Sócrates ajuda os fumadores

Vi hoje no jornal alguns aumentos previstos para 2007: os transportes aumentam 2,1%, a habitação aumenta 6%, a água, a luz e o gás aumentam, em média 5,9%, o tabaco aumenta 9,1% e o pão será 20% mais caro!

Perante isto, já decidi: ainda não é desta que vou deixar de fumar, mas está visto que vou deixar de comer pão.

Obrigado, Sócrates!

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Putin e o polónio

Alguém acredita que Putin tem alguma coisa a ver com o envenenamento de espiões com polónio?

Não se vê logo que Vladimir não tem cara de envenenar ninguém!

Putin – o envenenador?

Não me parece.

E agora, de repente, a Grã-Bretanha está cheia de vestígios de polónio: ele é no restaurante onde o espião jantou, dias antes de morrer, ele é no hotel onde ele esteve instalado, ele é em aviões da British Airways, em casas de banho, em corredores e salas e escritórios.

í€ noite, todo a Grã-Bretanha brilha, com aquele brilho característico que só o polónio dá í s coisas.

Tem vantagens. Para a aviação, por exemplo. Aos pilotos, basta orientarem-se pelo brilho.

Não há dúvida que a paranóia das grandes potências ocidentais tem uma queda para o pó: há uns anos, andavam os States aflitos com o antrax; agora, é a Inglaterra, í  nora com o polónio.

Ao menos os países do Terceiro Mundo são muito mais prosaicos. Veja-se a Bolívia, por exemplo – quais pós radioactivos, qual quê! Cocaína, pois claro!

Quanto a nós, pobres portugueses, já nem pó de talco.

Temos o pó da casa e, mesmo assim, milhares de portugueses são alérgicos…

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Filmes nas férias

Aproveitar as férias para ver cinema. Foram 5 filmes de rajada!

“Casino Royale”, de Martin Campbell

casinoroyale.jpgAí está o novo James Bond, uma excelente escolha. Daniel Craig é elegante, astucioso, frio, sedutor e mau quanto baste.

Os filmes do 007 pertencem a uma categoria diferente de filmes. São maus? São bons? São filmes do 007 – e há uns melhores que os outros.

Dizer que Sean Connery foi o melhor 007, é dizer que não há amor como o primeiro. Claro que, depois, Roger Moore suavizou a imagem do agente secreto, capaz de matar a sangue frio qualquer tipo que se lhe meta í  frente, bem como saltar para cima de qualquer Bond girl que se atravesse no seu caminho.

Pierce Brosnan veio fazer a síntese, do malvado Connery e do elegante Moore. Os outros dois Bonds (Dalton e o outro), nem contam. Foram erros de casting.

Daniel Craig está no ponto. Também não hesita em atirar-se para a cama de qualquer dama, mas, por vezes, fá-lo porque isso pode beneficiar a investigação em curso. De resto, tem um ar um pouco facínora, quando mata os maus, o que me agrada e merece toda a minha simpatia porque aguenta uma cena de tortura que até a mim me doeu, virando-a contra o mau da fita.

Os produtores da série estão de parabéns: encontraram um sucessor í  altura e o filme aguenta-se muito bem e consegue não cheirar a mofo, o que, hoje em dia, com a competição de séries como o 24, não é nada fácil.

“Firewall”, de Richard Loncraine

firewall.jpgE aqui está um bom exemplo de um filme de acção, que podia muito bem ser uma míni-série televisiva. Harrison Ford está velho para estas cenas e não faço ideia como é que ele e o Spielberg vão resolver o problema do 4º Indiana Jones – se é que ainda estão com ideias…

O argumento é estafado: um bando sequestra a família de um especialista informático em segurança bancária (o próprio Ford) e obriga-o a transferir uma data de massa para uma off-shore, caso contrário, a família morrerá.

É tudo mais ou menos previsível, não há grandes volte faces e, sinceramente, custa a crer como é que um informático sessentão consegue aguentar uma cena de pancadaria com um bandido trintão, em plena forma física.

“The Matador”, de Richard Shepard

matador.jpgBrosnan já não é James Bond, mas é difícil descolar o rótulo. Neste filme, Brosnan não é um agente secreto, mas é um assassino profissional, que mata por encomenda, estando especializado em empresários.

Rodado em tom de comédia, o filme mostra-nos como, por mero acaso, a vida deste assassino se cruza com a de um informático mediano e falhado (Greg Kinnear) e como é que, afinal, ele também seria capaz de matar, se isso lhe abrisse as portas a um bom negócio.

Vê-se mas dispensa-se.

“Capote”, de Bennett Miller

capote.jpgUm filme para ganhar o í“scar. Philip Seymour Hoffman conseguiu o de melhor actor, personificando Truman Capote, com os seus trejeitos efeminados e a sua voz de falsete.

Apesar do título, o filme não é, de facto, uma biografia de Capote, mas apenas uma narrativa de como o escritor se envolveu com um par de assassinos e, í  sua conta, escreveu o best-seller, “In Cold Blood”.

A experiência de Capote, na escrita desse livro, mudou a sua vida por completo, de tal modo, que nunca mais publicou nada mas, ao vermos o filme, não conseguimos perceber totalmente a pessoa que ele foi.

Claro que temos uma ou outra cena, em que vemos Capote, em ambiente social, muito vaidoso, dando espectáculo. Também é verdade que vemos o seu companheiro e percebemos que partilham a mesma casa, mesmo nas férias. Ficamos também a saber que Capote foi educado por umas tias. Mas isso é pouco para se perceber a pessoa, pelo que o título do filme deveria ser, por exemplo, “O Assassínio do Kansas”, ou algo que o valha – já que o filme apenas nos mostra o Capote dessa altura (1959-1964).

Palmas para Hoffman, no entanto.

“Breakfast on Pluto”, de Neil Jordan

breakfastonpluto.jpgOra aqui está um filme diferente, luminoso e positivo, apesar da história ser trágica como o caraças.

Na Irlanda profunda, um padre católico faz um filho í  jovem governanta, que o abandona í  porta da casa do padre (Liam Neeson). O padre entrega o bebé aos cuidados de uma megera qualquer. O rapaz (Cillian Murphy) cresce e, desde muito novo que começa a sentir-se dentro do corpo errado. Patrick sentia-se Patrícia, e nela se tornou, apesar das muitas vicissitudes por que teve de passar, num país tão conservador e católico como a Irlanda.

Sempre fantasiando a mãe, que nunca conhecera, Patrícia parte para Londres, em busca dela. Pelo caminho, cruza-se com uma estrela de rock de segunda classe que, apesar da pose, é homossexual, com um mágico que o acolhe e que dá força í  sua fantasia e até com guerrilheiros do IRA.

Acaba por ser apanhado no meio do conflito irlandês, ser preso e torturado pela polícia, mas descobre a mãe e é aceite pelo pai. Sempre positivo, quase delirantemente positivo, e nunca abdicando da sua transexualidade.

Depois de ter visto “Transamerica”, aqui está um filme sobre o mesmo tema. E como são diferentes as “versões” americana e britânica do mesmo tema!

O Rui Lemos morreu

Soube, há alguns dias, que o Rui Lemos, um dos fundadores do semanário “O Coiso”, morreu há uns meses.

Já não via o Rui há alguns anos e a notícia foi um choque.

Fomos companheiros de escrita durante vários anos, no República, antes do 25 de Abril e, depois, no Pé de Cabra, no Coiso e em alguns programas de rádio e TV.

Passámos momentos muito divertidos das nossas vidas, com o Mário-Henrique Leiria, o José António Pinheiro, o Carlos Barradas e o ílvaro Belo Marques, naquele curto e glorioso período, entre 1973 e 1975.

O Rui tinha um humor amargo e desdenhava a mediocridade desta Pátria de poetas e patetas.

Aqui fica um texto do Rui, publicado no semanário Pé de Cabra, em 29 de Novembro de 1974 e que é bem ilustrativo do que ele pensava do Portugal bafiento do “antes do 25”. O pior é que muito do que eles escreveu então, continua bem actual!

Um abraço para o Rui.

Lusolândia – síntese reminisciativa

Génese

Os Lusíadas, nascidos entre 28 de Maio de 1926 e 25 de Abril de 1974, eram lindos. (Eu sou lindo). Quando nasciam, as opiniões eram unânimes: «mas que lindo bebé!». E, se era menino, era igualzinho ao papá. Marialvismo? Aval da seriedade da senhora sua mãe? Inextricáveis meandros da língua portuguesa? Sigamos. Os historiadores que deslindem a questão.

Geografia

Pois então, a escola ensinava-nos que nascéramos num país cheio de tradição, que se chamava Pátria. A Pátria era casada com o Senhor Governo, e tinham uma criança chamada Nação. Viviam então num país chamado Estado, que tinha filiais em vários continentes. Dizia-se, então, que Portugal havia dado novos mundos ao mundo. Era porreiro ser português. Mas – era preciso merecê-lo! E como, como se merecia tão inesperada honra?

História

Para ser português, não bastava ter nascido na Pátria. Que os portugueses tinham uma segunda nacionalidade – eram patriotas (não confundir com cipriotas). E os portugueses eram ainda mais patriotas se fossem portugueses e tivessem uma grande peitaça. Eram peitotas e patriotas. Os portugueses eram portugueses até ao quinto dos liceus, altura em que passavam a lusíadas. Havia ainda os pretiotas, que viviam numa coisa chamada ultramar. Vários historiadores reclamam outra versão, que dividia lógica e etariamente os portugueses em lusitos, vanguardistas, cadetes e legionários, consoante usassem calções, calças í  golfe, botas de montar ou ladrilho.

Economia

Era excelente. Era cá uma economia… De alimento, de palavra, de tudo. E estava indissoluvelmente ligada ao patriotismo e í  precocidade. Uma criança de mama, após ingurgitar os primeiros golinhos de leite materno, tinha observações do género desta: «o leite português é o melhor, o mais puro!» Depois, mais uma mamada e outra asserção: «a teta portuguesa é a maior, a mais úbere, a mais tenra!»

Se, inversamente, a criança cuspia, é porque começava a manifestar, de pequenino, tendência para a independência. E era assim que se tornava duro, castigador e castiço.

Arte

Nessa época havia várias manifestações artísticas. Em cada sala de aula, o professor era enquadrado pelas fotografias de dois gajos muito graves, que eram um tal Salazar e outro que nem sei se tinha nome, ou que acabava em mona. Tanto faz. Era essa uma das manifestações artísticas. Outra, era um S que havia no cinto que os meninos eram obrigados a comprar voluntariamente.

No campo da música, existia uma notável composição chamada «Já vamos», que devia ter sido o hino dos guardas-nocturnos. Ou era «Lá vamos»? Era qualquer coisa do género. Só sei que tinha que ser cantada com o braço estendido, como quem vê se chove.

Clima

Era tépido e ideal. Privilegiado. O clima nacional era o melhor do mundo. Fresco no verão, morno no inverno. Era cá um tempo! E não eram pobrezinhos, aqueles que andavam sem roupa, não senhores. Era do clima. Andavam í  fresca. Só.

Política

Era notável. Sã. Cheia de princípios. Exercida por verdadeiros patriotas.

Desempregados? Não senhor – turismo interno.

Famintos? Torpe insinuação. Elegantes, é que eram. Da alimentação racional.

Todos muito unidos, muito amigos, muito graves, muito solenes, muito clementes. E as esposas, tão benfeitoras! Até fazia um nó na garganta, vê-las, no Natal, a visitar os bairros de lata, em risco de sujarem os sapatinhos de cetim e os casacos de pele, só para reconfortarem os desamparados da fortuna!

Estava tudo certo: os maridos faziam os pobres, para que as esposas se ocupassem a dar-lhes bolos-reis e broas. Muito racional.

í€ parte isso, havia um partido político que congregava os 8 milhões de sobreviventes (perdão, de habitantes) do continente (ou metrópole). Era a União Nacional.

Agricultura

A mais abundante. Couves, azeitonas, bolota, cortiças, alfaces, tudo, mas tudo, se dava nesta bendita e santa terrinha. E tudo saudável!

Batatas também havia algumas, e vinho, era em cataratas. Les portugais son toujours gais.

Portugal também produzia um subproduto degenerado, chamado «exilados». Mas estavam condenados í  extinção e o glorioso futuro da Pátria se encarregaria de provar que eram uns trasfegas, um rebotalho sem significado.

Folclore

Havia o futebol, Fátima, as toiradas e o fado.

E quem não fosse do Benfica, era do Sporting e vice-versa. E quem não fosse católico, era ateu.

E quem não gostasse do Diamantino Viseu, gostava do Manuel dos Santos. E quem não fosse pela Amália, era pela Hermínia.

E ainda havia quem dissesse que não havia pluralismo…

Língua

A mais pura, a única que conservou as autênticas raízes latinas.

A mais indicada para cantar o fado.

Inspiradora de autênticas obras de filigrana oratória, tendo por cenário esse magnífico anfiteatro do espírito nacional – a Assembleia.

Exemplo de pequenas pedras preciosas:

«…os valores imparáveis da pátria lusitana…»

«…os inequívocos sacrifícios patrióticos do nosso querido Presidente…»

«…a inalienabilidade do solo pátrio…»

«… a indissolubilidade da identidade e comunhão de sentimentos…»

Literatura

Exemplos da ínclita literatura lusíada: «Oh glória de mandar, oh vã cobiça! Alça a perna e coça a pica!»

Ou: «oh tu que tens do humano o gesto e o peito, vira o cu para lá e põe-te a jeito!»

E ainda. «as aguardentes e os vinhos gaseificados/ que da taberna sórdida ou bela garrafeira/ por goelas e goelas de esfaimados/ passaram inda além da borracheira»

E exemplos não faltam. Faltou foi gente para os seguir.

Vão-se catar!

Há já alguns dias que estava com vontade de escrever umas coisas sobre a actualidade política portuguesa, a saber:

a) sobre o Orçamento Geral do Estado, que foi aprovado só pelos deputados do PS, com críticas de toda a Oposição. Neste caso, toda a Oposição parece ter estado í  esquerda do PS, incluindo o CDS e o PSD. Notável!

b) sobre a Lei das Finanças Locais e Regionais, que fez com que o Jardim ameaçasse o Governo central, insultasse o primeiro-ministro e o das Finanças e sugerisse que ia provocar eleições antecipadas na Madeira. O Alberto João pode dizer o que lhe apetece, que nada lhe acontece. Um bom exemplo para a democracia. Nunca me preocupei com “o povo da Madeira”. E cada vez menos… tem o que merece…

 c) sobre o caso dos terrenos de Marvila, por onde vai passar o TGV, que foram licenciados pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues, sabendo, antecipadamente, que o comboio ia passar por ali. Agora, o Estado vai ter que pagar uma indemnização aos promotores imobiliários que, assim, vão ficar com os bolsos cheios, sem terem mexido uma palha. Ao Carmona, nada lhe acontece – a menos que seja nomeado administrador da empresa imobiliária, quando for apeado da Câmara.

d) sobre as manifestações dos estudantes do secundário, contra as aulas de instersubstituição, onde jogam dominó e cortam as unhas. Os professores rejubilam e não se importam com o facto de esta atitude dos alunos só demonstrar a incapacidade dos professores. Não são capazes de fazer mais nada senão pí´r os miúdos a jogar dominó? É como se eu, médico, quando substituo um colega, dissesse ao doente: “desculpe, mas vai ter que ser o senhor a auto-medicar-se, porque o seu médico faltou”.

e) sobre a palhaçada do José Veiga e do João Pinto e de toda a comunicação social ter dado tanta ênfase ao caso e ninguém se questionar: como é que os direitos desportivos de um jogador medíocre como o João Pinto, valem 4,6 milhões de euros?!

f) sobre o facto do CEMFA, Mendes Cabeçadas, dizer que acha que o Governo deve revogar a lei que o Paulo Portas inventou para dar umas coroas a todos os ex-combatentes da guerra colonial – lei que foi aprovada por unanimidade, no Parlamento. Não há dinheiro para toda essa malta que andou os tiros no Ultramar, mais os que andaram a beber cervejolas em Luanda. Por que não indemnizar as famílias dos soldados que foram í  1ª Guerra Colonial? E quanto aos descendentes dos falecidos na batalha de Aljubarrota?

g) sobre os polícias que deram uma conferência de imprensa encapuçados, e os militares que andaram a passear no Rossio, e os gênêrrês que querem os mesmo direitos que os militares, e mais os nosso garbosos militares de engenharia, que vão para o Líbano, como se fossem heróis! Limitam-se a fazer o trabalho deles! Juro que não me importava de trocar: eles vêm até ao Monte de Caparica fazer umas urgências e eu vou passar uns dias a Tiro! Por que raio só eles é que aparecem na televisão?!

h) sobre o estúpido anúncio da TV Cabo: um homem chega a casa e a mulher, depois o filho, depois a filha, depois a criada, todos o deixaram porque ele não aderiu í  TV Cabo! Deviam felicitá-lo! A TV Cabo é a maior aldrabice desde que a televisão por cabo foi inventada!

i) sobre a idiotice de se querer inundar a selecção nacional de futebol com luso-brasileiros. O Deco foi um precedente idiota. Agora, qualquer jogador brasileiro medíocre, que não tem lugar na selecção do seu país, quer integrar a selecção portuguesa, adquirindo a nacionalidade portuguesa. Ele é o Pepe, o João Paulo, o Liedson…

Valerá a pena perder tempo com estas merdas?

Meus amigos, a mediocridade desta malta é tão grande, que até dói!

O país é bonito, mas o povo não presta!

Vão-se catar!

House – 1ª série

house1.jpgDr. House não usa bata, é coxo, dependente de Vicodin (acetaminofeno mais um derivado de codeína), sarcástico, amargo, brilhante, solitário, descrente, bizarro, nada ético, intuitivo, experimentalista, impulsivo, e muitas outras coisas contraditórias, que o tornam uma personagem única.

Hugh Laurie, o actor, soube dar-lhe substância e torná-lo credível.

Sob o ponto de vista técnico, a série tem algumas inverosimilhanças: nenhum médico faria, por exemplo, uma laparotomia exploradora a um doente que apresentasse, apenas, dores abdominais e sintomas paranóides, mas essas inverosimilhanças acabam por se aceitar, se aceitarmos a técnica de diagnóstico que House usa: tentativa e erro. E, depois do erro, reformulação do diagnóstico.

Claro que os criadores da série arranjam sempre casos estranhíssimos, raríssimos que qualquer médico comum encontrará, em toda a sua vida profissional, uma única vez na vida (ou, mais provavelmente, nunca). Dr. House tem um caso destes todas as semanas: intoxicação por naftalina, doença do sono por contacto sexual, porfiria, etc.

Contra todas as convenções, House não gosta de doentes (só gosta de doenças), só os observa em último caso, preferindo raciocinar através dos sintomas que os médicos da sua equipa vão colhendo junto do doente e dos exames complementares que vai pedindo, receita dois cigarros por dia a um tipo com colite, anuncia a uma mulher grávida que tem um parasita dentro de si, prescreve rebuçados a um tipo com fibromialgia.

House faz-me inveja. Quantas vezes não me apeteceu fazer o que ele faz, na Clínica do Hospital onde trabalha!

Por exemplo: chegar í  sala de espera e dizer: “bom dia, chamo-me House, estou muito mal disposto, tenho dores crónicas, não gosto de doentes; estou no gabinete nº 1 – quem quiser ser consultado por mim, faça favor; mas há mais dois médicos de serviço…”

Ou dirigir-se í  sala de espera e consultar os doentes ali mesmo, dando-lhes conselhos simples para resolverem as suas queixas sem importância.

Para nós, médicos, ver House M. D. é quase como um jogo: í  medida que os sintomas vão surgindo e ele vai raciocinando, nós acompanhamo-lo e, muitas vezes, conseguimos chegar ao diagnóstico.

Mas há um extra nisto tudo, e é um grande extra: Laurie é excelente, a composição que ele faz deste médico amargo e anti-convencional é brilhante e, para além dos diagnósticos feitos como se de uma investigação criminal se tratasse (uma espécie de CSI médico), há também os diálogos, com as tiradas sarcásticas de House: “como o filósofo Jagger dizia – you can’t always get want you want”…

O passeio dos tristes

Nunca gostei de militares.

O pior período da minha vida passei-o na tropa. Nos anos 80, já com três anos de licenciatura, 28 de idade e dois filhos pequenos, fui arrancado do Serviço Médico í  Periferia, para prestar o Serviço Militar Obrigatório.

Deixei de prestar cuidados médicos í  população do concelho de Mourão, para ir fazer consulta de Clínica Geral no Hospital Militar de Évora. Mas não fui consultar os soldados, não senhor! Fui consultar os familiares dos senhores oficiais.

Mas antes, tive que passar seis semanas de humilhação, na recruta, nas Caldas da Rainha. Imaginem um pelotão de médicos, todos com 28 anos e mais, alguns deles já especialistas, sentados, a meio da noite, nas matas da Foz do Arelho, a tentarem identificar sons: uma lata que caía, uma bota que pisava caruma e – suprema imbecilidade! – um alferes a mijar!

Nunca mais me esqueci deste episódio. Ainda hoje, não consigo entender a importância que teve, para mim, médico de família, conseguir identificar, no escuro, o som de um alferes a mijar!

Mas foi isto que fui aprender na recruta. Isto, e também, a montar e a desmontar uma G-3, a marchar na parada e a fazer funeral arma.

Terminada a recruta, fui então para o Hospital Militar de Évora, mas a palhaçada continuou. Como éramos quatro médicos a prestar serviço militar obrigatório (quatro! em Mourão, para todo o concelho, foram colocados três médicos, no Serviço Médico í  Periferia, e só lá ficaram dois, quando eu fui para a tropa!) – como éramos quatro médicos, decidimos dividir o serviço e cada um de nós, só ia ao Hospital uma semana por mês.

Uma tropa fandanga!

Por isso, faz-me muita confusão ver os militares a protestarem contra os privilégios que o Governo agora lhes retira, nomeadamente no sector da saúde –  privilégios a que eles chamam direitos.

Faz-me ainda mais confusão ver militares tentarem ludibriar a lei, armados em chicos-espertos, chamando “passeio do descontentamento” í  manifestação.

E ainda mais confusão me faz saber que esses militares organizaram o tal “passeio”, contra a opinião do Chefe de Estado Maior, do Ministro da Defesa e da Governadora Civil de Lisboa.

Um militar não pode ir contra as ordens da hierarquia. Por definição. Assim como um médico não pode ignorar um homem caído, no meio da rua.

O líder do tal “passeio”, disse, por exemplo: “não foi para isto que os militares fizeram o 25 de Abril”.

Como diz o Vasco Pulido Valente, também foram os militares que fizeram o 28 de Maio. E acrescento eu: também foram os militares que fizeram a guerra colonial, que sustentaram Salazar durante quatro décadas e que me obrigaram a ouvir um alferes a mijar!

Portanto, façam o favor de se deixarem de merdas!

O que estão eles ali a fazer?

Bush e Putin parecem muito divertidos, mascarados de vietnamitas. A foto foi tirada no decorrer da cimeira da Cooperação Económica ísia Pacífico. Em primeiro plano, com o ar desconfiado de quem pensa que está a ser gozado, vemos Hu Jintao, o líder chinês. í€ direita, a presidente do Chile parece uma professora primária que se diverte com os seus pupilos mal comportados.  

Imaginem o que Bush estará a dizer a Putin: estará a contar uma daquelas anedotas estafadas do inglês, do americano e do russo? Ou estarão a imaginar o que fariam í  Coreia do Norte, se não tivessem que aturar as palermices das respectivas democracias? 

Pouco importa o que estão a dizer. Ver Bush e Putin, muito divertidos, vestidos com túnicas vietnamitas, numa cimeira económica, em Hanói, não deixa de nos dar a sensação de que, afinal, apesar da queda do muro, continuam a ser eles a dominar o mundo.  

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