“Goodbye, Columbus”, de Philip Roth

—Esta foi a primeira obra de Philip Roth, publicada em 1959 e obteve logo o aplauso da crítica, ganhando o National Book Award.

O livro é formado pela novela que lhe dá título e por mais cinco contos curtos, todos tendo como tema a adaptação dos judeus norte-americanos í  nova vida fora dos guetos, de onde vieram os seus pais e avós.

“Goodbye, Columbus” foi adaptado ao cinema, em 1969, com realização de Larry Peerce e, embora seja um retrato muito interessante dos “novos” judeus americanos no dealbar da década de 60, não é a minha história preferida. Gostei muito mais do conto “A Conversão dos Judeus” ou de “Eli, o Fanático”.

Claro que Roth foi muito criticado na altura (e ainda é), por parte de largas faixas de judeus, que o consideram anti-semita, devido ao facto de criticar abertamente a religião judaica.

De Roth, já li mais de uma dezena de obras muito mais maduras que esta, mas “Goodbye, Columbus” não deixa de ser um livro curioso, até para conhecermos a génese de toda a carreira deste grande escritor norte-americano.

O sapo do Portas

Portas é um artista.

Meteu o coelho na cartola e de lá tirou um sapo.

Um sapo chamado Gaspar.

Durante este ano e meio, Portas andou por aí. Foi ao Brasil, í  Líbia, í  Venezuela, a Moçambique. Diplomacia económica, disse.

Por cá, os restantes membros do Governo iam fazendo o possível e o impossível para agravar o défice.

Depois, de repente, perceberam que, afinal, a austeridade tinha que ser agravada.

E Gaspar propí´s um enorme aumento de impostos.

Portas esteve quase para repetir aquilo que disse em junho de 2010: «o PSD não é de fiar em matéria de impostos».

Ou então, repetir o que disse em março do ano passado: «”…Eu uso de franqueza. Quando concordo, concordo. Quando discordo, discordo. E tenho que vos dizer isto com toda a franqueza. Subir impostos é aumentar a recessão. Disse-o ontem e digo-o hoje”Â».

Ou ainda o que disse de Sócrates, em julho de 2009: Â«É preciso ter descaramento. Um primeiro-ministro que aumentou todos os impostos e conseguiu uma consolidação do Orçamento í  custa de impostos e não de contenção de despesas vem agora fazer este anúncio (de que não pode baixar impostoso), eu digo que é descaramento».

Ou o que disse em maio de 2010: «Aumentar impostos é, como dizia o próprio engenheiro Sócrates quando se apresentou aos portugueses, o caminho mais fácil, mas não faz bem í  economia».

Ou o que disse a Teixeira dos Santos em janeiro de 2010: “…A ameaça do ministro das Finanças fez” só merece uma resposta “…se quer aumentar os impostos não conta com CDS” para uma viabilização do Orçamento do Estado.

Ou, finalmente, o que disse em setembro de 2007: «Quem está a combater o défice não é o governo, mas o contribuinte português, com os seus impostos, cujas receitas aumentaram 8,3% e estão a pagar a factura».

Mas não disse nada disso.

Preferiu engolir o sapo.

Afinal, é fácil ser liberal em Portugal…

Vamos supor que sou liberal e que tenho um amigo que é secretário de Estado no governo.

Vamos supor, por absurdo, que me chamo Passos Coelho e que esse amigo se chama Miguel Relvas.

Decido ser consultor e depois administrador (ou vice-versa) de uma empresa de formação, a que dou o nome de Tecnoforma.

Se alguém me perguntar o que faz a empresa, digo que dá formação.

Se alguém perguntar que tipo de formação dá a minha empresa, respondo formação técnica.

Convém deixar tudo suficientemente vago para poder encaixar em qualquer oportunidade que o meu amigo Relvas me arranjar.

E ele arranja um programa com um nome bonito: Floral.

Há umas massas do Fundo Europeu e mais uns milhões do erário público.

Pensamos nos funcionários das autarquias, coitados.

Alguns não têm mais que a 4ª classe…

Será que conseguiam ajudar a fazer aterrar uma avioneta?

Claro que não!… Tristes!…

E se nós lhes déssemos formação para poderem fazer não-sei-o-quê nos aérodromos?

Bora lá!

O meu amigo Relvas dá uma ajuda, tenho outro amigo na região Centro, que foi meu colega na JSD que também dá uma mãozinha e voilá! – a Tecnoforma ganha um concurso de 1,2 milhões de euros para dar formação a mil funcionários autárquicos para eventualmente poderem vir a trabalhar nos 2 – dois – 2 aeródromos em actividade.

Depois, mais tarde, quando for primeiro-ministro e o Relvas for meu adjunto, depois, então, havemos de cortar nas despesas do Estado.

í€ fartazana!

Mas agora, carago, é de aproveitar esta oportunidade!

Podemos ser liberais, mas não somos estúpidos!

PS – e depois havemos de arregimentar aquele professor universitário obeso, que usa muito gel na cabeça, Amorim ou Abreu ou assim, e que tinha uma coluna no Notícias Magazine chamada “É difícil ser liberal em Portugal”… de facto!

Mitiga, Gaspar, mitiga…

—Gaspar gosta de utilizar palavras pouco usadas na língua portuguesa.

Começou por nos revelar um desvio colossal.

Falou, recentemente, num enorme aumento de impostos.

Prometeu reduzir a despesa para poder mitigar o aumento de impostos.

Eis aqui outras palavras que Gaspar pode usar:

– a tua folha de Excel é uma formidável merda

– usas umas camisas com uns punhos e uns colarinhos execráveis

– tens cara de anjinho mas deves ser um sacana inabalável

– diziam que eras um estupendo técnico mas cheira-me que és uma incomensurável fraude

– a tua política não é anódina, porque estás mesmo a foder isto tudo, pá!

Comer baratas faz mal í  saúde?

Claro que é uma questão de bom senso: as baratas não servem para comer; mas sabe sempre bem confirmar esta evidência.

Segundo o DN de hoje, um norte-americano da Florida morreu pouco depois de ter ingerido várias dezenas de baratas e alguns vermes não especificados.

Diz a notícia: «Edward Archbold, de 32 anos, engoliu várias dezenas de baratas e vermes na sexta-feira durante o concurso organizado por um viveiro de répteis, cujo primeiro prémio era uma cobra pitão. Logo após o final da competição, o homem vomitou, tendo sido transportado de imediato ao hospital, onde morreu».

Archbold não estava sozinho, já que o concurso teve mais 30 concorrentes mas, segundo parece, mais ninguém morreu, pelo que se deduz que comer baratas só faz mal a partir de um certo número.

Era curioso saber quantas baratas comeram os outros concorrentes, só para o caso de sermos obrigados a recorrer a estes simpáticos bichinhos, caso os impostos continuem a subir…

Coisas…

1. Um livro de poemas para adultos de Alice Vieira foi recomendado a crianças no Plano Nacional de Leitura.

Parece-me correcto.

Em Portugal, o livro mais vendido é “As 50 Sombras Mais Negras” e o segundo mais vendido é “As 50 Sombras de Grey” – dois calhamaços escritos por uma dona de casa que fez uma dieta í  base de Pau de Cabinda.

Talvez começando a fornecer poesia í s criancinhas, consigamos mudar os hábitos de leitura desta malta!

2. Todas as escolas do 1º ciclo de S. João da Madeira vão passar a ensinar mandarim.

Justificação? Preparar futuros contactos comerciais com o “maior mercado da Humanidade”.

Já estou a imaginar os jovens de S. João da Madeira a abrir lojas de chineses em Xangai…

3. O comissário europeu Oli Rehn insiste na necessidade de manter em Portugal o “espírito construtivo” que tem caracterizado o ambiente político e acrescentou que quer os partidos a “trabalhar em conjunto”.

Mas quantos de nós votaram neste gajo?

4. Portugal foi o segundo país com maior aumento de impostos entre 2009 e 2012, só suplantado pela Argentina.

í“ Gaspar – vamos lá a fazer só mais um esforçozinho!

Ninguém gosta de ficar em segundo lugar quando pode ficar em primeiro!

O bom aluno

Na perspectiva da Sra. Merkel e na de Os Mercados, o bom aluno não é só aquele que absorve bem a matéria proposta e passa em todas as avaliações com distinção.

Para Merkel e Os Mercados, o bom aluno é, sobretudo, aquele que nunca questiona a matéria dada, nunca faz perguntas, nunca procura alternativas.

Estamos a ser governados por um bom aluno e estamos tramados!

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“To Rome With Love”, de Woody Allen

Li para aí umas críticas negativas a mais um filme de Woody Allen, dizendo que ele está preguiçoso e que se está a repetir.

—Acho que o grande problema destes críticos reside no facto de sempre terem achado que Allen era um génio, por ter realizado Manhattan e Annie Hall e admirar Bergman e Felinni, e ser intelectual e muito “europeu”.

Na minha opinião, Allen é bom no seu ofício, fez filmes muito bons, alguns menos bons, quase nenhuns medíocres e, ao longo de todos estes anos, proporcionou-me bons momentos de entretenimento e por isso lhe agradeço. Mas não é nenhum génio (e ele próprio reconhece isso).

Desde Take the Money and Run (Inimigo Público nº1), de 1969, que tento não perder um filme de Allen e acho que só não vi três das suas 40 longa-metragens.

Este To Rome With Love junta várias histórias, o que é comum no cinema italiano e a diversão é garantida.

Ao mesmo tempo que vamos revisitando alguns dos lugares emblemáticos da capital italiana, vamos seguindo essas histórias com agrado e ficamos com pena quando o filme acaba.

Das várias histórias, destaco duas: um casal recém-casado de jovens italianos da província, chega a Roma. Ela sai do hotel para ir a um cabeleireiro porque vai ser apresentada í  família do marido. No entanto, perde-se, acaba por ir parar a uma zona onde está a ser feito um filme, é seduzida por um actor pomposo, que a leva para o seu hotel, mas ambos acabam por ser assaltados no quarto e ela vai para a cama com o ladrão. Entretanto, o marido é surpreendido por uma prostituta (Penélope Cruz) que, por engano, entra no seu quarto e ambos são surpreendidos pelos familiares dele, que não tem outro remédio senão apresentar a prostituta como sendo a sua mulher. Uma cena de ópera bufa bem conseguida.

A outra história envolve o próprio Woody Allen, que é um agente de espectáculos reformado; foi sempre incompreendido, devido í s suas produções arrojadas, como a Traviata para personagens todos vestidos de ratos brancos… É casado como uma psiquiatra (Judy Davis), que diz que ele, em vez de ter ego, superego e id, tem três ids. Ambos vão a Roma para conhecer o futuro genro e a sua família. Ao ouvir o seu futuro sogro a cantar no duche, consegue convencê-lo a participar numa ópera, cantando… no duche. Só vendo…

Além destas duas histórias, temos mais uma outra, que envolve arquitectos e outra, em que Roberto Benigni (não gosto dele, mas aqui safa-se…) é um cinzento empregado de escritório que, de repente, se torna famoso.

O curioso é que todas estas histórias, contadas em paralelo, têm tempos diferentes, isto é, enquanto a história do jovem casal decorre ao longo de algumas horas, a do agente operático decorre ao longo de meses. Mas isso não faz mal nenhum – são liberdades narrativas, aceites em cinema.

Tarde bem passada.