“Little Miss Sunshine”, de Jonathan Dayton

littlemisssunshine.jpgOra aqui está um filme curioso sobre mais uma daquelas americanices que nos deixam estupefactos: os concursos de beleza para miúdas de 6 ou 7 anos.

Uma miúda concorre a um desses concursos e obriga a sua família disfuncional a acompanhá-la na viagem de mais de mil quilómetros: o aví´ paterno (Alan Arkin), que começou há pouco tempo a snifar heroína, o tio materno, homossexual e o maior especialista americano em Proust, o meio irmão, que não fala há meses porque fez voto de silêncio até saber se consegue entrar na Força Aérea, o pai (Greg Kinnear), que inventou um daqueles métodos de auto-ajuda mas que, no fundo, é um falhado, e a mãe (Toni Collette), que será a mais “normal” desta malta toda.

A viagem e as múltiplas peripécias que a família vai ultrapassando faz com que os vários elementos se conheçam melhor uns aos outros e se aproximem, ultrapassando os vários diferendos que os afastavam.

O título, em português (“Uma Família í Beira de um Ataque de Nervos”), devia ser proibido!

“The Moguls”, de Michael Traeger

amadores.jpgConfesso que fui ao dicionário e “moguls” significa «autocratas, manda-chuvas», embora também possa significar “mongóis” ou, ainda, «saltos que um esquiador dá, quando desce uma montanha coberta de neve e que tem altos e baixos». Nada disto se aplica a este filme pelo que, pela primeira vez, acho que o título em português (“Os Amadores”) é melhor do que o original.

Jeff Bridges é o principal actor, em modo Big Lebovski e o filme é uma palermice que faz sorrir de vez em quando. Resumo do argumento: sem dinheiro e sem emprego, Andy (Bridges) e um grupo de amigos igualmente patetas, decide fazer um filme pornográfico só com amadores.

Bom filme para ver num sábado de aleluia…

“Marie Antoinette”, de Sofia Coppola

marieantoinette.jpgUma sucessão de quadros rococó, com banda sonora punk. Sofia Coppola ficou fascinada pelos vestidos da corte de Luís XVI e o guarda-roupa ganhou um í“scar. Kirsten Dunst tem o ar gaiato que Maria Antonieta talvez tivesse quando, aos 17 anos, se casou com o futuro rei de França. Viver em Versailles e não saber, sequer, onde ficava o resto do país. Luís XVI passa o filme em caçadas e tem duas reuniões com os seus conselheiros, sobre o apoio da França aos independentistas americanos. E, de súbito, está uma multidão andrajosa í  porta – vem buscar o rei e a rainha, afim de lhes cortarem as respectivas cabeças.

Um filme de futilidades, com uma banda sonora curiosa e um guarda-roupa de encher o olho.

O resto, é paisagem – e a de Versalhes forma verdadeiros bilhetes postais.

“24” – 6ª série

24_6.jpgJack Bauer anda-me a descair. A 6ª série até começa bem: num dos primeiros episódios, Bauer, amarrado a uma cadeira, consegue pí´r um bandido fora de combate, mordendo-lhe uma carótida, até í  morte. Mas depois, a coisa arrasta-se. Outra vez os muçulmanos maus, outra vez os americanos a lixaram o seu próprio país, outra vez os chineses, outra vez os russos, outra vez o presidente Palmer II (o irmão do primeiro), outra vez a CTU í  brocha… enfim, já cansa.

Parece que os produtores da série reconheceram a fragilidade do argumento desta 6ª série e já prometeram melhorar as coisas na 7ª série, mas com a greve dos argumentistas, duvido.

A prova de que esta 6ª série é muito fraca: demorámos quase 24 dias a ver toda a série, í  razão de um único episódio por noite, ao passo que as anteriores séries foram praticamente devoradas.


“House” – 3ª série

house3.jpgA 3ª série de House é mais do mesmo mas, quando a coisa é boa, é mais do mesmo que nós queremos.

A série começa com um House renovado, após o coma induzido e o tratamento da Cuddy. O homem não tem dores, largou a bengala e o Vicodin, faz jogging e começa até a ser simpático com as pessoas. Felizmente isto dura apenas dois episódios e, ao terceiro, já o homem arrasta a perna, engole Vicodins a bom ritmo e torna a ser intratável. Assim é que nós gostamos de Gregory House.

Claro que as histórias clínicas são cada vez mais inverosímeis. Habitualmente, o doente começa por ter uma lipotímia, uma síncope ou uma convulsão. Na cena seguinte, já no Hospital, vemos o doente deitadinho na caminha, aparentemente bem. House e os seus três discípulos discutem o diagnóstico diferencial que, habitualmente, inclui amiloidose, sarcoidose, intoxicação por um qualquer metal pesado raríssimo, infecção por um estreptococo alienígena ou cancro já com variadíssimas metástases. House acaba por se decidir por uma outra doença qualquer e manda que se faça o tratamento. «Se o doente piorar, é por que é outra coisa». E, na cena seguinte, o doente já está em paragem cardiorrespiratória, em insuficiência renal, ou “all of the above”.

Depois – e aqui, depende dos episódios – ou House anda a implicar com a Cuddy, ou com o Wilson, ou com um dos seus três servos, ou com todos ao mesmo tempo e a história clínica acaba por cair para segundo plano e, regra geral, resolve-se na última cena.

Nada disto é muito importante porque, o que tem graça, é assistirmos ao espectáculo de Hugh Laurie a fazer de Gregory House.

Para mim, como médico, gosto muito do modo como House lida com alguns dos doentes que lhe aparecem na Clínica.

Doente – Tenho uma dor neste ombro que nem consigo dormir virado para este lado.

House – Então, por que não dorme virado para o outro lado? Tem dois ombros…

Doente – Porque estou muito habituado a dormir virado para este lado, mas isso faz-me doer o ombro!

House – Bom, então teremos que ponderar a cirurgia…

Doente – Ao ombro?…

House faz uma careta que diz tudo: é ao braço, estúpido! Se te dói o ombro e não consegues dormir virado para esse lado, e não queres dar-te ao trabalho de dormires virado para o outro lado, tira-se o braço e o problema fica resolvido, não é?

É frequente surgirem doentes com questões como esta e, como não sou o House, não posso responder desta maneira; embora, por vezes… bom, isso fica para quando escrever as minhas memórias…

No final desta 3ª série, Foreman demite-se, House despede o Chase e a Cameron, por solidariedade, demite-se também.

É tempo de se arranjarem outros parceiros para House.

“Lost” – 3ª série

lost3.jpgA sensação que dá é que os argumentistas desta série andam í  pesca e vão construindo o argumento í  medida que a série vai evoluindo. Depois, adaptam os “flashback” ou o percurso das várias personagens, conforme os acontecimentos. A flexibilidade do argumento até lhes permite matar uma personagem e fazê-la reaparecer mais tarde, num “flashback” ou numa alucinação qualquer.

Convenhamos no entanto, que a série perdeu metade da graça que tinha, í  medida que se vai percebendo que os Outros, enfim, são assim uma espécie de seita. E depois, há alguns pormenores místicos que me desagradam, bem como algumas idiossincrasias demasiado estapafúrdias, como o urso polar e a mancha negra que, de vez em quando, ataca as pessoas.

Mas, como já disse, a propósito da 2ª série, se entrarmos no espírito da coisa e se partirmos do princípio que, está-bem-abelha-o-tal-Jacob-e-a-especialista-em-fertilidade
-e-a-força-da-ilha-e-tal-e-coisa, a série ainda se vai papando e ainda não aleija a inteligência.

No entanto, não deixo de pensar que os writers perderam uma boa oportunidade de fazerem uma grande série, porque o material dava pano para mangas se, em vez de seguirem o caminho mais ou menos místico, optassem por algo mais ligado í  teoria da conspiração, tipo “ilha secreta onde se fazem experiências esquisitas, í s escondidas do resto da humanidade”.

Por exemplo…

“The Closer” – 2ª série

closer2.jpgEsta é uma daquelas séries em que a protagonista tem mais importância que o argumento. Com efeito, os argumentos dos episódios podem, por vezes, ser um pouco fracos, mas Kyra Sedgwick construiu uma personagem que vale pela série toda. Aliás, Sedgwick ganhou o Globo de Ouro deste ano para melhor actriz em série dramática.

E claro que está muito bem acompanhada, nomeadamente por J.K. Simmons (o chefe Will Pope, seu superior hierárquico e ex-amante), Robert Gosset (o comandante Taylor, que não a pode ver, nem pintada), G. W. Bailey (tenente Provenza), Anthony Jonh Denison (detective Andy Flynn, sempre de palito na boca), e todos os restantes secundários.

A 2ª série mantém o nível de qualidade da primeira, mas Kyra está ainda melhor no papel da deputy chief Brenda Lee Johnson, altamente desorganizada na sua vida privada, mas infalível, na descoberta dos criminosos. E, quase sempre, são pequenos acontecimentos paralelos, que nada têm a ver com o crime em investigação que lhr dão a chave para o problema.

“Amores Perros” – de Alejandro Gonzalez Ií±árritu

amorcao.jpgTrês histórias que se encontram num cruzamento, ou melhor dizendo, que se chocam num choque de automóveis: a do jovem que ganha umas massas com os combates entre cães, a da manequim, que tem um caniche, e que rouba o marido í  outra e a do vadio, ex-guerrilheiro, sempre rodeado de vira-latas, e que se transformou num assassino a soldo.

Três histórias que nos mostram três formas de amor entre humanos, e entre humanos e cães

Gostei mais da história do homem “maduro”, que engata a manequim boazona, acabando por abandonar a mulher. Pouco depois de se ter mudado para a casa nova, juntamente com a manequim, o caniche desta cai num buraco do soalho e, logo a seguir, ela sofre o violento acidente de viação, que é o ponto de encontro das três histórias.

O ritmo é bom, as histórias são interessantes, os actores são bons, a produção é profissional (só nome da produtora artística diz tudo: Brigitte Broche).

Com filmes destes, Hollywood fica com as orelhas a arder.

Prison Break – 2

prisonbreak2.jpgOs manos Scofield conseguiram fugir da prisão mas os seus problemas só agora começaram. A Companhia – um conglomerado de multinacionais muito más, que dominam tudo e todos, incluindo a Presidente da República – não vai descansar enquanto não os apanhar. No seu encalço, coloca um agente do FBI com graves problemas psicopatológicos e um asiático-americano sem super-ego, capaz de matar toda a gente com um sorriso nos lábios.

Como sempre, Paul Scofield mantém aquele ar de menino que precisa urgentemente de uns beijinhos e de umas festinhas e não perde a calma em circunstância alguma. No fundo, parece tão psicopata como todos os outros.

Esta segunda série mantém os mesmos níveis de dependência, terminando cada episódio com algo que nos obriga a ter que ver o episódio seguinte, sob pena de não dormirmos descansados.

No entanto, começa com algo de pouco credível: o excelente T-Bag, consegue colocar a sua mão decepada numa geleira, que rouba a campistas e obriga um veterinário a re-implantar-lhe a mão. Vão dar banho ao cão!

Depois, ao longo desta fuga maluca, os manos Scofield mantêm uma máquina zero impecável, o que lhes confere aquele ar modernaço, sport-chic, mas nós não percebemos como arranjam eles tempo para ir ao barbeiro.

No último episódio desta 2ª série, o Big Chief da Companhia, que, afinal, é general e usa bata branca, parece que é uma espécie de cientista, que estará a testar o Paul Scofield. Se assim é, fica provado que os argumentistas ficaram sem ideias para esta série e escusam de fazer greves que, de mim, não levam aumento de ordenado.

Aguardemos…

“Apocalypto”, de Mel Gibson

apocalypto.jpgFinalmente arranjámos paciência e estí´mago para ver mais este filme de Mel Gibson, o tal que é falado em dialecto maia. O núcleo do argumento, afinal, é igual a tantos outros: os homens maus querem escravizar os homens bons. A coisa fica mais fácil porque a história acaba por se resumir a um homem mau e a um homem bom – o qual, ainda por cima, tem a sua mulher, grávida, e filho, presos num poço.

O filme é violentíssimo e tem cenas eventualmente chocantes e desnecessárias para o desenvolvimento da história, como a cena do jaguar que ataca um dos maus, comendo-lhe a cara (por que não uma perna?).

í€ medida que se aproxima do fim, as coisas complicam-se e ficam cada vez pior, sobretudo quando começa a chover e o poço onde estão a grávida e o filho se inunda. Mas ainda vai ficar pior: no horizonte, vêem-se os galeões espanhóis.

Frenético e assustador, violento, por vezes desnecessariamente violento, com um cenário espectacular (a selva mexicana) e um brilhante conjunto de actores amadores, sem tiques de estrelas, sem ademanes, sem truques – penso mesmo que o filme vale, sobretudo, por estes amadores, já que, se os actores fossem profissionais conhecidos, o filme poderia cair na vulgaridade.