.

Gostei tanto dele que o emprestei a alguém e nunca mais o vi!

No mês passado, lembrei-me dele, a propósito de uma recolha de frases feitas que estou a fazer e decidi procurá-lo na imensidão da net. Acabei por encontrá-lo no Custo Justo, num alfarrabista de Braga e, por 12 euros, veio parar í  minha caixa do correio em três tempos!

Reli-o com gosto acrescido nestes últimos dias.

Roby Amorim percorre diversas palavras e suas origens, bem como frases feitas que usamos no dia-a-dia, explicando como nasceram.

Clássica é a explicação da frase “…ir para o maneta”, relacionada com o oficial francês Junot, que era maneta. Ser enviado í  presença de Junot, o maneta, era morte certa…

Mas Amorim conta-nos outras histórias deliciosas.

Registo apenas estas duas.

“…Um sujeito bem vestido, com o seu quê de preciosismo é um janota, embora o termo comece a cair em desuso. É quase, sem dúvida, um galicismo…”

E Amorim pergunta-se se virá de Janot ou Jeanot, diminutivo de Jean. Talvez venha de “…«Jeanot et Colin», um conto de Voltaire? Este voltaireano Jeanot era um pobre pretensioso que se fazia passar por marquês de La Jeanottií¨re”.

Mais í  frente, Roby Amorim conta-nos que (António Feliciano) Castilho “…não gostava dos janotas nem da palavra”, e, por isso, escreveu este delicioso naco:

“…Pelo que toca a janotas, confesso-vos com a minha sinceridade de roupeta encanecido, que ainda não caí bem no que tal nome signifique. O meu amigo (…) disse que janota designava hoje (1850) o que em diversos tempos se chamava: peralvilho, taful, petimetre, casquilho, pimpão, peralta, quebra-esquinas, , namorador, coraçãozinho de alcorce, cavalheiro servente, chichisbéu, maricas, espanadinho, alfanado, cãozinho de regaço, almiscarado, menino, frança, francelho, faceira, loireiro, loiraça, amoladinho, pintalegrete, maricas macha, neutrinho, perna-tesa, trasgo, bule-bule, boneco enfeitado”.

A outra palavra que decidi destacar aqui ““ e podiam ser muitas outras ““ é “…faria“.

Escreveu Amorim:

“…Far significa por cereal. E daí, o fardo que carregamos í s costas (inicialmente uma saca de farinha), o farnel que levamos para o trabalho ou para o passeio, a farinha (feita í  base de cereais).

Mas também a farda, porque os soldados eram pagos em farinha ao fim de semana.”

Este precioso livrinho está esgotado (teve duas edições em 1985, das edições Salamandra), e é pena… felizmente, há alfarrabistas!

PS ““ Obrigado, Alfredo Oliveira, de Braga!

“Coração: Uma História”, de Sandeep Jauhar (2018)

Sandeep Jauhar é um cardiologista especializado em insuficiência cardíaca, que trabalha no Bellevue Hospital, em Nova Iorque, e escreve para o New York Times, tendo já publicado alguns livros de divulgação.

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Partindo do seu caso pessoal (Jauhar tem doença coronária e ambos os aví´s sofreram morte súbita), o médico fala-nos dos progressos na área da cardiologia, de um modo simples e acessível, mas numa linguagem que tanto interessa leigos, como médicos. Por vezes, a escrita deste cardiologista fez-me lembrar a de Bill Bryson, esse outro grande divulgador.

Confesso que aprendi muito sobre a história da Cardiologia e dos seus progressos: as angioplastias, as válvulas artificiais, os pace makers, os desfibrilhadores, os corações mecânicos e todos os incríveis avanços que, nas últimas décadas, diminuíram, de foram drástica as mortes cardiovasculares.

Jauhar pergunta-se se não teremos chegado ao limite máximo da ciência e da tecnologia; provavelmente, não conseguiremos melhorar mais as técnicas ““ pelo contrário, muito podemos ainda fazer por nós próprios, para diminuir os riscos de doença cardiovascular; diminuir o stress, deixar de fumar, fazer mais exercício físico, comer melhor.

Boa leitura, que aconselho.

(Edição Elsinore, tradução de Rita Canas Mendes)

“Telex de Cuba”, de Rachel Kushner (2008)

O ano passado, li O Quarto de Marte (2013), outro livro desta escritora norte-americana, que promete.

Este Telex de Cuba é um livro sobre os últimos tempos dos americanos e das suas empresas, em Cuba, antes de Fidel Castro e dos seus barbudos tomarem conta da ilha.

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Narrado sempre por americanos que lá viveram e que administraram as minas de níquel e as plantações de cana-de-açúcar, Telex de Cuba dá-nos uma ideia de como funcionava aquela sociedade estratificada, em que os americanos estavam no topo da pirâmide e, depois, por aí abaixo, vinham os cubanos, os haitianos e os da República Dominicana.

Nas montanhas, Castro e sus muchachos organizavam a revolta, mas, cá em baixo, os americanos continuavam com as suas festas onde todos se embebedavam e com os seus criados negros e a sua vida fútil.

Como reconstituição histórica, trata-se de um livro muito interessante.

Epidemiologista bom, epidemiologista mau

A pandemia do novo coronavírus veio revelar algo que desconhecíamos: Portugal tem dezenas de epidemiologistas, tantos que muitos poderiam ser exportados para países mais necessitados, tipo Bangla Desh, Suazilândia ou mesmo Afeganistão.

Quase todos os serviços noticiosos dos vários canais televisivos contam com um epidemiologista dando palpites sobre a evolução da pandemia em Portugal.

Na verdade, nem todos são, de facto, epidemiologistas de formação. Há os que costumam comentar incêndios, outros são mais conhecidos por darem opiniões económicas, e há ainda os que são “…tudistas”, isto é, especialistas em tudo.

No entanto, mesmo não sabendo sequer soletrar a palavra “…epi-de-mio-lo-gia”, todos têm uma opinião sobre a Covid e o modo como as autoridades estão a enfrentar a pandemia.

Neste capítulo, os epidemiologistas dividem-se em bons e maus, dependendo do ponto de vista do órgão de comunicação social.

Se o referido órgão quiser informar a população, os epidemiologistas bons são os que estão a trabalhar, na DGS ou no Instituto Ricardo Jorge, por exemplo; e os epidemiologistas maus são os que estão em casa, a ver os outros trabalhar. Para os primeiros, faz-se o que se pode para dominar a pandemia; para os segundos, nunca se está a fazer o suficiente.

Se, pelo contrário, o órgão de comunicação quiser audiência, puxando pela controvérsia, epidemiologista bom é o que está a ver, epidemiologista mau é o que está a trabalhar. Para o primeiro, tudo o que as autoridades estão a fazer está errado ou já devia ter sido feito há mais tempo, enquanto que, para o segundo, está tudo bem porque está feito com as autoridades.

E depois, ainda há o epidemiologista nem bom nem mau, como é o caso do infecciologista que a RTP convidou para comentar o Covid. Trata-se de um senhor simpático, com ar de avozinho, e que diz coisas óbvias e contraditórias. Já o ouvi dizer, há tempos, que quanto mais se testa, mais casos positivos vamos encontrar, e ontem ouvi-o dizer que, não é bem assim, porque se os testes dão positivo, é por esses casos existem. La Palice não diria melhor.

Depois, temos ainda o bastonário da Ordem dos Médicos e o dirigente do Sindicato Independente dos Médicos. O primeiro é oftalmologista e o segundo é anestesista, no entanto, ei-los a explanar opiniões sobre a epidemia como verdadeiros epidemiologistas.

Ontem, por exemplo, ouvi o do SIM exigir, pela enésima vez, a realização de testes a todos os médicos. Quando? Diariamente? De dois em dois dias? É que um teste negativo num dia não quer dizer que o médico não vá, nessa noite, para uma rave em Carcavelos e apanhe o Covid e o vá transmitir a toda a enfermaria nos dias seguintes.

Por outro lado, o bastonário que, desde o princípio da pandemia ainda não deu, que se saiba, um único contributo para a solução do problema, está sempre pronto a deitar gasolina na fogueira; ontem, sugeriu que talvez seja necessário fechar o Algarve.

Com epidemiologistas destes, estamos mas é fo-di-dos!

Centeno: foi grande, agora é pequeno?

Conhecem aquela anedota idiota (como todas as anedotas), do homem que, após uma performance sexual atlética, não consegue dar a terceira e que, por esse fracasso, é apelidado de mariquinhas?

É o que se passa com o ex-ministro das Finanças Mário Centeno.

O homem pegou no país, com um défice assinalável, deu a volta í s finanças, conseguiu o primeiro superavit da democracia e agora, cinco anos depois, provavelmente cansado e farto disto tudo, decide sair ““ e logo é apelidado de fraquinho, cobarde, mariquinhas.

Enormes especialistas que sempre o criticaram por ser o rei das cativações, acusam-no, agora, de se ir embora quando mais era necessário.

Não se percebe: afinal, o homem era muito bom, mesmo quando cativava milhões?

Muitos estão zangados com Centeno porque, dizem, ele o que quer, é ir para o Banco de Portugal. E acham mal porquê? Porque o homem não é competente para chefiar aquilo? Porque há mais dois ou três candidatos tão bons, ou melhores, do que ele?

Parece que nunca houve um ministro das Finanças tão popular como Centeno. Se alguém perguntar ao Manuel da mercearia ou í  Dona Isabel, do cabeleireiro, como se chamava o ministro das Finanças do Passos Coelho, aposto que nenhum deles sabe responder ““ mas conhecem, de certeza, Mário Centeno.

Ora, os inimigos do governo do Costa, deviam estar contentes com a saída deste ministro tão popular, mas não, parecem estar todos muito zangados, parece que gostariam todos que Centeno continuasse no seu lugar.

Longe vão os tempos em que o eminente Passos Coelho se riu, em plena Assembleia da República, da prestação de Centeno, na altura, um iniciado na política, demonstrando um evidente nervosismo.

Passados pouco mais de quatro anos, todos elogiam a actuação de Centeno, excepto dois ou três especialistas, como um tal Gomes Ferreira, especialista, também, em incêndios e em muitas outras matérias.

Estes são os tais que nunca são responsabilizados por coisa nenhuma, uma vez que por nunca coisa nenhuma são responsáveis.

Centeno foi grande e agora é pequeno?

Não – Centeno limitou-se a fazer o que nunca foi feito.