Onde estavas no 25 de Novembro?

Estava na redacção do Telejornal, ainda no velho Lumiar. Nessa altura, era jornalista.

De repente, vejo muitos tipos vestidos com camuflados a tomarem posições, no páteo, nos telhados, nas esquinas. Estavam armados. Vejo, também, alguns jornalistas, conotados com o PCP, a tomarem posições de comando, um deles, de granada na mão.

Foi quando o major Clemente interrompeu o António Santos, que estava a ler o telejornal e se dirigiu ao país. E, depois, os emissores do Porto cortaram-lhe o pio e puseram, no ar, um filme idiota com o Danny Kaye.

Sinceramente, não achei piada nenhuma ao que se estava a passar e fui-me embora.

Um golpe de Estado?

Mais um?!

í€ saída, nenhum dos militares que montavam guarda me importunou.

Quando cheguei a casa, disse para a Mila: “Acabou-se! Estou sem emprego!”

No dia seguinte, a RTP esteve fechada. Não houve emissão.

No outro dia, telefonaram-me: não queria aceitar o lugar de responsável pela 3ª edição do Telejornal?

Afinal, ainda tinha emprego.

E até fora promovido!

Mais um golpe de Estado e teria chegado a presidente da coisa!

Continuei jornalista da RTP até ao final de 1976, quando acabei o curso de Medicina.

Comecei a exercer medicina em janeiro de 1977 e deixei de ser jornalista.

Não estou arrependido.

Raul Solnado

Lidei algum tempo com o Raul Solnado, nos anos 80 do século passado. Escrevi alguns textos, que ele depois interpretava, dando-lhes, muitas vezes, a graça que eles não tinham.

Do pouco tempo que passámos juntos, recordo uma pessoa afável e com uma inteligência aguçada.

Recordo, também, o nervosismo que senti quando me convidou para escrever, juntamente com ele e com o Mário Zambujal, o “Lá em Casa Tudo Bem”. Percebi que aquela não era a minha guerra: uma coisa era escrever uns epigramas e um textos despreocupados para o Pão Comanteiga, outra era escrever uma série de televisão para o Raul Solnado. Acabei por desistir, depois de 12 semanas de grande ansiedade e 12 episódios escritos e re-escritos, com muita ajuda do Zambujal e do Solnado.

Mas foi uma honra ter colaborado com o Solnado que, apesar da diferença de idades e de estatuto, sempre me tratou como um igual.

Recordo um dos textos que escrevi para ele:

“Venho aqui falar em nome dos pequenos e médios ladrões, larápios, carteiristas e ofícios correlativos.

Bom… para que não haja confusões, não sou o porta-voz dessas profissões que são, sem dúvida, as mais antigas do mundo… mas li no jornal uma notícia que me deixou revoltado.

É que a crise ataca todos e não escapa ninguém!

Já não basta um tipo ter que palmar quatro ou cinco carteiras no Metro, pondo em risco a sua integridade física. Depois, chega a casa e as carteiras só têm documentos e fotografias da família – nem uma nota para amostra!

Andamos todos tesos!

E os pequenos roubos já não dão lucro! É um risco que não vale a pena correr!

Hoje em dia, ou se rouba a sério, assim uma coisa em grande, com estilo, ou mais vale arranjar um emprego, nem que seja com contrato a prazo numa empresa em situação económica difícil.

E depois, ainda por cima, como um azar nunca vem só, andaram a colar aqueles cartazes nas estações do Metro, que dizem “cuidado com os carteiristas”!

E as pessoas estão sempre a pau, com a mãozinha a segurar a carteira.

Depois vem um carteirista mais inexperiente, tanta palmar qualquer coisa e pimba!… é apanhado com a boca na botija!

A polícia está farta, já não fecha os olhos a nada e lá vai o larápio para a prisão!

Para a prisão?!… Mas qual prisão?!…

É aqui que entra a notícia: segundo a Direcção Geral dos Serviços Prisionais, as 48 cadeias portuguesas estão a abarrotar!

6 478 presos! Não cabe nem mais um ! Lotação esgotada!

É uma situação que não se registava desde 1967 – há 17 anos, portanto!

Estão a ver isto?!

Se um larápio qualquer for apanhado pela polícia, fica preso onde?…

As escolas são poucas para os alunos;

Os hospitais não chegam para os doentes;

Os edifícios públicos são pequenos para as repartições.

Isto não pode continuar assim!…

Se esta noite mesmo, um polícia de giro capturar algum rato de automóveis, não tem outro remédio senão levá-lo par casa, dar-lhe jantar e depois fechá-lo na despensa, í  espera que haja vaga em Alcoentre.

Sinceramente, só vejo uma solução: enquanto não se conseguirem mais prisões, levem os presos para os museus.

Seria a única maneira de os nossos museus deixarem de estar í s moscas!

Boa noite e façam o favor de ser felizes.”

- esta crónica foi para o ar no programa televisivo “Fim de semana”, a 4/2/1984. De Dezembro de 1983 a Junho de 1984, escrevi crónicas que o Raul Solnado interpretava, melhorando-as com as suas “buchas”.

Colaborei, também com o Raul Solnado na escrita de crónicas semanais no Programa da Manhã da Rádio Comercial, entre Outubro de 1984 e Março de 1985.

Finalmente, fui co-autor, com ele e com o Mário Zambujal, dos primeiros 12 episódios da primeira sitcom portuguesa, “Lá em Casa Tudo Bem”.

Foi o Solnado quem me propí´s para membro da Sociedade Portuguesa de Autores, em 1984.

ílbum Branco tem 40 anos

—Foi no dia 22 de Novembro de 1968 que saiu o melhor disco dos Beatles. Faz hoje 40 anos.

O disco duplo, apenas intitulado “The Beatles”, mas que ficou conhecido como The White Album, é, na minha opinião, o melhor disco pop-rock de sempre. Nunca mais surgiu um disco assim.

No auge das suas carreiras, com as mentes bem abertas pela experiência, pela meditação com o guru indiano e pelo ácido lisérgico, os quatro rapazitos de Liverpool reuniram, neste duplo, grandes baladas (Julia, I Will, Good Night, Blackbird, Mother Nature Son), grandes rockalhadas (Helter Skelter, Why Don’t We Do It In The Road, Yer Blues), grandes canções pop (Honey Pie, Happiness Is a Warm Gun, Dear Prudence), experiências sonoras (Wild Honey Pie, Revolution 9), algumas das melhores canções de Harison (Glass Onion, Savoy Truffle, Whyle My Guitar Gently Weeps), coisas que soam a country (Don’t Pass Me By, Rocky Racoon), baboseiras (Ob-La-Di, Ob-La-Da) e ainda: Back In The USSR, The Continuing Story of Bungalow Bill, Martha My Dear, I’m So Tired, Piggies, Birthday, Everybody’s Got Something to Hide Except For Me and My Monkey, Sexy Sadie, Long, Long, Long, Revolution e Cry Baby Cry.

Que riqueza! Quantidade e qualidade! Quando se consegue tal combinação?

O álbum branco era numerado. Comprei o meu exemplar (nº 510 204), no dia 27 de Fevereiro de 1969, tinha ainda 15 anos. Tive que poupar dinheiro, andando í  pendura nos eléctricos, para não pagar bilhete e comprar menos cigarros avulso, de modo a conseguir comprar este duplo álbum que, na altura, era caríssimo para mim. Comprei-o numa pequena discoteca (era assim que se chamavam as lojas que Sí“ vendiam discos), situada na Praça de Londres, um pouco antes da Mexicana.

Lembro-me que fiquei obcecado pela música deste duplo álbum.

Passaram 40 anos.

Ainda me emociono ao ouvi-lo…

Por que é que não tenho uma casa da Câmara?

—Antes de continuarem a ler este texto, agradeço que leiam esta pequena local, que saiu hoje no Expresso, a propósito do “Lisboagate” – distribuição de casas da Câmara a amigos e camaradas, por cunhas, pagamento de favores e outras trafulhices.

Já leram?

Então, agora, falo eu: em Junho de 1974, estudava no 2º ano de Medicina, tinha um filho, o Pedro, com um ano de idade e vivia num quarto, em casa dos meus sogros. Há mais de uma ano que colaborava, com estorinhas, poemas e outras brincadeiras, com o jornal República. Gratuitamente. “Just for fun”.

O ílvaro Guerra, que já não está por cá, achou que eu era bem capaz de ser jornalista e como, entretanto, depois do 25 de Abril, passara do República para a RTP, convidou-me para experimentar o jornalismo televisivo.

Não hesitei, claro.

Comecei por ganhar um salário de 7.500 escudos, que era excelente, naquela altura. Continuei a estudar, durante o dia, e a trabalhar no Telejornal da noite que, naqueles tempos, ia para o ar quando calhava, por vezes, depois da uma da manhã.

Graças ao ílvaro Guerra e ao meu emprego como jornalista estagiário, conseguimos sair da casa dos meus sogros e alugar um T1, em Benfica, por 3.500 escudos. Sobravam 4 mil escudos, do meu ordenado. Até dava para beber um gin tónico todos os dias!

Algum tempo depois, juntámo-nos ao nosso amigo José António, também jornalista, na altura, além de estudante de Matemática, e alugámos uma casa em Algueirão. Tinha dois andares: o rés-do-chão para nós, o primeiro andar para os amigos. Renda: 6 mil escudos mensais.

Nessa casa, nasceu a nossa Marta e a Joana deles.

“Obla-di Obla-da, life goes on…”

Em Setembro de 1987, 14 anos depois do 25 de Abril, já longe do jornalismo e trabalhando como Médico de Família há dois anos, conseguimos comprar a nossa primeira e única casa, em Almada.

Ainda a estamos a pagar.

Por isso, peço desculpa pela minha linguagem, mas quero que todos estes gajos façam o favor de ir í  merda!

A morte de Richard Wright

Ora bem… o homem já morreu há uns dias e só agora arranjo um pedacinho para escrever algo sobre ele – aliás, algo sobre a minha “ideia” de Richard Wright.

Para mim, os Pink Floyd sempre foram um colectivo.

Eu explico: tenho 55 anos e fui contemporâneo de muitos destes senhores.

Para mim, tudo começou com os Beatles, que eram quatro. Sempre os identifiquei separadamente. Dois + um + um. Isto é: Lennon e McCartney + Harrison + Ringo. Os que sempre gostaram dos Beatles, percebem o que eu estou a dizer.

Os que têm vergonha de dizer que gostavam dos Beatles, por serem demasiado “populares”, fazem de conta que eles não existiram e elaboram grandes textos sobre, por exemplo, os Love, que ninguém sabe quem foram. Ou então, tipos com a idade do meu filho, masturbam-se com Brian Wilson, o maníaco-depressivo dos Beach Boys, dizendo que o tipo é um génio. Esses gajos não sabem o que é ouvir, pela primeira vez, “Eleonora Rugby”, num programa da Rádio Renascença, entre Tony de Matos e Simone de Oliveira e sentir que se estava a ouvir algo de subversivo.

(Um pequeno aparte: se for disléxico, direi Brain, em vez de Brian – será por isso que o gajo era o “cérebro” dos Beach Boys?)

Portanto, os gajos medianos, que gostavam dos Beatles, sabiam que havia ali uma dupla de génio (Lennon & McCartney), um gajo com jeito, mas tímido (Harrison) e um bronco, que foi a reboque, mas que aguentou a onda (Ringo). Os mais “intelectuais”, dirão que Harrison é que era o grande génio e que Lennon e McCartney nunca o deixaram vir í  superfície (caso contrário, os Beatles teriam sido outra coisa qualquer…), e os mais “outsiders” dirão, ainda, que Ringo é que era o bonzão e que deixou os outros tomarem a dianteira, só porque era “cool” e não estava para se chatear.

Isto, quanto aos Beatles.

No que respeita aos Stones, convenhamos que aquilo era o Jagger e o Richards e que os restantes, eram apenas decorativos. Hoje, passados todos estes anos, o Charlie Watts e o Ronnie Wood já têm o seu lugar no Panteão, quanto mais não seja pelos anos que já levam a aturar os outros dois, e por terem sobrevivido a tantas bebedeiras e tantas drogas. E todos nós sabemos como difícil é aturar velhotes, sobretudo se forem drogados…

E ainda houve o Brian Jones, que morreu afogado em drogas e cloro da piscina e o Bill Wyman, que saiu a tempo de manter a sua sanidade mental.

Claro que, quando Wyman morrer, ainda há-de aparecer alguém a dizer que ele é que foi o verdadeiro Rolling Stone e que só abandonou a banda porque Jagger e Richards se tornaram mercenários do rock.

Bom, mas isto era para ser sobre Richard Wright.

Portanto, os Pink Floyd, para mim, nunca foram o Wright, o Mason, o Waters, o Gilmour ou o Barrett. Para mim, os Pink Floyd eram um grupo de gajos que faziam uma música que eu nunca tinha ouvido antes.

Tenho três memórias vívidas da música dos Pink Floyd. Duas, bastante arcaicas e outra, um pouco mais recente.

Primeira: no meu quarto de adolescente, com as paredes forradas com fotografias de pop-rock stars, rasgadas das revistas Bravo (em alemão, nunca percebi patavina) e Salut Les Copins. Sentado no beliche de baixo (em cima dormia o meu irmão), a ouvir o álbum “A Saucerful of Secrets” (1967). Devia ter cerca de 15 anos. Fiquei estupefacto com os efeitos estereofónicos. Querem eram aqueles gajos?

Segunda: 1973. Eu e o meu amigo Hermínio, colegas no Liceu Passos Manuel, passeando pela Rua do Salitre, e cantando, em voz alta, músicas do “Dark Side of the Moon”.

Terceira: 22 de Julho de 1994. Estádio de Alvalade. Show dos Pink Floyd, já sem Roger Waters. O meu filho desentende-se com um gajo que está í  nossa frente e que, em vez de ficar sentadinho, desfrutando do rock planante dos Pink Floyd, está em pé, abanando a cabeça, ao som da música, não nos deixando ver o espectáculo como deve ser. Cena de socos. Rápida e concisa. O gajo passou o resto do concerto sentadinho.

No meio de tudo isto, lá estava o Wright, discreto, de volta do Farfisa, fazendo aqueles sons todos que me deixavam estarrecido.

Confesso: mal sabia o nome dele.

No entanto, sei que os Pink Floyd se mantiveram Pink Floyd sem Syd Barrett, continuaram Pink Floyd sem Roger Waters, mas teriam sido outra coisa qualquer sem Richard Wright.

E penso que, ao dizer isto, estou a fazer um grande elogio aos Pink Floyd.

Um ano sem fumar!

Quem disse que não é possível?

—Fumei durante 39 anos. Comecei aos 15 anos, com SG filtro (embalagem amarela em cima, e com riscas azuis e brancas, em baixo) – cigarros comprados avulso, numa loja nas traseiras do Liceu Camões, delegação do Areeiro, a mesma loja onde costumava comprar bolas de plástico, muito ranhosas, com as quais jogávamos grandes desafios de futebol até í  morte, nas traseiras do cinema Roma…

Nunca fiz nenhuma tentativa séria para deixar de fumar, a não ser um dia, há cerca de três anos, em que estive 18 horas sem fumar. Ia a caminho de Guimarães e acabei por parar numa estação de serviço, comprar um maço de Marlboro e fumar um cigarro com sofreguidão. Era isso ou fazer o carro embater no próximo camião TIR.

No passado dia 20 de Agosto de 2007, com a ajuda do Champix, eu e a Mila fumámos o último cigarro das nossas vidas e, desde o dia 21 – faz hoje um ano – que nunca mais metemos um cigarro na boca.

Saudades? Claro! Muitas!…

Vantagens em deixar de fumar? Todas.

Essas, que toda a gente sabe quais são e todas as outras que se possa imaginar.

E, afinal, o sofrimento não é assim tão grande…

Apelidos – 1

Em 1980, trabalhei cerca de um ano no Alentejo, mais precisamente em Mourão e na defunta aldeia da Luz, quando prestei o chamado Serviço Médico í  Periferia.

Foi aí que entrei em contacto com os apelidos típicos dos alentejanos, muitos deles derivados de alcunhas. Durante algum tempo, fui coleccionando num caderninho alguns desses apelidos, que acabei por perder algures.

Mas ficou o gosto por apelidos invulgares.

Aqui vão cinco impagáveis:

– Galhofa Zabumba

– Baioneta Chotas

– Ova Maranhão Rações

– Janeiro Bagina

– Besugo Algarvio

Prometo que vou voltar a coleccioná-los.

“It was 40 years ago today”

sgtpeppers.jpg…Sgt Pepper taught the band to play”

Fez ontem 40 anos que os Beatles editaram o álbum que mudou a história da música pop-rock.

O primeiro álbum dito conceptual, com uma espécie de elo de ligação entre as várias faixas, com uma certa coerência entre as músicas, e não apenas um conjunto de canções coleccionadas num mesmo disco; o primeiro álbum de música pop-rock com a ajuda de orquestra sinfónica (“A Day in the Life”) e de truques de gravação, como pí´r a fita a girar ao contrário (“Being for the Benefit of Mr. Kite!”); o primeiro disco a ter uma capa com algum cuidado “artístico”. Enfim, digam o que disserem os detractores dos Beatles, fez-se história com este disco.

Naquela altura, em 1967, eu tinha apenas 14 anos e vivia em Portugal. O disco quase me passou despercebido. Só cerca de um ano depois comecei a ouvir e a conhecer algumas das faixas deste álbum. E, então, já os Beatles tinham lançado o duplo branco, que sempre foi (e continua a ser) o meu preferido.

Em Fevereiro de 1969, consegui finalmente juntar o dinheiro suficiente para comprar o duplo branco. Vinha numerado e tudo – é o número 510204. Ainda ali está, embora já nem tenha pick-up (alguém sabe o que é um pick-up, ou um gira-discos?).

Quanto ao “Sgt Pepper’s”, só o comprei (o vinil, bem entendido), aos 25 anos e o cd, quando já ia nos 34 anos!

Seja como for, “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band” continua a ser, 40 anos, depois, um disco que se ouve, do princípio ao fim, com a mesma emoção – enfim, com uma emoção temperada pelos anos. Aos 15 anos, ouvir os Beatles a debitarem “Good Morning! Good Morning!”, com galos a cantarem, ao fundo, ou escutar a voz algo metálica de Lennon, a cantar “Lucy in the Sky with Diamonds”, sabendo que ele se estava referir a LSD (sobretudo porque não se sabia muito bem o que era isso de drogas alucinogénicas…), bom, essa emoção, claro que já não existe, porque já não tenho 15 anos.

E isto também não é nostalgia. Não tenho saudades dos meus 15 anos. Sinto-me muito bem com 54 anos e poder estar “alive and kicking”, 40 anos depois (o mesmo já não podem dizer Lennon e Harrison…).

“Olhó tabaco! Cá está o tabaco! Olhó tabaco!”

Este pregão é o único que retenho na minha memória, dos tempos em que ia í  bola com o meu pai.

Era domingo – a bola era sempre ao domingo, nos anos 60 – e, í  frente do estádio da Luz, alinhavam-se as bancas dos vendedores ambulantes.

Não me lembro de mais nenhum, a não ser a do tipo do “olhó tabaco!”

Tinha uma pequena baliza, talvez do tamanho de uma baliza de hóquei e, sobre a linha de baliza, dois maços de tabaco SG, lado a lado. A cerca de três metros de distância, uma pequena bola, talvez uma bola de ténis (deste pormenor, já não me lembro).

A malta que quisesse arriscar, pagava uma certa quantia ao “olhó tabaco!” (cinco tostões?), e chutava a bola. Se conseguisse mandar abaixo os dois maços de tabaco, ficava com eles. Valia a pena arriscar.

Apesar de estarmos nos tempos em que o tabaco não fazia mal í  saúde, o meu pai nunca me deixou experimentar!

Mas nunca mais me esqueci do pregão: “Olhó tabaco! Cá está o tabaco! Olhó tabaco!”