Onde estavas no 11 de setembro?

Com este título, o jornal Público tem feito uma série de textos sobre os 20 anos dos atentados às torres gémeas, em Nova Iorque.

A esta pergunta, respondem na edição de hoje, Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins.

Marcelo diz que estava na Faculdade e que acompanhou as notícias pelo rádio do carro, a caminho de casa; Catarina estava no Porto e, inicialmente, pensou que se tratava de um acidente; Rio estava em campanha pela Câmara do Porto, num almoço; e Jerónimo estava na sede do PCP.

Eu estava a fazer consultas no meu Centro de Saúde; um colega meu disse-me que um avião tinha embatido numa das torres do World Trade Centre. Descrente, interrompi a consulta e fomos os dois ao café da esquina, ver a televisão e chegámos a tempo de ver o segundo avião embater na outra torre.

Tinha estado em Nova Iorque em 1994 e em 1999 e, de ambas as vezes, tinha subido ao topo das Torres, admirado o panorama lá de cima, as pontes sobre o rio East, a Estátua da Liberdade, o Empire State, o Central Park, Manhattan em vista aérea – e era difícil acreditar que os Estados Unidos eram, assim, atacados no seu coração.

Na edição de hoje do Público, também João Miguel Tavares sente necessidade de escrever sobre o que sentiu no dia em que as torres gémeas vieram abaixo.

E diz isto: “foi no dia em que dois aviões destruíram as torres gémeas que eu descobri que era de direita”.

JMT faz esta revelação como quem sai do armário da orientação política: um acontecimento traumático que o faz, enfim, encarar a realidade: JMT era de direita!

Diz JMT que, na altura dos atentados, tinha 28 aninhos!

28 anos e ainda não sabia a sua orientação política, coitadinho!

Foi, portanto, graças a um atentado terrorista que ele percebeu que era de direita.

Até hoje!…

Só falta JMT agradecer à Al-Qaeda…

Não basta “ser Charlie”

A reacção popular aos atentados e tragédias em geral começou a ter uma espécie de protocolo desde a morte da princesa Diana.

No local do acidente e/ou atentado, amontoam-se ramos de flores, velas a arder, postais, ursinhos de peluche e outros objectos ternurentos.

Segue-se uma grande manifestação, onde se juntam homens e mulheres de todos os credos e cores.

E todos vão para casa descansados.

Com o bárbaro ataque aos jornalistas do Charlie Hebdo passou-se o mesmo, só que, em vez de muitas flores, vimos milhares de canetas, em monte, no chão.

Deixem-me “ser Charlie” por um bocadinho: se os mortos no ataque tivessem sido cabeleireiras, teríamos  montes de secadores de cabelo…

A esmagadora maioria dos que apregoaram “ser Charlie” não aguentariam ler um exemplar do semanário do princípio ao fim, mas enfim… quiseram mostrar a sua solidariedade.

Não chega.

Os islamitas em geral têm que começar a ter vergonha e nojo dos seus extremistas, como nós temos vergonha e nojo dos nossos padrecas que apalpam o rabo às criancinhas há décadas.

Em vez de cartoons mais ou menos humorísticos sobre o Islão, os nossos jornais deviam publicar, todos os dias, fotos do ataque dos talibãs à escola no Paquistão, que matou 140 pessoas, sendo que a maioria eram crianças, imagens da matança do grupo islamita Boko Haram, que terá chacinado mais de duas mil pessoas numa cidade no nordeste da Nigéria, ou ainda fotos do atentado num mercado, também na Nigéria, causado por uma bomba presa a uma criança de 10 anos, e que matou dezenas de pessoas.

A divulgação persistente e contínua destas notícias talvez tenha mais impacto que uma manifestação que rapidamente será esquecida.

“Homeland” – 1ª temporada

Howard Gordon e Alex Gansa, argumentistas do trepidante 24, são os autores deste Homeland, que alguém já classificou com um 24 para adultos.

Baseado numa série israelita, os 12 episódios de Homeland contam-nos a história de um marine resgatado após 8 anos de cativeiro no Iraque e da agente da CIA que está convencida de que ele regressou convertido à Al Qaeda e com um plano terrorista em mente.

Episódio a episódio, a tensão vai aumentando e a trama vai-se adensando; às tantas, desconfiamos de quase todos os personagens – cada um deles pode perfeitamente ser o terrorista.

Damian Lewis é o sargento Brody. Depois de 8 anos detido no Iraque, regressa aos EUA como herói, mas descobre que a mulher andou enrolada com o seu melhor amigo.

Além disso, a agente da CIA, Carrie Mathison (uma excelente interpretação de Claire Danes), parece obcecada por ele, estando convencida que ele, no fundo, é um terrorista infiltrado.

Carrie é bipolar e Claire Danes consegue ser muito convincente nesse particular, sobretudo nos últimos episódios, quando descompensa.

Como é habitual nestas séries de topo, existem uma série de personagens secundárias, todas bem estruturadas, destacando-se Saul Berenson (Mandy Patinkin), o chefe directo de Carrie, que está a braços com uma crise conjugal.

Claro que a 1ª temporada terminou em suspenso e, agora, não há outro remédio senão esperar pela 2ª temporada.

Recomendo.

Em nome de deus

O duplo atentado ocorrido ontem, em Oslo, surpreendeu-me tanto como a destruição das Twin Towers, em Nova Iorque.

Estive na Noruega no mês passado e encontrei um país belo e tranquilo.

Oslo é uma pequena cidade, com pouco mais de meio milhão de habitantes, à beira de um fiorde.

Estive lá num domingo e num dia feriado. Vi famílias inteiras a apanhar sol nos jardins públicos e a molhar os pés nas fontes. Vi muitos emigrantes, nomeadamente muçulmanos, passeando nas ruas, aparentemente bem integrados.

Elevado nível de vida, Estado social bem organizado, tranquilidade – um bom país para se viver.

Disseram-me que a Noruega abre as suas portas a emigrantes que peçam asilo político e que os subsidia, até que se integrem e arranjem emprego.

A extrema-direita não gostará desta política, certamente. E parece que foi um tipo pertencente a um grupo de fundamentalistas cristãos que matou mais de 80 jovens, numa ilha perto de Oslo.

A palavra ateu é muitas vezes usada como insulto.

Talvez seja preciso rever o significado da palavra “cristão”…

“Lions For Lambs”, de Robert Redford

Redford realizou este filme que põe e causa a actual política externa norte-americana, nomeadamente a sua “guerra contra o terror”.

O filme desenvolve-se em três cenários.

Num deles, um Tom Cruise clássico representa o papel de um ambicioso senador republicano, com vontade de concorrer à Casa Branca e que é responsável por uma nova estratégia na luta contra os talibãs, no Afeganistão. Este senador resolve conceder uma entrevista a uma jornalista experiente (Meryl Streep), dando-lhe a exclusividade da notícia dessa nova estratégia. Ao ouvir a descrição da nova estratégia de guerra, a jornalista lembra-se que ela já foi usada no Vietnam, com resultados desastrosos.

No decorrer da entrevista, a tensão entre o senador e a jornalista, é evidente: ele, absolutamente a favor a guerra contra o “Eixo do Mal”, ela, de pé atrás, mas com dificuldade em marcar a sua posição porque, após o 11 de Setembro, apoiou as posições agressivas de Washington.

O segundo cenário é o de uma Universidade: o professor, interpretado por Robert Redford, tenta convencer um aluno, supostamente brilhante, a voltar às aulas, porque o país precisa dos mais inteligentes e dos mais capazes – e são esses que, na maioria das vezes, de divorciam da política.

O terceiro cenário decorre nas montanhas do Afeganistão, onde dois militares voluntários, ex-alunos do professor, estão a pôr em prática a nova estratégia do senador, com resultados desastrosos.

Um filme denso, com uma mensagem política evidente, com excelentes interpretações, mas poucas hipóteses de ser visto por muita gente, devido à densidade dos diálogos.