“Brokeback Mountain”, de Ang Lee

brokeback.jpgPercebe-se a polémica: o cowboy machão salta para a cueca do cowboy mariquinhas. Tirando isso, o filme vale pelas paisagens soberbas das Big Horn Mountains (já lá estive!).

E sinceramente, “homofobia” í  parte, o filme é um bocado seca. Já vi de tudo, no que respeita a amores impossíveis: a prostituta e o senhor rico, a negra e o branco, o coxo e a sádica, a bela e o monstro, a rica e o pobre.

Para que um filme de amor impossível resulte, é preciso algo mais que uma paisagem bonita. “Brokeback Mountain” não tem muito mais: o cowboy introvertido vai trabalhar para a montanha com o cowboy extrovertido, apaixonam-se, sabendo que a sua paixão nunca poderá ser revelada, porque ambos pertencem ao mesmo sexo e vivem numa sociedade conservadora e fechada; portanto, cada um constitui família, casando cada um com a sua moçoila, mas vão-se encontrando, três ou quatro vezes por ano, lá na solidão das Big Horn. Basicamente, o filme é isto.

Repito: as paisagens são lindas!

“The Interpreter”, de Sydney Pollack

interprete.jpgPollack é um clássico (“They Shoot Horses, Don’t They?”, 1969, “The Way We Were”, 1973, “Three Days of The Condor”, 1975, “Absence of Malice”, 1971, “Tootsie”, 1982, “Out of Africa”, 1985, “Havana”, 1990, “The Firm”, 1993, “Sabrina”, 1995, por exemplo).

Sendo um clássico, não consegue realizar filmes maus. Claro que uns são melhores que outros e este “The Interpreter” não é dos melhores, embora nos consiga prender a atenção, sobretudo, pelas excelentes interpretações de Nicole Kidman e Sean Penn.

Kidman é Sílvia Broome, uma intérprete das Nações Unidas, especialista em dialectos africanos, nomeadamente o Ku, falado num país inventado, cuja história se parece com a do Zimbabwe e do seu ditador, Mugabe. Por mero acaso, Sílvia descobre uma intentona para assassinar o ditador africano, no momento em que ele estiver a discursar perante a Assembleia da ONU.

Sean Penn é o agente secreto Tobin Keller, encarregado de investigar o caso e de coordenar a segurança ao ditador. Só que Sílvia é mais do que uma simples intérprete, tendo estado envolvida na resistência contra o ditador.

Desenvolve-se, assim, um thriller político, com alguns bons momentos de suspense e que só peca por a história ser um pouco inverosímil: uma loiraça como a Nicole, envolvida na resistência armada contra um ditador africano, é um pouco difícil de engolir. Mas enfim, papa-se…

“Munich”, de Steven Spielberg

munique.jpgDesta vez, os judeus estão ao ataque. Depois de “Schindler’s List”, em que os judeus eram as vítimas, Spielberg decidiu fazer um filme em que os judeus passam a carrascos.

A história passa-se depois do chamado massacre de Munique, em que onze atletas olímpicos israelitas foram mortos por um comando árabe, sob as ordens do Setembro Negro, uma espécie de Al-Qaeda em ponto pequeno.

O governo israelita decidiu vingar-se e contratou um pequeno grupo de homens, sem qualquer ligação com as instituições oficiais, com a missão de executar onze árabes que estariam ligados ao massacre de Munique.

O líder desse grupo, Avner (Eric Bana), í  medida que vai executando os árabes, começa a interrogar-se sobre a “bondade” deste método que, afinal, aproximava os israelitas aos chamados terroristas.

O filme é sobretudo interessante por nos mostrar que, afinal, os métodos usados por uns e por outros, não são assim tão diferentes, e por nos mostrar como funcionava a contra-informação, nos anos 70, por entre os diversos grupos armados (IRA, OLP, ANC, ETA, Baader-Meinhoff, etc).

Peca por excessivamente longo.

A última imagem do filme, com um plano de Manhattan, visto de Brooklyn, com as Twin Towers ao fundo, é premonitório.

“Syriana”, de Stephen Gaghan

syriana.jpgFilmado ao estilo de “Traffic”, de Soderbergh, que é um dos produtores executivos (Clooney é outro), Syriana conta-nos quatro histórias em paralelo: a de um jovem paquistanês, despedido de uma companhia petrolífera, que se radicaliza e se transforma num mártir; a de um consultor financeiro (Matt Damon), que se deixa iludir pelo fausto e pela fama e se torna consultor pessoal de um príncipe árabe; a de um investigador económico (Jeffrey Wright), encarregado de descobrir os meandros da fusão de duas companhias petrolíferas; e a de um agente da CIA (George Clooney), com muita experiência no Médio Oriente, e que cai em desgraça.

Syriana é o nome dado pelos “especialistas” da Casa Branca í  região do Médio Oriente, depois de estarem redefinidas as fronteiras dos vários países que o compõem.

Por vezes, o filme é difícil de seguir, de tal modo as diferentes histórias se cruzam. Mas, aos poucos, o plano geral vai-se compondo e, no final, fica um certo amargo de boca: afinal, o que se passa nos bastidores dos múltiplos conflitos do Médio Oriente, não passa de um poderoso jogo de interesses das companhias petrolíferas. Nada que nós já não suspeitássemos.

No entanto, ao ver o filme, ocorre-nos o seguinte: as notícias que vemos na televisão sobre a crise do Médio Oriente, não têm nada a ver com a realidade. O filme leva-nos a concluir que, dadas as circunstâncias, o jovem paquistanês não tinha alternativa, se não transformar-se num bombista suicida, embora pudesse ter seguido o exemplo do pai, também despedido, e que se limita a jogar críquete, no deserto, com um grupo de companheiros esfarrapados, que vivem em contentores.

“Transamerica”, de Duncan Tucker

transamerica.jpgParece um filme de Almodí´var, mas passado nos States.

Stanley, aliás Sabrina, é um transexual de Los Angeles que, depois de muito esforço económico, muitas hormonas e muita psicoterapia, está a uma semana de, finalmente, mudar de sexo. É nessa altura que recebe um telefonema de um estabelecimento prisional nova-iorquino: o seu filho, de 17 anos, está preso, depois de ter sido apanhado a prostituir-se.

A terapeuta convence Sabrina a enfrentar a situação e a lidar com ela, antes de fazer a operação. O filme mostra-nos, então, as aventuras e desventuras deste estranho par, na longa viagem entre Nova Iorque e Los Angeles, passando por Phoenix, onde se dá um encontro, ainda mais estranho, com os pais de Stanley/Sabrina.

A interpretação de Felicity Huffman valeu-lhe um Globo de Ouro e é suficiente para que o filme mereça ser visto.

“The Pink Panther”, de Shawn Levy

pinkpanther.jpgDepois de ver o filme sobre Peter Sellers, pareceu-nos adequado espreitar este remake da Pantera Cor-de-rosa, em que Steve Martin interpreta o papel do desastrado inspector Clouseau.

Na verdade, não se trata de um remake, mas sim de um filme inspirado na série de filmes realizados por Blake Edwards, nos quais Peter Sellers era Clouseau e levava ao desespero o chefe Dreyfus (agora interpretado por Kevin Kline).

Martin não é Sellers, mas safa-se mais ou menos bem, embora não resista a algumas palhaçadas, coisa que o verdadeiro Clouseau nunca faria: por mais idiota que fosse a situação, por mais desastrados que fossem os seus gestos, tudo era feito com uma dignidade e uma seriedade que, por isso mesmo, se tornava hilariante.

Mas enfim, como entretenimento, não aleija a inteligência.

“The Life and Death of Peter Sellers”, de Stephen Hopkins

petersellers.jpgA minha vida dava um filme – era uma rubrica, se não me engano, da revista Crónica Feminina, dos anos 60 do século passado.

A vida de qualquer pessoa dava um filme, por mais monótona ou “normal” que a vida seja. Tudo depende de quem realiza o filme. Mesma a vida sempre igual, a “vidinha”, como dizia O’Neill, pode transformar-se num grande filme – ou numa grande chatice.

Ora, pelos vistos, a curta vida de Peter Sellers (54 anos), parece ter sido tudo menos monótona. Este filme de Hopkins mostra-nos um Sellers dominado por uma mãe possessiva, muito dado a caprichos e crises de fúria, dominado pelas personagens que ele próprio foi criando, ao longo da sua carreira, desde o tempo em que ganhava a vida como cómico de rádio, até ao momento em que atingiu a celebridade, com os filmes da série Pantera Cor-de-rosa e, sobretudo, com Dr. Strangelove, de Kubrick.

Geoffrey Rush faz um excelente Peter Sellers, assumindo todos os seus tiques conhecidos: a maneira de andar, os truques vocais, os “accent”. O filme mostra-nos que Sellers não existia por si (há uma cena em que o actor se olha ao espelho e não vê nenhum reflexo). Sellers era as personagens que encarnava.

Egocêntrico, caprichoso, muito provavelmente sociopata, Peter Sellers destruiu-se a si próprio, terminando a sua carreira com “Being There” (“Benvindo Mr. Chance”), um filme sobre alguém que praticamente não existia e que, por isso mesmo, quase chegou a Presidente dos EUA.

“Kinsey”, de Bill Condon

kinsey.jpgAlfred Kinsey (1894-1956), foi um zoólogo norte-americano que, a determinada altura da sua vida, decidiu aplicar as suas técnicas de estudo dos insectos, no estudo dos comportamentos sexuais dos norte-americanos. Assim como coleccionava milhares de insectos, estudando as suas diferenças e as suas particularidades, começou a entrevistar milhares de norte-americanos, tentando saber quais eram os seus hábitos sexuais.

Em 1948, publicou Sexual Behaviour in the Human Male e, cinco anos depois, um volume idêntico, dedicado í s mulheres.

Claro que Kinsey não descobriu a pólvora mas, numa América puritana, onde não se falava de sexo, onde o sexo oral era proibido em muitos Estados (acho que, em alguns Estados, essa lei ainda não foi revogada, embora já ninguém lhe ligue), onde nem sequer passava pela cabeça das pessoas que uma mulher “decente” pudesse ter prazer sexual, Kinsey teve a coragem de demonstrar que, afinal, a vida sexual dos americanos era tudo menos “politicamente correcta”.

É espantoso que Kinsey tenha chamado a atenção para muitas coisas que, hoje em dia, ainda são tabus para muito boa gente: a importância do clítoris, o constrangimento sexual pelas regras sociais, a bissexualidade, a homossexualidade, etc.

O filme, realizado por um tal Condon (“condom” significa preservativo…), é competente e dá-nos pistas para perceber melhor a personalidade de Kinsey (Liam Neeson): um pai autoritário e puritano até í  náusea, a sua própria inexperiência sexual até conhecer a sua mulher (Laura Linney), as suas dúvidas quanto í s suas preferências sexuais, a sua obsessão pelo trabalho, a dificuldade em distinguir entre o que é “normal” e o que é “patológico”, no que respeita í  sexualidade.

Um filme interessante, num momento em que se discutem, em diversas publicações, muitas das coisas que Kinsey já tinha publicado há mais de 50 anos e que foram praticamente ignoradas.

“Sideways”, de Alexander Payne

sideways.jpgVencedor de dois globos de ouro e candidato a cinco í“scares, este filme do mesmo realizador de “About Schmidt” (com Jack Nicholson) é bem esgalhado e proporciona duas horas bem passadas.

Dois amigos decidem fazer uma viagem enóloga pelas vinhas da Califórnia. Miles (Paul Giamatti), é um professor de liceu, autor de um romance que ninguém está interessado em publicar, e tenta recuperar de um divórcio turbulento. Jack (Thomas Haden Church) é um actor medíocre que se vai casar no final dessa semana, depois de uma longa carreira de solteirão.

As peripécias que os dois amigos vão vivendo, ao longo da semana, a visão da vida, sempre pessimista, de Miles e sempre optimista de Jack, o encontro com duas amigas, que Jack convence Miles a engatar, tudo isto tendo como pano de fundo as provas de diversos vinhos californianos – provas que, por vezes, se transformam em grandes bebedeiras, são os ingredientes do filme.

Realizado ao estilo de road movie, “Sideways” foi uma agradável surpresa.

Sopranos – 5ª série (2004)

sopranos_5.jpgEsta talvez seja a série mais dramática dos Sopranos.

Velhos membros da Máfia são libertados, após longos anos de prisão. Entre eles, Tony Blundetto (Steve Buscemi), primo e companheiro de infância de Tony Soprano. Foi preso quando contrabandeava cassetes Betamax. Tony Soprano devia estar com ele, nesse momento, mas teve um dos seus ataques de pânico, depois de uma discussão com a mãe e safou-se da prisão.

Por esse motivo, Soprano sente-se culpabilizado pela morte do primo e, após a sua libertação, faz tudo para o apoiar – não porque goste genuinamente dele, não porque tenha, por ele, um verdadeiro afecto. No fundo, Soprano só se preocupa com ele próprio – mas as aparências, as regras da família, a honra, tudo isso se baralha na sua cabeça de psicopata.

O mesmo se passa na cabeça das restantes personagens desta série brilhante: Christopher não hesita em denunciar a sua namorada de tantos anos, quando descobre que ela colabora com o FBI; Carmela acaba por desistir da separação, a troco de um terreno para construir uma casa, que Tony lhe compra.

No final da série, Adriana e Tony B. são sacrificados, em nome da manutenção da Família.

A série Sopranos continua a ser, aparentemente, um retrato da Máfia norte-americana – mas também, um retrato de muitas famílias que por aí há, disfuncionais, onde os afectos são substituídos por regras sociais: o pai ama o filho mas, se for necessário, é capaz de o matar (mesmo que simbolicamente) para manter a ordem estabelecida.