Enfadado

Enfadado, é o termo.

Não estou farto, nem irritado, nem zangado, apoplético, aborrecido, indignado, chateado, encolerizado ou mesmo furibundo.

Já não me espanto com a falta de assunto dos telejornais, a discussão à volta das scut deixa-me indiferente, estou-me borrifando para a golden share, quero que o Sócrates vá pentear macacos e que o Passos Coelho dê uma volta ao bilhar grande, bocejo com a crise económica, adormeço ao som da voz do Medina Carreira, não ligo ao que diz o Teixeira dos Santos, viro as costas aos sindicatos, encolho os ombros às associações patronais e desprezo solenemente todos os restantes parceiros sociais.

Estou mesmo muito enfadado.

Temos um governo a prazo que tem que pedir licença ao maior partido da oposição para poder publicar uma simples portaria, um Presidente da República que gostava de ser primeiro-ministro, uma comunicação social toda ela de direita e um calor do caraças, que até faz os funcionários da Câmara da Amareleja mudarem os horários de trabalho e cada vez apetece menos ligar a estes políticos pelintras, sem estofo, sem qualidade, sem nervo, sem pica, sem categoria.

E, por isso, estou enfadado.

Não me surpreende o facto do Ronaldo ter comprado um filho, como quem compra um Porsche, não me espanta que a mulher do Presidente dos Açores tenha gasto 27 mil euros numa viagem ao Canadá, não ligo nenhuma ao adiamento da leitura da sentença do processo Casa Pia e espreguiço-me perante tudo isto com uma indolência genuína.

Já nem quero que me tirem deste país, que me arranjem outro lugar para viver, que me façam o favor de arranjar outros políticos, outros comentadores políticos, outros treinadores para a selecção, outra selecção.

Quero apenas que me deixem assim, quietinho, sossegadinho.

Enfadado.

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