“Elucidário de Conhecimentos Quase Inúteis”, de Roby Amorim (1985)

Roby Amorim (1927-2013) foi jornalista, tendo trabalhado em diversos órgãos de comunicação, nomeadamente O Século, Diário de Lisboa, agência Lusa, entre outros.

Conheci-o em 1985, no ano em que ele publicou este pequeno livrinho.

Gostei tanto dele que o emprestei a alguém e nunca mais o vi!

No mês passado, lembrei-me dele, a propósito de uma recolha de frases feitas que estou a fazer e decidi procurá-lo na imensidão da net. Acabei por encontrá-lo no Custo Justo, num alfarrabista de Braga e, por 12 euros, veio parar à minha caixa do correio em três tempos!

Reli-o com gosto acrescido nestes últimos dias.

Roby Amorim percorre diversas palavras e suas origens, bem como frases feitas que usamos no dia-a-dia, explicando como nasceram.

Clássica é a explicação da frase “ir para o maneta”, relacionada com o oficial francês Junot, que era maneta. Ser enviado à presença de Junot, o maneta, era morte certa…

Mas Amorim conta-nos outras histórias deliciosas.

Registo apenas estas duas.

“Um sujeito bem vestido, com o seu quê de preciosismo é um janota, embora o termo comece a cair em desuso. É quase, sem dúvida, um galicismo…”

E Amorim pergunta-se se virá de Janot ou Jeanot, diminutivo de Jean. Talvez venha de “«Jeanot et Colin», um conto de Voltaire? Este voltaireano Jeanot era um pobre pretensioso que se fazia passar por marquês de La Jeanottière”.

Mais à frente, Roby Amorim conta-nos que (António Feliciano) Castilho “não gostava dos janotas nem da palavra”, e, por isso, escreveu este delicioso naco:

“Pelo que toca a janotas, confesso-vos com a minha sinceridade de roupeta encanecido, que ainda não caí bem no que tal nome signifique. O meu amigo (…) disse que janota designava hoje (1850) o que em diversos tempos se chamava: peralvilho, taful, petimetre, casquilho, pimpão, peralta, quebra-esquinas, , namorador, coraçãozinho de alcorce, cavalheiro servente, chichisbéu, maricas, espanadinho, alfanado, cãozinho de regaço, almiscarado, menino, frança, francelho, faceira, loireiro, loiraça, amoladinho, pintalegrete, maricas macha, neutrinho, perna-tesa, trasgo, bule-bule, boneco enfeitado”.

A outra palavra que decidi destacar aqui – e podiam ser muitas outras – é “faria”.

Escreveu Amorim:

Far significa por cereal. E daí, o fardo que carregamos às costas (inicialmente uma saca de farinha), o farnel que levamos para o trabalho ou para o passeio, a farinha (feita à base de cereais).

Mas também a farda, porque os soldados eram pagos em farinha ao fim de semana.”

Este precioso livrinho está esgotado (teve duas edições em 1985, das edições Salamandra), e é pena… felizmente, há alfarrabistas!

PS – Obrigado, Alfredo Oliveira, de Braga!

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