Meet Vincent Van Gogh

Montaram uma enorme tenda no Terreiro das Missas, mesmo em frente ao Palácio de Belém, mas o ilustre inquilino não está lá. Marcelo decidiu colocar-se em quarentena voluntária na sua casa; há alguns dias, recebeu, em Belém, alunos de algumas turmas de uma escola de Felgueiras e, dias depois, soube-se que um desses alunos testou positivo para o novo coronavírus.

Como bom hipocondríaco, Marcelo recolheu-se a casa, até porque, tendo já feito um cateterismo, é um doente de risco.

Voltando à Exposição… não é uma coisa absolutamente espectacular e imperdível, mas não há dúvida que Meet Vincent Van Gogh é uma maneira inovadora de tomar contacto com a vida e obra do pintor.

Ao longo de várias salas, vamos percorrendo alguns locais por onde Van Gogh passou e viveu, um café, o quarto, o hospital psiquiátrico.

Podemos sentar-nos e tentar desenhar, como ele desenhou, sentir as camadas de tinta dos seus óleos, em reproduções 3D, entrar no seu quarto e tirar uma foto – aliás, tirar muitas fotos. Diversos écrans permitem-nos estudar algumas das suas pinturas e as técnicas que ele usou. As cartas que Van Gogh trocou com o irmão Theodor servem de pano de fundo à sua biografia

No final, um painel junta diversas homenagens ao pintor e um outro, muito maior, junta reproduções de todas as suas obras.

Vale a pena visitar.

Exposição de Miguel Palma no CCB

Chama-se “(Ainda) O Moderno Desconforto” e mostra muitas obras deste artista-performer, nascido em Lisboa há 55 anos.

Para um leigo como eu, a Exposição reúne uma série de engenhocas (não digo geringonças, porque o termo está estafado) muito curiosas.

Logo à entrada, temos uma ambulância verdadeira; olhando lá para dentro, como os mirones fazem nos acidentes, podemos ver o simulacro de um acidente, com automóveis miniatura; mais à frente, um tanque de guerra projecta uma série de imagens coladas aleatoriamente. Depois, nas duas salas da Exposição, encontramos diversas peças que merecem referência.

Ao acaso, falo na mesa de pingue-pongue com buracos que parecem ter sido causados por obuses, ou a barra de ferro com um pequeno televisor na extremidade, onde podemos ver uma ginasta romena evoluindo na barra olímpica (a peça chama-se Barra Comaneci!).

A ironia aliada à tecnologia. Mas há muito mais: uma máquina que tritura diversos electrodomésticos, um Google Plane que, na sua base, tem o céu estampado e que, em cima, tem fotos da Terra, e ainda a viatura em que o autor se fez transportar há uns anos e que é um verdadeiro bólide feito à mão (na foto).

Gostei e recomendo.

Banksy na Cordoaria

Ninguém sabe quem é Banksy, mas os seus trabalhos são conhecidos e reconhecidos por todo o mundo.

Na Cordoaria de Lisboa, está patente até depois do Verão, uma Exposição intitulada “Banksy – Génio ou vândalo”, que já esteve em várias cidades europeias.

Dizem que o Banksy (seja lá ele quem for), não tem nada a ver com esta iniciativa, que não a autorizou e que não ganha nada com ela.

Paciência…

A Exposição é muito curiosa e podemos visitar as inúmeras obras deste artista inovador, espalhadas pelo mundo.

Posso dizer que a Exposição está muito apelativa, que é muito agradável deambular pelas diversas salas, e que o génio de Bansky consiste, ao fim ao cabo, em descontruir a realidade, dando-lhe outras leituras e outros significados.

Quanto ao facto de ele próprio não aprovar coisas deste género…

Se Bansky quer combater o capitalismo, parece que o dito cujo se quer apropriar dele, o que é uma inevitabilidade histórica…

Exposição “Museu das Descobertas”, no MNAA

O título é provocador, porque esta Exposição, patente no Museu Nacional de Arte Antiga, não tem nada a ver com aquilo a que chamamos descobrimentos, mas sim, com as descobertas que os Museu fazem, ao estudar e analisar a fundo as obras dos seus acervos.

A interessante Exposição compõe-se de salas com designações bem significativas: Contemplar, Preservar-Estudar-Comunicar, Religar, Desvendar, Restaurar, Salvaguardar, Doar, Circular, Projectar e Rastrear.

Por exemplo, na sala Circular ficamos a saber que, na troca de peças para espaços expositivos em outros Museus, por esse mundo fora, descobrem-se, muitas vezes, coisas que não se sabiam sobre essas mesmas peças. Na sala Religar percebemos como peças adquiridas em diferentes locais e em diferentes épocas, acabam por fazer parte dos mesmos conjuntos, como é o caso de retábulos aparentemente dispersos e que, afinal, devem ser vistos como um todo.

Trata-se de uma Exposição muito bem conseguida e que nos tomou cerca de hora e meia.

Só tivemos tempo para ver a Capela das Albertas, a sala dos Presépios e a Exposição dos tecidos e, graças à intervenção de uma voluntária muito entusiasta, os desenhos que Durer fez antes de pintar o célebre São Jerónimo, que pertencem à Galeria Albertina, de Viena, e que estão agora em exposição no MNAA até Agosto.

World Press Photo – 2019

É sempre um prazer visitar esta exposição de fotos de todo o mundo, desta vez, patente no Museu de História Natural, na antiga Faculdade de Ciências, onde frequentei as cadeiras de Biologia e Física Médica, no longínquo ano de 1973.

Surpreendentes as fotos dos gémeos de um tribo da Nigéria, do combate de boxe feminino, das ex-guerrilheiras das FARC que, só agora, decidiram ser mães, dos pescadores do Lago Chade, que dificilmente encontram o que pescar, e muitas outras.

Também o português Mário Cruz conseguiu um prémio, graças à sua reportagem sobre o Rio Pasig e o seu lixo sobrenadante (exposição patente no Palácio Anjos).

A foto vencedora mostra uma criança das Honduras, chorando convulsivamente, enquanto a sua mãe é detida na fronteira entre o México e os EUA.

A foto é impressionante, mas ficámos muito mais impressionados com as fotos da guerra do Iémen (que nem sequer é falada na nossa comunicação social) e, sobretudo, da guerra da Síria (há uma foto de dois miúdos que nos deixa sem palavras: ambos aparentam 10-12 anos, um deles tem o rosto coberto de sangue e o outro, que o tenta ajudar, olha desesperadamente para a objectiva… difícil de suportar…)

Fotos de Mário Cruz no Palácio Anjos

Mário Cruz é um fotojornalista português, de 32 anos, que ficou conhecido pela foto que ganhou o prémio de temas contemporâneos da World Press Photo de 2017.

Em 2018, conseguiu também o prémio da WPP, nos temas ambientais, com uma foto tirada no Rio Pasig, nos arrabaldes de Manila, capital das Filipinas.

Essa foto faz parte de uma fotoreportagem sobre esse incrível rio cheio de lixo, e nas margens do qual vive uma população, em barracas decrépitas, que se sustenta a partir do lixo que jaz nesse mesmo rio.

No Palácio Anjos, em Algés, podemos ver 40 fotos de Mário Cruz e todas são tremendas (adjectivo muito em voga…). Estes filipinos migraram do interior do país para a capital, em busca de uma vida melhor, e acabaram nesta espécie de bairro post-apocalipse, onde resgatam lixo, que depois vendem, para sobreviver.

Saudade de Pedra, fotos de Jorge Guerra

Exposição patente no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, na Rua da Palma (entrada livre).

Jorge Guerra nasceu em 1936 e vive no Canadá; fotografa desde sempre e fez diversas exposições, um pouco por toda a Europa, e não só.

Esta Exposição reúne cerca de uma centena de fotos, todas a preto e branco, feitas em 1966 e 1967.

São fotos de pessoas, fotografadas sem o saberem, em vários locais de Lisboa, Feira da Ladra, Terreiro do Paço, Jardim 9 de Abril, Rocha de Conde de Óbidos, etc.

Todas as pessoas aparentam estar tristes, macambúzias, zangadas com a vida. As mulheres, invariavelmente, usam lenço na cabeça; os homens, boné ou chapéu. Nos jardins, os reformados parecem esperar a morte em pé. Diz o Jorge Guerra, no texto distribuído: “o México pode ser pobre, mas não é tão triste”.

Claro que as fotos são datadas. Em 1966/67, vivíamos sob um ditadura e o país era triste e cinzento, como estas fotos de Jorge Guerra. Hoje, pelo contrário, ao passearmos pelos locais fotografados por Guerra, só vemos gente feliz, alegre, com roupas coloridas… é verdade que a maioria não são portugueses, mas, mesmo assim, a diferença é notória.

Vale a pena visitar esta Exposição.

“Lisboa amarga e doce”, fotos de Gageiro

São apenas duas dúzias de fotos de Eduardo Gajeiro, feitas entre 1975 e 2010, mas valem a pena.

Estão em exposição na galeria dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa.

Como legenda, excertos de poemas de Pessoa e de Ary dos Santos.

Das fotos, destaco esta, de três idosas em amena cavaqueira. Foi tirada em 1985 e diríamos que a cena se passa numa qualquer aldeia das beiras.

Errado.

A foto foi feita no jardim do Príncipe Real. Passaram pouco mais de 20 anos e será difícil, hoje em dia, “apanharmos” velhotas como estas, nas ruas e jardins de Lisboa.

Como o MUDE me deixou irritado comigo próprio

Fui finalmente visitar o Museu de Design, no antigo edifício do Banco Nacional Ultramarino, na Rua Augusta.

No rés-do-chão, está a colecção permanente: mobiliário, vestuário, projecção de filmes, alguma loiça e duas dúzias de electrodomésticos (torradeiras fantásticas e rádios cheios de patine).

No primeiro piso, a Exposição temporária “É proibido proibir”, dedicada aos anos 60: monitores passam alguns filmes emblemáticos (“Barbarella”, “Midnight Cowboy”), altifalantes debitam música dos anos 60 (“Sgt Peppers…”, “Hair”, “Woodstock”, Stones, Janis Joplin) e mais mobiliário e mais vestuário.

E, de repente, ali estava, bem à vista, a máquina de escrever Olivetti Valentine, igualzinha à que a Mila me comprou nos anos 70 do século passado, em segunda mão, num antiquário das Escadinhas do Duque.

Foi numa máquina igual a essa que escrevi muitos textos para o Pão Comanteiga, a uma velocidade que fazia saltar teclas, literalmente.

E depois, num daqueles ataques que nos dá e em que nos apetece desfazermo-nos de coisas que já não usamos, vendi-a a um ferro-velho, juntamente com muitos trastes.

Mais tarde, dei vários murros em mim próprio, insultei-me do pior, obriguei-me a torturas inenarráveis, próprias de um Jack Bauer, mas nada disso fez regressar a Olivetti ao lar.

Nunca mais me perdoarei!

Quanto ao MUDE, vale a pena a visita, embora saiba a pouco.