A pilinha do Dr. Barreiros e o buraco do Dr. Toy

Em vésperas de festejar os 50 anos do 25 de Abril, assistimos a grandes êxitos da música portuguesa, protagonizados por dois dos nossos maiores cantautores nacionais: Quim Barreiros e Toy.

Agora que o Natal está a chegar, nada melhor do que oferecer aos nossos familiares os novos grandes êxitos destes dois ícones da estupidez nacional, tão adorados por tunas académicas, festivais populares e autarquias em geral. É uma maneira de dizer aos nossos familiares que queremos que eles se fodam.

O Dr. Quim Barreiros, do alto dos seus 76 anos, descobriu agora que a sua pichota se chama sarapanta. Aparentemente, foi esse o nome que a sua mãezinha querida lhe deu, conforme os versos do seu novo grande êxito:

Eu tenho um sarapanta/ Que a minha mãe me deu
Anda sempre escondido/ Quem manda nele sou eu

Ficamos, portanto, a saber que a mãe do Dr. Barreiros chamava sarapanta à sua pilinha, mas que, hélas!, é ele que manda nela!

Apesar disso, o Dr. Barreiros anda sempre com aquilo escondido, vá-se lá saber porquê!… Deve ter vergonha daquela coisa. Porventura, espreme-a, em vez de a abanar, depois de fazer chi-chi.

Pelo desenrolar do poema – obra-prima do Dr. Barreiros – ficamos a saber que a sua sarapanta só se levanta quando lhe mexem. Ora leiam:

Ora mexe mexe mexe/ Aqui no sarapanta
E quanto mais lhe mexes/ Mais ele se levanta

Apesar dos seus 76 anos, o Dr. Barreiros não precisa de Viagra ou Cialis. Basta que lhe mexam na coisa, e ela logo se levanta. Felizardo! Deve ser do acordeão!…

Continuando a ouvir esta peça lúbrica do cancioneiro nacional, ficamos a saber que há quem goste de fazer sexo oral ao Dr. Barreiros.

Há quem lhe faça festinhas/ Há quem o queira beijar
Se lhe apertam o pescoço/ Ele começa a cantar

Que o Dr. Barreiros tenha uma pila que cante, eis algo que nós desconhecíamos!

Resta perguntar, por que carga de água o Dr. Barreiros decidiu chamar sarapanta à sua pila. A explicação é que foi a única palavra que ele conseguiu encontrar que rimasse com “levanta”.

Apetece, portanto, dizer, como dizia Paulo Fernando, no Dois do Quelhas, que este disco é intocável, mas, felizmente, não é inquebrável!

E por isso, vamos parti-lo!

Quanto ao buraco do Dr. Toy, trata-se de uma canção que serve como anúncio ao Intermarché e que seria suficiente para que todas as donas de casa nunca mais pusessem os pés naqueles espaços comerciais.

No spot publicitário vemos o Dr. Toy, de mangueira na mão, preparando-se para meter combustível no seu carro, com duas lambisgoias sorridentes atrás dele. E ele canta:

Eu meti em todas/ agora sei como é
Eu meti em todas/ e agora só meto no intermarché
Com a mangueira na mão/ sempre acerto no buraco
É da minha formação/ a meter nunca fui fraco
Meto sempre devagar/ e fico com a certeza
Onde meto é o lugar/ que não dá muita despesa

Por outras palavras: o Dr. Toy gosta de meter, desde que não gaste muito dinheiro. Portanto, deve procurar, naqueles anúncios manhosos do Correio da Manhã, onde poderá satisfazer as suas necessidades sem desperdiçar muito dinheiro.

São estes enormes poetas que fazem de Portugal o grande país que é!

O Dr. Barreiros e o Dr. Toy querem fazer de conta que são grandes poetas brejeiros, mas não passam de lavajões malcriados. Desconhecem a elegância da poesia satírica.

A propósito, talvez não seja má ideia recordar um dos sonetos de Bocage. Talvez estes dois doutores percebam a diferença, embora duvide.

“É pau, e rei dos paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser árvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro

Verga, e não quebra, como zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro, tem o umbigo;
Brando às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro;

À roda da raiz produz carqueja;
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um u;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu.

É o que eu desejo ao Dr. Barreiros e ao Dr. Toy.

Benfica tira Portugal do Processo por Défice Excessivo

António Costa e Mário Centeno estiveram ontem no Estádio da Luz a assistir à vitória do Benfica por 5-0 ao Guimarães e, assim, conquistar o Tetra-campeonato.

Aproveitaram a oportunidade para agradecer ao Benfica a saída de Portugal do Processo por Défice Excessivo, feito só conseguido graças à conquista do 4º campeonato consecutivo e do 36º, no cômputo geral.

A importância desta conquista foi confirmada por diversas entidades internacionais: o próprio Papa foi-se embora mais cedo para poder assistir, via Benfica TV, ao jogo decisivo; também Emanuel Macron adiou para hoje a tomada de posse como Presidente dos franceses para poder assistir ao jogo.

Escusado será dizer que a vitória de Salvador Sobral aconteceu graças, não só à simplicidade da canção, mas sobretudo ao facto de toda a gente, dos sérvios aos gregos, estarem com os olhos postos em Portugal, quanto mais não fosse, por solidariedade para com Feija, Mitroglou e Samaris.

Com a ida ao Estádio da Luz, António Costa deve ter perdido os votos de muitos sportinguistas e portistas, mas como foi a Fátima e aguentou a missa papal toda, em pé, e ficou com os filhos do pateta do Tavares na sexta-feira, deve safar-se nas próximas eleições.

Agora vos digo: quem for ateu, do Sporting e só gostar de música erudita, hoje deve sentir-se muito infeliz ao ver os telejornais.

Pensando melhor, se é do Sporting, deve ser religioso e acreditar em milagres e, muito provavelmente, nem sabe o que é música erudita.

Compensações…

Parvoíces

Então sempre vamos ter a nossa manifestação parva, convocada através do Facebook, à imagem da revolução egípcia.

Os parvos, isto é, a malta que não se importa que lhe chamem “geração parva”, irão para a Praça Al Tahrir cá do sítio, manifestar-se contra esta sociedade onde, segundo o inspiradíssimo poema da canção dos Deolinda, “para ser escravo é preciso estudar”…

Confesso que o primeiro álbum dos Deolinda até me entusiasmou; mas esta cançoneta que, de repente, serve de bandeira a algo que ninguém sabe o que é, a mim é que me deixa parvo.

A pobreza da letra é confrangedora, mas glorificada nas páginas dos jornais e nos blogs por tipos que dizem fazer parte desta geração “à rasca” – geração que, voltando aos versos, é “sem remuneração” mas que, afinal “ainda me falta o carro pagar”.

Sempre gostava de saber qual é o escravo que, sem remuneração, tem um carrito…

Uma rápida pesquisa no Google permite-nos saber que os três elementos dos Deolinda nasceram em 1978 e têm, portanto, 33 anos – uma idade verdadeiramente parva!

São, portanto, da geração dos meus filhos e se, segundo a letrinha da cantiga, ainda andam a estudar, algo vai mal, porque os meus filhos terminaram os seus cursos aos 22-23 anos.

Ou então, é por isso que eles dizem que são da geração parva, da geração que precisa de 10 anos para fazer uma porcaria de um curso, sem que nunca lhe tenha passado pela cabeça… trabalhar, fazer um cursinho de electricista ou de cozinheiro ou de bate-chapas, ou qualquer coisa assim.

Geração à rasca, cada um com o seu iPhone?

Geração parva, cada um com o seu mac?

Desculpem-me a franqueza mas agradecia que fossem dar banho ao cão.

Previsões para 2011

“Senhor Arcanjo, vamos jantar; caem os anjos no alguidar”*

O José Sócrates, que é engenheiro; há-de sofrer o ano inteiro
O Ministro Teixeira, que é das Finanças; vai para casa, limpar faianças

E o Cavaco, que é Presidente; vai ser eleito mas cai-lhe um dente
E ao Alegre, que é derrotado; cai-lhe a barba num oleado

Fernando Nobre, que confusão; é acusado de obstipação
João Jardim, que alegria!; morre afogado em aletria

Beringelas e couves das hortas; são estrumadas p’lo Paulo Portas
E o bloquista Xico Louçã; vai dar pulinhos como uma rã

O Sr. Pedro Passos Coelho; morre de susto ao ver-se ao espelho
E aquele tipo do PCP; fica quieto, não sei porquê

Quanto ao Sr. Ângelo Correia; ai vai levar uma tareia
E a gerência do BPN; não vai dizer iésse ui quéne

E quanto à dívida, que é soberana; fica a dieta, só de banana
E os mercados de capitais; serão dissolvidos em vários sais

O franciú, Sr. Sarkozy; vai para a cama com o FMI
E Angela Merkel, que é muito má; vai limpar lixo com esta pá

O Zapatero, espanholito; mantém-se à tona, mas aflito
E o Berlusconi, italiano; chupa um mamilo, mas por engano

E da Europa civilizada, já resta pouco ou quase nada

“E as quatro filhas do marajá; vão de patilhas beber o chá”*

* “Senhor Arcanjo”, letra e música de José Afonso

Lugares comuns

Para mim, o Pedro Abrunhosa não me diz nada. Acho pateta aquela encenação da cabeça rapada e os óculos escuros e acho que o tipo já tem idade para ter juízo. Achei-lhe alguma graça, lá por volta de 1995, quando era preciso ter calma e ele não dava o corpo pela alma, mas foi mais à custa do americano do saxofone. Daí para cá, uma vulgaridade.

Acontece que a TSF tem uma obsessão pelo Abrunhosa e pelo Jorge Palma, algo que não se percebe. Ou é doença dos locutores de continuidade ou há explicações mais prosaicas. Enfim… o que acontece é que tenho o rádio que está por cima da sanita sintonizado para a TSF. É lá que oiço as notícias das 7 da manhã, todas as manhãs. E, antes das notícias, é muito frequente levar com o Palma ou o Abrunhosa.

Estou-me a cagar para ambos, literalmente, mas irrita-me a vulgaridade armada ao pingarelho…

Explico melhor:

Tinha eu cerca de 14 anos quando os meus pais me ofereceram uma guitarra. Adolescente com guitarra e que aprenda meia dúzia de acordes, começa logo a compor canções. É dos livros. Então, eu compus uma canção intitulada “Vou”, apenas com três acordes, o mi, o ré e o lá, tudo em tom maior, claro.

Orgulhoso, decidi mostrar essa minha canção num jantar familiar. Uma das estrofes da cantiga dizia: “sozinho pela estrada/ com os bolsos cheios de nada/vou…”

Aí, o meu tio Xico, que era jornalista no Mundo Desportivo, zombou: “com os bolsos cheios de nada? que parvoíce é essa? se estão cheios, não podem ter nada…”

Eu ainda pensei em explicar que aquilo era uma figura de estilo, uma coisa poética e tal, mas quem era eu para pôr em causa a sapiência de um tio, ainda por cima, jornalista?

Passaram 40 anos e oiço o Abrunhosa, na sua cantiga “Fazer o que ainda não foi feito”, a dizer que tem “uma mão cheia de nada”!

A cantiga, que também só tem três ou quatro acordes, é o cúmulo do lugar comum, quer na música, quer na letra, incluindo pérolas como “trago-te em mim, mesmo que chova no verão”, “és um mundo com mundos por dentro”, “amanhã é sempre tarde demais”, “esse teu corpo é o teu porto” e outras banalidades assim.

E a TSF, que passa tão pouca música, gasta minutos com vulgaridades destas.

Ó Abrunhosa, vê se amadureces, pá que eu, aos 14 anos, já tinha os bolsos cheios de nada!

Obrigado, Doug Fieger

Em 1973 saíram “Dark Side of The Moon”, dos Pink Floyd e “Houses of the Holy”, dos Led Zeppelin.

Depois disso, entreguei-me à música popular brasileira (Chico, Caetano, Gilberto Gil), à música portuguesa de intervenção  (Zeca, Zé Mário Branco, Sérgio Godinho, Adriano Correia de Oliveira…) e à chamada música erudita.

Papei de tudo, da Handel a Xenakis, de Mozart a Bartok, de Beethoven a Eric Satie.

Com o 25 de Abril, a coisa ainda se agravou mais. Era reaccionário gostar de rock’n’roll.

Foi em 1979, a fazer o estágio de Saúde Pública, em Armamar que, sem acesso ao gira-discos, recomecei a ouvir a Rádio Comercial e foi “My Sharona” que me fez voltar a bater o pé no chão, a compasso e, sem que ninguém visse, a abanar a cabeça, ao ritmo frenético dos Knack.

Deixei-me de preconceitos e recomecei a ouvir pop-rock.

O responsável foi Doug Fieger, líder dos Knack.

Morreu no passado domingo, com a minha idade, e um tumor cerebral.

Não conheço mais nenhuma música dos Knack, mas obrigado pela Sharona, pá!