A união faz a força ou união í  força?

—Sarkozy conseguiu levar a sua ideia avante e criar a megalómana União para o Mediterrâneo (UPM). São 43 países e 750 milhões de habitantes.

Só a lista de países que fazem parte da UPM diz tudo. Para além dos 27 da União Europeia (que nem quanto ao Tratado de Lisboa se entendem), fazem parte desta bagunça: Marrocos, Argélia, Tunísia, Egipto, Israel, Jordânia, Líbano, Mauritânia, Síria, Turquia, Palestina, Albânia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Mónaco.

A reunião fundadora desta espécie de torre da Babilónia foi em Paris e espero que as próximas reuniões decorram, sucessivamente, nas várias capitais dos países membros. Sempre quero ver o primeiro-ministro israelita numa reunião na Faixa de Gaza, ou o primeiro-ministro palestiniano numa cerimónia pública em Jerusalém.

Como Sarkozy não conseguiu enfiar os países árabes na União Europeia, inventou esta coisa. Adoro, sobretudo, a inclusão do Mónaco. Um pormenor delicioso… Só não percebo por que razão San Marino e Andorra ficaram de fora.

Tanto quanto consegui perceber, pela leitura dos jornais, a UPM não vai servir para grande coisa. Para já – e como primeiro objectivo comum – os países membros comprometeram-se a despoluir o Mediterrâneo, através da eliminação de 80% das fontes de poluição (lixeiras e esgotos directos para o mar). A Mauritânia passará a lançar os seus esgotos na Argélia, esta em Marrocos e os marroquinos exportam a trampa para a Albânia. Em breve, Portugal terá que co-incenerar trampa mauritana.

Será que a Carla Bruni não dá que fazer ao Sarkozy?

Entretém o homem, rapariga!

Crise? Qual crise? – 2

Segundo um estudo financiado pela União Europeia, Portugal é o país com maior taxa de obesidade infantil.

Considerando crianças de 11 anos, 10,7% dos miúdos portugueses e 5,3% das miúdas, são obesos. Em Espanha, as percentagens são de 7,7 e 4,9%, na Bélgica – 2,2 e 3,1%, na Noruega – 6,2 e 1,4%, Suécia – 4,8 e 1,7%, Dinamarca – 3 e 1,1%, íustria – 6,4 e 4%, Holanda, 3,4 e 1,1%, Islândia – 5,4 e 2,4%.

Em Olhão, terra de pescadores, um estudo chegou í  conclusão que nas merendas que os miúdos levam para a escola, predominam as batatas fritas, as tiras de milho e os aperitivos salgados.

E, no entanto, toda a gente se queixa do preço do pão. Ontem, o telejornal da RTP-1 passou uma reportagem sobre uma padaria num Alguidares-de-Baixo qualquer, que vende pão a preço de saldos, caso contrário, as pessoas não compram… Idiotas! Há anos que o consumo de pão diminuiu porque os gordos dos portugueses preferem as tiras de milho, mas os jornalistas, ou ignoram este fenómeno, ou decidiram contribuir para a crise (como contribuem para os incêndios, para as vagas de frio, para a gripe das aves, etc).

No entanto, conseguimos, finalmente, estar í  frente em algo, no que í  Europa diz respeito: temos os miúdos mais gordos (e, já agora, mais baixos, também, segundo o mesmo estudo).

A gasolina está cara? Andem a pé, carago! Talvez assim diminua o número de gordos!

O estado da nação: gasoso

Decorreu ontem, na Assembleia da República, o debate sobre aquilo a que se convencionou chamar “o estado da nação”.

Para os órgãos de comunicação social, o único interesse da coisa era ver como corria o primeiro duelo entre Sócrates e o novo líder da bancada do PSD (o terceiro, em três anos), Paulo Rangel.

Para mim, Paulo Rangel faz-me lembrar os putos gordinhos dos meus tempos de liceu, que estavam sempre a levar umas amonas do resto da malta. Provavelmente, é um gajo porreiro mas, como político parlamentar, ainda tem muito que aprender e foi trucidado por Sócrates, que parece ter nascido para aquilo.

E assim, Sócrates, Portas e Louçã foram os protagonistas daquela coisa que pode ser tudo, menos o “estado da nação”.

Louçã diz que a “taxa Robin dos Bosques” não é roubar aos ricos para dar aos pobres, mas uma espécie de conluio entre os ladrões. Sócrates fica escandalizado e diz a Louçã que não lhe admite que insinue que o governo é ladrão.

Portas acusa o governo de lucrar ainda mais com a descida do IVA e mostra-se indignado com o alcance demasiado curto das reformas sociais, como se o CDS fosse, agora, assim de repente, o partido defensor dos oprimidos e Sócrates responde com qualquer coisa de que já não me lembro nem interessa nada.

Em resumo: a nação ficou a saber que o seu estado é o gasoso – já que o debate não passou de um traque mal dado…

“The Shield” – série 1

—Mais uma série norte-americana que se começa a ver com um pé atrás, mas que acabamos por adoptar, como quase todas as outras. Os States estão, cada vez, mais especialistas em séries televisivas.

Este “The Shield” passa-se em Los Angeles e mostra-nos uma esquadra muito especial, dirigida por um latino-americano com ambições políticas, um par de detectives com algumas limitações, mas que acabam por ser bem sucedidos, mais í  custa da transpiração do que da inspiração, um polícia negro, cristão e gay, com muitas dúvidas e outras personagens menores.

No entanto, a estrela da série é uma equipa especial, formada por quatro durões, qual deles o mais cromaço, a começar pelo chefe, Vic Mackey (Michael Chiklis), que são politicamente incorrectos, violentos e até um pouco corruptos, sendo capazes de tudo para apanhar os bandidos, incluindo dar grandes sovas nos bandidos, comer-lhes as namoradas ou até matar os bufos.

Mackey é um caga-tacos corpulento, talvez um pouco gordito até, e que actua sempre no fio da navalha, usando os mesmos métodos que os bandidos. Só que ele tem um distintivo – aliás, o símbolo da série é exactamente um distintivo deformado, amachucado, da LAPD.

Tom Waits fala í  imprensa

Foi o Pedro que me chamou a atenção para este vídeo delicioso do Tom Waits.

Trata-se de uma conferência de imprensa muito especial, destinada a dar pormenores sobre a temporada de concertos de Waits, nos EUA, a chamada “Glitter and Doom Tour”.

O grande sacana também vem í  Europa: dia 12 em San Sebastian, dias 14 e 15, em Barcelona, depois Milão (17, 18 e 19), Praga (dias 21 e 22), Paris (24 e 25), Edimburgo (27 e 28) e Dublin (30, 31 e 1 de Agosto).

E Portugal? Nada! Não era preciso ser em Lisboa, caramba! Podia ser na Guarda (cidade onde vai cantar, por estes dias, Suzanne Vega…), ou em Arcozelo…

Teremos que esperar por nova oportunidade…

Entretanto, fiquem-se com este excerto da tal conferência de imprensa.

http://www.youtube.com/watch?v=EOrG1r3S6ZA

Terroristas e revolucionários

Nelson Mandela era terrorista?

Para os Estados Unidos era, até í  semana passada.

A Frente Armada Revolucionária da Colí´mbia (FARC) é uma organização revolucionária?

Para o Partido Comunista Português, continua a ser.

Dito isto, que é absurdo, passo a explicar:

Nelson Mandela era o líder do ANC (Congresso Nacional Africano) que, durante anos, lutou contra o apartheid, na ífrica do Sul. Essa luta não se fez só a nível político; teve, também, uma vertente de luta armada, de atentados bombistas, de assassinatos. Foi numa acção armada que Mandela foi preso e condenado a prisão perpétua. Por esse motivo, o Pentágono colocou o ANC na lista das organizações terroristas.

O resto da história é conhecido. O apartheid acabou, Mandela foi libertado e eleito presidente da ífrica do Sul, o ANC também ganhou as eleições. Mas, para os Estados Unidos, o ANC continuou a ser uma organização terrorista e Mandela, um perigoso terrorista. Sempre que um ministro ou qualquer outro representante do governo sul africano pretendia deslocar-se aos States, só o podia fazer se fosse a alguma reunião da ONU porque se quisesse, por exemplo, ir í  Disneylândia com os filhos, era muito provável que não conseguisse o visto de entrada nos EUA.

Esta semana, o assunto foi resolvido. O Congresso, finalmente, aprovou, por unanimidade (também era melhor…) a retirada do ANC da lista de organizações terroristas.

Mais vale tarde do que nunca.

Quanto í s FARC, toda a gente sabe que pouco têm a ver com as organizações revolucionárias dos anos 60, tão características da América Latina, de inspiração Guevariana: Tupamaros, Sandinistas, Sendero Luminoso…

Há muito tempo que as FARC são um exército ao serviço do narcotráfico e pouco ou nada têm a ver com ideologias revolucionárias (a menos que se considere revolucionário distribuir coca pelos filhos dos capitalistas, para assim acabar com essa praga que esmaga a classe operária, os soldados e os marinheiros, os pescadores e os camponeses…).

Quem não ficou satisfeito com a libertação de Ingrid Betencourt? Foi com a ajuda dos serviços secretos israelitas e norte-americanos? E qual é o problema?

Na Assembleia da República, todos os partidos votaram a favor de uma moção que felicitava a libertação de Ingrid Betencourt. O PCP votou contra.

Os funcionários do PCP, que continuam a classificar as FARC como revolucionárias, deviam juntar-se aos congressistas norte-americanos que, durante todos estes anos, consideraram Mandela um terrorista.

Depois, todos juntos, podiam ir í  merda.

Vasco Pulido Valente está velho

É pena…

Há anos que leio as suas crónicas. í€s sextas, sábados e domingos, assim que compro o Público, vou í  última página, ler a crónica do VPV.

Claro que nem sempre estou de acordo com ele. O seu pessimismo, por vezes, parece síndroma depressivo não tratado, mas a sua lucidez e a sua capacidade em dizer muito em poucas linhas, compensavam o resto. A sua independência, também.

Claro que, na sua história, havia aquela mancha de ter sido deputado do PSD – como é que alguém que foi membro de um órgão do Poder poderia ser independente em relação a esse mesmo Poder?

Mas VPV penitenciava-se, muitas vezes, desse seu “erro”, e zurzia, í  direita e í  esquerda, embora sempre um pouco mais í  esquerda do que í  direita (algo que, talvez, Freud pudesse explicar, se VPV o deixasse falar…)

Agora, VPV acabou.

Primeiro, aceitou ser comentador da TVI, o canal que pior televisão faz em Portugal, o canal do lixo televisivo.

Precisava de dinheiro? Tinha pedido, que eu emprestava.

Tudo, menos colaborar com aquele nojo de televisão.

Depois, para dar cabo do resto, parece estar apaixonado por Manuela Ferreira Leite!

Hoje, na sua crónica (que foi a última das suas crónicas que alguma vez mais lerei), diz, entre outras barbaridades: «Portugal já saiu com Cavaco da cauda da “Europa”; já passou com Guterres pelas maravilhas do diálogo e da igualdade social; já esperou pelo “choque fiscal” de Barroso; e já assistiu, abismado, í s “reformas” de Sócrates. O que faltou desde o princípio foi uma visão fria e sem retórica de um país, que largamente falhou a oportunidade da “Europa” e continua pobre e atrasado»

E, até aqui, tudo bem. VPV faz, como é costume, a sua avaliação pessimista, ignorando, por exemplo, os bons indicadores na área da saúde, os apoios sociais, cada vez maiores, o desenvolvimento que nos tem feito, apesar de tudo, aproximar da tal “Europa”. Mas, enfim, ele tem razão, continuamos pobres e atrasados e perdemos várias oportunidades.

O problema, é o que ele diz a seguir:

«Suspeito (e, por enquanto, só suspeito) que Manuela Ferreira Leite não partilha o sentimentalismo indígena e nos tratará como merecemos: isto é, sem fabricar, nem espalhar ilusões.»

Por outras palavras, a jovem política, que nunca teve responsabilidade nenhuma na política nacional, vai, finalmente, fazer-nos “cair na real” e tratar de nós como nós merecemos – isto é, como completos patetas, que necessitamos de alguém que olhe por nós, alguém que cuide das nossas finanças, alguém que endireite o país, como fez o Dr. Salazar – alguém que, certamente, não deixará de nomear Vasco Pulido Valente como ministro da Cultura a Sério.

Tenho pena…

Final do Euro 2008 – torcer por quem?

Não gosto de espanhóis, por razões tão óbvias que nem me dou ao trabalho de enumerar. Pela mesma razão e mais pelo Adolfo, também não gosto de alemães.

Sendo assim, por quem vou torcer hoje, na final do Euro 2008?

É verdade que a Alemanha derrotou Portugal por um tangencial 3-2 e se viu aflita para vencer a Turquia, pelos mesmos 3-2, Turquia que Portugal derrotou, com alguma facilidade, por 2-0. Essa mesma Turquia conseguiu eliminar a Croácia, embora só nos penáltis, Croácia que, como se lembram, venceu a Alemanha.

Pelo seu lado, os espanhóis derrotaram a Rússia por duas vezes, por 4-1 e por 3-0, mas só nos penáltis conseguiram ultrapassar a Itália, que foi humilhada pela Holanda, por 3-0, ao passo que a Holanda foi derrotada pela Rússia, por 3-1, a mesma Rússia que, como se viu, foi derrotada pela Espanha.

Em resumo: vou torcer pela equipa de arbitragem.