O governo aprovou mais restrições í venda e ao consumo de tabaco. Os comentadores, em geral, estão contra. Pena não dizerem se são, ou não, fumadores.
Fui fumador durante 39 anos. Deixei de fumar quando nasceu o meu primeiro neto, há 16 anos. Já era tarde. Tenho doença coronária grave, já fiz três angioplastias e colocaram-me nove stents.
Uma das poucas coisas de que me arrependo na vida: ter começado a fumar. E porque comecei a fumar? Por imitação. Toda a gente fumava nos anos 60 do século passado: fumava-se nos cinemas, nos transportes públicos, nos aviões; na televisão, os apresentadores do telejornal, fumavam em directo. Assisti ao célebre debate entre Soares e Cunhal. Os moderadores foram o Joaquim Letria e o José Manuel Megre. Ambos conduziram o debate a fumar. Como estudante de Medicina, lembro-me que se fumava até nas enfermarias, enquanto se observavam os doentes. Os meus primeiros cigarros, comprei-os avulso numa mercearia perto do Liceu. Como podia não fumar?
Agora, vai ser proibido fumar í porta dos hospitais, das escolas e dos restaurantes. Finalmente, posso beber a bica na esplanada do café da minha rua, sem levar com o fumo do cigarro do vizinho da mesa ao lado, porque também vai ser proibido fumar nas esplanadas.
Acham mal? Parece que sim. Dizem que não se proíbe o álcool nem o jogo, mas proíbe-se o tabaco. Considerações próprias de quem fuma.
Vi uma reportagem numa aldeia do Alentejo. Queixava-se um fumador que, para comprar cigarros, teria de se deslocar 18 km, a Évora e, com o preço das passagens da camioneta, não podia. Como diz o povo, quem não tem dinheiro, não tem vícios.
Todos os dias, oiço queixas. A vida está por hora da morte, depois de se pagar os alimentos, não há dinheiro para os medicamentos; se se comprar os comprimidos, não se põe comida na mesa. Ora aqui estão medidas sérias para ajudar a malta: deixando de comprar tabaco, já ficam com uma folga para a comida e para os medicamentos.
Ou não?