El Calafate e os glaciares

11.10.07 – Acordámos às 3h30 e às 4 horas estavam a apanhar-nos para nos levarem ao aeroporto de voos domésticos de Buenos Aires. As filas para o check in eram intermináveis. Quando chegou a nossa vez, fomos informados que a nossa bagagem tinha excesso de peso: 12 kg a mais; parece que, nos voos domésticos, só são permitidos 15 kg por passageiro. Ninguém nos avisara disto. Pagámos 72 pesos de multa. Cheira-me que isto é mais uma maneira de sacar dinheiro ao turista, já que não estou a ver ninguém vir passar duas semanas à Argentina, com apenas 15 kg na mala.

Bueno… pelas 10 da manhã estávamos em Calafate. À nossa espera, uma guia e um motorista, que nos trouxeram ao Hotel Alto Calafate.

calafate_hotel.jpgO Hotel é um edifício recente, muito bonito e muito bem situado, no cimo de uma colina, com vista para o lago Argentino e para os Andes. Ficámos no quarto nº 1 e depois de arranjarmos as malas, partimos para Calafate, no shuttle do hotel que, cada meia hora, faz a ligação com a cidade.

El Calafate tem, agora, cerca de 20 mil habitantes e cresceu muito, nos últimos anos, sobretudo desde que, há sete anos, uma empresa privada construiu o aeroporto. Apesar disso, é uma cidade pequena, que se desenvolve a partir de uma rua principal, a Avenida Libertador, só com restaurantes e lojas para turistas.

calafate_lagoanimez.jpgBaseando-nos nas informações do Rough Guide, caminhámos para norte, até sairmos da cidade e chegarmos à Reserva Natural da Lagoa de Nimez. Por aí andámos, cerca de hora e meia, a fotografar flamingos, pássaros e passarocos. Sempre com os Andes ao fundo, tivemos uma tarde de bird watching. Pena que os argeninos não cuidem bem desta Reserva, já que há um esgoto a despejar directamente na lagoa.

E foi uma boa maneira de passar o tempo, já que em Calafate não há mais nada para fazer. Almoçámos no La Lechuza (a Coruja), uma excelente pizza e duas empanadas. 

12.10.07 – Hoje foi o dia dos glaciares e foi uma experiência única.

Acordar às 6 da manhã, pequeno-almoço rápido e, às 7, vieram buscar-nos. Durante quase uma hora, andámos a passear por vários hotéis, a apanhar turistas, a maior parte deles, falantes de castelhano.

Depois, foi outra hora até Puerto Bandera, onde estava ancorado o catamarã Quo Vadis. Partimos às 9 horas e regressámos pelas 16h30.

O Lago Argentino é o maior da Argentina e o terceiro maior da América do Sul, com 1600 km quadrados e tão profundo que as suas águas mantêm uma temperatura constante de cerca de 8 graus durante todo o ano. As suas águas têm uma cor verde leitosa, devido aos detritos arrastados pelos glaciares, da montanha para o lago.

Antes de vermos os glaciares propriamente ditos, navegámos durante quase uma hora pelo lago, ladeados pelos Andes imponentes, e, depois, avançando por entre inúmeros icebergs que se desprenderam o glaciar Upsala.

calafate_iceberg.jpg

Os icebergs são algo de único, que nunca tínhamos visto ao vivo. As cores azuladas do gelo (quanto mais azul, mais oxigénio), as formas curiosas dos diversos icebergs, a textura do gelo –  tudo era novidade para nós.

calafate_bosque.jpgChegámos à Baía Onelli e desembarcámos para caminhar por entre um bosque típico da Patagónia: árvores baixas, muitas delas caídas pela força do vento. Disseram-nos que, hoje, é uma excepção, já que praticamente não há vento. O vento patagónico, com rajadas que atingem os 100 km, é o habitual e as árvores estão inclinadas sempre para o lado sul (o vento sopra do norte) e, muitas vezes, são arrancadas do solo e estão assim, caídas, com as raízes à mostra.

Atravessando o bosque, chegamos ao lago Onelli, uma pequena extensão de água, rodeada de montanhas e com três glaciares a fornecerem água: o Heim, a Agassiz e o Onelli.

calafate_onelli.jpgO lago Onelli, ele próprio, está cheio de pequenos icebergs e, no inverno, a sua superfície fica totalmente gelada, podendo caminhar-se por cima dele.

A tranquilidade do local é impressionante. Apenas os turistas estragam o panorama selvagem.

 

Regressámos pelo bosque e, antes de voltarmos ao Quo Vadis, almoçámos no restaurante, um excelente bife de chorizo, que não tem nada a ver com  chouriço – é um grandessíssimo bife do lombo, com três dedos de espessura e tenro, como nunca comi outro igual. Os apreciadores de bife deviam, todos, experimentar um bife como este! 

De volta ao catamarã, prosseguimos para ver o glaciar Upsala, que é o maior do Parque Nacional dos Glaciares: 7 km de largura, 60 metros de altura e 60 km de comprimento. O barco não se pôde aproximar muito do glaciar porque, dias antes, tinha acontecido um grande desprendimento e havia muitos blocos de gelo flutuando no lago e que poderiam pôr em perigo a navegação. Mas deu para ver aquela imensa massa de gelo que vem pela montanha fora e atinge o lago como uma parede gelada.

calafate_upsala.jpg

A estrela do passeio de hoje veio a seguir: o glaciar Spegazzini, que é o mais alto do parque, com cerca de 135 metros. A sua beleza é impressionante e difícil de descrever. Parece que o Jorge Luís Borges terá dito, a propósito dos glaciares, qualquer coisa como «olhar para eles é como vê-los sempre pela primeira vez». E é verdade. Conforme o ângulo de visão, conforme o modo como a luz do sol incide sobre eles, parece que estamos a ver coisas diferentes, parece que estamos a ver algo em mutação e não algo inerte, que não tem vida. O glaciar tem zonas de um azul turquesa intenso, como se tivesse iluminação interior, zonas de um branco gelado, outras cinzenta ou negras, devido aos detritos trazidos das montanhas. 

calafate_spegazzini.jpg 

Foi o primeiro ponto alto desta viagem, sem dúvida.

E fomos regressando, passando, novamente, pelos icebergs e estoirando fotos atrás de fotos (cerca de 500, num total de 1700).

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