Romenos, outra vez

Aqui há uns tempos, um tipo qualquer da 4Ever Kids foi notícia porque foi ajudar um grupo de romenos que viviam nos baldios junto í  ETAR da Cova da Piedade. Não sei se ele foi levado pelos romenos, se foi ele que levou a comunicação social, mas o que passou cá para fora foi que os coitadinhos tinham vindo para Portugal ao engano de um contrato de trabalho que não se efectivou!…

Como se alguém acreditasse que aqueles tipos tivessem atravessado toda a Europa para virem trabalhar para um país com 11% de taxa de desemprego!…

Enfim… os romenos já lá estavam e lá continuam… Se não são os mesmos, pelo menos a muleta que eles usam para fazerem de conta que são coxos, mantém-se a mesma.

O tal senhor da 4Ever kids foi muito aplaudido por jornalistas incautos, que não devem sair das redacções, e que paparam aquilo tudo como verdadeiro, sem consultarem outras fontes, como seria sua obrigação como jornalistas.

Ainda ontem passei por lá, e os romenos lá continuam.

Então, enviei este mail ao Sr. Fernando Madrinha, do Expresso, um dos jornalistas que louvou o tipo da 4Ever kids.

“Caro Fernando Madrinha:

Há uns tempos, o senhor louvou, na sua coluna semanal, a iniciativa de um senhor muito bonzinho que foi até í  Cova da Piedade e resgatou meia dúzia de romenas que por lá viviam em condições sub-humanas. Graças aos esforços desse senhor muito bonzinho, os romenos, que teriam vindo para Portugal, enganados por falsas promessas de trabalho, foram repatriados e tudo acabou em bem.

O Sr. Madrinha não fez o trabalho de casa, isto é, acreditou no que parecia ser. Mas, como qualquer jornalista devia saber, nem sempre o que parece, é.

Há anos que os romenos ocupam os baldios junto ao arsenal do Alfeite, perto da ETAR da Cova da Piedade. Basta consultar este link.

Se o Sr. Madrinha enviar um repórter do Expresso até í quele local, encontrará mais um grupo de romenos. Serão os mesmos? Isso não lhe garanto. Garanto-lhe que a muleta que usam para fingir que são coxos e assim obterem umas esmolas dos corações mais empedernidos, essa é a mesma. Todas as manhãs, pelas 6h30, é ver um grupo de romenos a percorrer a Avenida Aliança Povo-MFA, que liga a Cova da Piedade a Cacilhas; um deles, com a muleta í s costas. Vão apanhar o cacilheiro para Lisboa, onde passam o dia a esmolar. Ao fim da tarde, regressam aos baldios, trazendo sempre algo que “recoletam”, um colchão velho, uma caixa de cartão, um cobertor.

Sr. Madrinha: não quererá avisar o tal senhor bonzinho? Há mais romenos para ele salvar…

Sarkozy Lelo

—

Ai Sarkozy Lelo, havias de vir aqui ao bairro e trazer a tua Carla! Então é quias ver o qué bom! Havíamos de despir a Carlita, toda nuasita e ósdepois a gente vestíamos a gaja com a roupa qua gente vende na venda, tudo de marca, techêrt armani, calçonitos calvinqueleine, sandalitas daquele lelo espanhol cagora namalembro do nome e um relógio guchi, com brilhantes e tudo!

E a ti, meu Sarkozy do carago, era logo um fato do hugo boce, com um gravata de seda e uma camisa triple marfel, que nos sobrou das vendas do século passado.

Depois deste servicinho, de certeza que não ias expulsar a gente, ca gente não é como os romenos, já vivemos case todos em bairros sociais, todos arrecebemos rendimento mínimo, vamos í  escola, menos cando a nossa dótora de família nos passa um atestado, que é cando temos o nosso filho com um óbcesso ou cando a nossa filha tá cum atraso na menstrulação. A gente, ó depois leva o atestado í  nossa assistente e não podemos ir í  escola durante um mês, mas isso é muito diferente do que viver debaixo das pontes ou nos terrenos baldios, como fazem os ciganos romenos, e não andemos a pedir nas escadas no metro, com um muleta a fazer de conta que semos coxos.

Por isso, Sarkozy, tamos contigo! Expulsa os romenos e deixa esse gajo do Barroso ladrar! E ço gajo continuar a mandar vir, diz pró gajo vir aqui í  Cova da Piedade, passar um fim-de-semana com os romenos aqui da Etar, a ver o qué bom!

Aluga-se T1 em Cacilhas

Família romena aluga T1 em zona central de Cacilhas. A 5 minutos dos barcos para Lisboa, mesmo junto a uma estação do Metro Sul do Tejo, em zona com muito comércio. A área é pequena, mas arejada e tem uma linda vista para o parque de estacionamento da Avenida 25 de Abril. Boa oportunidade. Cede-se pela melhor oferta.

—

Roménia dos (ainda) mais pequenitos

Nunca foste í  Roménia?

Nesse caso, deixo aqui uma boa oportunidade: apanhas o cacilheiro para Cacilhas, percorres a estrada que ladeia a Lisnave e, perto do Hospital Particular de Almada, viras í  esquerda, na estrada de terra batida que leva até í  ETAR, passando pelo parque das camionetas.

Quando avistares a ETAR – e antes de chegares ao pequeno “porto” de barcos de pesca, com o muro do Arsenal do Alfeite í  tua frente – viras í  direita e já está…

…estás na Roménia…

—

Várias famílias de romenos vivem aqui, neste baldio, em mini-barracas feitas com bocados de contraplacado e cartão e plásticos. Dentro de cada barraquinha, um colchão e cobertores.

Todas as manhãs, é vê-los percorrerem a Avenida do Movimento das Forças Armadas, que bordeja a Lisnave.

Vão para o trabalho.

Vão para Lisboa, onde estacionam em sítios estratégicos, para pedir umas moedas.

Vão em busca de colchões, roupas deitadas ao lixo, cobertores, desperdícios que, para eles, têm um valor incalculável.

Alguns levam (í s costas) a canadiana que, depois, lhes permite fazer de conta que são coxos, a fim de pedirem uns trocos ao transeunte distraído.

A maior parte deles são jovens, mas há um ou outro velho, com aspecto de ter mais de 70 anos, verdadeiramente coxos.

E eu pergunto-me: o que faz que um tipo atravesse a Europa para vir dormir numa barraca mal enjorcada, junto ao Tejo, na Cova da Piedade, em Portugal?