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O Coiso
O melhor do meu Pão Comanteiga

Peixes

Programas emitidos a 31 de Maio e 6 de Junho de 1981

FRASES

* Todos os carapaus, quando são pequeninos, chamam-se Joaquim.

* Um bacanalhau é um bacanal de bacalhaus.

* O salbonete é um peixe muito asseado.

* Camarões não é peixe. É um país africano...... como a República Popular do Congro.

* A enguia viaja centenas de quilómetros para desovar, descendo os rios até ao mar. É a chamada enguia turística.

* Limpe o rabo à pescadinha antes de lho enfiar na boca.

* Os peixes de aquário andam com os signos trocados.

* A pescada, antes de o ser, já o era? É este o cherne da questão.

* O chicharro, o cachucho e a xaputa são peixes que abundam na Beira Alta. A sua designação em português correcto será: sissssarro, cassusso e saputa.

* Já reparou que os peixes, quando chegam a terra, vêm sempre de boca aberta, ofegantes. É natural - vêm a nado...

* Quando o peixinho está assado, deve-se aplicar pó de talco.

* O pavão não é peixe mas tem pena...

* Ele era um peixe tão estúpido que nem sequer sabia nadar...

* Nos rios pouco profundos só é permitida a pesca de rastos.

* "Ruibarbo... Capatão... Tramelga... Savelha... Abrótea... Chiça! Há peixes com nomes tão esquisitos!" - exclamou Nabucodonosor.

* Será verdade que o goraz tem cara de pargo?

* Peixe azarento foi aquele que morreu afogado...

* Um grupo de Jaquinzinhos nem sempre é um cardume - pode ser um infantário...

* A amêijoa distingue-se do berbigão pelo preço.

* Quando fizer caldeirada de cação, não se esqueça da cedilha.

* Quem matou o Mar Morto?
Quem pintou o Mar Vermelho?
Quem sujou o Lago Titicaca?

* Os chocos serão animais de tinta permanente?

* Um caranguejo sem categoria é um carangajo.

* Se pela boca morre o peixe, coitado do xarroco!

RECEITAS

1. Carapaus com molho de escabeche
Compre duas dúzias de carapaus, dos maiores, e coloque-os em fiada, numa travessa.
Prepare um pouco de farinha, um fio de azeite muito ordinário, uma faca de dois gumes, um tacho barrado de margarina e do sal o menos.
Escolha o carapau mais bonito e, com o bico da faca, extraia-lhe, cuidadosamente, um olho.
Seguidamente, pegue num jornal qualquer e recorte um M. Junte o M ao olho e deite ambos no tacho, que pode ir ao forno, se quiser. Misture com cuidado, de modo a que o M fique à frente do olho - só assim será molho.
Depois, chame a família toda e façam um escabeche dos diabos.
É nessa altura que deita rapidamente os carapaus para dentro do tacho e que come o pão com manteiga.
Acompanha-se à porta.

2. Pescada descosida
Escolha uma boa pescada e coloque-a sobre a bancada da cozinha.
Mas coloque-a bem - não a deixe mal disposta.
Em seguida, com uma faca bem afiada, sorte a pescada em postas com cerca de 5 centímetros de espesssura. É então a altura de utilizar a agulha e linha âncora. Coza as postas da pescada, umas às outras, de modo a simular que o bicho continua inteiro. A pescada está, portanto, cozida.
E pronto: agora basta descozê-la!
Chame os amigos e convide-os a provar um pouco da pescada que tão primorosamente descoseu...
E, se não gostarem, deitem a pescada abaixo.

ESTORINHAS

1. O Sável
Andava o Sável pescada abaixo, pescada acima, à procura de um peixe para escamar. Foi quando viu a Faneca, na garoupa de um cavalo marinho.
- Barbatanas ao ar! Isto é um assalto de peixe!
A Faneca ficou assustada e não cumpriu imediatamente a ordem do Sável.
- Barbatanas ao ar, já disse! Começo a ficar escamado contigo! Passa para cá o dinheiro ou aperto-te as guelras!
Num acesso de coragem, a faneca retorquiu:
- Deixa de arrotar postas de pescada! Atum isto faz-se à tua melhor amiga?! Se queres dinheiro porque não vais ganhá-lo, em vez de robalo?!

2. Peixeirada
Bateram á porta.
Pancadas secas que ecoaram pelo oceano.
Aflita, a Pescada perguntou:
- És tu'rjão?
Não houve resposta. Só o silêncio sepulcral das profundezas. A Pescada tentou de novo:
- És tu'barão?
Nada. Agitada, a Pescada tentou ainda:
- És tu'bias? És tu'mé? És tu'milho? És'tu'pido?
Finalmente, uma voz se fez ouvir, do outro lado da porta:
- Não, minha parva! Sou Eu'clides!
Não era.
Era Ele'fante.
E foi uma peixeirada.

QUE É UM PEIXE?
Após aturados estudos, a equipa do Pão Comanteiga chegou à brilhante conclusão de que os peixes abundam na água, excepto na canalizada; diferenciam-se dos restantes animais por diversas características. Assim, e muito resumidamente, vamos dizer-lhe o que é um peixe. Você sabe mesmo o que é um peixe? Tem a certeza? Nós damos-lhe uma ajuda...
Os peixes são uma classe de animais que não possuem pernas, braços ou asas. Não têm também orelhas, nariz, umbigo ou sequer unhas. Não usam saias, calças, casacos, sapatos ou qualquer outro tipo de vestimenta. Daqui se tira a 1ª conclusão: os peixes andam nus. Completamente! Estes estranhos animais não possuem cabelos mas também não se pode dizer que sejam carecas; não usam óculos mas, que se saibam, não sofrem de miopia; não têm pulmões mas lá se vão aguentando; vão ao fundo mas não se afogam e andam sempre molhados mas nunca se constipam.
Os membros dos peixes chamam-se barbatanas e podem ser pares, ímpares ou nem uma coisa nem outra. No que respeita a barbatanas, os peixes são bichos muito certinhos: a barbatana ventral está no ventre, a dorsal no dorso e a caudal na cauda. Os peixes têm, pois, tudo no sítio.
Os seláceos têm a pele coberta de escamas revestidas de esmalte, algumas delas metalizadas, dispostas como as telhas de um telhado, mas sem chaminé. Nos teleósteos, as escamas podem ser de bilros ou de aparite folheada a pinho. Outras espécies, em vez de escamas possuem divãs, daqueles de abrir e fechar, de casal ou de corpo e meio. Quanto à coluna vertebral, é formada por vértebras, umas atrás das outras, ou em cima umas das outras, se o peixe estiver a fazer o pino. Desconhece-se se os peixes sofrem da espinha, mas é certo não possuírem bicos de papagaio. Aliás, não possuem bico. Ainda melhor: não possuem!
A respiração é difícil, como se pode calcular, mas eles lá se safam, com as guelras, brânquias ou prêtias, conforme a raça dos peixes. A água entra-lhes pela boca, inunda as guelras, deixa lá ficar o oxigénio e absorve as bilhas, e sai depois para o exterior por orifícios branquiais especiais, denominados orifícios branquiais especiais. Isto nos seláceos, claro! Porque nos teleósteos, esses orifícios podem chamar-se opérculos ou áchalos. Nos ciclóstomos, como a lampreia, nem se fala!... Aliás, lampreia que vai adiante, alumia duas vezes, como toda a gente sabe... Alguns peixes possuem uma bexiga chamada natatória e que deve servir para nadar ou então é só para ostentar. Sabe-se lá!
O coração tem apenas duas cavidades ou buracos: o primeiro e o segundo. O sangue entra pelo primeiro e sai pelo segundo, ou vice-versa, o que vai dar no mesmo. O intestino, nos peixes, é extremamente simples. Praticamente é só a boca e o rabinho. Talvez tenham também estômago mas, se não tiverem, não faz mal nenhum. No bacalhau, o fígado é enorme e serve para fazer óleo, gasóleo e mesmo petróleo.. Isto toda a gente sabe.
Em geral, os peixes são gonocóricos, isto é, têm os sexos separados. Esta é que você não sabia! Confesse lá a sua ignorância piscícola!... Você, de piscicultura, não sabe nada! Pois é, os peixes têm os sexos separados e reproduzem-se porque sim e nunca por amor. Não ligam a essas coisas... De qualquer modo, no que respeita à reprodução, são bichos com hábitos bem estranhos. Assim, as enguias desovam no Atlântico e as crias vão aparecer nos rios ou mesmo nas peixarias. O salmão, por exemplo, tem a mania de subir os rios, depois de desovar, o que prova que é um animal saltador ou, pelo menos, prova que é um animal que sobe os rios depois de desovar. De um modo geral, os peixes são ovíparos ou opíparos, havendo também q\uem diga que se reproduzem por sinciparidade, nãonãoparidade, simples paridade ou de outro modo qualquer.
E isto é um peixe.
Se não acredita, pode consultar uma destas três obras, onde encontrará abundante material de estudo sobre peixes: "Robovalhos na vida um médico", de Fernando marmota, "As minas de salmão", traduzido e assssado por Eça de Irós e ainda "Angústia para o jantar de ensopado de enguias", de Luis Carapau Monteiro.

COMO ESCOLHER E PREPARAR UM PEIXE
Para preparar qualquer prato de peixe, é necessário, sobretudo, saber escolher os peixes. Nem todos servem. Aqui vão alguns conselhos:
Sabe-se se um peixe está fresco pondo-lhe a mão em cima ou medindo-lhe a temperatura com um termómetro vulgar, que deverá ser colocado debaixo da barbatana dorsal. Podem ainda usar-se daqueles adesivos que se põem na testa, e que nos dizem rapidamente se o peixe tem febre ou está fresquinho.
Como se sabe, há peixes de água doce, de água salgada e de água estagnada - estes, mais conhecidos, por batráquios. Qualquer destes serve para um bom cozinhado, desde que esteja bem fresquinho.
Depois de escolhido o peixe, é necessário amanhá-lo. Para isso, tiram-se as escamas uma a uma, com a ajuda de uma pinça, e enrola-se o bicho num cobertor, para que não fique nu. Em seguida, arrancam-se as guelras, dá-se um golpe no ventre, para esvaziar a barriga, tiram-se os olhos, sacam-se as espinhas, corta-se o resto aos bocadinhos e atira-se com tudo para o lixo.
Chegou então a altura de lavar o peixe em várias águas, com um bom sabonete anti-alérgico e tempera-se com sal, pimenta, cebola às rodelas, um pouco de tinta da china, sumo de limão e cerca de 2 decilitros de mercúrio-cromo. E pronto! O peixinho está preparado para a confecção de qualquer delicioso prato. Como, por exemplo, o famoso...

PUDIM DE PEIXE
Ingredientes: uma posta de peixe, pão duro, uma garrafa com um litro de leite, uma lata de graxa castanha, duas colheres, 250 gramas de manteiga, outra posta de peixe, uma escova de dentes, 2 quilos de cimento, 3 gemas de ovos, sal, pimenta, farinha, basalto quanto baste e o que mais adiante se verá. Como fazer: desfia-se muito bem uma posta de peixe previamente assado, cozido, grelhado, frito ou, pelo menos, cru. Desfaz-se à martelada cerca de 200 gramas de pão duro e varrem-se as migalhas para debaixo do tapete. Mistura-se tudo com a garrafa de leite, tendo o cuidado de não tirar a tampa para que o precioso líquido não se escape e deita-se numa tijela, previamente barrada com graxa castanha. É conveniente não usar auto-brilhante. Em seguida, bata 3 gemas de ovo em castelo ou, pelo menos, em palácio, junta-se-lhes duas colheres e vai ao forno. À parte, descasca os camarões ou, à falta deles, descasque amendoins, que deve polvilhar com os 2 quilos de cimento, juntando ainda uma pedrinha de basalto para ajudar á digestão. Quando o molho estiver preparado, deite-o na tijela que, entretanto, deverá ter estalado com o calor do forno. Óptimo. É assim mesmo que se pretende. Varra também os cacos para debaixo do tapete, enquanto desfia a outra posta de peixe para um grande tacho, que fica a aquecer em lume brando. Aguarde cerca de 5 minutos ou espere pelo dia seguinte, retire o tacho do lume e sacuda o tapete lá para dentro: cairão as migalhas do pão duro, as cascas, os cacos e talvez uma ou outra coisa inesperada, que dará um toque de surpresa a este delicioso pudim. Finalmente, barre tudo com tinta de esmalte e acompanhe os convidados ao hospital.

 

 

Actualizado em: 5 de Agosto
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