Onde está o bacalhau?

Andava muito preocupada com a falta de memória.

Queria uns comprimidos para a cabeça.

Ainda agora, está a ver, doutor? Vinha para lhe mostrar as análises e deixei-as na mesa do café onde estive a tomar o pequeno-almoço!

Isso acontece a qualquer pessoa, digo eu.

Pois, mas comigo as coisas têm vindo a piorar…

No outro dia, convidei uma amiga minha para almoçar e perguntei-lhe se ela gostava de bacalhau com grão.

Disse-me que sim e ficou combinado.

E almoçámos bem.

E só quando estava a lavar os pratos é que percebi que eles não tinham aquela goma própria do bacalhau: tínhamos almoçado só grão com batatas e feijão verde. Não cheguei a tirar o bacalhau do congelador!

E a sua amiga não disse nada?

Não – ela ainda está pior do que eu!…

in http://gente-que-eu-conheci.blogs.sapo.pt/

“New York, I Love You”

E no dia em que se assinalam 9 anos sobre a destruição das Twin Towers, nada melhor que este pequeno filme para homenagear essa cidade fantástica.

New York, I Love You” é um conjunto de pequenas histórias, umas melhores que outras, passadas em Nova Iorque, com gente de Nova Iorque. Os realizadores são 11, todos desconhecidos para mim e a lista de actores é interminável, incluindo Julie Christie, que protagoniza a história mais “europeia”, John Hurt, James Caan, Andy Garcia, Eli Wallach, Natalie Portman, e muitos outros.

Apesar da tagline dizer “a cada momento começa uma nova história de amor”, e apesar das histórias serem todas histórias de amor, nenhuma é piegas.

Duas histórias sobressaem: a da jovem de cadeira de rodas, a quem o pai (James Caan) arranja um par para o baile de finalistas e a do engatatão de esquina e a sua tentativa de conquistar mais uma mulher. Ambas as histórias têm um final surpreendente.

Vale a pena ver.

Injecção mágica

Entrou no gabinete exalando um intenso cheiro a álcool, apesar de pouco passar das 9 da manhã.

Sentou-se e sorriu, mostrando um magnífico conjunto de dentes partidos .

“Estou cheio de comichão!” – exclamou, coçando os braços escanzelados.

“Que raio será isto?” – perguntou, apontando para as pequenas lesões eritematosas de ambos os braços e para as extensas lesões de coceira.

Sem deixar que eu respondesse, acrescentou:

“Infecção não deve ser! Quando estive na tropa, levei aquela injecção contra a malásia!”

Eu já tinha ouvido atribuir a essa mítica injecção administrada na tropa, toda a espécie de vícios e virtudes – mas foi a primeira vez que ouvi alguém dizer que ela também prevenia contra a infecção por um país asiático…

Falta de apetite

Naquele dia, ele ia à consulta, mostrar-me as análises que lhe tinha pedido. E ela ia com ele. Como sempre.

Também como sempre, ela fala, ele não abre a boca.

“Como estão as nossas análises?” – pergunta ela, apropriando-se das análises do marido.

Há mulheres que se apropriam dos seus homens.

“O meu marido rompe-me as meias todas!” – dizem, referindo-se às meias do homem, não às delas.

Percebe-se: eles rompem as meias e elas é que têm que as coser.

Esta mulher era dessas.

E como haviam de estar as análises: a função hepática, uma desgraça. A Gama GT, acima dos 500.

Uma lástima.

“Pois é!” – exclama ela – “E depois, este homem não me come!”

Já ouvi muita coisa, mas uma mulher queixando-se, abertamente, com esta linguagem, da disfunção eréctil do marido, era novidade.

“Não a come?…” – perguntei, hesitante.

“Sim, doutor. Nem vale a pena fazer comida, que ele não me come!”

Fiquei mais descansado.

E, com 500 de Gama GT, devido às duas grades de minis diárias, era natural que ele não comesse nada.

Em todos os sentidos…