EXPOSIÇÕES
Programa emitido em 15 de Maio 1983
A primeira exposição
Após muitos anos de trabalho ia, pela primeira vez,
expor os resultados dos seus laboriosos estudos.
A sala estava às moscas, o que era óptimo.
Ele expunha três novos tipos de insecticida.
Bicha na exposição
Quando a exposição abriu ao público,
havia uma bicha à porta.
Durante 15 dias, a exposição manteve-se aberta
ao público, a bicha permanecia à porta mas,
visitantes – nem um...
Quando a exposição fechou, sem que uma única
pessoa a tivesse visitado, as bicha – uma aranha da
família das tomisidae – continuava à
porta, tecendo a sua teia...
A verdadeira história da
construção da Torre de Belém
D. Manuel vivia obcecado pelos descobrimentos. Quase todos
os dias chegavam viajantes à Corte, informando-o
das novas descobertas: o caminho marítimo para a
Índia, a menor distância entre dois pontos,
a melhor estrada para a Azambuja, a receita de pudim de
ovos e outras menos espectaculares, embora igualmente especulativas,
expectantes e expectorantes.
As descobertas eram tantas e tão profícuas,
profundas, prolixas, propícias, promissoras, profilácticas
e proféticas, que D. Manuel começou a pensar
em algo que pudesse perpetuar aqueles tempos, de modo a
que os vindouros recordassem sempre com saudade e admiração,
uma ponta de inveja e outra de Sagres , os grandes feitos
dos portugueses manuelinos.
Não queremos ser maldizentes mas parece que, dez
minutos depois de ter começado a pensar, se sentiu
ligeiramente cansado. Chamou os seus conselheiros e ordenou-lhes
que pensasssem em algo que perdurasse, perifrase, peristase
e peristalse, de um modo geral, evidentemente, os descobrimentos.
Os conselheiros pensaram.
Alguém se lembrou de mandar pintar um tríptico
em que, do lado esquerdo, se representasse Portugal, a meio,
o mar, e à direita, as terras descobertas.
D. Manuel aplaudiu a ideia 32 segundos e 2 décimos,
mas pô-la de parte. Era demasiado singela, sintética,
sincrónica, simbiótica e mesmo cibernética.
Outro conselheiro propôs um longo poema, que cantasse
os feitos lusos. El rei riu-se. Os poemas não cantam,
os poetas cantam mal, um poema longo seria uma chatice para
dividir as orações e, para chatice, já
bastavam as janelas manuelinas.
Foi o terceiro conselheiro, chamado Belém, que se
lembrou da Torre. A ideia era simples: pedra sobre pedra
até à construção final de uma
torre, semelhante à do jogo do xadrez, mas maior.
A construção começou logo a seguir
ao início dos trabalhos e, em breve, aí estava
ela, desafiando as intempéries, exposta ao Tejo,
à chuva e ao sol.
D. Manuel foi ver e gostou. Voltou-se para o terceiro conselheiro,
deu-lhe uma palmadinha nas costas e exclamou: “Que
grande Torre, Belém!... Agora, vamos construir o
Bispo!”
Felizmente, D. Manuel morreu pouco depois.
Consta...
Frases
* Um exposição é uma posição
que deixou de o ser.
* Em Vila Nova de Milhafres, um posto da Guarda foi transformado
em Centro de Saúde. Agora, toda a gente diz que é
no ex-posto que lhes tratam da saúde...
* De facto, uma exposição de arte não
passa de um artefacto.
* É no Museu Militar que a gente se ri dos canhões
com que eles, antigamente, matavam as pessoas...
* A exposição de pintura abstracta mais concreta
é a que se imagina...
Sem sentido de humor
As freguesas acusavam-no de aldrabão, constantemente.
Possuidor do único lugar de fruta e hortaliças
das redondezas, Armindo Arco do Cego era muito cioso dos
produtos que vendia e, temendo os garotos que passavam e
surripiavam uma nêspera, uma laranja ou um pimento,
guardava tudo atrás do balcão.
As freguesas, zangadas, tinham que se pôr em bicos
de pés e espreitar por cima do balcão para
ver a fruta do Sr. Armindo Arco do Cego. Protestavam, diziam
que nunca mais lhe compravam nada – mas acabavam sempre
por lá voltar porque ele possuía o único
lugar de frutas e legumes das redondezas.
Mas água mole em pedra dura, tanto dá que
já sabem o resto. Diariamente pressionado pela freguesia
e num acesso de raiva perfeitamente compreensível,
Armindo Arco do Cego deixou-se de receios e pruridos e,
certa tarde, decidiu expor a fruta toda cá fora,
ali no passeio, bem à vista de toda a gente.
Foi preso por um polícia sem sentido de humor.
Homenagem às mães
(no dia da mesma)
Mãe
23 letras apenas/ fazem palavras pequenas
como pão, sim, tem, rim, bem, vim/
ou palavras tão enormes
conforme...
Mãe
Tudo à nossa volta/ se revolta
E tu olhas, plácida/ calma, fria, ácida
Para a madrugada retumbante/ que cai nas ondas dos mares
Aos pares...
Mãe
Estamos à espera/ do dia, da noite, da esfera
Do guia, do açoite que gera/ a agonia
Do gato que sobe a ladeira
De madeira
Mãe
Somos milhões
Crocodilos, mexilhões/ vampiros e tentilhões
Mas somos sinceros/ valsas e boleros
Cantares, madrigais
E mais...
Mãe
Saciada ou em jejum
Lembra-te:
Nós só há um!
|