Sócrates, o falso engenheiro

Os jornais não largam o osso. Vasculham os arquivos, falam com antigos colegas de Sócrates, interpelam professores, reitores, contínuos, mulheres da limpeza, vizinhas do lado, porteiras.

Qualquer depoimento serve para levantar mais suspeitas.

Empregado do café onde Sócrates costumava estudar à noite: “Nunca o vi estudar a sério. Vinha para aqui, sentava-se naquela mesa, só pedia uma bica e ficava o tempo todo a ler livros de banda desenhada. Os livros sobre Cálculo de Estruturas e Betão Armado em Parvo, nunca os abria!”

Antigo contínuo da Universidade Independente: “Se o vi entrar nas salas de aula? Nunca! Ficava aqui, na sala de estudantes, a fumar cigarros e a ler revistas porcas!”

Gajo que ia a passar: “Esse gajo nunca me enganou: tem mais cara de agente técnico do que engenheiro!”

A parolice à solta!

O país de doutores e engenheiros que somos rejubila com esta polémica: “já sabes que, se calhar, o Sócrates não é engenheiro?!”

Alguns jornalistas, ressabiados por não terem tido nota para entrar num curso a sério e não terem tido alternativa se não escolher Comunicação Social, pensam ter encontrado a investigação das suas carreiras.

Claro que o Sócrates não é engenheiro, é óbvio que arquitectou um arranjinho para conseguir o diploma, com umas equivalências manhosas e umas chico-espertices banais, só possíveis com a multiplicação de Universidades privadas que, como se está a ver, não passam de empresas que escondem os seus estranhos negócios atrás da fachada supostamente fiável do Ensino Superior.

Sócrates é, acima de tudo, um político.

E está tudo dito.

Ninguém nunca o iria contratar para, por exemplo, ser o engenheiro responsável pela construção de uma ponte, de um parque de estacionamento subterrâneo, ou mesmo de uma casa de um só piso e com apenas uma divisão assoalhada.

Agora, há uma coisa que não percebo: de que está à espera Sócrates para dizer qualquer coisa de substancial sobre esta polémica.

O que dá que falar, neste caso, é o seu meio silêncio.

Das duas, uma: ou o tipo, desde o princípio, não dizia nada sobre o assunto e deixava os jornalistas tasquinharem no lodo até se fartarem – ou então, já devia ter dito qualquer coisa.

O silêncio de Sócrates alimenta a polémica.

Uma nota final para comentar um comentário. Um simpático colocou um comentário ao meu anterior texto sobre a “engenheirice”, dizendo que eu devia ter vergonha de confessar que não fui a nenhuma aula de Ortopedia. Claro que não editei o comentário desse senhor, porque o Coiso é meu e só cá escreve quem eu quero. Mas vale a pena esclarecer que todos os estudantes universitários de 1973/1974 tiveram passagens administrativas.

Não foi isso que me tornou melhor ou pior médico.

Perdão, licenciado em Medicina…

socrates_diploma.jpg

 

19 thoughts on “Sócrates, o falso engenheiro

  1. O SE… (do “engenheiro” Sócas)

    Se é possível conservar a juventude
    Respirando abraçado a um marco do correio;

    Se a dentadura postiça se voltou contra a pobre senhora e a mordeu
    Deixando-a em estado grave;

    Se ao descer do avião a Lili Caneças
    Pôs marfim a sorrir;

    Se Belmiro tem acções nas minas de esterco;

    Se na América um jovem de cem anos
    Veio de longe ver o senhor Bush
    A cavalo na mãe;

    Se um bode recebe o próprio peso em aspirina
    E a oferece aos hospitais do seu país;

    Se o engenheiro sempre não era engenheiro
    E o país ficou com uma engenhoca nos braços;

    Se reentrante, protuberante, perturbante,
    Lola domina ainda os portugueses;

    Se o Jorge (o “ponto” do Jorge!) tentou beber naquela noite
    O presunto de Chaves por uma palhinha
    E o Cavaco não lhe ficou atrás
    Ao sair com a lagosta pela trela;

    Se “ninguém me ama porque tenho mau hálito
    E reviro os olhos como uma parva”;

    Se Ribeiro já não vem a Lisboa
    Cantar com o Paulinho…

    …Acaso o nosso destino, tac!, vai mudar?

    (d’après Alexandre O’Neill)

  2. antes de o ser já o era. favor com favor se paga.
    Os deputados licenciam a UNI e depois vao lá buscar o Canudo.

  3. E os outros 39 deputados que se formaram na mesma “uni”, porque não falam neles???!!!,…

    Pelo que vejo, todos os partidos teem telhados de vidro, merda de país,…

  4. O grave desta situação do estatuto mal explicado do Primeiro Ministro José Socrates é que vai complicar a vida àquelas pessoas que tiraram o curso nas particulares e se filiaram no PS para arranjar tacho. Mas não podemos ver as coisas só pelo lado negativo. Agora os Estados Unidos da América não estão sozinhos. Agora fazemos parte dos paises governados por palermas e trafulhas em que ninguém faz nada para os tirar do poleiro.

  5. Ó Coiso,

    Tu, se calhar, safas-te de ser arguido como O António Caldeira.
    Começas por dizer mal dos jornais e dos jornalista, o que é um ponto a teu favor… lá para O José Sousa… digo eu!
    E também dizes “a parolice à solta” que é, se calhar, o que te vai safar mesmo, pois não te diriges a ninguém, portanto(s), pois toda a gente em causa… excepto a ti mesmo, que és clarividente nestes assunto!
    Ó coiso, desculpa, Coiso, desce lá um bocadinho da tua superioridade e diz lá se, na verdade, mas mesmo na verdade, as aulas de Ortopedia não te fizeram falta, naquela ocasião em deixas-te o ossinho do paciente um bocadinho torto? LOL.
    Saudações,

  6. Meu caro Josè: não percebes nada de ironia, não é? Claro que as aulas de Ortopedia me fizeram falta. Só que eu não segui a carreira política, meu caro tijolo – eu continuei médico, ao longo de 30 anos e existe uma coisa chamada formação post-graduada, coisa que o teu José Sousa não fez, porque andava demasiado ocupado com as secretarias de Estado e os ministérios. Pois fiz cursos, prestei provas públicas nacionais e fui subindo na minha carreira, não por antiguidade, cunhas ou amizades, mas por mérito.
    Enfim, já gastei demasiadas palavras para quem não tem sentido de humor…
    TODOS os estudantes universitários da minha geração tiveram passagens administrativas a diversas cadeiras, pá!

  7. Eu quero que se lixe o canudo do dito-cujo.Só quero é saber se quando ele perder a cadeira vai para as obras ou se continua a chular o partido e os Portugueses como sempre fêz,pois ninguém no seu perfeito juízo dá trabalho a um inutil que nunca soube o que era trabalhar.Também gostava de saber quem foi a besta que o fêz crer que tirando um curso superior(mesmo instantâneo) faria dele alguém. Realmente até parecia mal um 1º ministro não ser formado.essa é que é a grande questão.
    Mas eu estou realmente preocupado é com os ataques de esterismo do animal quando alguém ousa apontar-lhe os defeitos.Sim,defeitos,pois qualidades nem ve-las.E estou preocupado,pois tal como todos os comunistas (do qual ele não se demarca apesar de o negar)passam a vida a pregar a liberdade de expressão mas sópara o que lhes agrada.Nós o povinho nem nos podemos atrever. Que pretende ele fazer de nós ? Mandar-nos para o Tarrafal? Ó Senhor 1º ministro… quem não pode arreia.Agora espernear dessa maneira só lhe fica mal.Depois admire-se dos boatos que correm por aí quanto á sua masculinidade.Lembre-se que neste mundo não basta parece-lo. Já diz o povão. E diz também que mulher séria não tem ouvidos.
    Fica aqui tb um recado para alguns pseudo-intelectuais que aínda acham que sua excelencia tem feito um bom trabalho como governante. BEBAM ÁGUA POIS O VINHO FÁZ-LHES MAL.
    Bem… voltarei cá um dia destes se entretanto não me prenderem.

  8. Aqui o Filipe está tão zangado com o Sócrates que até se esquece que “esterismo” se escreve “histerismo”, que “fêz”, se escreve “fez”, que “inutil” leva acento no “u”, que “ve-las” leva acento circunflexo no “e”, que “fáz-lhes” não leva acento no “a”, etc, etc…

  9. epahhh…. tive de vasculhar ao infimo pormenor todo o conteúdo deste blog para enfim… dar uns belos parabens ao autor. muito bem mesmo, fez-m rir… e como se sabe… rir é o melhor remédio. eheheh

  10. EU ACHO IMPORTANTE UM BOM GOVERNO SENTIR APOIO DO PAÍS, OU ENTÃO ESTAREMOS ENTREGUES Á DESGRAÇA!
    COMO JOVEM QUE SOU, ADMIRO A DETERMINAÇÃO DE SÓCRATES E A SUA INTELIGÊNCIA. O RESTO É ACESSÓRIO. FORÇA SÓCRATES!

  11. Concordo plenamente com o Ricardo.

    Gostaria de saber quantos dos que criticam sócrates não se intitulam de doutores quando têm apenas uma licenciatura na mão ou talvez nem isso?

  12. Mas acho que o ricardo é um atrazado mental e a rita pior ainda
    Pois ela pensa que para citicar um reles mentiroso é preciso ser doutor ou eng
    Tenha mas é respeito por as pessoas que não tiveram um papá ou mamã rica para lhe pagarem os estudos superiores.
    Você devia era ir sachar batatas com um marrão

    O POVO

  13. O titulo de Engenheiro TÉCNICO foi fruto de uma FRAUDE levada acabo em dezembro de 1974, em plena é poca do PREC, quando o ministério na 5 outubro foi invadido por um bando de alunos que obrigaram o então Director Geral do ministério da Educação a assinar o Dectreto-Lei que alterava a designação de Agente tácino de Engenharia para Engenheiro Técnico. Nessa altura o curso era de de 4 anos diurnos e 7 ANOS á noite, como eu próprio o fiz, e mais uns quantos sacrificados pelo maldito sistema de ensino do velho regime. Eu próprio vivi essa situação em que os oportunistas pediam o canudo, não com o título de Agente TÉCNICO, mas de Engº Técnico, mas que só dava para entrar no 1º ano do IST devido á impreparação em matérias básicas com matemática e física.Depois foi que se viu, muitos cursos tirados a martelo, mas o que ainda tinha boa reputaçao no mercado de trabalho era o antigo IIL, agora o Politécnico ISEL, mais próximo de ser uma universidade, naõ fosse Portugal o país da Europa com mais Univ. por Km2

  14. É lamentavel é os engenheiros se armarem em doutores ,e os doutores em muitas situações terem de mentir com um ar sério na cara de um juís
    como é o caso de os advogados…é lamentavel é uma pena… coitados…

  15. Sou eng.º pelo IST e fui Agente Técnico pelo IIL com muita honra.
    Não é verdade que os ATE entrassem para o 1º ano; em realidade não há “anos” no IST, mas cadeiras semestrais.
    O conselho pedagógico nomeou 37 cadeiras para obter o grau de licenciado. Como o curso completo do IST era 57 cadeiras semestrais, quer dizer que me deram equvalencia a 20 cadeiras, do IIL.
    E não foi fácil, nenhum dos cursos.
    Acredito que muita gente julgue que é facil formar-se em engenharia: não é!Além disso qualquer dos cursos exige um estágio e uma tese;
    A mim calhou uma grua de porto de lança rotativa – ande, sr Sócrates, project lá uma!!!.

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