Mistérios da actualidade

Passos Coelho apregoou, durante a campanha eleitoral, que não iria fazer como os anteriores governantes e que não iríamos assistir í s nomeações para cargos públicos dos amigos do Partido.

Viu-se nos casos da Caixa Geral de Depósitos e da EDP e viu-se, mais uma vez, nas íguas de Portugal. O Governo acabou de nomear para a administração das íguas, Manuel Frexes, actual presidente da Câmara do Fundão, pelo PSD e ílvaro Castelo-Branco, vice-presidente da Câmara do Porto, pelo CDS.

Entretanto, o Banco de Portugal contradiz o Gaspar das Finanças, dizendo que vão ser precisas mais medidas de austeridade.

O mesmo Banco de Portugal decidiu manter os subsídios de férias e de Natal dos seus funcionários, bem como dos seus reformados, entre os quais se conta Cavaco Silva.

Finalmente, Eduardo Catroga, o tal que elaborou o programa do actual Governo e que está reformado, recebendo uma pensão de 9600 euros mensais, foi nomeado presidente do Conselho de Supervisão da EDP, com o salário de 45 mil euros por mês.

Peço desculpa mas, nisto tudo, há alguma coisa que me escapa.

Sugestões para reduzir o défice

Aproveitando o espírito de Natal que me escorre pelas entranhas, decidi ajudar o Passos Coelho a reduzir o défice.

Cortaram-me 10% do ordenado, sacaram-me metade do subsídio de Natal e obrigaram-me a trabalhar na véspera de Natal sem ganhar mais um tostão.

Merecem a minha ajuda.

Lá vai:

– taxar  a 23% os pacotes de açúcar e/ou o adoçante que acompanha gratuitamente as bicas

– taxar a 23% os tremoços ou os amendoins que acompanham as imperiais

– criar uma licença para pendurar pais natais das varandas; digamos, 50 euros

– criar outra licença para aquelas luzes que piscam epilepticamente nas marquises; digamos, 100 euros

– multas efectivas para os donos de cães que ainda não apanham os cagalhões dos bichos e pí´r o Miguel Relvas a fiscalizar os passeios

– reactivar a licença de isqueiro e as coimas por beijos indecentes em locais público, bem como a saudosa coima quando alguém é apanhado com aquilo na mão ou com aquilo na boca

– multar o José Rodrigues dos Santos sempre que ele terminar o telejornal a piscar-me o olho

– multar o Mário Crespo sempre que aparece no écran, quando eu mudo, sem querer, para a Sic Notícias

– multar o Cardozo sempre que falhar um golo com a baliza aberta; digamos 10 mil euros, que o gajo pode pagar

– obrigar os deputados a reporem 10% do seu ordenado sempre que faltarem a uma sessão parlamentar

– obrigar o Paulo Portas a pagar as viagens do seu próprio bolso

– criar uma taxa para o uso dos elevadores dos edifícios públicos (subir escadas faz bem í  saúde)

– fazer com que todos os sanitários públicos passem a ser pagos (que mijem em casa!)

– criar uma taxa para se poder entrar num centro comercial, mesmo que não se vá lá comprar nada – aliás, se não comprar nada, paga o dobro

E acho que já chega de ideias.

É melhor não revelar as melhores, senão o Passos ainda me convida para o governo, para o lugar do Relvas, que vai ter muito trabalho a fiscalizar o cocó dos cães.

 

Electricidade chinesa

Então, agora, a EDP = É Do Povo.

Do povo chinês.

Ou, melhor dizendo, do Partido do Povo chinês, o que não é a mesma coisa.

A partir de agora, temos que dizer Mao-Tsé, carregamos no interruptor, e Tung – faz-se luz!

O problema vai ser quando começarmos a receber facturas em mandarim.

Vamos ter que as levar í  loja do chinês e pedir-lhe, por favor, que traduza.

E, ao mínimo atraso no pagamento da factura – cortam-nos a luz.

E, se protestarmos muito, arriscamos prisão domiciliária.

É a democracia popular em toda a sua plenitude.

Roupa, brinquedos, bandeiras nacionais, bijutaria, pais natais pendurados das janelas – e agora, luz chinesa.

Não há dúvida que Coelho tem razão: emigremos!

 

Emigra, Passos, emigra

Passos Coelho parece um elefante numa loja de cristal.

Na sua ânsia de explicar a crise aos portugueses, dá entrevistas a torto e a direito e, quando mais fala, mais se enterra.

PPC é incapaz de nos dar uma boa notícia e, católico como é, bem comportadinho como é, conservador como é, sente-se culpado e repete as desculpas, entrevista após entrevista.

E para tornar a realidade mais real, vai acrescentando mais austeridade í  austeridade.

A crise é grande?

Vai ser pior!

Os tempos estão difíceis?

Ainda não viram nada!

O desemprego aumenta, nomeadamente, no seio dos professores?

Pois que emigrem!

Foi esta a sua última sugestão, numa entrevista ao Correio da Manhã.

Sugestão interessante.

“Fait divers”, disse o seu mais genuíno lacaio, Carlos Alberto Amorim, o famoso liberal que achava difícil ser liberal mas que, agora, que é deputado pelo PSD, já se está marimbando para o liberalismo e adora fazer parte de um partido que se diz social-democrata (ah! ah!).

Eis a minha sugestão: peguemos no Coelho e no Amorim e obriguem-nos a emigrar para a Coreia do Norte, onde serão forçados a chorar pela morte do Querido Líder.

Merry Fucking Christmas

Euclides Santos, apesar do nome, não tem nada a ver com geometria.

Ou, se calhar, tem…

Euclides Santos é comandante de Polícia Municipal de Coimbra e passaria anonimamente por este mundo, se não fosse a sua péssima relação com as novas tecnologias.

É que o senhor comandante, em vez de enviar postais de boas festas aos familiares e amigos, como fazia antigamente, decidiu enviar mails, porque é mais modernaço.

Vai daí, e segundo o judicioso DN, enviou este mail aos trabalhadores da câmara municipal:

—

Consta que a menina Genoveva, que trabalha na tesouraria da câmara há 30 anos e é uma das mais empedernidas virgens de Coimbra, ficou tão escandalizada com os votos de “relações sexuais incríveis”, que decidiu, logo ali, enviar um mail ao cardeal patriarca, pedindo a excomunhão do senhor comandante Euclides.

Só que a pobre senhora, também ela, tem alguma dificuldade em manejar as novas tecnologias e, sem querer, claro, enviou ao cardeal, este anexo.

—

E viveram todos felizes para sempre, o comandante Euclides, a D. Genoveva, o cardeal Patriarca e o Passos Coelho que, embora não tenha nada a ver com isto, leva por tabela, que é para ver se deixa de nos lixar as reformas!

O iPad de Coelho

Revela o Expresso de hoje, que Passos Coelho se esqueceu do seu iPad no avião quando, recentemente, se deslocou a Luanda.

Segundo o semanário, Coelho só deu pela falta do gadget quando já estava no hotel e não foi possível recuperá-lo.

Ficámos também a saber, pelo jornal, que Coelho viajou em classe executiva, e que os jornalistas que o acompanharam, foram todos convidados a passarem também para a classe executiva. Isto não tem importância nenhuma. Ninguém estava í  espera que Passos Coelho continuasse a viajar em turística…

Ficámos ainda a saber que Coelho não ficou muito preocupado com o desaparecimento do iPad, uma vez que o mesmo não contem quaisquer documentos. Coelho apenas o usa para consultar jornais. Pois.

Finalmente, o jornal revela que as autoridades angolanas oferecem 5 mil dólares de recompensa a quem dê informações que permitam encontrar o iPad de Coelho.

Ora, sabendo que um iPad custa cerca de 600 euros, o que estará, de facto, escondido no iPad de Passos Coelho, que mereça 5 mil dólares de recompensa?

Alvíssaras a quem responder a esta pergunta.

Mala… quê?!

Passos Coelho inventou um novo substantivo – malabarices!

Foi na discussão do Orçamento e a propósito de cativações. Disse ele: «nós não fazemos malabarices com cativações».

Disse uma deputada do Bloco, que seria uma junção de malabarismos com aldrabices, o que me parece lógico.

Mas tudo resultou da discussão í  volta de uma almofada, que Seguro diz existir no Orçamento, e Passos garante não existir.

Problemas de cama, portanto…

—

O referendo grego

O problema central não é o primeiro-ministro grego ter decidido fazer um referendo, mas sim que pergunta fazer nesse referendo.

Papandreu (pronuncia-se mais ou menos assim, mas escreve-se de maneira muito diferente) diz que o referendo não é sobre o euro, mas sim sobre as medidas de austeridade.

Mas também há a possibilidade de Papandreu desistir do referendo, a favor da formação de um governo de coligação entre os socialistas e o partido í  sua direita.

Nesse caso, Papandreu cederia o seu lugar a Papadamus (não tenho bem a certeza se é assim que se pronuncia…)

Fica claro que o problema grego é uma questão de Papas.

Por cá, o nosso Papa-Açorda anda a reboque, ora dizendo que não é preciso renegociar com a troika, ora afirmando que são precisos ajustamentos…

Voltando ao referendo e í  sua pergunta.

Poderá ser, simplesmente: «deve a Grécia manter-se no euro ou deve voltar ao dracma?»

Ou ainda: «deve a Grécia aceitar as medidas impostas pela troika ou deve fazer-lhes um manguito?»

Ou talvez: «deve a Grécia manter-se na Europa ou passar-se para a ísia, que fica já aqui ao lado?»

Ou, finalmente: «deve a Grécia pedir a extradição de Duarte Lima, conceder-lhe a cidadania e nomeá-lo primeiro-ministro e, depois, sair do euro?»

Eu votaria nesta última pergunta.

Crise? Qual crise?!

1. O superintendente-chefe Guedes da Silva, director nacional da Polícia de Segurança Pública, viajou até Luanda, para participar numa reunião da CPLP. E foi em executiva.

O chefe da GNR também.

Segundo o Sindicato da polícia, a viagem da comitiva portuguesa custou 10 mil euros.

2. Cavaco Silva foi í  Cimeira Ibero-Americana, no Paraguai e levou 22 pessoas com ele.

Hoje vi, nos telejornais, uma conferência de imprensa dada na capital paraguaia por Cavaco, Passos Coelho e Paulo Portas. Todos em Asuncion, carago!

Presumo que a Assunção (coincidência…) Esteves ficou a presidir ao país. E quem terá ficado no lugar do primeiro-ministro?

Podíamos ter aproveitado para tomar o Poder!

Mas estava um dia de sol, tão bonito!…

Enfim, foi preciso uma viagem í  América Latina para vermos aqueles três passarões juntos, na mesma conferência de imprensa.

Claro que a minha irritação máxima vai para a pesporrência de Aníbal. Quando questionado sobre o teor das conversas que tem, í s quintas-feiras, com o primeiro-ministro, respondeu que foi ele o inventor da “cooperação estratégica” (que dificuldade que o homem tem a dizer palavras com érres!) e que quando, daqui a muitos anos, foram tornados públicos os registos dessas conversas, então sim, vamos todos perceber o quão iluminado era o nosso querido Presidente! Porque ele sempre nos avisou de tudo o que está a acontecer, e não teve culpa de nada e nunca tem dúvidas e raramente se engana!

3. Os telejornais estão todos doidos com o caso Duarte Lima. A RTP, apesar da crise, apesar da dívida, tem já uma jornalista, enviada especial, lá no Brasil, para nos dizer, em directo, coisas que já sabemos, porque estão escarrapachadas na net.

Que eu saiba, a RTP tem um correspondente no Brasil, um jornalista que vive lá. Será que o tipo não é suficientemente competente para fazer as reportagens sobre este caso? É preciso mandar para lá mais uma jornalista (em económica?…)

Estes três exemplos mostram bem que, pelos vistos, a crise não chega a todos, da mesma maneira…

Sem comentários

* “Os seus propagandistas (do Governo) podiam poupar-nos a ilusões e a demagogia ideológica: daqui (das medidas do Orçamento) não resultará qualquer Estado mais virtuoso na sua magreza, nem nenhum país mais competitivo, nem um Portugal melhor. Sairá um país mais pobre, exausto, mais dependente, menos culto, menos qualificado, com  maiores diferenças sociais, mais zangado e mais violento e, muito provavelmente, com menos liberdades”

– Pacheco Pereira, in Público de hoje

* “Não há alternativa? Há sempre uma alternativa mesmo com uma pistola encostada í  cabeça. E o que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse, de forma incondicional, ao lado do povo que o elegeu e não dos credores que nos querem extrair até í  última gota de sangue”.

– Nicolau Santos, in Expresso de hoje

* “Até há dias, a estratégia do Governo passava por diferenciar Portugal da Grécia. Paradoxalmente, para evitar sermos vistos como a Grécia, a solução agora proposta é a mesma que levou ao descalabro económico e social que se vive nas ruas de Atenas. O fim dos subsídios de férias e de Natal, a somar a todos os outros cortes salariais e aumentos de impostos, terá inevitavelmente duas consequências: o colapso da procura interna e uma recessão ainda mais profunda do que o previsto.”

– Pedro Adão e Silva, in Expresso de hoje

* “Já basta e ofende a desculpa da herança do anterior governo. Primeiro, porque juraram que não o fariam; segundo, porque só mostra que nada sabiam do estado do país e não estavam preparados para governar, mas apenas para ocupar o poder; terceiro, porque, que se tenha percebido, o tal buraco inesperado de 3 mil milhões decorre, todo ele, da privatização do BPN, nas condições definidas por este governo, e das dívidas escondidas do querido Jardim, criatura emérita do PSD”.

– Miguel Sousa Tavares, in Expresso de hoje