“Viagens no Scriptorium”,de Paul Auster

viagens.jpgQuando se tem uma carreira firmada, já se pode brincar um pouco consigo próprio, e vender livros na mesma.

Neste pequeno livro, de cerca de cem páginas, Auster conta-nos uma história sem princípio nem fim – tem apenas o meio: um velhote, fechado num quarto, com a memória muito afectada, aparentemente culpado de alguns crimes. Decidiu chamar-lhe Mr. Blank (vazio) e, pelos vistos, este velhote poderá ter sido o culpado de algumas das personagens que Auster criou, nos seus romances anteriores.

Ou não.

Mas há uma grande história, que vale toda a narrativa: um homem vai, todos os dias, ao mesmo bar e pede três whiskies, que bebe, de enfiada. Intrigado, o empregado do bar, perde a vergonha e, ao fim de alguns dias, pergunta-lhe por que motivo ele pede três whiskies e os bebe, de enfiada, em vez de beber um whisky e, só depois, pedir outro. O homem explica-lhe que tem mais dois irmãos, a viver longe e que os três combinaram, a uma determinada hora do dia, beberem um whisky em honra de cada um deles.

Os meses passam-se e, ao fim de algum tempo, o homem pede só dois whiskies, em vez de três. O barman pensa que um dos seus irmãos talvez tenha morrido, mas não tem coragem para perguntar. No entanto, a sua curiosidade é mais forte e, alguns dias depois, acaba mesmo por perguntar, por que razão o homem passou a pedir só dois whiskies – será que lhe morreu algum dos irmãos? Qual quê! exclama o homem. Os meus irmãos estão óptimos. Eu é que deixei de beber!

Cinco estrelas!

4 thoughts on ““Viagens no Scriptorium”,de Paul Auster

  1. O P. Auster pode nunca a ter ouvido (e tu tb não, ao que parece), mas essa história é uma anedota daquelas muito velhinhas…eu conto-a apenas com um irmão, e portanto dois copos (de vinho).

  2. De qualquer modo, é uma grande história e o Auster conta-a como uma anedota antiga e não como se fosse algo que ele tivesse inventado. O que é notável nos livros de Auster é que estão cheios destas pequenas histórias, antigas ou não, conhecidas ou novas.

  3. Fiquei muito curiosa em relação ao livro. Vou ler concerteza, mas gostava de lançar desde já uma questão: “Achas que dava um filme?”

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