“História Secreta”, de Donna Tartt (1992)

De Donna Tartt já tinha lido o aclamado O Pintassilgo, editado há três anos.

historia-secretaEste História Secreta foi o primeiro romance que Tartt publicou e trata-se de uma história estranha, sobretudo devido aos personagens.

A história, que se pretende secreta, é narrada por Richard, um estudante de ascendência modesta, que consegue uma bolsa para estudar na Universidade de Hampden. Aí, conhece e junta-se a um grupo de estudantes provenientes de famílias abastadas que estudam sob a influência de um carismático professor de Estudos Clássicos.

Esse grupo de alunos é tudo menos banal: são quatro rapazes e uma rapariga que vivem num mundo à parte, quase num universo paralelo, muito influenciados pela cultura grega e pelos princípios de honra, obediência, compaixão, lealdade e sacrifício.

Para além das aulas muito pouco ortodoxas com o tal professor, o grupo apenas se interessa por outra coisa: álcool. Penso que os protagonistas passam mais metade do livro bêbados ou a caminho. Também fumam muito e, uma vez por outra, tomam drogas.

Embora nunca seja referido em que época se passa esta história, percebe-se que será mais ou menos nos anos 90 do século passado; no entanto, embora se fale uma ou duas vezes em computadores portáteis, os estudantes fazem os seus trabalhos em máquinas de escrever.

As experiências mais ou menos esotéricas que o grupo leva a cabo, no sentido de se aproximarem o mais possível do hábitos da cultura helénica, acabam por levar a uma morte acidental, facto que altera completamente a vida destes jovens.

Um romance estranho, que nos capta a atenção, mesmo quando, aparentemente, não se passa nada.

“O Pintassilgo”, de Donna Tartt (2013)

Donna Tartt by Beowulf SheehanDona Tartt (Greenwood, Mississipi, 1963), é uma escritora norte-americana, autora de três calhamaços com muitos anos de intervalo e sempre com muito bom acolhimemento por parte da crítica.

Publicou The Secret History em 1992, The Little Friend em 2002 e este The Goldfinch em 2013.

O Pintassilgo são 893 páginas densas que percorrem vários anos na vida de Theo Decker.

pintassilgoTheo, então com 13 anos, está com a mãe a visitar o Metropolitan Museum de Nova Iorque, quando acontece uma atentado terrorista. A explosão de uma bomba mata a mãe, destroi uma parte do Museu e Theo, no meio dos destroços, conhece um velho que, moribundo, o incita a levar o quadro de Carel Fabritius, que mostra um pequeno pintassilgo, preso por uma corrente a uma espécie de poleiro.

Theo leva o quadro para casa, embrulha-o numa fronha de almofada e por ali fica alguns dias, até que a Segurança Social lhe arranja uma família de acolhimento. Nas suas deambulações por Manhattan, Theo trava conhecimento com um restaurador de móveis, de quem fica amigo e que, vem a descobrir mais tarde, estava relacionado com o velho que Theo viu morrer no Metropolitan.

Entretanto, o pai de Theo, separado há muito da mãe, decide vir buscá-lo e levá-lo para a sua casa, em Las Vegas. É lá que Theo conhece Boris, um adolescente de ascendência russa, que o inicia no álcool e nas drogas.

O pai de Theo, alcoólico e jogador compulsivo, acaba por morrer alguns anos depois, vítima de acidente e o rapaz regressa a Nova Iorque e procura o restaurador de móveis, ficando a viver na sua casa e ajudando-o no negócio do mobiliário.

E o quadro de Fabritius nunca é devolvido ao Museu, viajando com Theo de Nova Iorque até Las Vegas, e de volta a Nova Iorque – ou assim ele pensa.

E é aí que entram em jogo os traficantes de arte, cenas de acção em Amesterdão e um final inesperado.

Confesso que o livro me parece extenso de mais; algumas partes eram dispensáveis ou poderiam ser encurtadas, como a descrição dos dias que Theo passa no quarto do hotel em Amesterdão, depois de ter morto um bandido, mas parece-me que Donna Tartt deve ser daquelas escritoras que não consegue parar. Aliás, o livro poderia continuar porque, quando termina, Theo deve ter pouco mais de 30 anos…

Recomendo, mas é preciso algum estofo e um bom par de bícepetes, já que o calhamaço pesa quase meio quilo.