The Wire – 4ª e 5ª séries

The Wire é uma das melhores séries de televisão de sempre. Parágrafo.

wire4Por razões maiores e por pormenores.

Pormenores:

1. O tema musical da série é a canção de Tom Waits, “Way Down in the Hole“, e só por isso já merecia aplausos. Mas fizeram mais: na primeira série, escutamos o próprio Waits a interpretar o tema e nas restantes 4 séries há outras tantas versões do mesmo.

2. A série não tem um herói, mas uma panóplia de pequenos anti-heróis; no fundo, é Baltimore, a cidade, a heroína da série.

3. Omar, o bandido negro, outsider, o personagem que mais se aproxima de um herói, não só é gay como acaba por ser assassinado por um puto enfezado de 10 ou 11 anos.

wire54. Cada série debruça-se sobre um sector da cidade: os bairros sociais, o porto de Baltimore, as escolas, o jornal Baltimore Sun, a Câmara Municipal.

E as grandes razões:

A série é óptima. O apartheid envergonhado que, de facto, existe nos EUA, a inevitabilidade da corrupção na política, o papel dos advogados como coadjuvantes dos criminosos, a importância de se ser “the king of the streets”, a gente respeitável que não se importa de viver à conta do tráfico, a violência gratuita, os jornalistas oportunistas, o ensino caótico, etc, etc.

David Simon, ex-jornalista do Baltimore Sun foi o criador da série e, juntamente com Ed Burns, ex-polícia, é o responsável pela maior parte da notável escrita da série, que não fica nada a dever aos Sopranos, por exemplo.

Fiquei sem vontade nenhuma de conhecer Baltimore…

The Wire – 2ª e 3ª série

Grande série, esta!

Coloco-a lado a lado com os Sopranos e quase que a ponho, até, um pouco à frente.

O grande trunfo de The Wire, em relação aos Sopranos, por exemplo, tem a ver com o facto de não ter um Tony Soprano, isto é, de não ter uma personagem central, em redor da qual tudo funciona.

wire2The Wire tem dezenas de pequenas personagens, como na vida: McNulty, o polícia de origem irlandesa, muito dado a grandes bebedeiras, com uma vida pessoal “fucked up” e uma obsessão – apanhar Stringer Bell, o negro “drug dealer” que se quer transformar num “business man”, através do “real estate”; Avon Bakersdale, o gangster traficante, que não quer ser outra coisa senão gangster; Omar, o gangster solitário, homossexual assumido, duro, sem misericórdia, mas com um código ético muito próprio; Daniels, o líder do grupo especial que realiza as escutas, cheio de dúvidas acerca da profissão; os diversos membros da equipa, cada um com a sua história pessoal e a sua visão da vida e da profissão.

Enfim, a legião de pequenas personagens, quer do lado das autoridades, quer do lado dos “bandidos”, é tão vasta que se confunde com a realidade.

Por isso mesmo, The Wire me parece uma das séries mais conseguidas, porque mais próximas da vida real.

A 2ª temporada tem o porto de Baltimore como pano de fundo, com o sindicato dos estivadores e as suas ligações com o contrabando, liderado pelos gregos. Mas, como segunda história, continua o tráfico de droga, com Avon detido, mas Stringer Bell a dominar os negócios e a tentar modernizá-los, ligando-se a senadores e a outras pessoas “sérias”.

wire3Na 3ª temporada, um dos chefes da polícia farta-se de ser criticado por não conseguir baixar a taxa da criminalidade e decide, sem dar cavaco a ninguém, empurrar os traficantes e os consumidores para três bairros, deixando-os comprar e vender à vontade e limpando o resto da cidade. Claro que a criminalidade baixa, mas a ideia não é muito bem aceite pelas restantes forças vivas da cidade. Entretanto, Daniels e a sua equipa continua o cerco a Bell, não o conseguindo apanhar porque Omar chega primeiro.

Cinco estrelas!

The Wire – 1ª série

wire1Há muito tempo na lista, só agora surgiu a oportunidade de ver a 1ª época desta série da HBO, criada por David Simon.

Sabendo que a série não tem muita publicidade e que os actores são pouco ou nada conhecidos, temo que admitir que The Wire é uma excelente surpresa.

A acção passa-se em Baltimore, nas zonas mais pobres dos bairros sociais, onde a droga impera. Um polícia, McNulty, está decidido a acabar com um bando de passadores de droga, todos afro-americanos, que não olham a  meios para passar os seus produtos.

McNulty consegue que os seus chefes criem uma pequena força policial que se vai dedicar, exclusivamente, a tentar apanhar Avon Barksdale e o seu bando.

Mas parece que a hierarquia está mais interessada em que McNulty falhe nos seus intentos, porque o dinheiro da droga pode levar a outros lados, nomeadamente ao financiamento de alguns senadores.

Se eu vivesse em Baltimore, sentiria vergonha ao ver esta série, pois parece que a maior parte dos polícias e procuradores públicos, ou são corruptos, ou incompetentes.

Não cedendo à violência gratuita, nem aprofundando muito as vidas privadas das muitas personagens – apenas nos dando traços gerais, o que nos permite sermos nós a completar o desenho da personagem – The Wire é uma excelente série policial, que vale a pena seguir (parece que já vai na quinta e última época).