Guerra semi-fria

A Nato invade o Kosovo e os EUA apoiam a sua independência; a Nato toma conta do Afeganistão, com os EUA à frente; os EUA invadem o Iraque; a Nato convida todos os países que saíram da URSS a fazerem parte da organização e alguns desses países aderem com fervor.

Agora admiram-se que a Rússia invada a Geórgia?!

Estava-se mesmo a ver que os Vladimir (Putin e Medvedev) não iam deixar fugir a oportunidade de mostrarem a sua força.

E lá vai a Condoleeza fazer festinhas ao palhaço georgiano e Sarkozy fazer festinhas ao palhaço russo e todos, todos, muito aflitos porque, afinal, apesar da queda do muro e da morte das políticas marxistas-leninistas, a essência da Rússia está lá, sempre esteve e estará, quer com Czars, com secretários-gerais de PCs ou com outros ditadores, eleitos democraticamente (aliás, o próprio Hitler foi eleito…).

Claro que quem se lixa com tudo isto é o povo, como é costume.

Entretanto, os jornalistas, como é costume, fazem espectáculo com o seu trabalho. Hoje, na RTP, José Rodrigues dos Santos apresentou uma reportagem naquela que ele considera ser “a estrada mais perigosa do mundo”. Que perigos que ele passou, ignorando as ordens dos soldados georgianos, ignorando as ameaças dos soldados russos, sempre em frente, pondo em perigo a sua vida – qual condutor embriagado, conduzindo em contra-mão na A8 – a estrada mais perigosa do mundo…

Uma guerra destas, mesmo aqui à porta, é o ideal para os jornalistas europeus. Fica suficientemente perto para os directos nos telejornais, mas demasiado longe para se confirmar as informações transmitidas. E depois, quem é que tem algum amigo a viver em Tsibilisi para confirmar as notícias? Chamo a atenção, apenas, para isto: a Ossétia do Sul tem menos habitantes que o concelho de Almada (99 mil), mas, segundo os jornalistas, os refugiados são já mais de 100 mil…

Por momentos, imagino o que teriam sido os anos da Guerra Fria se, nesses tempos, as televisões tivessem o poder que agora têm, se a comunicação social fosse, então, tão agressiva como agora é e se os próprios líderes políticos tivessem, nesse tempo, tanta atracção pela comunicação, como agora têm.

Portanto, deixem-se de tretas e não transformem este conflito numa coisa que ele não é, só porque estamos em Agosto, Sócrates está de férias, não há incêndios de jeito e mesmo os assaltos a bancos começam a ser tão rotineiros que até já nem têm graça…

One thought on “Guerra semi-fria

  1. Ohh Artur, permita-me que eu faça a mesma pergunta que faço a toda a gente: Onde raio fica a Ossétia do Sul!! Deve ser a Baixa da Banheira da zona, não?? LOL

    Mais a sério, concordo plenamente consigo. Com a silly season no auge, nada melhor do que os russo se meterem ao barulho com o vizinho dos fundos para haver que dizer no telejornal.

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