Nada de extrapolações!

Um simpático adepto do Benfica entrou em campo, em Guimarães, para recepcionar uma camisola que um jogador lhe queria fazer o obséquio.

Um intrépido agente da autoridade achou que aquele gesto era um acto criminoso, uma vez que não é legal enveredar pelo terreno do jogo, ultrapassando as quatro linhas, a menos que se seja intérprete do jogo.

Vai daí, o intrépido agente atirou-se ao adepto, interceptando-o, no que foi auxiliado por outros agentes, igualmente intrépidos.

Jorge Jesus não gostou dessa atitude e tentou interditar a acção dos agentes de autoridade, interpusendo-se entre eles e o adepto, colocando até a sua integridade corporal em jogo – diz-se que até perdeu o relógio na refrega.

Ora, toda a gente sabe que as autoridades não gostam de ser postas em contrariedade e ficaram um pouco aturdidas com a atitude do treinador do Benfica, pelo que o acusaram de agressão e resistência.

Felizmente, Jorge Jesus tem um excelso advogado, de seu nome, Miguel Henrique, que já veio amansar os adeptos, dizendo que os incidentes “estão a ser extrapolados” – do verbo “extrapolar” («tirar uma conclusão com base em dados reduzidos ou limitados», segundo os dicionários).

E para quem acha que o advogado não foi suficientemente explicitado, ele acrescentou: que os incidentes tiveram origem “num conjunto de situações de algo que se queria como uma coisa boa – uma festa no final do jogo – e que se transformou noutra coisa menos positiva”.

É assim como quando a gente vai para uma grande jantarada e acaba a vomitar o resto da noite!

Cada treinador tem o advogado que merece…

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“The Good Wife”, 1ª temporada

Ainda é possível fazer uma série de advogados que traga algo de novo e que consiga agarrar o espectador?

Claro que é, e “The Good Wife” é um bom exemplo.

Confesso que os primeiros episódios não me entusiasmaram e até passei pelas brasas. Mas, a pouco e pouco, “it grows on you” e, às tantas, estamos agarrados ao “plot”.

A “good wife” é Julianna Margulies (a enfermeira Hatahway das primeiras séries do ER), que faz o papel da seráfica, mas boazinha, advogada Alicia Florrick. Ela deixou de trabalhar há muitos anos, para passar a encarregar-se da casa e da educação dos dois filhos, agora adolescentes, enquanto o marido (Chris Not, o Mr. Big do “Sex and the City”), prossegue a sua carreira de State Attorney de Cook County, Chicago.

Só que o marido é envolvido num escândalo sexual com prostitutas, acusado de corrupção e preso. E Alicia tem que voltar a trabalhar.

A firma de advogados onde a Mrs. Florrick exerce, é chefiada por um antigo colega do liceu, Will Gardner (Josh Charles), que tem um fraquinho por ela e que passa alguns episódios a ver se a desvia para a cama, e pela sua sócia Diane Lockhart (Christine Baranski).

Para além destas personagens, destaque ainda para a Kalinda Sharma (Archie Punjabi), que é uma espécie de detective que trabalha em estreita colaboração com os advogados.

Os casos tratados em tribunal são quase todos curiosos e complexos e, muitas vezes, Alicia encontra um modo de os resolver recorrendo ao chamado bom senso de uma dona de casa e mãe de família, isto é, de uma “good wife” ou, como se dizia (e ainda diz) por cá, com a argúcia da “minha patroa”.

Para além dos casos, corre, em paralelo, a história de Peter Florrick que, apesar de andar enrolado com prostitutas, parece não ser assim tão corrupto e acaba por conseguir uma liberdade com pulseira electrónica, enquanto vai tentar demonstrar a sua inocência.

A série é da autoria de Michelle e Robert King, vagamente inspirada no escândalo de Eliot Spitzer, produzida por Tony e Ridley Scott para a CBS e passa no Fox Life.

Boston Legal

Pela primeira vez vi uma série toda de enfiada e não me arrependi.

Boston Legal passou na ABC entre 2004 e 2008 e é uma criação de David E. Kelley, autor de outros êxitos televisivos como a série Ally McBeal.

Tendo por base uma firma de advogados, a Crane, Poole & Schmidt, a série caracteriza-se pelos grandes “bonecos” criados por William Shatner (Denny Crane) e sobretudo por James Spader (Alan Shore).

Denny Crane é um advogado septuagenário que em tempos foi famoso, gabando-se de nunca ter perdido um caso. Republicano, conservador, reaccionário, Crane está a braços com um Alzheimer no seu início, que muitas vezes serve de desculpa para dizer e fazer grandes barbaridades.

Alan Shore é o advogado das causas perdidas, defendendo-as sempre com grande brilhantismo. Democrata e progressista, pelo menos comparado com Crane, aceita os casos mais absurdos, acabando sempre por apresentar uma argumentação fortemente politizada.

Outra característica da série é a cena final de cada episódio, em que Crane e Shore conversam na varanda do escritório, fumando um charuto e bebericando Chivas Regal. Os diálogos são quase sempre deliciosos e é fantástico como foi possível escrever 101 destes diálogos, sem que nunca sejam banais.

As figuras secundárias, tirando Candice Bergen, que é a Schmidt, uma advogada contida e que terá sido uma devoradora de homens (incluindo Crane), têm pouca importância na série, se comparadas com os dois principais.

Já conhecia Spader de filmes como “Sex, Lies & Videotape”, mas em Boston Legal ele compõe uma figura que vai perdurar na história das séries. Menos brilhante, mas também muito divertida a participação do ex-capitão Kirk, William Shatner.