Criança triste, criança alegre

Segundo um relatório da Unicef, divulgado ontem, uma em cada cinco crianças portuguesas diz que está triste.

Todos os órgãos de comunicação social parecem chocados com este resultado. Não percebo porquê.

Com o aumento do desemprego, o deficit, os cortes nos benefícios sociais, a eliminação do Benfica, pelo Varzim, a continuação de Carmona à frente da Câmara de Lisboa e Salazar à beira de ser votado o melhor português de sempre, o que me admira é que, em cada cinco crianças portuguesas, haja quatro felizes!

Aliás, este relatório da Unicef é altamente preconceituoso.

Por exemplo: não é a gravidez, uma fase da vida tão bonita para qualquer mulher, a taxa de natalidade não está a baixar perigosamente, não é verdade que, qualquer dia, não há população activa em quantidade suficiente para pagar as reformas aos velhotes? Então, qual é o mal de Portugal ser o terceiro país da Europa com maior taxa de gravidez na adolescência, sendo apenas suplantado pela Hungria e pela Inglaterra? Não deveríamos ter mais grávidas – e quanto mais cedo, melhor?

Outro exemplo: parte-se do princípio, altamente discutível, que a escola é uma coisa boa. É apenas mais um preconceito. E o relatório da Unicef diz que, no que respeita à educação, Portugal está em último lugar, na tabela dos 21 países estudados.

No entanto, se partirmos do princípio que a escola é uma seca, é normalizadora, que incute nas crianças os valores burgueses da classe dominante, então, os nossos putos estão de parabéns, porque são os que mais se borrifam para a escola, isto é, os que se revoltam contra essas regras arbitrárias de que é preciso saber ler e escrever e contar, para ser alguém na vida.

O relatório assinala, ainda, que Portugal é o país onde mais crianças são vítimas de “bullying”. Note-se que, dos 21 países estudados, também faz parte os Estados Unidos onde, de vez em quando, há uns rapazinhos que resolvem entrar lá na escola deles e matar uma série de colegas e professores. Apesar disso, os americanos queixam-se menos de “bullying” do que os portugueses.

Várias conclusões a tirar: ou os americanos não confundem “dying” com “bullying”, ou os putos portugueses são uns queixinhas, logo desde pequeninos e não toleram que lhes chamem “peida gadocha”, “caixa de óculos” ou “pernas de alicate” e acham logo que isso é “bullying”.

Aliás, se Portugal está em primeiro lugar, no que diz respeito ao “bullying”, não se percebe por que raio não inventou um termo português para esta treta.

“Porrada”, por exemplo, é um excelente termo.

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