Seinfeld – série 7

seinfeld7.jpgJá revimos a 7ª época de Seinfeld, referente a 1995/96. Mais de oito horas de melhor que se fez em televisão, no que í  comédia diz respeito.

A 7ª época gira toda em redor do próximo casamento de Costanza com Susan – e das artimanhas que ele usa para tentar livrar-se desse compromisso. Tudo, menos enfrentar Susan e dizer-lhe, simplesmente, que não se quer casar. No entanto, é a sua mesquinhez que acaba por resolver a situação: decide comprar uns convites ranhosos para o casamento, Susan passa uma tarde a lamber envelopes baratos e morre envenenada! George, Seinfeld, Kramer e Elaine encolhem os ombros e vão tomar um café.

Outros grandes episódios desta série: o nazi das sopas, a espoja anticonceptiva, o calzone. Impagáveis são, também, os pais de George, sobretudo Frank (e ainda não chegou o tempo de “serenity now!”).

Filmes nas férias

Aproveitar as férias para ver cinema. Foram 5 filmes de rajada!

“Casino Royale”, de Martin Campbell

casinoroyale.jpgAí está o novo James Bond, uma excelente escolha. Daniel Craig é elegante, astucioso, frio, sedutor e mau quanto baste.

Os filmes do 007 pertencem a uma categoria diferente de filmes. São maus? São bons? São filmes do 007 – e há uns melhores que os outros.

Dizer que Sean Connery foi o melhor 007, é dizer que não há amor como o primeiro. Claro que, depois, Roger Moore suavizou a imagem do agente secreto, capaz de matar a sangue frio qualquer tipo que se lhe meta í  frente, bem como saltar para cima de qualquer Bond girl que se atravesse no seu caminho.

Pierce Brosnan veio fazer a síntese, do malvado Connery e do elegante Moore. Os outros dois Bonds (Dalton e o outro), nem contam. Foram erros de casting.

Daniel Craig está no ponto. Também não hesita em atirar-se para a cama de qualquer dama, mas, por vezes, fá-lo porque isso pode beneficiar a investigação em curso. De resto, tem um ar um pouco facínora, quando mata os maus, o que me agrada e merece toda a minha simpatia porque aguenta uma cena de tortura que até a mim me doeu, virando-a contra o mau da fita.

Os produtores da série estão de parabéns: encontraram um sucessor í  altura e o filme aguenta-se muito bem e consegue não cheirar a mofo, o que, hoje em dia, com a competição de séries como o 24, não é nada fácil.

“Firewall”, de Richard Loncraine

firewall.jpgE aqui está um bom exemplo de um filme de acção, que podia muito bem ser uma míni-série televisiva. Harrison Ford está velho para estas cenas e não faço ideia como é que ele e o Spielberg vão resolver o problema do 4º Indiana Jones – se é que ainda estão com ideias…

O argumento é estafado: um bando sequestra a família de um especialista informático em segurança bancária (o próprio Ford) e obriga-o a transferir uma data de massa para uma off-shore, caso contrário, a família morrerá.

É tudo mais ou menos previsível, não há grandes volte faces e, sinceramente, custa a crer como é que um informático sessentão consegue aguentar uma cena de pancadaria com um bandido trintão, em plena forma física.

“The Matador”, de Richard Shepard

matador.jpgBrosnan já não é James Bond, mas é difícil descolar o rótulo. Neste filme, Brosnan não é um agente secreto, mas é um assassino profissional, que mata por encomenda, estando especializado em empresários.

Rodado em tom de comédia, o filme mostra-nos como, por mero acaso, a vida deste assassino se cruza com a de um informático mediano e falhado (Greg Kinnear) e como é que, afinal, ele também seria capaz de matar, se isso lhe abrisse as portas a um bom negócio.

Vê-se mas dispensa-se.

“Capote”, de Bennett Miller

capote.jpgUm filme para ganhar o í“scar. Philip Seymour Hoffman conseguiu o de melhor actor, personificando Truman Capote, com os seus trejeitos efeminados e a sua voz de falsete.

Apesar do título, o filme não é, de facto, uma biografia de Capote, mas apenas uma narrativa de como o escritor se envolveu com um par de assassinos e, í  sua conta, escreveu o best-seller, “In Cold Blood”.

A experiência de Capote, na escrita desse livro, mudou a sua vida por completo, de tal modo, que nunca mais publicou nada mas, ao vermos o filme, não conseguimos perceber totalmente a pessoa que ele foi.

Claro que temos uma ou outra cena, em que vemos Capote, em ambiente social, muito vaidoso, dando espectáculo. Também é verdade que vemos o seu companheiro e percebemos que partilham a mesma casa, mesmo nas férias. Ficamos também a saber que Capote foi educado por umas tias. Mas isso é pouco para se perceber a pessoa, pelo que o título do filme deveria ser, por exemplo, “O Assassínio do Kansas”, ou algo que o valha – já que o filme apenas nos mostra o Capote dessa altura (1959-1964).

Palmas para Hoffman, no entanto.

“Breakfast on Pluto”, de Neil Jordan

breakfastonpluto.jpgOra aqui está um filme diferente, luminoso e positivo, apesar da história ser trágica como o caraças.

Na Irlanda profunda, um padre católico faz um filho í  jovem governanta, que o abandona í  porta da casa do padre (Liam Neeson). O padre entrega o bebé aos cuidados de uma megera qualquer. O rapaz (Cillian Murphy) cresce e, desde muito novo que começa a sentir-se dentro do corpo errado. Patrick sentia-se Patrícia, e nela se tornou, apesar das muitas vicissitudes por que teve de passar, num país tão conservador e católico como a Irlanda.

Sempre fantasiando a mãe, que nunca conhecera, Patrícia parte para Londres, em busca dela. Pelo caminho, cruza-se com uma estrela de rock de segunda classe que, apesar da pose, é homossexual, com um mágico que o acolhe e que dá força í  sua fantasia e até com guerrilheiros do IRA.

Acaba por ser apanhado no meio do conflito irlandês, ser preso e torturado pela polícia, mas descobre a mãe e é aceite pelo pai. Sempre positivo, quase delirantemente positivo, e nunca abdicando da sua transexualidade.

Depois de ter visto “Transamerica”, aqui está um filme sobre o mesmo tema. E como são diferentes as “versões” americana e britânica do mesmo tema!

House – 1ª série

house1.jpgDr. House não usa bata, é coxo, dependente de Vicodin (acetaminofeno mais um derivado de codeína), sarcástico, amargo, brilhante, solitário, descrente, bizarro, nada ético, intuitivo, experimentalista, impulsivo, e muitas outras coisas contraditórias, que o tornam uma personagem única.

Hugh Laurie, o actor, soube dar-lhe substância e torná-lo credível.

Sob o ponto de vista técnico, a série tem algumas inverosimilhanças: nenhum médico faria, por exemplo, uma laparotomia exploradora a um doente que apresentasse, apenas, dores abdominais e sintomas paranóides, mas essas inverosimilhanças acabam por se aceitar, se aceitarmos a técnica de diagnóstico que House usa: tentativa e erro. E, depois do erro, reformulação do diagnóstico.

Claro que os criadores da série arranjam sempre casos estranhíssimos, raríssimos que qualquer médico comum encontrará, em toda a sua vida profissional, uma única vez na vida (ou, mais provavelmente, nunca). Dr. House tem um caso destes todas as semanas: intoxicação por naftalina, doença do sono por contacto sexual, porfiria, etc.

Contra todas as convenções, House não gosta de doentes (só gosta de doenças), só os observa em último caso, preferindo raciocinar através dos sintomas que os médicos da sua equipa vão colhendo junto do doente e dos exames complementares que vai pedindo, receita dois cigarros por dia a um tipo com colite, anuncia a uma mulher grávida que tem um parasita dentro de si, prescreve rebuçados a um tipo com fibromialgia.

House faz-me inveja. Quantas vezes não me apeteceu fazer o que ele faz, na Clínica do Hospital onde trabalha!

Por exemplo: chegar í  sala de espera e dizer: “bom dia, chamo-me House, estou muito mal disposto, tenho dores crónicas, não gosto de doentes; estou no gabinete nº 1 – quem quiser ser consultado por mim, faça favor; mas há mais dois médicos de serviço…”

Ou dirigir-se í  sala de espera e consultar os doentes ali mesmo, dando-lhes conselhos simples para resolverem as suas queixas sem importância.

Para nós, médicos, ver House M. D. é quase como um jogo: í  medida que os sintomas vão surgindo e ele vai raciocinando, nós acompanhamo-lo e, muitas vezes, conseguimos chegar ao diagnóstico.

Mas há um extra nisto tudo, e é um grande extra: Laurie é excelente, a composição que ele faz deste médico amargo e anti-convencional é brilhante e, para além dos diagnósticos feitos como se de uma investigação criminal se tratasse (uma espécie de CSI médico), há também os diálogos, com as tiradas sarcásticas de House: “como o filósofo Jagger dizia – you can’t always get want you want”…

Chico Buarque – concerto no Coliseu

chico_concerto.jpgSegundo o folheto distribuído antes do concerto, Chico Buarque editou 43 álbuns, fora as inúmeras colectâneas.

São centenas (milhares?) de canções, quase todas pequenas pérolas da música popular. Se nos pedissem para escolher trinta destas canções para o concerto, muito provavelmente, cada um de nós escolheria um alinhamento diferente.

Por isso, é natural que a expectativa de cada espectador, antes do concerto, fosse diferente. Alguns gostariam que Chico cantasse “Construção”, outros prefeririam “Meus Caros Amigos”, “Apesar de Você”, “Vai passar”, etc, etc.

Chico, claro que optou pelas canções do novo álbum, “Carioca”, e juntou-lhe mais cerca de vinte temas, quase todos dos últimos 20 anos. Nada dos anos 60/70, a não ser o pouco conhecido “Mabembe”, de 1972. O tema mais antigo, daqueles que são mais populares, foi “Morena de Angola”, de 1980.

Não importa. O concerto foi muito bom e, durante duas horas, não dei pelo tempo passar.

Alguns dos pontos altos: “Imagina”, “Mil perdões”, “Ela é dançarina”, “Eu te amo”, “Grande Hotel”. E, claro, todo o “encore”, que incluiu o emocional “Tanto Mar”.

Acompanhado por dois percussionistas, um baixo, piano, sintetizador, saxofone/flauta e um excelente violão, Chico mostrou estar em forma, aos 60 anos e, como ele próprio disse, ter prazer em cantar.

“Star Wars” – Exposição

Visitámos, hoje, a Exposição oficial da Lucasfilm, sobre a saga Starwars.

O mais interessante da exposição é, sem dúvida, o contraste entre as naves, os robots e os diversos bonecos do universo Lucas e o cenário proporcionado pelo Museu da Electricidade, as turbinas, os geradores, as caldeiras, os candeeiros. Temos, assim, espécimes de ficção científica, num ambiente retro.

Os objectos expostos têm um interesse relativo. Retirados do contexto, algumas peças não passam de bonecos. De qualquer modo, é curioso ver tudo aquilo e, com a ajuda dos vídeos, dos desenhos, das maquetas, imaginar como a equipa de George Lucas inventou tudo o resto. Notável, por exemplo, o modo como criaram a ilusão de uma multidão ululante, na arena das corridas de podcasters, a partir de milhares de cotonetes coloridas.

Mas, repito, a exposição vale, sobretudo, pela Central Tejo.

“A Vida é um Milagre”, de Kusturica

vidaeummilagre.jpgOra aqui está mais um “Gato Preto, Gato Branco”, talvez não tem bem conseguido, mas divertido na mesma. Kusturica ri-se para não chorar.

A acção do filme passa durante o conflito da Bósnia e a guerra, a pobreza extrema, a destruição, tudo é vivido com aquela música de fundo, as bandas desconjuntadas sempre a tocar, os personagens todos um pouco loucos, um frenesim permanente.

A história é o que menos interessa: Luka quer transformar o “seu” caminho de ferro numa atracção turística, mas a guerra rebenta. O seu filho, Milos, que estava í  beira de ser contratado pelo Partizan de Belgrado, como grande estrela de futebol, vai para a guerra e é feito prisioneiro; a sua mulher, uma ex-cantora de ópera um pouco louca, foge com um músico húngaro; e Luka apaixona-se por uma enfermeira muçulmana, mesmo no meio dos bombardeamentos e das explosões.

Ao fundo, a música, sempre a música.

“Nip/Tuck” – 3ª série

niptuck3.jpgSérie televisiva mais “kinky” não existe.

Que outra série poderia juntar um psicopata assassino que não tem pénis, uma inspectora da polícia bi-sexual, um herói do Iraque sodomizando um cirurgião plástico em pleno consultório, a mulher do Pai Natal transportando, há 17 anos, no abdómen, um feto calcificado, um spa que usa esperma como creme facial, um pai racista que obriga a filha a raptar um transexual, para lhe amputar o pénis, e mais, muito mais.

O mais fascinante nesta série é que, por muito bizarra que seja a situação, faz todo o sentido, naquele contexto.

Os dois cirurgiões, Sean McNamara e Christan Troy, têm as suas vidas todas viradas do avesso, as suas famílias são o mais disfuncionais que se possa imaginar, mas lá vão sobrevivendo e proporcionando-nos bons momentos de entretenimento.

Como já li algures, a criatividade de Hollywood parece ter-se mudado definitivamente para as séries televisivas, deixando o cinema na penúria.

“The Black Dahlia”, de Brian de Palma

blackdahlia.jpgDe Palma é um realizador de excessos, usando e abusando de truques e tiques, mas quem vai ver um filme realizado por ele já sabe ao que vai.

Este “The Black Dahlia”, no entanto, fica muitos furos abaixo de outros filmes de De Palma. Pretende ser um filme feito í  maneira dos antigos filmes da série B, com o herói narrando a acção, em voz off, e todas as cores em tons de sépia. No entanto, parece que De Palma se baralhou com a riqueza de pormenores da história de James Elroy e o filme acaba por ser um pouco confuso.

Tudo gira em redor do assassínio de uma jovem candidata a actriz, mas, í s tantas, um tipo já se perdeu no emaranhado de histórias laterais. Depois, nos últimos dez minutos da fita, tudo nos é revelado de um modo um pouco atabalhoado.

A fotografia, no entanto, é excelente e a reconstituição de Los Angeles do post-guerra também me pareceu correcta. No entanto, gostei muito mais de “LA Confidencial” (Curtis Hanson, 1997), outro filme cujo argumento se baseia num livro de Elroy.

“Lady in the Water”, de M. Night Shyamalan

senhoradaagua.jpgQuando vi que as classificações dos críticos, no Diário Notícias, iam de “excepcional” (João Lopes), a “de fugir” (Pedro Mexia), passando por “com interesse” (Eurico de Barros) e “bom” (Nuno Carvalho), fiquei logo com vontade de ver este filme.

Por isso – e só por isso – a melhor cena, para mim, é aquela em que o crítico de cinema é devorado pelo monstro.

De qualquer modo, eu iria sempre ver um filme de Shyamalan que, até agora, ainda não me desiludiu.

Não é, de facto, o melhor dos seus filmes que, para mim, ainda é “Signs”, mas é uma história de fadas bem contada e com alguns pormenores insólitos, que a tornam especial: o inquilino que só faz musculação aos membros do lado direito, a inquilina asiática, que não fala inglês e que, através da tradução fornecida pela filha, vai fornecendo pistas ao responsável pelo condomínio, o sul-americano e as suas cinco filhas, o veterano de guerra, sempre fechado na sua casa, mas de porta aberta, vendo documentários militares.

Pelos vistos, a Miramax, que produziu os anteriores filmes de Shyamalan, não gostou muito deste projecto, mas a Disney foi na conversa. E, de facto, o filme integra-se bem no espírito Disney.

Estranho o facto de Shyamalan deixar passar tantos “erros”, nomeadamente, o microfone que, por três ou quatro vezes, se vê perfeitamente, no topo do écran.

Paul Giamatti faz um excelente porteiro, gago, tímido e conservador, ex-médico, que muda de vida depois de lhe terem morto a mulher e os filhos. No final, será ele o curandeiro, que devolve a vida í  “sereia”.

E não vale a pena fazer interpretações selvagens. A história é bonita e sabe bem ver um filme destes, de vez em quando.

“L’Adversaire”, de Nicole Garcia

adversario.jpgJá se sabe que, quando se adapta um livro ao cinema, muito se perde e, raramente, algo se ganha.

“O Adversário” é um excelente livro de Emmanuel Carrí¨re, publicado em 1999. A partir da história real de um falso médico, que assassinou a mulher e os filhos, o escritor criou uma história de mentira e solidão, perturbadora, que nos deixa inquietos.

O filme não consegue dar-nos a dimensão da mentira de Jean-Marc, que nunca passou do 2º ano de Medicina e, no enanto, se fazia passar por médico da OMS (sem nunca lá ter postos os pés), constituiu família e era uma figura respeitada na pequena localidade onde vivia. Quem não tenha lido o livro, não percebe muito bem, como é que Jean-Marc conseguia levar uma vida de média burguesia, com uma boa casa e bons carros. De facto, embora se perceba que ele se encarrega de sacar grandes somas de dinheiro ao sogro e a reforma dos pais, dizendo que investe esse dinheiro, com bons juros, algures, na Suíça, a coisa não está suficientemente sublinhada.

Por outro lado, no livro, Jean-Marc (que se chama Jean-Claude), é um homem que inspira confiança, admirado por todos, ponderado, calmo e tranquilo – um verdadeiro psicopata, capaz de, quando é descoberto, assassinar a mulher e os filhos, tentando dar í  coisa o ar de acidente.

Pelo contrário, no filme, Jean-Marc mostra-se angustiado, nervoso, metido consigo próprio e provocando, até, alguma antipatia.

Em conclusão: mais vale ler o livro. O filme é dispensável.