“Lions For Lambs”, de Robert Redford

—Redford realizou este filme que põe e causa a actual política externa norte-americana, nomeadamente a sua “guerra contra o terror”.

O filme desenvolve-se em três cenários.

Num deles, um Tom Cruise clássico representa o papel de um ambicioso senador republicano, com vontade de concorrer í  Casa Branca e que é responsável por uma nova estratégia na luta contra os talibãs, no Afeganistão. Este senador resolve conceder uma entrevista a uma jornalista experiente (Meryl Streep), dando-lhe a exclusividade da notícia dessa nova estratégia. Ao ouvir a descrição da nova estratégia de guerra, a jornalista lembra-se que ela já foi usada no Vietnam, com resultados desastrosos.

No decorrer da entrevista, a tensão entre o senador e a jornalista, é evidente: ele, absolutamente a favor a guerra contra o “Eixo do Mal”, ela, de pé atrás, mas com dificuldade em marcar a sua posição porque, após o 11 de Setembro, apoiou as posições agressivas de Washington.

O segundo cenário é o de uma Universidade: o professor, interpretado por Robert Redford, tenta convencer um aluno, supostamente brilhante, a voltar í s aulas, porque o país precisa dos mais inteligentes e dos mais capazes – e são esses que, na maioria das vezes, de divorciam da política.

O terceiro cenário decorre nas montanhas do Afeganistão, onde dois militares voluntários, ex-alunos do professor, estão a pí´r em prática a nova estratégia do senador, com resultados desastrosos.

Um filme denso, com uma mensagem política evidente, com excelentes interpretações, mas poucas hipóteses de ser visto por muita gente, devido í  densidade dos diálogos.

“Broken Flowers”, de Jim Jarmusch

—Um “pequeno” filme muito curioso, que ganhou o Grande Prémio de Cannes, em 2005.

Don Johnston fez fortuna na área dos computadores e está retirado e deprimido, sozinho no seu grande casarão. Teve fama de Don Juan mas a sua última namorada abandonou-o e ele está sem energia para sequer se levantar do sofá da sala.

É então que recebe uma carta anónima; uma antiga namorada revela-lhe que, 19 anos antes, teve um filho dele. O rapaz só agora soube quem era o pai e anda í  procura dele.

Don mostra a carta ao seu vizinho, que tem a mania que é detective privado e que lhe propõe que faça uma lista das namoradas que teve, 20 anos atrás. Don acede, contrariado. Não lhe apetece fazer nada – nem sequer conhecer um filho que não sabia que existia, mas acaba por fazer a tal lista, da qual constam 5 nomes de antigas namoradas.

O vizinho de Don, como bom detective amador, faz-lhe um dossier para cada uma das namoradas, compra-lhe bilhetes de avião, reserva-lhe quartos em hotéis e prepara-lhe um itinerário completo, de modo a que Don vá visitar cada uma das namoradas, tentando, assim, perceber qual delas é a mãe do seu filho.

O resto do filme mostra-nos o encontro de Don com cada uma dessas namoradas; e cada um desses encontros é uma nova surpresa.

Bill Murray faz um bom Don Johnston, ao jeito do personagem do “Lost in Translation”. Com aquela cara de deprimido permanente, Murray só tem que “act naturaly”.

“Broken Flowers”, espantosamente traduzido para “Flores Partidas”, é uma agradável surpresa.

“No Country For Old Men”, de Ethan & Joel Coen

—Já li o livro há uns meses, mas só agora arranjei tempo para ver o filme.

Parece que Cormac McCarthy escreveu este livro a pensar nos irmãos Coen. A adaptação do livro a argumento de filme está estupenda. Feito í  medida. Daí o óscar por melhor argumento adaptado.

Quanto aos restantes óscares:

O de melhor actor secundário, para Javier Bardem era de esperar; para se ganhar um óscar para melhor actor secundário, basta fazer um papel em que se fala pouco e se mantém a mesma carantonha, do princípio ao fim do filme – os tipos da Academia de Hollywood, com complexos-de-cinema-europeu, acham logo que isso é ser um grande actor e dão-lhe um óscar.

Tenho dificuldade em avaliar a justeza do óscar para melhor filme porque vi poucos filmes de 2007.

Quanto ao óscar para melhor realizador, os irmãos Coen merecem-no. O filme é seco, como o texto do livro e retrata bem a América profunda, í spera, cheia de espinhos.

Bardem faz um psicopata convincente, que mata com uma espingarda de matar gado. Inventou aquela cara e aquele penteado e mantém-nos ao longo de todo o filme. Bom. Decide a vida das pessoas com moeda ao ar. No fim, leva com um carro em cima, num cruzamento qualquer. A vida é uma sorte.

Josh Brolin é o caçador que, por acaso, encontra uma mala com 2 milhões de dólares, passando, assim, de caçador a caçado. É o americano convencido. Arrisca e lixa-se. Paciência…

Tommy Lee Jones é o xerife “old timer”, que tem dificuldade em adaptar-se ao novo tipo de crimes, demasiado amorais, para os seus padrões. A personagem do xerife está entre gerações violentas: o seu pai também viveu numa época difícil e selvagem, em que as pessoas não hesitavam em resolver qualquer diferendo ao tiro. Hoje em dia, voltámos ao mesmo.

Este país não é para velhos?

Não há nenhum país para velhos?

Prison Break – 3ª série

—Coitadinho do Michael Scofield que é tão bonzinho!… Uma senhora muito má, que trabalha para The Company, corta-lhe a cabeça í  namorada e Michael é incapaz de lhe dar um tiro.

E aí vai ele, estrada fora, algures no Panamá, em busca de vingança…

Mas, entretanto, ao longo de 12 episódios esteve a serrar presunto até conseguir fugir da inverosímil prisão de Sona.

Mais fraca que a segunda série, a anos-luz da fantástica primeira série, esta terceira época de Prison Break consegue, apesar disso, prender a nossa atenção e tem, ainda, alguns picos de suspense.

No entanto, os autores de Prison Break precisam de dar uma grande volta ao argumento para que a série consiga sobreviver mais 2 ou 3 épocas.

Quanto a Michael Scofield, sempre com aquele ar muito sério, olhando por baixo das sobrancelhas, já merecia que alguém o fizesse rir…

E onde é que Michael e Lincoln cortarão o cabelo?…

“The Shield” – 2ª série

—Mackey e Aceveda firmam um pacto de não agressão: o comandante daquela esquadra muito especial não chateia muito o detective corrupto e, em troca, este arranja-lhe umas detenções baris, que poderão ajudar o latino a ganhar as eleições.

Este arranjinho fica comprometido com uma auditora civil, que mete o nariz em tudo e que começa a desconfiar dos métodos do Strike Team. Além disso, também a detective Claudette começa a não achar muita graça aos métodos de Mackey e decide roer-lhe os calcanhares. Paralelamente, a mulher de Mackey quer mesmo o divórcio, um dos seus principais chibos é queimado vivo e uma prostituta junkie, que também lhe dava umas tips, leva um balázio na barriga e vai desta para melhor.

Vic Mackey só tem coisas que o ralem!…

A série é filmada com muito nervosismo. Uma simples conversa de três minutos, é filmada de três ângulos, com uma câmara hesitante, fazendo lembrar o método usado por Soderbergh, em “Traffic”, por exemplo. Os episódios são todos filmados a correr, tudo acontece muito depressa e é raro haver um diálogo que dure mais de três minutos. Mackey, por exemplo, está sempre a entrar e a sair de salas, a aproximar-se e a afastar-se da câmara, sempre nervoso, nunca nos olhando de frente.

Não é uma grande série, mas é bem esgalhada e tem a diferença de os heróis serem polícias assumidamente corruptos e nós nem nos importarmos muito com isso. Até porque “ladrão que rouba a ladrão…”

ER – séries 10 e 11

—Em Itália, uma Associação de médicos sugeriu que a televisão deixasse de transmitir as séries sobre médicos (ER, Scrubs, House e Grey’s Anatomy). Razão: ao verem as referidas séries, as pessoas são levadas a pensar que é fácil fazer uma traqueostomia com um canivete e uma caneta Bic, ou uma cesariana com uma tesoura da poda.

Penso que os médicos italianos são um pouco exagerados, mas percebo o seu ponto de vista. Os médicos do ER, por exemplo, são capazes dos malabarismos mais virtuosos – embora sejam incapazes de levar uma vida amorosa estável, por exemplo.

—Estas duas séries do ER, de 2002 a 2005, têm episódios que provocam algum bocejo porque os argumentistas cederam í  facilidade da telenovela: Kerry descobre a sua mãe biológica, o filho de Carter morre í  nascença, o Kovac não consegue manter a pila dentro das calças. É seca.

Tudo isto acontece em qualquer das outras séries. O que distingue o ER das restantes séries são os grandes acidentes com politraumatizados, os esfaqueados, os membros dos gangs cheios de balas.

E o ER ainda consegue ter alguns bons episódios, como o último da 11ª série, que deixa água na boca para a série seguinte, apesar do abandono do “velho” John Carter – o ER mudou muito com a “morte” do Dr. Greene; será que sobrevive í  saída de Carter?

Os filmes que saem nos jornais

Desde há algum tempo que, ao comprares um jornal, te arriscas a trazer para casa um serviço de chá para quatro pessoas, um faqueiro em prata, uma colecção de santos para pendurar em pulseiras ou colares, sacos para guardares o lixo reciclável, toalhas para a praia, cromos da bola, livros e filmes em dvd.

Filmes em dvd é a oferta mais popular. Desde o Diário de Notícias í  Visão, da Volta ao Mundo ao Expresso, não há periódico que não te ofereça um dvd qualquer. Se tiveres o “azar” de seres daqueles que, como eu, são viciados em jornais e revistas, sem dares por isso, acabas com uma pilha de dvd na prateleira da sala e, das duas, uma: ou ignoras e vais aumentando a pilha, ou te irritas e deitas tudo fora, ou decides ver alguns daqueles filmes. Afinal, é das duas, três…

E foram três os dvd que vi, esta semana, com o objectivo confesso de fazer diminuir a tal pilha.

“Bitter Moon”, de Roman Polanski

—O tarado do Polanski fez este filme em 1992, mas parece que foi feito vinte anos antes. É um filme que cheira a mofo – e não pelo facto de eu só agora o ter visto. A história do filme cheira a libertinos parisienses dos anos 50 e parece deslocada nos anos 90, quanto mais hoje em dia.

Peter Coyote é um candidato a escritor que, graças a uma herança, vai viver para Paris, onde, como toda a gente sabe, é onde está a Cultura. Durante não sei quantos anos, não faz nada se não escrever umas histórias que ninguém lê, fumar que nem um desalmado, apanhar grandes bebedeiras e foder com toda as miúdas que se cruzam com ele. Até que conhece Mimi (Emmanuelle Seigner), uma empregada de bar que estuda dança moderna numa escola nocturna e que fode que nem uma maluca, entregando-se a todos os tipos de jogos sexuais, sado-masoquismo incluindo. Enfim, a história do costume. O lugar comum. Henry Miller escreveu tudo o que havia a escrever sobre isto.

O americano e a francesa, depois de várias peripécias, acabam num cruzeiro, onde encontram um casal de ingleses, casados há sete anos. O tal casal é outro cliché: Hugh Grant e Kristin S. Thomas são o mais ingleses possível e está-se mesmo a ver que não se comem como deve ser, o que leva a um jogo de sedução, entre a francesa e o inglês, em que o americano e a inglesa serão os voyeurs.

Enfim, tudo um pouco “fucked up”, como Polanski gosta, mas que me cheirou a serí´dio. Por outras palavras: vê-se, mas já dei para este peditório.

“The Illusionist”, de Neil Burger

—Edward Norton, naquele seu modo contido, faz o papel de um ilusionista que, no século 19, se destacou no Império Austro-Húngaro.

Qual David Copperfield, o mago conseguia as maiores proezas em palco e era muito popular, até reencontrar o amor da sua adolescência, a condessa de Von Teschen (Jéssica Biel), agora noiva do sucessor do império. Esse reencontro não é bem visto pelo malandro do futuro imperador que, ainda por cima, é um grande bêbado e abusador de mulheres, e o inspector da polícia de Viena (Paul Giamatti), fica encarregado de vigiar o ilusionista.

É uma história de amor bem contada e com um boa fotografia em tons de sépia, para nos transportar melhor para o século 19. Norton não se ri durante o filme todo mas acaba por ficar com a melhor parte, no fim…

Vê-se sem grande esforço…

“The Door in the Floor”, de Tod Williams

—Mais uma história triste: Ted Cole (Jeff Bridges) é um escritor/ilustrador de histórias infantis, que se mete nos copos e gosta de desenhar e humilhar mulheres nuas; Marion (Kim Basinger), a sua mulher, está com uma depressão das antigas desde que os filhos do casal, adolescentes, morreram num acidente de viação. O nascimento de uma filha, agora com 5 ou 6 anos, não suavizou o sofrimento.

Casal em crise, está-se mesmo a ver. Nas férias de Verão, o escritor arranja um assistente, para o apoiar, para aprender as técnicas da escrita e, sobretudo, para servir de motorista, já que ele está impedido de conduzir, por ter sido apanhado com uma grande bebedeira nos queixos. O jovem assistente, tem a idade que o filho mais velho dos Cole teria, se ainda fosse vivo. E, apesar daquele ar inocente de puto marrão, aí está ele a perder a virgindade com a Kim Basinger. Parece-me injusto.

As relações entre o casal vão-se degradando mas, felizmente, existe uma porta no chão…

Vê-se bem, com algumas reservas.

“House of Sand and Fog”, de Vadim Perelman

—Filme triste e trágico, este. Jennifer Connely passa duas horas com aqueles olhinhos tristes e sem nunca esboçar um sorriso. E, no fim, mais triste ainda fica, depois da morte dos seus opositores.

A história gira em redor de uma casa, que o pai de Kathy (Jennifer Connely) lhe deixou. Ben Kingsley interpreta o papel de Massoud Anir Behrami, um ex-militar iraniano, emigrado nos EUA, que decide comprar a casa de Kathy, que as Finanças colocam em leilão, devido a um erro administrativo.

Perder a casa da família leva Kathy ao desespero e í  tentativa de suicídio.

Behrami acaba por perceber que, ao ficar com a casa, está a destruir a vida de Kathy, mas não quer desistir do seu sonho. A morte acidental do filho, durante uma luta com o polícia que, entretanto, se envolveu com Kathy, destrói o iraniano, que acaba por se suicidar, depois de assassinar a mulher. Uma tragédia do caraças!

A casa, sempre rodeada de bruma, representa a vida, para estas personagens desesperadas.

Kingsley – que, fatalmente, há-de sempre estar ligado í  figura cinematográfica de Gandhi – foi nomeado para o í“scar de melhor actor em 2004.

Gostei muito de três coisas: as orelhas de Kingsley a abanarem com a ventania, toda a representação de Kingsley… e os olhinhos tristes da Jennifer…

“The Shield” – série 1

—Mais uma série norte-americana que se começa a ver com um pé atrás, mas que acabamos por adoptar, como quase todas as outras. Os States estão, cada vez, mais especialistas em séries televisivas.

Este “The Shield” passa-se em Los Angeles e mostra-nos uma esquadra muito especial, dirigida por um latino-americano com ambições políticas, um par de detectives com algumas limitações, mas que acabam por ser bem sucedidos, mais í  custa da transpiração do que da inspiração, um polícia negro, cristão e gay, com muitas dúvidas e outras personagens menores.

No entanto, a estrela da série é uma equipa especial, formada por quatro durões, qual deles o mais cromaço, a começar pelo chefe, Vic Mackey (Michael Chiklis), que são politicamente incorrectos, violentos e até um pouco corruptos, sendo capazes de tudo para apanhar os bandidos, incluindo dar grandes sovas nos bandidos, comer-lhes as namoradas ou até matar os bufos.

Mackey é um caga-tacos corpulento, talvez um pouco gordito até, e que actua sempre no fio da navalha, usando os mesmos métodos que os bandidos. Só que ele tem um distintivo – aliás, o símbolo da série é exactamente um distintivo deformado, amachucado, da LAPD.

Tom Waits fala í  imprensa

Foi o Pedro que me chamou a atenção para este vídeo delicioso do Tom Waits.

Trata-se de uma conferência de imprensa muito especial, destinada a dar pormenores sobre a temporada de concertos de Waits, nos EUA, a chamada “Glitter and Doom Tour”.

O grande sacana também vem í  Europa: dia 12 em San Sebastian, dias 14 e 15, em Barcelona, depois Milão (17, 18 e 19), Praga (dias 21 e 22), Paris (24 e 25), Edimburgo (27 e 28) e Dublin (30, 31 e 1 de Agosto).

E Portugal? Nada! Não era preciso ser em Lisboa, caramba! Podia ser na Guarda (cidade onde vai cantar, por estes dias, Suzanne Vega…), ou em Arcozelo…

Teremos que esperar por nova oportunidade…

Entretanto, fiquem-se com este excerto da tal conferência de imprensa.

http://www.youtube.com/watch?v=EOrG1r3S6ZA