Já não se fazem comunistas como antigamente

Mário Nogueira, líder da Fenprof, sindicato-mor dos professores, afirmou que considera a hipótese de se afastar do seu Partido de sempre, o Partido Comunista.

Esta decisão de ruptura surge depois de Jerónimo de Sousa, líder do PCP, ter ignorado os apelos de Nogueira, ao afirmar que o Partido iria votar contra as propostas da Direita.

Confusos?

Eu explico.

Há anos (daqui a pouco, há 9 anos, 4 meses de 2 dias), que andamos a discutir a possibilidade de os professores reaverem os anos em que as suas carreiras estiveram congeladas (que, como todos sabem, é desde o Cretácio Superior…).

Ora, acontece que, caso o Governo decidisse conceder aos professores todos os anos que eles estiveram congelados, logo os polícias, magistrados, auxiliares de acção educativa, jardineiros e afins, exigiriam o mesmo.

Eu próprio, que não passo de um reformado e pensionista (nunca percebi a diferença entre uma coisa e outra…), exigiria, também, que me descongelassem o último escalão da minha carreira. É que, quando me reformei (ou aposentei – qual será a diferença?…), estava colocado no penúltimo escalão da minha carreira há anos. Claro que, para subir para o último escalão, teria que apresentar um trabalho e ser avaliado por uma comissão; não seria uma subida automática, mas, mesmo assim, estou convencido de que conseguiria esse desiderato e, portanto, poderia ter-me aposentado (ou reformado…), com o escalão máximo da minha carreira.

Mas, enfim, o tempo não volta para trás, o que já foi não volta a ser e o passado fica lá atrás.

Não para o Mário Nogueira, que insiste, há anos, na recuperação dos tais nove anos e etc e tal.

Pois na quinta-feira, passou-se aquela cena curiosa, que consistiu numa coligação negativa, formada pelo PCP, Bloco, Verdes, PSD e CDS: todos votando a favor do descongelamento dos tais nove anos e tal, sem contrapartidas.

Mário Nogueira exultou, os líderes de todos os Partidos, menos o do Governo, também, e António Costa resolveu esticar a corda, ameaçando demitir-se.

O PCP e o Bloco mantiveram-se na deles, já que sempre defenderam o descongelamento dos nove anos e tal. Os deputados do CDS e do PSD, presentes na Comissão de Educação, aplaudiram; estavam a lixar o Costa, e isso era uma vitória.

Assunção Cristas estava contentíssima e Rui Rio desapareceu.

Claro que, a pouco e pouco, tanto o CDS como o PSD deram o dito por não dito, embora dizendo que nunca tinham dito o que tinham, de facto, dito.

Afinal, só aprovariam o descongelamento dos nove anos e tal se houvesse dinheiro, e se não houvesse dívida e se não chovesse…

O PCP e o Bloco, apressaram-se a dizer que, no fundo, até votariam a favor, mas como o CDS e o PSD punham como condição que não chovesse, não podiam ficar reféns da Direita e da Meteorologia…

Foi quando Nogueira vacilou e disse que teria que repensar o seu lugar no Partido Comunista.

Claro que os cerca de 100 mil professores ficaram aterrorizados. Então o seu líder comunista estava a hesitar?

A fé de um verdadeiro comunista é inabalável!

Eu sou do tempo em que os comunistas morriam pela sua causa.

Afinal, Nogueira é um fraquinho…

Há greves e greves…

Nunca estive muito de acordo com o facto de a minha classe profissional fazer greve. Sempre achei que os médicos, ao fazerem greve, só estavam a prejudicar os doentes.

Sempre vi as greves como uma manifestação da luta de classes.

Os operários de um fábrica, ao fazerem greve, estão a lutar contra os patrões. Operários versus burguesia. Tipos que vão de transportes para o trabalho contra tipos que se deslocam de Mercedes.

Pelo contrário, no caso das greves dos médicos, é ver os tipos que vão de transportes para a consulta do Centro de Saúde, terem que voltar para trás porque os tipos que se deslocam em viatura própria, estão de greve.

Além disso, é muito difícil considerar os médicos como proletariado e os doentes como burguesia.

Dirão que os médicos não estão a fazer greve contra os doentes, mas para obterem qualquer coisa do Governo – no entanto, temos que concordar que quem é imediatamente prejudicado são os doentes.

Mais confusão me faz a greve dos magistrados. Como único órgão de soberania, não entendo como é possível fazerem greve. Acaso o Presidente da República também pode fazer greve?

Claro que isto é uma caricatura, mas é assim que eu vejo as greves.

Compreendo-as e apoio-as quando os prejudicados são os patrões.

No entanto, quando os prejudicados são os doentes, os alunos, os utentes dos transportes públicos, penso que poderiam ser escolhidas outras formas de luta, digamos, mais imaginativas.

Vem isto a propósito das catadupas de greves que estamos e vamos enfrentar, neste ano de eleições.

Não há grupo profissional que não tenha entrado ou vá entrar em greve.

Dizem que há mais greves este ano do que nos anos da troika, o que é espantoso – até parece que os sindicatos tiveram medo da troika, ou estavam de acordo com a política de austeridade imposta naqueles quatro anos.

Das greves recentes, dois grupos profissionais se destacam: os professores e os enfermeiros.

Nestes conflitos, as posições, quer dos sindicatos, quer do Governo, extremaram-se de tal modo, que não será possível qualquer tipo de acordo, a não ser por decreto.

Não vi os professores exigirem o descongelamento das carreiras e a contagem do tempo congelado com tanto vigor, no tempo do Passos Coelho e não vi os enfermeiros fazerem greve quando o mesmo Passos sugeriu que os licenciados procurassem emprego lá fora, e desse modo, temos, neste momento, mais de 15 mil enfermeiros emigrados (números da Ordem dos Enfermeiros).

Talvez fosse o momento dos sindicatos inventarem outras formas de luta que, simultaneamente, não prejudicassem os utentes, mas tivessem a mesma dimensão mediática, que é, no fundo, o que se pretende com estas greves burguesas.

Ramalho, o enfermeiro mártir

Para memória futura, relembro os factos.

Há alguns meses, dois sindicatos dos enfermeiros iniciaram uma luta a favor daquilo que consideram justas reivindicações dos enfermeiros.

Entre essas reivindicações destacam-se o aumento salarial de 400 euros (de 1200 para 1600) para todos os enfermeiros em início de carreira e a reforma aos 57 anos (neste momento, a reforma é aos 66 anos e 5 meses).

Como o Governo não cedeu, o Sindicato Democrático dos Enfermeiros e a Associação Sindical dos Enfermeiros (ambos formados recentemente), declararam greves prolongadas em novembro e dezembro do ano passado e todo o mês de fevereiro deste ano.

Em resposta, o Governo pediu um parecer ao Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República sobre esta greve e a PGR considerou que a greve era ilícita, por dois motivos.

Em primeiro lugar, porque o pré-aviso de greve indicava que ela seria total e, afinal, só os enfermeiros dos blocos operatórios fizeram greve e, mesmo assim, em regime rotativo. Graças a esta artimanha, bastava que um enfermeiro fizesse greve para que o bloco não pudesse funcionar. No dia seguinte, outro enfermeiro faria greve e o bloco continuava parado. Deste modo, milhares de cirurgias tiveram que ser adiadas. Entretanto, os restantes enfermeiros, quer os hospitalares, quer os dos Centros de Saúde, não faziam greve.

Em segundo lugar, a PGR considerou ser ilícito o financiamento dos grevistas por um crowdfunding, angariado no Facebook, e que era gerido por uma empresa e não pelo sindicato.

Após este parecer da PGR, a Associação recuou e desconvocou a greve, mas o Sindicato reagiu, através do seu presidente, e levou a luta para novos patamares.

Carlos Ramalho, o presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros, criado em 2017 e cujos estatutos foram alterados e republicados no final do mês passado, afirmou aos jornalistas:

“Se era necessário um mártir, ele está aqui, sou eu, Carlos Ramalho, presidente do Sindepor”.

E, por esse motivo, iniciou hoje uma greve de fome à porta do Palácio de Belém.

Acho pouco.

Considerando as reivindicações – aumento salarial de 400 euros e reforma 9 anos antes dos restantes trabalhadores – Carlos Ramalho deveria, pelo menos, imolar-se pelo fogo, em frente ao Ministério da Saúde.

Só assim o nome de Carlos Ramalho poderia figurar no monumento patente no Campo Mártires da Pátria!

O governo vira à esquerda!

Fiquei banzado!

Então o ministro da Economia, Pires de Lima, garantiu que os trabalhadores da TAP pertencentes aos sindicatos que aceitaram desconvocar a greve, têm a garantia que não serão despedidos depois da privatização?

(Pires de Lima é do CDS)…

Por outras palavras: os trabalhadores que não pertençam a esses sindicatos, podem ser despedidos!

Hoje, o Público já noticiava que havia uma corrida aos sindicatos, isto é, muitos trabalhadores decidiram inscrever-se nos sindicatos para garantirem o emprego.

Nunca um governo fez tanto pelo sindicalismo!

Afinal, Pires de Lima é um comunista do camandro!

O triunfo dos porcos

Há alturas em que um tipo mais valia estar calado.

Foi o caso do famigerado Mário Nogueira, o líder sindical dos professores.

Ontem, os professores organizaram mais uma manifestação na avenida da Liberdade (por este andar – e como não é provável que, nos próximos milénios, o PCP forme governo – os professores estão condenados a desfilar na avenida todos os anos…).

Dezenas de autocarros, repletos de professores, vinham do Norte, a caminho de Lisboa quando, ali para os lados de Santa Iria da Azoia, ficaram bloqueados na auto-estrada.

Mais à frente, um camião cheio de porcos tinha-se despistado, atravessando-se na estrada. Muitos porcos morreram, mas muitos outros passeavam-se tranquilamente pela auto-estrada ou espojavam-se na lama das bermas.

E o que disse Mário Nogueira a este propósito?

Disse, entre outras coisas, isto:

«Não considero que fosse de propósito, até porque se calhar o governo não tinha dinheiro para comprar um autocarro de porcos e atirá-los ali para o meio. Agora, aquilo… Não quero dizer que foi de propósito, mas foi estranho».

E ainda disse mais:

«Vamos exigir uma reunião ao ministro da Administração Interna para pedir explicações e protestar contra a forma como a polícia actuou».

Mais nada!

Contra os porcos, marchar, marchar!

Se fosse professor, mudava de sindicato!

No mínimo!…

Queres subsídios? Toma!

Ficou tudo muito indignado com a revelação do Steps Rabbit, de que os subsídios de natal e de férias só voltarão em 2015, e aos bochechos.

Não percebo tanta gritaria.

Está na cara que a política deste governo é mesmo esta: acabar com tudo que cheire a subsídios: de natal, de férias, de desemprego, de natalidade, de morte, de invalidez, de acidente de trabalho, de doença, you name it.

Coelho, Portas, Gaspar e Companhia querem acabar com o Estado Social e substituí-lo pela Caridadezinha.

Vamos voltar aos tempos em que cada família, da pequena burguesia para cima, tinha, pelo menos, um pobre de estimação.

Dava-se esmola àquele pobre e ficávamos com o problema da solidariedade social resolvida.

Quanto aos subsídios, ou à falta deles, claro que a culpa é dos sindicatos.

Quando discutiram os sucessivos acordos colectivos, os sindicatos deviam ter lutado pela extinção dos subsídios e pela sua incorporação nos ordenados mensais.

Acabavam-se com as tretas dos subsídios, cuja designação cheira logo a favorzinho que nos fazem.

Subsídio é uma ajuda, um auxílio, um contributo. Se nos dão esse subsídio, também o podem tirar…

Foi o que aconteceu agora.

E depois, em 2015 (segundo a última versão do Coelho), vão ser bonzinhos e voltam a conceder-nos o privilégio de recebermos os subsídios, mas às pinguinhas.

Resta saber o valor dessas pinguinhas…

Acabaremos por voltar a receber os subsídios por inteiro lá para 2025, se não houver outra crise e levarmos com outra troica em cima…

 

Nene Cá mostra o caminho

Segundo o DN de hoje, citando a Lusa, o Instituto Nacional de Investigação e Tecnologia Aplicada da Guiné-Bissau está encerrado desde a passada quarta-feita, por causa de Nene Cá, uma empregada de limpeza que tem dois anos e sete meses de salários em atraso.

Depois de ter falado com “vários ministros e vários directores-gerais” e sabendo que “se for à justiça ainda levo mais tempo e se calhar ainda acabo presa”, Nene Cá decidiu recorrer ao irã da sua aldeia e colocou-o à porta do INITA.

A notícia esclarece que o irã é uma divindade da mitologia africana, que supostamente tem poderes sobre-naturais e, assim colocado à porta do Instituto, nenhum funcionário se atreve a entrar, com medo das represálias.

A polícia tentou demover Nene Cá, mas ela explicou que não pode tirar o irã da porta do INITA porque lhe prometeu “um porco e aguardente” e, como tem salários em atraso, não tem dinheiro para comprar estas oferendas.

Ora aqui está uma boa ideia para a malta da CGTP e da UGT.

A greve está definitivamente fora de moda. Ainda na passada sexta-feira houve uma greve da Função Pública e ninguém deu por ela.

Seguindo o exemplo de Nene Cá, os sindicatos podiam colocar estatuetas da nossa senhora de Fátima, que supostamente também tem poderes sobre-naturais, à porta do patronato, ameaçando só as tirar de lá depois de serem satisfeitas as suas reivindicações.

Com todas as medidas preconizadas pelo FMI, é natural que o Carvalho da Silva esteja já a preparar várias manifes, avenida da Liberdade abaixo.

Com a colocação estratégica de imagens da nossa senhora à porta dos governantes, poupavam-se as solas dos sapatos dos trabalhadores, poupava-se o ruído que as manifes fazem e o lixo que fica sempre nas bermas da estrada.

Pensem nisso. A sério.

 

Os poderes de Pinto Monteiro I

Pinto Monteiro I (leia-se “Primeiro”) diz que tem os mesmos poderes que Elizabeth II (leia-se “Segunda”).

Não está satisfeito e compreende-se.

Eu também não estaria.

Ser considerado o chefe dos procuradores e ser gozado por todos eles, estar no topo da pirâmide e ter um Sindicato a roer-me os calcanhares!…

Não sei porquê – preconceito, se calhar – sindicato cheira-me a suor, sovacos molhados, pêlos no peito, punhos no ar, dentes amarelos, bocas vociferantes expelindo perdigotos.

Caricaturas, eu sei…

Porque este sindicato dos procuradores é fato e gravata de seda, relógios automáticos, cabelo bem penteado, cuecas Armani (borradas na mesma, mas isso é outra questão, parecida com a história da lágrima do António Gedeão…).

E então, Pinto M onteiro I (leia-se “Primeiro”) quer outros poderes.

Por exemplo: a audição do Super-Homem, para poder fazer escutas sem precisar dos tipos da Judiciária.

Por exemplo: visão RX, para ver através das paredes e antecipar as tramas que lhe estão a tramar.

Por exemplo: poder voar.

Voar daqui para fora!

Proto manifes

Nos anos 70 do século passado participei numa manifestação. Descemos as avenidas, gritando “Otelo amigo, o povo está contigo!”

Não estava, como depois se viu.

Era uma manif dos GDUP que, se não me falha a memória, queria dizer Grupos Democráticos de Unidade Popular – ou será que era Grupo Desportivo União Piedense?…

De qualquer modo, estávamos no chamado PREC (processo revolucionário em curso) e até parecia mal que não nos manifestássemos.

Vem isto a propósito da manif dos enfermeiros, anteontem.

Igualzinho.

Avenida abaixo, gritando palavras de ordem – “Sócrates escuta, os enfermeiros estão em luta!” (um primor de originalidade…) – agitando bandeiras e cartazes, megafones em punho.

Tal como os professores, no ano passado, também os enfermeiros, este ano, entram neste folclore das manifestações, graciosamente organizadas pelos sindicatos que, como se sabe, nada têm a ver com o PCP.

Não seria mais original se os enfermeiros, em vez de gastarem dinheiro a alugar autocarros, montassem bancas e fizessem rastreios da diabetes, medissem o colesterol ou avaliassem a tensão arterial?

Não teria mais impacto, junto da população, se os enfermeiros montassem stands, nas capitais de distrito, onde fizessem educação para a saúde, fornecessem informações sobre a prevenção do cancro, estilos de vida saudável, planeamento familiar, a importância da precocidade da primeira consulta da gravidez, etc, etc?

Ou então, ao menos, que desfilassem nuas!…

A auto-avaliação

Juro que quando escrevi o post em que propunha que os professores fizessem auto-avaliação, estava a brincar. Talvez a piada não fosse muito boa, mas juro que era a gozar.

Pois não é que os sindicatos propuseram exactamente isso à ministra, que cada professor elaborasse um relatório de auto-avaliação, que seria depois apreciado pelo Conselho Pedagógico?

Custa a acreditar que seja esta a alternativa que os professores têm para contrapor ao modelo da ministra que, com tantas simplificações, já pouco deve a ter com o modelo inicial.

E pronto – continua o desacordo e vamos continuar a assistir ao espectáculo dos professores, na rua e nas escolas, contrariando uma decisão de um governo aprovado pela maioria absoluta dos eleitores.

Se fosse aos professores, esperava calmamente pela eleições (são já para o ano) e votava em todos os partidos menos no PS e convencia os familiares, amigos e pais dos alunos a fazerem o mesmo.

Entretanto, segundo o Público, vem aí mais uma guerra, desta vez com os médicos. Parece que o governo quer aumentar o horário de trabalho dos médicos de 35 para 40 horas semanais, sem contrapartidas.

Fica já dito que, por mim, podem estar à vontade: é rara a semana que não trabalho entre 45 e 50 horas.

Mas acho que os sindicatos dos médicos devem exigir apenas uma coisa: que o horário dos médicos passe a ser igual ao dos professores.