A Criação do Domingo

No princípio, a semana possuía apenas seis dias, o que era um inconveniente inegável. Por isso, às 24 horas de sábado, deus decidiu criar o domingo.

Adão e Eva ficaram satisfeitíssimos porque tinham o dia livre para crescerem e se multiplicarem, entregando-se ao Pecado Original, sob os olhares reprovadores dos Querubins. Esse foi o primeiro domingo que ficou na História da Humanidade. E, apesar de tudo, deus achou que o domingo fora uma boa invenção.

Com efeito, sem domingos, não haveria a missa de domingo, os passeios de domingo e o Pão com Manteiga. Sem domingo, Fernando Namora não teria escrito o romance “Domingo à Tarde”, a semana inglesa teria de começar na sexta-feira à hora do almoço e os calendários teriam muito menos números vermelhos. Sem domingo, o domingo de Páscoa calharia para aí a um sábado.

Percebendo tudo isso, deus achou que o domingo fora uma boa invenção e sentiu-se até tentado a criar mais domingos ao longo da semana, eliminando dias bem mais aborrecidos. Teríamos então o domingo, a segunda-feira, o segundo domingo, a terça-feira, o terceiro domingo, a quarta-feira e o sábado. Mas isso seria muito confuso e convidaria os homens à boa vida. Por isso deus deixou ficar a semana como ainda está hoje e para mostrar que nem tudo corre bem aos domingos, escolheu esse dia para o Dilúvio.

Talvez digam as Escrituras que Sodoma e Gomorra foram destruídas a um domingo, que as setes pragas do Egipto calharam a um domingo, que Cristóvão Colombo descobriu a América a um domingo e que François Mitterand foi eleito a um domingo.

E é por essas e por outras que o Pão com Manteiga é a um domingo.

  • in Pão com Manteiga, 21.6.1981

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