O que dá prazer a Passos Coelho

Que Passos Coelho era um triste, já a gente tinha percebido.

Agora, que o homem tivesse prazer com coisas estranhas, era algo que desconhecíamos.

Confrontado com a notícia do Expresso, de que a PJ terá escutado telefonemas dele, Passos Coelho disse esta coisa espantosa: «tenho todo o prazer em que essas escutas sejam tornadas públicas».

Eu tenho prazer com um grande cozido í  portuguesa, com um agradável passeio de bicicleta, com uma boa cambalhota, com um copo de cerveja gelada, com a leitura de um bom livro…

O primeiro-ministro tem prazer (todo!) com a divulgação das escutas!

Triste…

—

Vamos morrer gordos!

Passos Coelho é uma inspiração.

De repente, toda a gente começou a fazer humor, graças a ele.

Manuela Ferreira Leite já tinha tentado fazer stand up comedy daquela vez em que propí´s que se suspendesse a democracia por seis meses.

Mas agora, que o seu rival, que ela, no fundo, despreza, chegou a primeiro-ministro, transformou-se numa comediante de alto gabarito, zurzindo no Governo como poucos.

A D. Manuela não acredita na receita da troika e diz que o Orçamento do Gaspar é impossível de cumprir.

Diz não crer que “haja a possibilidade de haver alguém que considere que, na situação presente em que está a economia portuguesa, a situação melhore com o aumento de impostos”.

Diz que “estamos a tentar passar um atestado de estupidez aos credores, eles estão a perceber que não vamos conseguir cumprir”.

Diz “o que é que interessa Portugal não entrar em falência, se no fim vamos estar todos mortos?”.

E diz “concordo que é preciso emagrecer; mas aquilo que recomendo é que as pessoas não aceitassem morrer antes de emagrecer. Morrer gordo é do pior que há, especialmente depois de se fazer uma dieta tremenda”.

Confesso que nunca pensei sorrir com uma frase pronunciada por esta senhora.

Morrer gordo é do pior que há, é uma punch line do camandro!

Mas lá está: ela, bem como Bagão Félix e outros perigosos esquerdistas, estão postados em derrubar este governo coeso. Tão coeso que até Portas emitiu um comunicado assegurando que vai votar a favor do Orçamento – coisa rara num tipo que até faz parte do Governo.

Portas acrescentou, mais tarde, que uma crise política deixaria “Portugal muito perto da Grécia”!

Portugal muito perto da Grécia? Que grande volta na geografia! Se Portugal ficasse muito perto da Grécia, a Espanha iria para cima da Turquia e a França para a zona do Irão ou do Iraque!

Mas Passos Coelho inspira outros cómicos, mesmo além fronteiras.

A revista inglesa Economist diz que Portugal vai ficar cada vez mais pobre e passará a chamar-se Poortugal.

Cada vez mais Passos Coelho faz lembrar Santana Lopes.

Ainda vamos ter saudades do homem…

 

 

“Goodbye, Columbus”, de Philip Roth

—Esta foi a primeira obra de Philip Roth, publicada em 1959 e obteve logo o aplauso da crítica, ganhando o National Book Award.

O livro é formado pela novela que lhe dá título e por mais cinco contos curtos, todos tendo como tema a adaptação dos judeus norte-americanos í  nova vida fora dos guetos, de onde vieram os seus pais e avós.

“Goodbye, Columbus” foi adaptado ao cinema, em 1969, com realização de Larry Peerce e, embora seja um retrato muito interessante dos “novos” judeus americanos no dealbar da década de 60, não é a minha história preferida. Gostei muito mais do conto “A Conversão dos Judeus” ou de “Eli, o Fanático”.

Claro que Roth foi muito criticado na altura (e ainda é), por parte de largas faixas de judeus, que o consideram anti-semita, devido ao facto de criticar abertamente a religião judaica.

De Roth, já li mais de uma dezena de obras muito mais maduras que esta, mas “Goodbye, Columbus” não deixa de ser um livro curioso, até para conhecermos a génese de toda a carreira deste grande escritor norte-americano.

O sapo do Portas

Portas é um artista.

Meteu o coelho na cartola e de lá tirou um sapo.

Um sapo chamado Gaspar.

Durante este ano e meio, Portas andou por aí. Foi ao Brasil, í  Líbia, í  Venezuela, a Moçambique. Diplomacia económica, disse.

Por cá, os restantes membros do Governo iam fazendo o possível e o impossível para agravar o défice.

Depois, de repente, perceberam que, afinal, a austeridade tinha que ser agravada.

E Gaspar propí´s um enorme aumento de impostos.

Portas esteve quase para repetir aquilo que disse em junho de 2010: «o PSD não é de fiar em matéria de impostos».

Ou então, repetir o que disse em março do ano passado: «”…Eu uso de franqueza. Quando concordo, concordo. Quando discordo, discordo. E tenho que vos dizer isto com toda a franqueza. Subir impostos é aumentar a recessão. Disse-o ontem e digo-o hoje”Â».

Ou ainda o que disse de Sócrates, em julho de 2009: Â«É preciso ter descaramento. Um primeiro-ministro que aumentou todos os impostos e conseguiu uma consolidação do Orçamento í  custa de impostos e não de contenção de despesas vem agora fazer este anúncio (de que não pode baixar impostoso), eu digo que é descaramento».

Ou o que disse em maio de 2010: «Aumentar impostos é, como dizia o próprio engenheiro Sócrates quando se apresentou aos portugueses, o caminho mais fácil, mas não faz bem í  economia».

Ou o que disse a Teixeira dos Santos em janeiro de 2010: “…A ameaça do ministro das Finanças fez” só merece uma resposta “…se quer aumentar os impostos não conta com CDS” para uma viabilização do Orçamento do Estado.

Ou, finalmente, o que disse em setembro de 2007: «Quem está a combater o défice não é o governo, mas o contribuinte português, com os seus impostos, cujas receitas aumentaram 8,3% e estão a pagar a factura».

Mas não disse nada disso.

Preferiu engolir o sapo.

Afinal, é fácil ser liberal em Portugal…

Vamos supor que sou liberal e que tenho um amigo que é secretário de Estado no governo.

Vamos supor, por absurdo, que me chamo Passos Coelho e que esse amigo se chama Miguel Relvas.

Decido ser consultor e depois administrador (ou vice-versa) de uma empresa de formação, a que dou o nome de Tecnoforma.

Se alguém me perguntar o que faz a empresa, digo que dá formação.

Se alguém perguntar que tipo de formação dá a minha empresa, respondo formação técnica.

Convém deixar tudo suficientemente vago para poder encaixar em qualquer oportunidade que o meu amigo Relvas me arranjar.

E ele arranja um programa com um nome bonito: Floral.

Há umas massas do Fundo Europeu e mais uns milhões do erário público.

Pensamos nos funcionários das autarquias, coitados.

Alguns não têm mais que a 4ª classe…

Será que conseguiam ajudar a fazer aterrar uma avioneta?

Claro que não!… Tristes!…

E se nós lhes déssemos formação para poderem fazer não-sei-o-quê nos aérodromos?

Bora lá!

O meu amigo Relvas dá uma ajuda, tenho outro amigo na região Centro, que foi meu colega na JSD que também dá uma mãozinha e voilá! – a Tecnoforma ganha um concurso de 1,2 milhões de euros para dar formação a mil funcionários autárquicos para eventualmente poderem vir a trabalhar nos 2 – dois – 2 aeródromos em actividade.

Depois, mais tarde, quando for primeiro-ministro e o Relvas for meu adjunto, depois, então, havemos de cortar nas despesas do Estado.

í€ fartazana!

Mas agora, carago, é de aproveitar esta oportunidade!

Podemos ser liberais, mas não somos estúpidos!

PS – e depois havemos de arregimentar aquele professor universitário obeso, que usa muito gel na cabeça, Amorim ou Abreu ou assim, e que tinha uma coluna no Notícias Magazine chamada “É difícil ser liberal em Portugal”… de facto!

Mitiga, Gaspar, mitiga…

—Gaspar gosta de utilizar palavras pouco usadas na língua portuguesa.

Começou por nos revelar um desvio colossal.

Falou, recentemente, num enorme aumento de impostos.

Prometeu reduzir a despesa para poder mitigar o aumento de impostos.

Eis aqui outras palavras que Gaspar pode usar:

– a tua folha de Excel é uma formidável merda

– usas umas camisas com uns punhos e uns colarinhos execráveis

– tens cara de anjinho mas deves ser um sacana inabalável

– diziam que eras um estupendo técnico mas cheira-me que és uma incomensurável fraude

– a tua política não é anódina, porque estás mesmo a foder isto tudo, pá!

Comer baratas faz mal í  saúde?

Claro que é uma questão de bom senso: as baratas não servem para comer; mas sabe sempre bem confirmar esta evidência.

Segundo o DN de hoje, um norte-americano da Florida morreu pouco depois de ter ingerido várias dezenas de baratas e alguns vermes não especificados.

Diz a notícia: «Edward Archbold, de 32 anos, engoliu várias dezenas de baratas e vermes na sexta-feira durante o concurso organizado por um viveiro de répteis, cujo primeiro prémio era uma cobra pitão. Logo após o final da competição, o homem vomitou, tendo sido transportado de imediato ao hospital, onde morreu».

Archbold não estava sozinho, já que o concurso teve mais 30 concorrentes mas, segundo parece, mais ninguém morreu, pelo que se deduz que comer baratas só faz mal a partir de um certo número.

Era curioso saber quantas baratas comeram os outros concorrentes, só para o caso de sermos obrigados a recorrer a estes simpáticos bichinhos, caso os impostos continuem a subir…

Coisas…

1. Um livro de poemas para adultos de Alice Vieira foi recomendado a crianças no Plano Nacional de Leitura.

Parece-me correcto.

Em Portugal, o livro mais vendido é “As 50 Sombras Mais Negras” e o segundo mais vendido é “As 50 Sombras de Grey” – dois calhamaços escritos por uma dona de casa que fez uma dieta í  base de Pau de Cabinda.

Talvez começando a fornecer poesia í s criancinhas, consigamos mudar os hábitos de leitura desta malta!

2. Todas as escolas do 1º ciclo de S. João da Madeira vão passar a ensinar mandarim.

Justificação? Preparar futuros contactos comerciais com o “maior mercado da Humanidade”.

Já estou a imaginar os jovens de S. João da Madeira a abrir lojas de chineses em Xangai…

3. O comissário europeu Oli Rehn insiste na necessidade de manter em Portugal o “espírito construtivo” que tem caracterizado o ambiente político e acrescentou que quer os partidos a “trabalhar em conjunto”.

Mas quantos de nós votaram neste gajo?

4. Portugal foi o segundo país com maior aumento de impostos entre 2009 e 2012, só suplantado pela Argentina.

í“ Gaspar – vamos lá a fazer só mais um esforçozinho!

Ninguém gosta de ficar em segundo lugar quando pode ficar em primeiro!