“The Life of David Gale”, de Alan Parker (2003)

Kevin Spacey é um actor de poucos espalhafatos e gosto dele por isso. Já fez algumas patetices mas também já fez filmes notáveis (“American Beauty”, por exemplo). Neste filme, encarna David Gale, um professor universitário do Texas, que é militante contra a pena de morte. Numa festa, onde bebe demais, é tramado por uma aluna sedutora que, depois de se enrolar com ele, na casa de banho, com mútuo consentimento, o acusa de violação.

A partir desse episódio, a vida do professor dá uma volta, torna-se alcoólico e acaba por ser acusado da violação e morte da líder do movimento anti-pena de morte (Laura Linney).

A três dias da sua execução pede para ser entrevistado por uma jornalista (Kate Winslet), a quem vai contar a sua história (quase) toda.

E ficamos a saber como David Gale levou a sua militância anti-pena de morte ao extremo.

O filme é escorreito, Alan Parker é um realizador experiente e com muitos êxitos na carreira, Winslet não sabe ser má actriz e só o título em português destoa (“Inocente ou Culpado?”… patetice…)

“The Reader”, de Stephen Daldry

leitorLi críticas contraditórias a este filme, que proporcionou a Kate Winslet, este ano, o óscar para melhor actriz. Eu gostei.

Adaptado de uma novela do escritor alemão Der Vorleser, publicado em 1995, “The Reader” começa na Alemanha dos anos 50, contando-nos a história de uma pica-bilhetes trintona que, certo dia, ao ajudar um miúdo de 15 anos que está mal disposto, acaba por o levar para a cama e iniciá-lo.

Assim, na primeira parte do filme, Hanna Schmitz (Kate Winslet), come o rapazinho, Michael (David Kross) dezenas de vezes, antes ou depois de ele lhe ler “A Odisseia”, de Homero, contos de Tchekov ou, até, bandas desenhadas do Tintin.

Só que, entretanto, o grande segredo de Hannah fica exposto e ela desaparece da vida de Michael, para reaparecer muitos anos mais tarde, quando ele já é interpretado por Ralph Fiennes.

Afinal, Hanna tinha sido membro das SS e tinha trabalhado num campo de concentração, tendo sido responsável directa pela morte de centenas de mulheres. E não sabia ler nem escrever.

Dois segredos terríveis, na vida daquela mulher que, no entanto, prefere que se descubra que pertenceu às SS, do que se saiba que, afinal, é analfabeta. A vergonha de ser iletrada é maior.

O filme expõe a culpa do povo alemão: nenhum alemão desconhecia o que se passava nos campos de concentração; nenhum alemão é inocente.

Claro que este tema não é tão desenvolvido como, por exemplo, no livro “As Benevolentes“, de Jonathan Littell e, por isso, alguns críticos, como o do Guardian, detestaram o filme.

Mas estamos perante isso mesmo: um filme e um filme tem que prestar, sobretudo, entretenimento. Se queres um profundo debate de ideias, lê um livro.

Digo eu, claro.

“Revolutionary Road”, de Sam Mendes

revolutionaryroadUm grande dramalhão, adaptação de um romance de Richard Yates que foi finalista do National Book Award, em 1962.

Realizado por Sam Mendes e protagonizado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, conta-nos a história de um casal que vê os seus sonhos de uma vida fantástica se esfumarem na vidinha de todos os dias.

A acção decorre nos anos 50 e o casal Frank e April Wheeler parecem formar o casal perfeito: ele, empregado de escritório, numa firma conceituada, ela, uma dedicada dona de casa e mãe de dois filhos.

No entanto, April não está satisfeita com a rotina do dia-a-dia e acha que Frank pode e deve aspirar a voos mais altos.

De súbito, decidem largar tudo e ir viver para Paris. Mas uma promoção inesperada, na firma de Frank e a gravidez ainda mais inesperada de April, desencadeiam a tragédia final.

Por vezes um pouco dramático de mais, dá a sensação que a adaptação cinematográfica deixa algumas coisas importantes de fora.

A realização não tem surpresas e os actores são bons (já se sabia…)

“Little Children”, de Todd Field

littlechildrenE aqui está mais um exemplo de cretinice na tradução. “Little Children” transformou-se em “Pecados Íntimos”. Porquê? Para chamar mais espectadores às salas de cinema, para verem a Kate Winslet a ser comida pelo Patrick Wilson?

É que “Criancinhas” seria o título ideal. Além da filha de Sarah (K. Winslet) e do filho de Brad (P. Wilson), que são miúdos com 3-4 anos, os seus pais, no fundo, também se comportam como criancinhas, iniciando uma relação baseada na fantasia.

De facto, nem Sarah vai nunca conseguir libertar-se do seu marido, um bem sucedido homem de negócios, que se masturba perante sites pornográficos, como se fosse um puto, nem Brad, que já chumbou duas vezes no exame à Ordem de Advogados, vai conseguir libertar-se da sua mulher Kathy (soberba Jennifer Connelly), que o sustenta, realizando documentários para a televisão.

Como segunda história, um pedófilo, recém-libertado da cadeia, e um ex-polícia, reformado compulsivamente porque matou, a tiro, um adolescente, acidentalmente, estão em guerra

No fundo, todos são imaturos e, sublinhando isso mesmo, o filme passa a maior parte do tempo na piscina e no parque infantil.

Vale a pena ver, quando mais não seja pelos olhos da Jennifer Connelly e pela interpretação da Kate Winslet.