“O Homem do Casaco Vermelho”, de Julian Barnes

O homem do casaco vermelho é o Dr. Samuel Pozi, o fundador da disciplina de ginecologia em França, homem sedutor e bem relacionado, viajado e culto, que teve uma vida cheia e que viveu entre 1846 e 1918.

Julian Barnes tomou conhecimento de Pozi através da pintura de John Singer Sargent, representando o médico envergando uma longa capa escarlate, com o rosto a três quartos, com uma mão no peito e outra na cintura. E foi estudar a figura de Samuel Pozi. E assim nasceu este curioso livro que nos conta múltiplos episódios da chamada Belle Époque.

Ao longo do livro desfilam muitas personagens, para além de Pozi: Oscar Wilde, Guy de Maupassant, o conde de Montesquiou, Sarah Bernhard, Clemenceau, George Sand, Edmond de Goncourt, Colette, entre muitas outras.

Pozi foi um médico inovador e procurou aprender com outros, quer em Inglaterra, quer nos Estados Unidos.

A propósito dos feridos da guerra Franco-Prussiano de 1870-1871,

“Pozi viu como havia mais probabilidades de os soldados feridos morrerem devido a infecções e septicemia do que devido à ferida inicial: os cirurgiões operavam em condições imundas e de contaminação múltipla, sendo muitas vezes os feridos transportados da frente de batalha sobre palha cheia de merda em veículos que antes tinham sido ocupados por cavalos. Mesmo na cirurgia em tempos de paz, a higiene básica era frequentemente negligenciada. O cirurgião americano Charles Meigs (1792-1869) ficou famoso por se ter sentido ultrajado quando alguém lhe sugeriu que ele e os colegas deviam lavar as mãos antes de operar. «Os médicos são cavalheiros e as mãos dos cavalheiros estão limpas», declarou.”

O livro de Julian Barnes está repleto destes pequenos episódios de índole médica, mas também muitos outros, que nos revelam como a alta sociedade, os intelectuais e os bem-nascidos viviam na Belle Époque, como este:

“Em 1867, Mallarmé, então com vinte e cinco anos, numa carta escrita em Besançon, queixa-se da cidade a um amigo. Descreve um vizinho que aponta para uma janela do outro lado da rua e diz: «Deus me valha! A Mme. Remaniet comeu espargos ontem!» «Como é que sabe?» «Pelo bacio que ela pôs no peitoril».

Para além de um grande cirurgião, Pozi era um homem bem vivido; terá tido muitas amantes, incluindo Sarah Bernhard e algumas das suas doentes (dizia-se que as consultas eram os preliminares) e uma importante colecção de arte.

Percebe-se que gostei bastante da companhia deste livro. Trata-se, ainda por cima, de um livro bonito, de capa dura, com diversas ilustrações, algumas a cores, edição muito cuidada da Quetzal, com tradução de Salvato Teles de Menezes.

Outros livros de Julian Barnes: O Ruído do Tempo; O Sentido do Fim; Arthur & George; Amor & Etc;

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