Matar vai ser mais caro

A chamada geringonça decidiu adoptar a política de Vítor Gaspar e continuar o brutal aumento de impostos.

Quem tenha uma bruta vivenda, seja doido por Coca-Cola e goste de caçar, está mesmo tramado.

A partir de Janeiro, vai pagar um extra sobre o IMI da vivendaça com valor patrimonial acima de 600 mil euros, a enormidade de 16 euros por cada hectolitro de Coca-Cola que beba e a brutalidade de 0,02 euros por cada bala com chumbo que dispare!

Quer dizer, que mesmo aqueles maridos que decidem matar as esposas terão que pensar duas vezes, antes de optarem pela caçadeira em vez da navalha.

Por outro lado, os paizinhos terão que aumentar a semanada dos filhos adolescentes, já que uma garrafa de litro de Coca-Cola passará a custar mais 16 cêntimos do que actualmente!

Uma vergonha!

Compreende-se a indignação da Assunção Cristas – ela tem quatro filhos, caramba!

Quanto à taxa que se sobrepõe ao IMI para imóveis de luxo, fiquem descansados os milhões de portugueses que têm apartamentos nas zonas nobres das grandes cidades ou moradias apalhaçadas – só pagam acima de 600 mil euros! Safa!

Para além da chamada fat tax, a geringonça podia ter ido mais longe e taxar outras coisas que também fazem mal à saúde.

Exemplos? Bandarilhas e cavaleiros tauromáquicos, debates televisivos sobre futebol e calinadas de jornalistas no português, para citar apenas três exemplos.

Coisas do Orçamento

Confirma-se que António Costa recorreu à chantagem para conseguir que a Comissão Europeia aceitasse o Orçamento Geral do Estado.

De facto, Costa ameaçou propor o nome de Cavaco Silva para o cargo de Comissário europeu caso o Orçamento não fosse aprovado e Bruxelas não teve outro remédio senão pactuar.

Nem era mais por causa de Cavaco, mas sim por causa da Dona Maria, que gosta de meter o nariz em tudo.

No entanto, o acordo continua a não ser total.

Parece que há uma divergência de 200 milhões de euros.

Trocos.

Costa garantiu que vai conseguir tapar esse buraco de 200 milhões.

Sabe-se que há 280 portugueses que devem mais de um milhão de euros ao fisco.

Costa vai conseguir obrigar esses cidadãos a pagarem o que devem.

Como?

Recorrendo, mais uma vez, a Cavaco Silva.

Como ex-presidente, Cavaco tem direito a carro e motorista; em vez de ficar sentado no seu gabinete a criar bolor, vai fazer de cobrador de fraque.

Além de ficar entretido, fará qualquer coisa de útil e dará uma ajuda ao país.

Talvez assim consiga que o Presidente Rebelo de Sousa o condecore no 10 de Junho.

Um Orçamento inovador

Inovador? Eu diria que este Orçamento é mesmo revolucionário!

Ora vejamos: os cortes na Função Pública começam logo nos salários acima dos 600 euros.

Acho bem.

Cortar a quem mais precisa.

É uma lição de vida.

Quem não tem dinheiro, não tem vícios.

Depois, os cortes vão subindo, nos salários dos funcionários públicos, até atingir os 12%.

Acho pouco.

Quem precisa de cantoneiros, professores, jardineiros, enfermeiros, médicos, arquitectos, contínuos, administrativos e toda a corja de funcionários públicos que passam os dias a coçar os testículos?

Mas enfim, os cortes poderão estimular alguns desses funcionários a desistirem de nos agravar o défice.

Outra medida justa: o corte nas pensões de sobrevivência.

Diz o Governo que só vão atingir 3% das pensionistas.

Acho pouco.

As viúvas passaram a vida a dizer mal dos maridos, que não as ajudam, que nunca estão em casa, que se embebedam, que as tratam mal, respiram fundo quando eles, finalmente, morrem e, depois, ficam a receber as pensões?

Quer dizer, em vida, os gajos não valem nada mas, depois de mortos, as pensões já lhes dão jeito.

A convergência das pensões também é boa ideia, mas não vai juntar-se à contribuição especial de solidariedade.

Também acho mal.

Quanto menos dinheiro os reformados tiverem, melhor.

O pior que pode haver é um bando do reformados ociosos, cheios de dinheiro!

O aumento do imposto de circulação para carros a gasóleo também merece aplausos, uma vez que estes veículos provocam mais poluição que os movidos a gasolina.

Mas também se devia aumentar os impostos sobre a gasolina.

Precisamos de menos carros nas estradas. Só assim poderemos diminuir a sinistralidade rodoviária.

Também vai aumentar o imposto sobre o tabaco e, mais uma vez, o meu aplauso.

O tabaco só faz é mal.

Simultaneamente, os medicamentos para deixar de fumar continuam sem comparticipação do Estado, o que é excelente.

Deste modo, os verdadeiramente viciados continuarão a fumar e há esperança que morram precocemente.

Menos umas pensões que o Estado terá que pagar.

Finalmente, o aumento da idade da reforma para os 66 anos é outra medida que merece apoio.

Mas também acho pouco.

Conheço tipos com 80 anos que continuam cheios de pica e basta olhar para o Mário Soares que, com 88 anos, continua a tentar lixar o Cavaco.

Portanto, 66 anos é escasso.

A reforma devia ser quando um gajo já não dissesse coisa com coisa.

Razão pela qual o Passos Coelho já devia estar reformado há dois anos!

 

O sapo do Portas

Portas é um artista.

Meteu o coelho na cartola e de lá tirou um sapo.

Um sapo chamado Gaspar.

Durante este ano e meio, Portas andou por aí. Foi ao Brasil, à Líbia, à Venezuela, a Moçambique. Diplomacia económica, disse.

Por cá, os restantes membros do Governo iam fazendo o possível e o impossível para agravar o défice.

Depois, de repente, perceberam que, afinal, a austeridade tinha que ser agravada.

E Gaspar propôs um enorme aumento de impostos.

Portas esteve quase para repetir aquilo que disse em junho de 2010: «o PSD não é de fiar em matéria de impostos».

Ou então, repetir o que disse em março do ano passado: «“Eu uso de franqueza. Quando concordo, concordo. Quando discordo, discordo. E tenho que vos dizer isto com toda a franqueza. Subir impostos é aumentar a recessão. Disse-o ontem e digo-o hoje”».

Ou ainda o que disse de Sócrates, em julho de 2009: «É preciso ter descaramento. Um primeiro-ministro que aumentou todos os impostos e conseguiu uma consolidação do Orçamento à custa de impostos e não de contenção de despesas vem agora fazer este anúncio (de que não pode baixar impostoso), eu digo que é descaramento».

Ou o que disse em maio de 2010: «Aumentar impostos é, como dizia o próprio engenheiro Sócrates quando se apresentou aos portugueses, o caminho mais fácil, mas não faz bem à economia».

Ou o que disse a Teixeira dos Santos em janeiro de 2010: “A ameaça do ministro das Finanças fez” só merece uma resposta “se quer aumentar os impostos não conta com CDS” para uma viabilização do Orçamento do Estado.

Ou, finalmente, o que disse em setembro de 2007: «Quem está a combater o défice não é o governo, mas o contribuinte português, com os seus impostos, cujas receitas aumentaram 8,3% e estão a pagar a factura».

Mas não disse nada disso.

Preferiu engolir o sapo.

Mala… quê?!

Passos Coelho inventou um novo substantivo – malabarices!

Foi na discussão do Orçamento e a propósito de cativações. Disse ele: «nós não fazemos malabarices com cativações».

Disse uma deputada do Bloco, que seria uma junção de malabarismos com aldrabices, o que me parece lógico.

Mas tudo resultou da discussão à volta de uma almofada, que Seguro diz existir no Orçamento, e Passos garante não existir.

Problemas de cama, portanto…

Otelo poupa no Orçamento

Ficaram todos muito chocados quando o Otelo disse que lhe bastariam 800 homens para derrubar o governo.

O homem estava a ser poupado, caramba!

Só para despentear o ministro da Defesa, Aguiar Branco e calar o Miguel Relvas serão precisos dois exércitos!

O Otelo estava a querer poupar dinheiro aos contribuintes.

Obrigado Otelo – e não te esqueças de tomar as gotas, pá!

Um dia destes, em Belém…

Maria (M) – Falaste hoje com o Pedro? Correu bem?…

Aníbal (A) – Nem por isso. Disse-me que decidiu cortar os subsídios de Natal e de férias…

M – A nós também?!

A- A todos os funcionários públicos e a todos os reformados!…

M – Que desfaçatez!…E eu que estava a pensar em gastar o subsídio de Natal nuns novelos de lã para fazer umas camisolas para os nossos netos!…

A-Vais ter que te satisfazer com umas techirts da Zara… O tipo está inflexível!…

M – E o subsídio de férias também?!…

A- Hum hum…

M – Lá vamos passar as férias outra vez no Algarve!… Os planos da ilha Canela vão por água abaixo! Bolas! O Sócrates tira-te uma das reformas, o Pedro tira-nos os subsídios – para que serve seres o Presidente?!…

A – É a crise, Maria!…

M – Qual crise! Esse Pedro nunca me enganou! Um tipo que foi casado com uma das galdérias das Doce, não podia ser boa peça!…

A – Eu bem avisei que a situação era explosiva…

M – Tão explosiva que rebentou para o nosso lado!… E tu não fazes nada?!

A – Então, eu tenho escrito umas coisas no Facebook…

M – Não chega, homem! Chega-te à frente! Mostra-lhe quem manda!

A – E dissolvo a Assembleia? Ainda agora foi eleita!…

M – Quero lá saber! Eu quero é os meus subsídios de volta!

A – Deixa estar que eu vou dizer à comunicação social que acho injusto e pode ser que o PS pegue na coisa e apresente uma alternativa no Parlamento…

M – O Seguro? Aquele totó?!… Podes esperar sentado!

Neste momento, alguém arrancou o microfone que tínhamos colocado nas flores de plástico que ornamentam a mesa da cozinha do casal presidencial.

Sem comentários

* “Os seus propagandistas (do Governo) podiam poupar-nos a ilusões e a demagogia ideológica: daqui (das medidas do Orçamento) não resultará qualquer Estado mais virtuoso na sua magreza, nem nenhum país mais competitivo, nem um Portugal melhor. Sairá um país mais pobre, exausto, mais dependente, menos culto, menos qualificado, com  maiores diferenças sociais, mais zangado e mais violento e, muito provavelmente, com menos liberdades”

– Pacheco Pereira, in Público de hoje

* “Não há alternativa? Há sempre uma alternativa mesmo com uma pistola encostada à cabeça. E o que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse, de forma incondicional, ao lado do povo que o elegeu e não dos credores que nos querem extrair até à última gota de sangue”.

– Nicolau Santos, in Expresso de hoje

* “Até há dias, a estratégia do Governo passava por diferenciar Portugal da Grécia. Paradoxalmente, para evitar sermos vistos como a Grécia, a solução agora proposta é a mesma que levou ao descalabro económico e social que se vive nas ruas de Atenas. O fim dos subsídios de férias e de Natal, a somar a todos os outros cortes salariais e aumentos de impostos, terá inevitavelmente duas consequências: o colapso da procura interna e uma recessão ainda mais profunda do que o previsto.”

– Pedro Adão e Silva, in Expresso de hoje

* “Já basta e ofende a desculpa da herança do anterior governo. Primeiro, porque juraram que não o fariam; segundo, porque só mostra que nada sabiam do estado do país e não estavam preparados para governar, mas apenas para ocupar o poder; terceiro, porque, que se tenha percebido, o tal buraco inesperado de 3 mil milhões decorre, todo ele, da privatização do BPN, nas condições definidas por este governo, e das dívidas escondidas do querido Jardim, criatura emérita do PSD”.

– Miguel Sousa Tavares, in Expresso de hoje