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O Coiso
Um dia destes...

Abril 2006:

Coisas que acontecem

| Desaparecidos em combate político | Fumo público, vícios privados | Os novos pecados, segundo Ratzinger | Presidentes com três nomes | O empate Berlusconi-Prodi | Anti-tabagismo hipócrita | Vernáculo em câmara lenta | A Ciência avança, Deus recua | Deixem a PJ trabalhar! | Sempre quero ver esse milagre | Simplex sed lex | Que é feito dos nervos? | Coisas que eles dizem |


Quarta, 19 de Abril
Desaparecidos em combate político
Na passada quarta-feira, 120 deputados faltaram à habitual votação semanal. A maior parte deles, assinou o livro mas, depois, ausentou-se para parte incerta. Por não haver quórum, a votação não se realizou.

O facto de, no dia seguinte, ser 5ª feira e haver meio-dia de tolerância de ponto e, no dia seguinte, ser 6ª feira santa e feriado nacional, seguindo-se o fim-de-semana da Páscoa, não passa de pura coincidência.

Desses 120 deputados, 49 era do PS e 50 do PSD.

Dos três deputados do CDS-PP que faltaram, dois fizeram-no porque foram pais, o que é sintomático...

O líder da bancada do PSD, Marques Guedes, disse que a culpa de não ter ocorrido votação é do PS, porque é à maioria que cabe a obrigação de garantir o quórum. O que quer dizer que a Oposição não serve para nada. Por exemplo, já que 49 deputados do PS faltaram, se os do PSD estivessem todos presentes, a Oposição poderia ter derrotado a maioria. Mas isso não interessa nada, pelos vistos.

O Presidente da Assembleia decidiu armar-se em duro e marcou falta àquela malta toda. Os faltosos já foram notificados e vão ter que entregar a respectiva justificação.

Sempre quero ver qual vai ser a justificação que eles vão apresentar: uma súbita epidemia que os atacou, atirando-os para o leito, enfermos, com vómitos e diarreia? Algo que comeram na cantina da Assembleia e que estaria contaminado com salmonelas antidemocráticas? Um primeiro surto de gripe das aves que, como se sabe, ataca forte nos passarões?

Alguns dos deputados faltosos falaram em trabalho político. Teriam faltado porque estariam a realizar trabalho político! Então, votar as leis não é o principal trabalho político dos deputados?

E nós, queixamo-nos de quê?

Não é verdade que cada país tem os deputados que merece?

Não é verdade que Portugal é um dos países europeus com mais baixa produtividade?

Não é verdade que nós, só não damos o golpe lá no emprego, se não pudermos?

Estou solidário com os deputados faltosos!

A maior parte das vezes, os tipos não estão a fazer nada no Parlamento. Tirando meia dúzia deles, que se sentam nas bancadas da frente, o resto, só lá está para fazer número.

Portanto, já que não fazem a ponta de um corno, decidiram ir fazer isso mesmo para outro lado. Parece-me correcto.

Desde já, ofereço os meus préstimos.

Eu que todos os dias passo inúmeras declarações médicas, para justificar a falta do menino à creche (à pré-primária, à escola, aos tempos livres, à natação, etc) por doença, para justificar a falta da mãe, ao trabalho, para cuidar da criança, mais declarações a dizer que o menino já pode voltar à creche (à pré-primária, à escola, à natação, etc), porque já está bom da varicela, mais declarações a justificar a falta do desempregado a uma entrevista no centro de emprego porque acordou de manhã com um ataque de pé de atleta, mais declarações a justificar a falta a uma junta médica de um doente que está de baixa porque, logo por azar, naquele mesmo dia, lhe deu uma volta à barriga e ficou de caganeira - eu, que todos os dias tenho que passar todas estas declarações médicas, não me importo nada de passar 120 declarações aos 120 deputados que faltaram à votação, na passada quarta-feira.

Escreverei, então, o seguinte:

"Para os devidos efeitos se declara que o Sr. Deputado Fulano de Tal, faltou, no passado dia 5 de Abril, à votação da Assembleia da República, por sofrer de gastroenterite aguda muito acentuada, estando-se permanentemente a cagar para o cargo que ocupa."

Sábado, 15 de Abril
Fumo público, vícios privados
O meu texto sobre as medidas restritivas do fumo do tabaco, estão a causar uma chuva de mail dos leitores do Coiso.

Os textos estão aqui.

Quinta, 13 de Abril
Os novos pecados, segundo Ratzinger
A Santa Sé, pela voz do cardeal Francis Stafford, delegado do Papa, acaba de anunciar novos pecados: fazer buscas na internet, ler jornais, ver televisão ou falar ao telemóvel.

Não se importa de repetir?

O Vaticano anunciou hoje a lista dos novos pecados aprovados pelo Papa: fazer buscas na internet, ler jornais, ver televisão ou falar ao telemóvel.

Terei lido bem?

Li, sim senhor.

Argumentação:

"o delegado do Papa apresentou uma série de perguntas a que os fiéis devem responder, em exame de consciência, antes de se aproximarem do sacramento da penitência.

Dessas questões fazem parte a forma como se passa o tempo, exemplificando-se o caso do tempo despendido com os media, em comparação com o tempo a «meditar e a ler a sagrada escritura».

Logo, passar muito tempo a ler jornais, ver televisão e navegar na Internet diminui a fé cristã."(in Diário Digital de hoje)

Cometi um pecado porque, confesso, andei à procura na Net, de notícias sobre esta coisa verdadeiramente inacreditável.

Os tipos do Vaticano sofrem mesmo de delírios autistas!

Imaginem, agora, um tipo que passa horas a ver televisão enquanto cobiça a mulher do próximo.

Ou outro tipo que procura na internet a melhor maneira de preparar um veneno para matar o vizinho.

Ou a senhora que passa a tarde a ler os jornais do dia, enquanto se empanturra com brioches.

Qualquer destas pessoas vai parar directamente ao inferno, sem passar pela partida, nem receber 2 contos!

Neste momento, a azáfama nas editoras bíblicas deve ser enorme, todos a alterarem os catecismos. Os senhores e as senhoras que dão catequese (note-se que a catequese é uma coisa que se dá...), devem estar a inscrever-se rapidamente em cursos de actualização de conhecimentos, para depois poderem ensinar aos meninos e meninas que, para além da luxúria, da gula, da cobiça e de todos os restantes pecados mortais, agora também é pecado, por exemplo, gastar muito tempo a ver televisão, em vez de estar sentadinho a ler a Bíblia.

O Ratzinger passou-se!

Presidentes com três nomes
Só os presidentes dos clubes de futebol têm direito a ser nomeados com, pelo menos, três nomes. A excepção é o presidente do FCP, que tem direito a quatro nomes.

Os presidentes da República têm que contentar-se com dois nomes, ou mesmo só com um.

Atentemos. Presidentes da República: Carmona, Tomaz, Spínola, Costa Gomes, Eanes, Soares, Sampaio, Cavaco. Só para citar alguns.

Presidentes de clubes de futebol: Jorge Nuno Pinto da Costa (o tal dos quatro nomes), Luís Filipe Vieira, Filipe Soares Franco.

Nunca se diz, por exemplo: o presidente do FCP, Costa; ou, o presidente do Benfica, Vieira. Mas diz-se, à vontade: Cavaco visitou o Hospital D. Estefânia; ou, Soares lançou as suas memórias.

Qual será a razão desta forma diferente de tratar os presidentes?

Será porque o presidente da República, por ser eleito por voto directo, está mais perto do cidadão e pode ser trado desta forma, digamos, mais coloquial: ó Sampaio, ficaste bem nesta fotografia! Que pena, Soares, teres acabado a tua carreira desta maneira! Ó Cavaco, agora vê lá se não comes bolo-rei com a boca aberta!

Já com os presidentes dos clubes, a coisa fia mais fino. Eles são, afinal, eleitos por uma pequeníssima minoria dos adeptos de cada clube. Quantos adeptos terá o Benfica? Dizem que são 6 milhões. Exagero, claro. Não devem ser mais que 5 milhões e 700 mil. Mas quantos votaram no Vieira? Dez? Trinta? Vá lá, 2 456?

Portanto, com os presidentes dos clubes, há que guardar uma certa distância, não é verdade, Sr. Jorge Nuno Pinto da Costa?

E é por essa razão que, agora que vão decorrer as eleições para presidente do Sporting, eu tenho a certeza que o vencedor será o Filipe Soares Franco, porque é o único candidato com três nomes.

Quarta, 12 de Abril
O empate Berlusconi - Prodi
A Itália seguiu o exemplo da Alemanha - e já não é a primeira vez que isso acontece na História.

O ano passado, a esquerda e a direita alemãs, ficaram empatadas nas eleições e foram precisas semanas de negociações para se chegar a um entendimento.

Agora, foi a vez de, na Itália, também a esquerda e a direita dividirem os votos ao meio. Parece que a esquerda terá tido mais 24 mil votos que a direita e Prodi clamou vitória. No entanto, Berlusconi não aceitou ainda a derrota e, apesar de ser um pedante energúmeno, temos que lhe dar razão. Nas eleições de há 5 anos, a diferença entre a primeira contagem de votos e a contagem final, foi de 36 mil votos. Ora se, neste momento, após a contagem oficiosa, a esquerda vence por apenas 24 mil votos, é lícito pensar que, quando se fizer a contagem oficial, a direita acabe por ser a vencedora.

A culpa desta onda de empates está nas coligações.

Os alemães e os italianos quiseram poupar no tamanho dos boletins de votos e na tinta para os imprimir e, em vez de lá colocarem os nomes e os símbolos dos 425 partidos a concurso, resolveram dividi-los em dois: um bloco de esquerda e outro de direita. Na hora de votar, o italiano que detesta o petulante Berlusconi, não tem outro remédio senão anular o voto, ou votar no Prodi. Por sua vez, o italiano que não gosta do ar de beato do Prodi, ou anula o voto, ou vota no Berlusconi.

É a lógica do "ou és por nós, ou contra nós".

Felizmente, em Portugal, isso nunca vai ser possível.

Que se forme um bloco de direita, que congregue o PSD, o CDS e o PPM, é algo que já aconteceu e toda a direita aceitará.

Agora, no que respeita à esquerda, não estou a ver o PS aceitar estar metido no mesmo saco que o PCP e o Bloco de Esquerda, assim como não vejo o PCP aceitar juntar-se ao BE. Isto, apesar de, tanto o PCP como o BE não se importarem nada de se juntar ao PS.

Para já não falar da impossibilidade física do MRPP se juntar seja a quem for e de a Nova Democracia, do Sr. Monteiro, não ser aceite em coligação nenhuma.

Os italianos estão, portanto, divididos em dois e vai ser difícil governar nessas condições.

Não vejo outra alternativa que não seja a governação pelo sistema de condomínio: nos primeiros seis meses, manda o Berlusconi, nos outros seis meses, manda o Prodi.

A coisa ficou ainda pior, com a prisão, ontem, perto de Corleone, de Bernardo Provenzano, líder da Cosa Nostra, e que era procurado pela polícia há mais de 40 anos!

Com os partidos políticos divididos ao meio e o chefe da Máfia na prisão, quem governará a Itália?

Domingo, 9 de Abril
Anti-tabagismo hipócrita
Pronto: o ministro da Saúde lembrou-se da cruzada anti-tabagista! A proposta de lei está em discussão pública e está-se mesmo a ver que, em breve, será mesmo proibido fumar em restaurantes, bares e discotecas, centros comerciais, locais de trabalho, etc.

O governo português decide seguir o exemplo dos Estados Unidos, Espanha, Itália, Inglaterra e demais.

Faz mal. Muito mal.

Perde uma oportunidade de ouro. Assim como o sudeste asiático continua a ser o destino turístico preferido dos pedófilos, também Portugal poderia tornar-se o destino preferido dos fumadores. Se não fosse esta lei proibitiva, poderíamos assistir a um acréscimo do fluxo de turistas, que viriam a Portugal exactamente por ser um dos poucos países ocidentais onde ainda se podia fumar à vontade.

Mas não. O Estado quer o bem dos seus cidadãos e vai generalizar a proibição de fumar.

Ironia das ironias: aqueles que clamam contra o Estado, que pensam que o Estado se mete na vida das pessoas, restringido as suas liberdades, aplaudem esta medida com ambas as mãos.

Afinal, parece que precisamos do Estado para regular a vida das pessoas. E não era preciso. Os proprietários dos restaurantes, bares e discotecas podiam decidir: passaríamos a ter restaurantes onde se podia fumar, outros onde não se podia fumar e outros ainda que onde haveria locais para fumadores e locais para não fumadores.

O Estado está preocupado com a saúde das pessoas? Não está.

Apenas um exemplo: a tuberculose continua a aumentar em Portugal. Continuamos a ter um grande número de doentes com tuberculose multi-resistente, que tossem bacilos de Koch para cima de todos nós. O que faz o Estado? Institui a hipocrisia. Obriga-os à toma controlada dos medicamentos anti-tuberculose no domicílio. Todos os dias um enfermeiro, de máscara, vai a casa desses doentes, e dá-lhes a medicação, que eles têm que tomar à vista do enfermeiro. Depois, o enfermeiro vai-se embora e o doente pode fazer o que quiser, nomeadamente, continuar a contaminar o pessoal todo. Internamento compulsivo? Quase impossível! Seria limitar a liberdade individual.

Mas os fumadores, estão lixados! Está na moda ser anti-tabagista.

Quanto aos chamados fumadores passivos, nada está provado. Não existe nenhum estudo que possa afirmar que fumadores passivos tenham mais hipóteses de contrair doenças do que pessoas que nunca tenham estado em contacto com fumo de tabaco. Pela simples razão de que isso é tecnicamente impossível.

Aceita-se que cerca de 30% dos casos de cancro podem estar relacionados com o hábito de fumar. E os outros 70%?

Em resumo: não existem provas sólidas que justifiquem esta simples decisão - num restaurante, podes beber vinho, mas não podes fumar; podes comer gorduras, mas não podes fumar.

Portanto, voltamos ao princípio: é tudo uma questão de liberdade individual. Aceito que os não fumadores se sintam incomodados porque, ao lado, está um tipo a fumar. Mas, repito, para resolver este problema, não era preciso a intervenção do Estado. Segundo as estatísticas, os não fumadores são a maioria - eles que exijam restaurantes livres de tabaco. O Estado não tem nada que se meter nestes assuntos!

Quanto à ideia de colocar fotografias de cadáveres nos maços de tabaco, é tão idiota que até dói!

Já agora, por que não colocar fotos de cirróticos com ascite nos rótulos das garrafas de vinho, sujeitos com sequelas de AVC nos pacotes de sal e imagens de obesidades mórbidas nas caixas de bombons?

Vernáculo em câmara lenta
Se quer iniciar o seu filho no vernáculo da língua portuguesa, nada melhor do que sentá-lo no sofá, a assistir a um jogo do Sporting.

Logo aos dez minutos de jogo, assim que o árbitro apitar uma falta contra o Sporting, o seu filho poderá assistir ao treinador leonino Paulo Bento, em câmara lenta, a vociferar "PRÓ CARALHO, FODA-SE!".

Para que não se perca uma única sílaba, a câmara foca os lábios de Bento e acompanha-lhe os movimentos escandidos. Percebe-se tudo: "PRÓ CARALHO, FODA-SE!" - exclama ele, enquanto agita os braços e abana a cabeça.

Claro que o treinador do Benfica ou o do Porto talvez exclamem algo de semelhante. Mas, como são holandeses, a gente não percebe...

A Ciência avança, Deus recua
Segundo Doron Nof, oceanógrafo da Universidade de Miami, citado pelo Público, durante os últimos doze mil anos, houve momentos de condições meteorológicas muito invulgares no norte de Israel, que terão possibilitado a congelação das águas do mar da Galileia.

Sendo assim, diz um estudo daquele cientista, publicado no Journal of Paleolimnology, Jesus Cristo não terá andado sobre as águas mas, muito possivelmente, andou sobre gelo.

Assim, também eu!

Terça, 4 de Abril
Deixem a PJ trabalhar!
O Director da Policia Judiciária demitiu-se. Ou foi demitido. Depende do ponto de vista do observador.

Parece que havia uma mútua falta de confiança política.

Parece que o Governo queria cortar, à PJ, o acesso à Interpol.

Sem acesso à Interpol, como é que os agentes da PJ poderiam aceder, por exemplo a http://voyeurweb.com ?

Segunda, 3 de Abril
Sempre quero ver esse milagre
Fez ontem um ano que o Papa João Paulo II morreu.

As reportagens de tom encomiástico voltaram.

A crença de que o Papa é uma figura conhecida em todo o mundo, é apenas uma distorção de quem vê apenas o chamado mundo Ocidental. Vão até à China ou à Índia e perguntem aos camponeses se sabem quem foi João Paulo II - ou até, se sabem o que é um Papa.

Suspeito que encolham os ombros e façam a mesma figura que eu faria se me perguntassem quem é o líder espiritual dos Xintoístas, ou dos Budistas, ou dos Xiitas, ou dos...

Segundo dizia um repórter da TSF, "a canonização de João Paulo II corre sobre rodas".

Mas por que não deixam o Papa em paz?

Agora, só lhe faltava ser santo...

Claro que, para ser santo, tem que ter, pelo menos, um milagre, aprovado pela Igreja.

Sempre quero ver que milagre é que eles vão arranjar...

Ora, se João Paulo II foi um Papa tão mediático, sempre com os holofotes dos media sobre ele, seria natural que tivéssemos tido conhecimento de algum milagre que fosse de sua autoria. E assim de repente, não me lembro de nenhum..

Espero bem que não arranjem, à última hora, um milagrezito feito às escondidas, tipo ter pegado nas mãos de uma devota polaca, que logo começou a falar sânscrito fluentemente.

Confesso que estou curioso.

Domingo, 2 de Abril
Simplex Sed lex
Como propagandista, Sócrates é um grande primeiro-ministro.

Não precisa de almoçar com os jornalistas ou deixar que um assessor permita uma fuga de informação - ele próprio se encarrega de fazer a propaganda do seu próprio governo.

A apresentação do Programa Simplex foi um exemplo notável.

Bastou pegar numa série de coisas óbvias, que há muito tempo estavam à espera de arrumação, e chutar com elas para o lixo. Uma espécie de arrumar a casa, como todos nós fazemos de vez em quando. Quantas vezes, não temos uma pilha de papéis em cima da secretária, durante meses e, de repente, há um dia em que nos dá uma veneta e vai tudo raso. Pegamos naquilo tudo e chegamos à conclusão de que os papéis são completamente inúteis e já nem nos lembramos por que carga de água os conservámos em cima da secretária durante tanto tempo.

Assim fez Sócrates - e fez bem! Só que talvez não fosse preciso tanto alarido. Inventou o Programa Simplex, com logótipo, folhetos informativos, tapetes de rato e mais uma série de gadgets e apresentou 333 medidas para diminuir a burocracia. Reparem que não foram 334 ou 332 medidas. Foram exactamente 333 medidas, que é um número que tem muito mais impacto - embora já alguém tenha chamado a atenção para o facto de 333, noves fora, ser nada!

Mas quem se lembra do velho "noves fora"?

Todos assistimos ao primeiro-ministro, arengando a uma plateia embevecida, enquanto, ao seu lado, António Costa, deitava impressos num contentor, como quem diz, "há uma série de impressos que vão deixar de ser necessários, pelo que vão todos para o lixo mas, como somos um governo politicamente correcto, vamos deitá-los no lixo reciclável!"

Se isto não é marketing, onde está o marketing?

Mas pronto - o homem gosta de propagandear o que faz e não vem grande mal ao mundo. Desde que ele vá fazendo algumas coisas bem feitas, não o podemos censurar.

Triste é ver o espectáculo da Oposição. O pequenino Marques Mendes, a dizer que, após um ano de governo Sócrates, nada mudou e é tudo espectáculo. E, depois, ver os barões do PSD a apunhalarem-se afincadamente. Ou ver o pícnico Ribeiro e Castro, esbracejando, para sobreviver aos adeptos de Paulo Portas, num Partido cujos membros cabem, todos, num monovolume.

Não é óbvio que é positivo acabar com algumas regras burocráticas que não fazem sentido há anos?

Não é óbvio que algumas maternidades vão ter que fechar porque não reúnem as condições mínimas?

Não é óbvio que ninguém percebe por que razão os juízes hão-de ter mais férias que os outros?

Não é óbvio que as escolas com poucos alunos são um desperdício?

Não é óbvio que devem ser os professores a organizarem-se, para que os alunos não tenham furos e andem ao deus-dará, quando os professores faltam?

Não é óbvio que há agricultores que só vivem de subsídios?

Parece-me que isto (e mais, e mais), é consensual.

Por alguma razão, o governo Sócrates continua a ter bons índices nas sondagens.

No entanto, a Oposição (quer à direita, quer à esquerda) parece não ver isso e, em vez de atacar o governo nos temas certos, está atacá-lo em coisas que são do senso comum.

Claro que Sócrates corre um grande risco, como diz hoje o Pulido Valente: arrisca-se a, mexendo em tantas coisas, um pouco pela rama, acabar por deixar tudo como está, ou mais ou menos...

Que é feito dos nervos?
Aqui há uns anos, as pessoas tinham coisas "derivadas aos nervos".

Um tipo tinha dores de estômago, dores de cabeça, tremores, insónias, falta de apetite, diminuição da potência - tudo "derivado aos nervos".

Mas os tempos mudaram.

Agora, as pessoas têm "stress".

Ainda hoje, quando fui tomar o café da manhã, a empregada, sem nada para fazer, estava a limpar o tecto, pendurada num escadote e disse, em tom de desculpa: "não consigo estar parada! É um stress!"

E lá foi dizendo que se sentia mal por estar sem nada para fazer e, então, punha-se a limpar o tecto ou outra coisa qualquer, para aguentar o "stress".

O stress de não ter nada para fazer...

Não disse, como diria há uns anos: "fico enervada por estar parada!" Não - as pessoas deixaram de ter nervos e passaram a ter stress.

Que spleen!

Coisas que eles dizem
- "O sucesso do Estado não depende apenas do Estado e dos políticos. O sucesso do País depende dos portugueses"

Sócrates, primeiro-ministro

É esse mesmo o problema de Portugal...

- "È melhor ser fascista que maricas"

Alessandra Mussolini (filha do Duce)

Coitados dos fascistas maricas...

- "O problema do CDS é africano: o presidente não pode virar as costas que lhe fazem um golpe de Estado"

Ribeiro e Castro, líder do CDS

É pena que não conheça nenhum dirigente do CDS que seja negro...

- "O CDS deve tornar-se num partido mais sedutor, atractivo e sexy"

António Pires de Lima, membro destacado do CDS

Sim! Sim! Quero ver o Paulo Portas em negligé!




 

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Este é o Coiso do Artur Couto e Santos.
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