“Telex de Cuba”, de Rachel Kushner (2008)

O ano passado, li O Quarto de Marte (2013), outro livro desta escritora norte-americana, que promete.

Este Telex de Cuba é um livro sobre os últimos tempos dos americanos e das suas empresas, em Cuba, antes de Fidel Castro e dos seus barbudos tomarem conta da ilha.

Narrado sempre por americanos que lá viveram e que administraram as minas de níquel e as plantações de cana-de-açúcar, Telex de Cuba dá-nos uma ideia de como funcionava aquela sociedade estratificada, em que os americanos estavam no topo da pirâmide e, depois, por aí abaixo, vinham os cubanos, os haitianos e os da República Dominicana.

Nas montanhas, Castro e sus muchachos organizavam a revolta, mas, cá em baixo, os americanos continuavam com as suas festas onde todos se embebedavam e com os seus criados negros e a sua vida fútil.

Como reconstituição histórica, trata-se de um livro muito interessante.

Acontecimento do ano: a porra do Soriano

ATENÇÃO: Este texto não deve ser lido por jovens efebos, virgens indefesas e pupilos do exército.

Não, o acontecimento do ano não foi a prisão do Sócrates, o estoiro do BES, a condenação de Duarte Lima ou a detenção de Paulo Portas, perdão, Paulo Portas não é para aqui chamado porque, na verdade, ele nem sabe bem o que é um submarino…

E também não, o homem do ano não é Cristiano Ronaldo, nem o Papa Francisco, nem Carlos do Carmo, muito menos o vírus ébola.

O acontecimento do ano e o homem do ano são, simultaneamente, o espião cubano Gerardo Hernandez e o facto de ele ter engravidado a sua mulher, Adriana, que vive em Havana, apesar de estar preso e condenado a prisão perpétua, nos Estados Unidos!

Podem verificar a notícia aqui: http://odia.ig.com.br/noticia/mundoeciencia/2014-12-23/gravidez-de-cubana-foi-uma-das-condicoes-para-acordo-historico.html

poesiaO facto de Gerardo, nos EUA, ter conseguido engravidar a mulher, em Havana, trouxe-me à memória um poema de Guerra Junqueiro (1850-1923), que faz parte da Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, selecção de Natália Correia; este notável livro saiu, pela primeira vez, em 1965, mas foi logo apreendido pela PIDE – como era possível que escritores tão importantes como Guerra Junqueiro, Almeida Garrett, até Camões, tivessem escrito estas ordinarices!

Consegui, em 1973, um fac smile desse livro e passei algumas horas a copiá-lo, transcrevendo na minha velha e saudosa Olivetti…

Finalmente, em 1999, a editora Antígona-Frenesi teve a boa ideia de reeditar o livro.

Resumindo: a história do espião cubano fez-me lembrar o poemas A porra do Soriano, de Guerra Junqueiro, que é assim:

Eu canto do Soriano o singular mangalho!
Empresa colossal! Ciclópico trabalho!
       Para o cantar inteiro e o cantar bem
precisava de viver como Matusálem
        Dez séculos!

                               Enfim, nesta pobreza métrica
cantemos essa porra, porra quilométrica,
donde pendem os colhões de que dão ideia vaga
as nádegas brutais do arcebispo de Braga.

Sim, cantemos a porra, o caralho iracundo
que, antes de nervo cru, já foi eixo do Mundo!
          Mastro do Leviathan! Eminência revel!
          Estando murcho foi a torre de Babel!
          Caralho singular! É contemplá-lo!
                                                                         É vê-lo
teso! Atravessaria o quê?
                                             O Sete-estrelo?
Em Tebas, em Paris, em Lagos, em Gomorra
juro que ninguém viu tão formidável porra!

          É uma porra, arquiporra!
                                                         É um caralhão atroz
que se lhe podem dar trinta ou quarenta nós
e, ainda assim, fica o caralho preciso
para foder, da Terra, Eva no Paraíso!

Assim deve ser o do Gerardo que, dos States, engravidou Adriana, em Havana.

Abençoado!