Injustiça!

Factos: a Polícia Judiciária desmantelou uma quadrilha de 12 elementos que assaltava e roubava apartamentos; os bandidos apresentavam-se de uniforme da polícia e exibiam mandados de busca, falsos, claro; depois, entravam nos apartamentos e roubavam ouro, jóias, diamantes e outros objectos de valor.

Da quadrilha faziam parte três polícias, que tinham acesso a informação privilegiada sobre os locais a assaltar.

Depois de presentes ao juiz, oito elementos da quadrilha ficaram em prisão preventiva, incluindo os três polícias.

Acho mal!

Se os funcionários da TAP têm descontos nos voos e os empregados da Carris podem viajar à borla, os polícias também deviam ter alguma vantagem corporativa.

Talvez se pudesse resolver a coisa com uma reprimenda ou um par de estalos, não acham?…

Ladrão que rouba a ladrão…

Notícia do DN de hoje:

«Um homem de 59 anos assaltou por sete vezes no espaço de apenas um mês a mesma caixa de esmolas da Capela do Senhor dos Aflitos, em Valença, de onde levava dinheiro para tabaco ou bebidas».

Este delicioso parágrafo diz-nos várias coisas:

1º – que alguém contou quantas vezes o homem gamou a caixa das esmolas

2º – que, se o homem estava aflito por dinheiro, foi ao sítio certo: Capela do Senhor dos Aflitos

3º – que, se o homem gastasse o dinheiro roubado em feijão verde ou peixe ou pão, talvez não fosse notícia

Perante este desaforo, o que aconteceu?

«A GNR montou uma operação de vigilância no local e na última vez apanhou-o em flagrante, durante a madrugada»

Nunca visitei esta Capela mas, pelo que conheço das capelas de Portugal, deve ter lugar para o altar, a caixa das esmolas, o ladrão e, no máximo, dois GNR’s, desde que não tenham o abdómen muito proeminente.

Pergunto: onde se terão escondido as autoridades para surpreenderem o larápio?

A notícia prossegue:

«Fontes da paróquia contactadas pelo DN estimaram o montante destes furtos em “algumas dezenas de euros”, admitindo a necessidade de reforçar a segurança, mas sem adiantarem mais pormenores»

Reforçar a segurança?

Três GNR’s em vez de dois?

E ainda bem que “não adiantaram mais pormenores”. Não queremos que futuros ladrões conheçam os planos de segurança que vão ser implementados na Capela do Senhor dos Aflitos!

Mas isto levanta uma questão bíblica: será que os responsáveis pela Capela declaram IVA pelas esmolas? Não estarão eles a fugir ao fisco e, no fundo, a roubar o Estado?

Sendo assim, o ladrão terá cem anos de perdão, ou não?…

PS – Obrigado, correspondente do DN em Viana do Castelo, por mais uma notícia formidável!

Quem não tem cão…

Este título do Diário de Notícias de hoje, deixou-me curioso:

«Alerta para roubos com ferros de engomar».

Roubos com ferro de engomar?

Fui ler.

Parece que nos subúrbios da capital de Moçambique, existem grupos de bandoleiros que assaltam transeuntes, armados com ferros de engomar: ou passas para cá a massa, o relógio e o telemóvel ou levas com o ferro de engomar nos cornos!

Coisas do terceiro mundo.

Por cá, ainda havemos de ver assaltantes armados de Bimbys…

Até os larápios estão em crise

Uma pequena notícia do DN comprova que a crise atingiu todos os sectores da sociedade, incluindo os larápios.

Na tranquila cidade de Bragança, uma mulher foi detida por ter roubado um polvo congelado, num hipermercado.

A mulher devolveu o polvo mas o juiz não perdoou e, seguindo a máxima, segundo a qual, “o polvo congelado jamais será roubado”, determinou que ela ficasse com termo de identidade e residência, até ser presente a tribunal.

Na mesma cidade, três outros larápios roubaram, de um expositor, sete relógios, no valor total de 240 euros.

Vejam bem: um polvo congelado e sete reles relógios, que nem 35 euros cada um valiam!

A crise toca a todos!

Notícia com gps

O impagável Diário de Notícias não quer que nos falte nada e informa-nos de tudo.

Desta vez, a notícia vem de Guimarães, e reza assim:

“Um quiosque localizado em Guimarães, na rua do Santuário da Penha, freguesia da Costa, foi assaltado por um grupo de indivíduos que levaram dez caixas de gelados, no valor de 450 euros. Furtaram ainda quatro outras caixas com chicletes.”

Como se sabe, Guimarães é, este ano, capital europeia da cultura e isso nota-se, também, nos seus larápios, que se refinam, no que respeita aos produtos roubados. Em vez de roubarem produtos de primeira necessidade, armam-se em sofisticados e fanam produtos supérfluos.

Mas o que mais gosto na notícia é, como sempre, a pormenorização.

Atente-se na frase «um quiosque localizado em Guimarães, na rua do Santuário da Penha, freguesia da Costa»!

Não há engano possível, caramba!

Sabendo que Guimarães deve ter milhares de quiosques, o jornalista fez questão em localizar o quiosque assaltado com toda a precisão, para evitar confusões!

Bem haja!

Portugueses preparam-se para o fim do euro

Mais uma cimeira que poucos resultados deu.

Os líderes europeus não se entendem, a Merkel não consegue mandar em todos, os britânicos continuam uns emproados, o Sarkozy quer é voltar para casa, para o aconchego da Bruni, os suecos não fazem nada sem um referendo, os húngaros não percebem o que se passa porque falam mal inglês e francês e recusam-se a aprender alemão, os belgas não se entendem a eles próprios, os portugueses são portugueses…

Portanto, o mais provável é o euro continuar o seu declínio.

Os larápios portugueses já perceberam isso e, segundo o DN de ontem, quatro mulheres carteiristas foram surpreendidas, em Alfama, a roubar um turista japonês.

Estavam a roubar uma carteira repleta de ienes.

Espertas…

Jornalismo de segunda

A onda de crimes violentos, em Portugal, é uma treta!

Tudo invenção da comunicação social!

A prova é esta notícia, publicada no DN de ontem e intitulada “Crianças dão de caras com ladrão a assaltar casa”.

A prosa, da autoria de Júlio Almeida, é digna de uma composição da instrução primária. Eu tive um professor primário, chamado André, que se metia nos copos. Por vezes, nas aulas depois do almoço, já chegava com um grãozinho na asa. Compreensivelmente, não lhe apetecia ter que aturar putos de 9 anos. Então, com a sua voz de trovão, informava a turma: “Hoje vamos fazer uma composição. O tema é: ‘o eléctrico parou’. Têm duas horas para a fazer!”. E sentava-se à secretária a dormir a sesta, enquanto nós puxávamos pelo bestunto, a tentar imaginar uma história que ilustrasse aquela frase: “o eléctrico parou”.

Foi o mestre André que me ensinou a escrever, estou convencido disso. E quer-me parecer que este Júlio Almeida, correspondente do DN em Aveiro, também deve ter tido um professor parecido com o meu. O Director do jornal deve ter espalhado a ordem: são precisas notícias sobre a onda de criminalidade, em Portugal. Tudo merece ser noticiado: a velhinha assaltada nos Correios, o velhote roubado na paragem de autocarro, o miúdo assaltado na escola, tudo faz parte desta onda de criminalidade que assola o país.

Vai daí, o Júlio Almeida foi à procura de qualquer coisa que pudesse ilustrar este facto. E eis que dá de caras com esta história, que começa assim:

“Um susto de morte” foi o que sentiu a família residente em Chão do Rio, Riomeão, no concelho de Santa Maria da Feira”.

Logo aqui, o texto parece uma daquelas composições que a malta fazia na instrução primária, quando assinava: Artur Fernando, Avenida Gomes Pereira, Benfica, Lisboa, Portugal, Europa, Planeta Terra, Universo!

Eu sei lá onde fica Chão do Rio! Eu sei lá onde fica Riomeão! Mesmo Santa Maria da Feira… mas, vá lá… o concelho já basta, para quê o nome do lugar?

Adiante.

“O pai, corticeiro numa fábrica de Santa Maria de Lamas, entrou pelo portão de ferro, eram cerca das 18.00, sem dar conta de qualquer anormalidade.”

Logo no segundo parágrafo da noticia, aparece o pai. Mas… o pai de quem? O pai do Céu? O pai do bandido? O pai das crianças? O pai do jornalista?

Enfim, o pai é corticeiro em Santa Maria de Lamas, embora viva em Santa Maria da Feira. Começamos a desconfiar das Santas Marias em toda esta história…

Continuemos com a notícia/composição: “Seriam as duas filhas menores a dar o primeiro alarme quando, depois de abrirem a porta da casa térrea, depararam com a presença de um estranho de saco numa mão e capacete de moto, na outra. Ao deparar com as crianças, de 13 e 7 anos, o suspeito, que estava desarmado, de luvas postas e cara à mostra, pediu-lhes ‘calma’ dizendo que ‘andava aos limões’ e imediatamente fugiu, saltando de uma altura de metro e meio”.

O texto é delicioso, sobretudo o pormenor do ladrão dizer que “andava aos limões”. Quase que temos pena dele e ficamos aflitos quando sabemos que o pobre homem saltou de uma altura de metro e meio. Será que se aleijou?

Voltemos à composição: “o dono da casa foi logo atrás do homem que, ao deparar-se com um precipício nas traseiras, correu pelo meio dos quintais vizinhos, saltando entre silvas e arame farpado que lhe causaram arranhões no corpo”.

Vejam como somos violentos para com os ladrões, obrigando-os a arranharem-se nas silvas e nos arames farpados, construindo precipícios nas traseiras das nossas casas, enfim, dificultando-lhes a sua actividade, de um modo sádico.

Mas não é tudo. A vida dos ladrões portugueses está cada vez mais difícil. Ora vejamos: “Os constantes gritos de socorro lançados, chamaram a atenção de vizinhos, alguns seus familiares que, em pouco tempo, cercaram o presumível larápio acabando por imobilizá-lo com algumas ‘pauladas’, com receio que estivesse armado.”

Não chegava o bandido ter ficado todo arranhado com as silvas e os arames farpados! Ainda teve que levar umas pauladas, coitado! Quem defende os bandidos, em Portugal? O Procurador Geral da República? O Cavaco Silva? O Nuno Rogeiro?

Mas a notícia/composição/romance prossegue: “Atendendo a que as meninas do casal estavam em ‘estado de choque’ com o que tinham presenciado no ‘assustador’ final da tarde, seria requisitado o apoio do INEM que mobilizou para o local uma psicóloga para as confortar”.

E o ladrão? Não teve direito a apoio psicológico? Francamente! O tipo é apanhado pelas miúdas, tem que mentir, dizendo que anda aos limões, é obrigado a saltar de uma altura de metro e meio, de fugir por entre silvas e arames farpados, acaba por levar umas pauladas e, no fim, é preso e não tem direito, sequer, ao apoio de uma psicóloga?! Como querem, depois, que a reinserção social seja possível?

Na minha opinião, a culpa é, também, do próprio ladrão, que não deve muito à inteligência. Ora vejam lá o que ele tentou roubar: “ouro no valor de dois mil euros, bijutaria diversa, dois telemóveis, um relógio de pulso oficial do Futebol Clube do Porto e uma quantia em dinheiro que a família não quis divulgar”.

Roubar um relógio do FCP? Grande estúpido! Só se fosse para o esmagar, destruir, partir, compactar, atomizar, esmigalhar, dissolver, evaporar, condensar, esfarrapar, e, depois, deitar fora!

Humilhado, o ladrão “foi presente a tribunal e ficou em liberdade a aguardar julgamento, mas sujeito a apresentações periódicas no posto da polícia”.

Felizmente, o DN publica uma foto da casa assaltada. Desafio todos os larápios das redondezas a assaltarem a casa! Não deixem que o vosso bom nome seja arrastado na lama por jornalistas de segunda!

Agora, a sério: esta notícia é bem o espelho do jornalismo que se pratica em Portugal. Como é que os jornalistas portugueses enfrentam, de um modo responsável, o aumento da criminalidade, em Portugal? Noticiando tudo, desde o assalto mais idiota, como este, ao assassinato mais violento. Esta notícia ocupa três quartos da página 22 do DN de ontem, a toda a largura da página (5 colunas). Fica tudo ao mesmo nível. E, noticiando tudo, todos ficamos com a ideia de que, em cada esquina, há um bandido à nossa espera.

Tenham vergonha, caramba!