Kadhafi aconselha: metralha com moderação

A cimeira Europa-África, que decorre este fim-de-semana, em Lisboa, é uma autêntica colecção de cromos e, de entre eles, destaca-se o líder líbio, Muammar Kadhafi.

Kadhafi gosta de viajar com a tenda atrás. Não confia na segurança dos hotéis e prefere fazer ó-ó na tenda que transporta consigo. Este fim-de-semana, o homem mandou instalar a tenda no Forte de S. Julião da Barra mas, como a tenda não tem ar condicionado, parece que Kadhafi tem rapado um barbeiro dos antigos.

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Entretanto, fez publicar na imprensa, um anúncio de página inteira que é um verdadeiro monumento às alucinações provocadas pelo deserto.

O anúncio começa com a frase «bem-vindos ao site oficial de Muammar Al Gathafi» e continua com a afirmação «a Convenção de Otava de 1997 deve ser revista».

Essa Convenção é sobre minas terrestres e Al Gathafi está de acordo com algumas partes do texto. Está de acordo, por exemplo, com a decisão de «retirar todas as minas anti-pessoal e anti-tanque e outras por explodir em cerca de 60 países» e está de acordo com «o tratamento e a reabilitação das vítimas».

No entanto, o líder líbio não está de acordo com:

«1. A total proibição do fabrico e utilização de minas terrestres

2. A destruição da reserva de minas terrestres»

Não sei porquê, mas parece-me que existe aqui uma contradição: por um lado, Kadhafi aceita que se destruam as minas ainda por rebentar, mas é contra a proibição do fabrico de novas minas!

E porquê?

O texto do anúncio é elucidativo: «os países fortes, que são capazes de violentar a terra dos outros para os destruir com as suas armas estratégicas mortais, nunca pensaram nas necessidades dos fracos que não têm armas ofensivas; que não têm outra coisa a não ser armas defensivas como minas.»

Por outras palavras: Kadhafi é contra as minas que não chegaram a explodir, nos países em que já não há guerra – mas é a favor de que as minas continuem a explodir nos países que ainda estão em guerra.

Enfim, o sol do deserto é forte e o aquecimento do encéfalo produz coisas deste género…

 

Mas o Público de hoje traz outro anúncio de página inteira, ainda mais curioso.

O anúncio chama a atenção para o site de Kadhafi, em www.algathafi.org.

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E tem esta frase engraçadíssima: «o perigo das armas metralhadoras contra os seres humanos baseia-se no seu uso exagerado».

É como o álcool, que se deve consumir com moderação – também as metralhadoras devem ser usadas com conta, peso e medida.

Metralha os teus inimigos, mas com moderação. Mata-os só um bocadinho, acerta-lhes só com meia dúzia de balas da tua arma metralhadora, não os fures todos de um lado ao outro, segue a palavra de Kadhafi.

Mas o líder líbio diz outras coisas que não parecem fazer sentido (lost in translation?…), como, por exemplo: «a análise intelectual é o código dos acontecimentos»; ou ainda: «pela piedade humana há necessidade de apoiar o meu apelo para anular as armas metralhadoras exceptuando as outras armas convencionais».

Por favor, Kadhafi, sai da torreira do sol, homem!

 

2 thoughts on “Kadhafi aconselha: metralha com moderação

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