“Novelas Nada Exemplares”, de Dalton Trevisan (1979)

novelas nada exemplaresNamoro à janela, às escondidas do pai, o padrasto que apaga os cigarros nos braços da enteada, homens e mulheres solitários, com vidas interrompidas, mulheres que seduzem com um copo de vinho, quartos de hotel onde não se dorme por causa dos pardais, homens que fazem barulho a comer a sopa e enojam as mulheres, escritores que se fazem valer da fama para seduzir jovens.

Eis alguns dos temas destas novelas que nada têm de exemplares.

Trevisan não é fácil de ler.

A sua escrita é tão depurada, cingindo-se ao essencial, que tem que ser lida com muita atenção e, de preferência, em voz alta.

«Cabelos ruivos na pia, o vestido com duas rodelas de suor e, no espelho, o rosto intruso. Dele fazia parte, o sangue da pulga na cueca, a caspa no paletó ao fim do dia.»

«Sílvia não queria envelhecer: roía a unha, depois a pintava, roía e pintava de novo. Em vão passeava nua no quarto. E buscava, cada dia, um fio branco na franjinha.»

«Cristina serviu-lhe vidro moído no feijão, sem que desconfiasse; cólicas tão fortes que rolava no chão, língua de fora. João dormia só na cama de casal. Certa noite procurou o anel de cabelos de Negrinha, não achou. Cristina o queimara e, além dele, o próprio retrato».

São exemplos ao acaso.

Mestre do conto, Trevisan conta-nos histórias que, a maior parte das vezes, não têm final, como na vida.

2 thoughts on ““Novelas Nada Exemplares”, de Dalton Trevisan (1979)

  1. Uma vez eu assisti uma peça com base nos textos de Dalton Trevisan e nunca vou esquecer os cantares de Sulamita, ele é um escritor incrível e o texto é muito marcante.

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