Só te mato se for estritamente necessário!

1. O pai vira-se para o filho e diz:

– Se chumbares este ano, deixo de pagar o telemóvel, tiro-te a playstation e vais trabalhar para as obras.

A mãe indigna-se:

– Desculpa mas há uma linha que não deixo que seja ultrapassada: não permitirei que o meu filho vá trabalhar para as obras!

O pai reconsidera:

– Está bem, só vais trabalhar para as obras se for estritamente necessário e se eu encontrar outro castigo com o mesmo impacto.

2. O bandido vira-se para o refém e grita:

– Se não me derem o que exijo, encho-te de porrada, parto-te as pernas e dou-te um tiro nos cornos!

Lá de fora, pelo megafone, o negociador afirma:

– Tem calma, rapaz! Há uma linha que não deixo que seja ultrapassada: não permitirei que mates o refém!

O bandido reconsidera:

– Ok, só lhe dou um tiro nos cornos se for estritamente necessário e se eu descobrir outra maneira de obter o que quero!

passos_rajoy3. Passa-se algo de semelhante com o Governo de Portugal.

Passos Coelho diz que vai cortar as pensões.

Paulo Portas diz que há uma linha que não permite que seja ultrapassada: ninguém toca nas pensões.

Passos Coelho, através do seu alter ego Vitor Gaspar, diz que as pensões só serão cortadas se for estritamente necessário e se o Governo descobrir outra medida que tenha o mesmo impacto.

A pergunta lógica é: se o parceiro da coligação não aceita que se corte nas pensões e se o ministro das Finanças admite que essa medida pode ser substituída por outra, de igual impacto, por que carga de água não riscaram essa medida da 7ª avaliação e arranjaram já outra para o seu lugar?

í“ Gaspar, estás a gozar!

A “intransigência” de Portas

Passos Coelho anuncia corte nas pensões.

Paulo Portas diz que isso não pode ser, é uma linha que não autoriza que seja ultrapassada.

Afinal, o Governo decidiu que o corte das pensões vai para a frente.

Portas aceitou, mas só com condições.

O corte nas pensões só avançará se for mesmo necessário.

Não fodem nem saem de cima?

Não – fodem-nos e não saem de cima, porra!

Do grilo da Alzira í  chupadela da Teresa

Miguel Costa, cantor popular, foi processado por uma vizinha.

Razão: Miguel compí´s uma cantiga intitulada “O grilo da Zirinha” e a vizinha chama-se Alzira, sendo conhecida, em Padim da Graça, Braga, exactamente como Zirinha.

Logo, a Alzira, casada e mãe de três filhos, achou que Miguel Costa se referia a si, quando cantava «cacei o grilo na toquinha, cacei o grilo í  Zirinha».

Por isso, acusou-o de difamação e injúrias, pedindo 6 mil euros de indemnização.

O Tribunal de Braga, no entanto, ilibou o cantor.

O juiz explicou que a chamada “música pimba” «encerra a possibilidade de as suas letras serem interpretadas de formas diferentes por quem as ouve, pelo que só assim alguém pode considerar que “caçar” é sinónimo de “copular” e “grilinho” de “vagina”».

Peço desculpa ao douto juiz, mas penso que, com o termo “grilinho”, o cantor se referia ao grelinho, e não í  vagina.

Mas isso é um pormenor anatómico.

Demonstrando grandes conhecimentos no mundo da música pimba, o juiz deu, como exemplo, esse grande êxito do enorme Quim Barreiros, “Chupa Teresa”, dizendo que, «obviamente, o cantor não se referia a um qualquer gelado, mas ressalvando que a destinatária (da chupadela, supõe-se…) não seria uma mulher em concreto, com aquele nome».

Em resumo: é tudo uma parábola – nem a Teresa chupa, nem ninguém come o grilo í  Alzira.

Estamos todos muito mais descansados!

Nota: as frases entre parêntesis são retiradas de uma notícia de hoje do DN.

 

Obras de Dalton Trevisan

Dalton Trevisan nasceu em 1925, em Curitiba e, no ano passado, foi o vencedor do Prémio Camões.

Mais um daqueles escritores obscuros que ganham prémios e ninguém lê, pensei eu.

E tinha razão.

Só que, ao ler um livro de Trevisan, temos mesmo que ler todos os outros.

Entrei em contacto com a obra de Trevisan através de O Vampiro de Curitiba (1965), um pequeno livrinho de histórias curtas (103 páginas).

Gosto muito de histórias curtas, desde que o Mário-Henrique Leiria me iniciou com os Contos do Gin Tonic.

Trevisan tem uma escrita única, sincopada, sintética, com um ritmo muito próprio.

o vampiro de curitibaNelsinho é o vampiro de Curitiba, sempre pronto a ferrar o dente em qualquer moça, sem olhar í  idade ou í  aparência.

Os diálogos são especiais.

Exemplo:

«- Você é loira natural?

– O doutor não vê?

– A fama de loira é de fria. Só que não acredito.

– A loira não é feito a morena.

– A morena é mais carinhosa. Você não é católica, é?

– Sou calvinista.

Calvinista, ai, de rostinho abrasado na mesma hora.

– A religião moderna não faz, da virgindade, um cavalo de batalha. A moça, sendo direita, pode ter experiência. Autorizada pelo pastor a conhecer os prazeres da vida.

– …

– Sabia que os turistas acham uma graça em nosso conceito de virgindade?

– Nunca soube.

– Você é temperamento calmo ou nervoso?

– Sou calmo.

– Tem os atributos da nervosa; ainda não sabe que é. Suas medidas são perfeitas. Não é você que joga ví´lei?

– É, sim.

– Gostaria de a ter visto de calção. Joga bem?»

Cemitério de ElefantesE assim por diante.

Sendo assim, passei para Cemitério de Elefantes, publicado em 1984.

É um livrinho ainda mais pequeno (94 páginas), incluindo um prefácio de Fernando Assis Pacheco.

Os heróis deste livro são os bêbados – homens que bebem para afogar desgostos ou porque sim.

Lê-se numa tarde.

E vicia.

a polaquinhaPassei, então, ao único romance que Trevisan publicou: A Polaquinha (1985).

Também não é extenso.

São 150 páginas que contam a história de uma moça que, de namorado em namorado, acaba na prostituição (“polaca”, vulgarmente, significa prostituta).

A vida banal da prostituta, que recebe clientes, com quem finge prazer, é bem ilustrado com os últimos cinco ou seis capítulos do livro – todos praticamente iguais!

E como vicia, já tenho mais três livros de Trevisan para ler…

 

Vai mas é rachar lenha, ó Merkel

A revista alemã Brigitte que, pelo nome, deve ser uma espécie de Maria ou Crónica Feminina, organizou uma entrevista com Angela Merkel.

merkel_lenhadoraDecorreu no teatro Maximo Gorki, em Berlim, que se encheu de senhoras ávidas de fazerem perguntas í  chanceler.

Primeira singularidade: o teatro encheu-se de pessoas para fazerem perguntas a Merkel, em vez de lhe atirarem com tomates, por exemplo.

Merkel esteve descontraída e respondeu a todas as perguntas.

Começou por dizer, no que respeita í  sua capacidade para o trabalho o seguinte: «tenho certas capacidades de camelo»!

Isto porque diz ser capaz de armazenar energia e que só precisa de 6 horas de sono para recarregar baterias.

Como diria o António Silva, a Merkel é um grandessíssimo e alternadíssimo camelo!

No que respeita a homens, a chanceler disse que o que mais gosta neles é dos “olhos bonitos”. E acrescentou: «já fui longe demais».

Mistério.

Mas a revelação mais fantástica veio a seguir.

Perguntaram-lhe se tinha inveja dos homens. Disse que não mas que gostaria de saber fazer duas coisas que eles fazem: «falar com voz grave e cortar lenha».

Olha que boa ideia, Angela!

Por que não nos deixas em paz e vais mas é rachar lenha?

Ou é preciso ordenar-te com voz grave?…

Problemas da cunicultura

A cunicultura está em crise.

Basta olhar para o Passos Coelho!…

Já viram coelho mais triste?

Alguém acredita que aquele coelho tem o vigor que costumamos atribuir aos coelhos?

Alguém é capaz de o imaginar a copular desenfreadamente?

E está a perder pêlo…

Hoje, ao vê-lo ler aquele longo discurso, tive pena dele.

Será da ração?

Aquele coelho tem falta de vitaminas e insiste em morder sempre da mesma maneira.

Tem cara de ter desinteria.

Não vai durar muito…

E de quem são as tuas pernas, afinal?

Dois textos publicados hoje no DN, na mesma página, deixaram-me perplexo.

O primeiro tem como título “Mulheres fazem operações para ter braços como os de Michelle Obama”.

Ficamos a saber que, segundo números da associação americana dos cirurgiões plásticos, as cirurgias plásticas a braços, aumentaram 4 mil por cento, desde 2000.

Parece que as mulheres norte-americanas querem ter os braços semelhantes aos de Michelle Obama, bem tonificados, sem badanas.

Mais abaixo, na mesma página, outro texto intitulado: “Kate Middleton tem o nariz mais cobiçado”.

Segundo o New York Daily News, as mulheres norte-americanas têm acorrido aos consultórios dos cirurgiões plásticos, pedindo para que lhes moldem os narizes, de modo a ficarem semelhantes ao nariz da futura rainha de Inglaterra.

Qualquer dia, olhando para uma norte-americana, poderemos dizer: tem os olhos do pai, a boca da mãe, os braços da Michelle Obama e o nariz da Kate Middleton…

Transpondo estas modas para a política nacional, tive uma visão medonha!

Imaginem um primeiro-ministro com a voz do Vitor Gaspar, o cabelo da Paula Teixeira da Cruz, o nariz do Paulo Portas, as orelhas do Passos Coelho e o queixo do Cavaco Silva.

Assustador!

 

“Life of Pi”, de Ang Lee (2012)

vida de piLi este livro de Yann Martel em 2003 e gostei.

Uma história que pode ser lida de várias maneiras: uma aventura extraordinária, um sonho maravilhoso, uma parábola da passagem para a idade adulta.

De qualquer modo, uma grande história – a história de um jovem, filho do dono de um Zoo na Índia, que emigra para o Canadá, com a família e com todos os animais do Zoo.

Acontece o naufrágio e o jovem sobrevive num salva-vidas, com uma zebra, uma hiena, um orangotango e o tigre Richard Parker.

Acho que a adaptação ao cinema é notável.

Ang Lee ganhou o óscar pela realização e o filme ganhou outro óscar pelos efeitos visuais que, de facto, são muito bons.

Duas horas de bom entretenimento.