Abóboras-meninas

Leonardo era agricultor.

Tinha uma pequena quinta, onde cultivava diversos hortícolas, que depois vendia no Mercado da vila.

Leonardo tinha 30 anos e vivia sozinho na sua casinha rural. Era um homem pacato, ordeiro, delicado, mas tímido e triste.

Leonardo precisava de uma companheira. No entanto, a sua timidez impedia-o de socializar com as vendedeiras do Mercado e, por isso, passava as noites a sonhar com uma cama mais quente.

Certo dia, Leonardo decidiu começar a cultivar abóboras-meninas.

Leonardo era um agricultor moderno e sabia que o verdadeiro nome da abóbora-menina é cucurbita máxima, também conhecida por abóbora gigante. Sabia também que as devia semear entre abril e julho, em elevações pequenas e intervaladas de 1,5 m, com 5 ou 6 sementes em cada elevação, cobri-las com uma camada de terra fina de 2 cm e, se necessário, desbastar até ficarem as 3 melhores plantas em cada elevação.

Foi seguindo escrupulosamente estes preceitos que Leonardo conseguiu, logo na primeira colheita, abóboras-meninas grandes e suculentas.

De todas se destacava uma delas, a maior de todas, de casca luzidia, reflectindo o sol. Leonardo estava orgulhoso das suas abóboras, sobretudo daquela.

Numa manhã de domingo, dia de Mercado, Leonardo preparava-se para colher algumas abóboras para a venda, quando reparou que a maior de todas parecia estar tomada de pequenos tremores. Leonardo aproximou-se e encostou o ouvido à abóbora e ia jurar que estava a escutar uma espécie de lamento. Recuou dois passos e, nesse momento, a casca tornou-se cada vez mais lustrosa e a abóbora menina rebentou e, lá de dentro, saiu uma mulher. Uma mulher linda, de longos cabelos loiros e olhos azuis brilhantes.

Leonardo ficou sem palavras e assim se manteve, sobretudo depois da mulher se aproximar dele e o beijar longamente.

Passado o espanto, Leonardo levou a mulher para a sua casa e, tendo em conta a sua beleza, chamou-lhe Linda.

No Mercado, todos olharam com inveja a nova companheira de Leonardo que atendia os clientes, vendendo os produtos da terra como se sempre tivesse feito isso.

Passou um ano e Leonardo estava cada vez mais feliz. Ele e Linda formavam um bonito e feliz par de agricultores.

Chegou o momento de nova colheita de abóboras-meninas e, mais uma vez, um dos frutos destacava-se de todos os restantes. Também essa abóbora explodiu e, lá de dentro, saiu outra mulher, tão linda como Linda. Leonardo ficou novamente sem palavras, embora menos tempo do que da primeira vez. Recebeu esta segunda mulher de braços abertos, chamou-lhe Deolinda, levou-a para casa e comprou uma cama mais larga.

Quando Leonardo apareceu no Mercado com duas belas mulheres, uma de cada lado, todos ficaram espantados e a inveja aumentou consideravelmente.

Com a inveja dos outros podia Leonardo bem; só ele sabia como era viver com duas belas mulheres, que o mimavam e que animavam as suas outrora tristes e solitárias noites.

Mas tudo piorou quando, no ano seguinte, uma terceira mulher, igualmente bela, saltou de dentro de mais uma abóbora gigante.

Com duas, Leonardo ainda se aguentava, mas com três, a logística era muito mais complicada.

As discussões começaram a ser constantes e a cama, por mais larga que fosse, não conseguia albergar os quatro com conforto. Linda, Deolinda e Arceolinda detestavam-se e Leonardo acabou por fazer uma trouxa e zarpar para longe.

Hoje, na casa onde viveu o solitário Leonardo, funciona a Lindas Associadas, Agricultura Biológica Lda, empresa de sucesso gerida por seis mulheres belas, especialistas no cultivo de abóboras-meninas.

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