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O Coiso
O melhor do meu Pão Comanteiga

ET

Programa emitido a 30 de Janeiro 1983

* Naquela manhã chuvosa e quente daquele dia invernoso e estival, a calma e laboriosa população de Alhandra não podia calcular o que estava para acontecer.
Aliás, ninguém podia calcular – a não ser os serviços secretos, que haviam recebido a mensagem em código há mais de 3 anos.
Dizia assim:
“Narves copntesndop ulum esa-derrete, desparota me Arpasja”
Durante 3 anos, os serviços secretos andaram às aranhas. Apanharam 15, mas não conseguiram descobrir o significado da mensagem.
Perguntou-se, também em código:
“Ques quido essa zerdiz?”
A resposta veio, rápida:
“Vejam no dicionário!”
Viram. E perceberam que, naquela precisa manhã, uma nave descera em Alhandra.
A bordo... o ET.

* Aqui estúdios da Rádio Comercial em Alhandra, a transmitir em todos os seus emissores do sistema solar, Procion 5, Alfa de Centauro, Sirius 9 e, através do retransmissor orbital João David Nunes, para toda a zona oeste da galáxia.
Hoje, Pão Comanteiga, um programa humilde e espacial, realizado com a colaboração dos astronetos de Gagarine e transmitido pelas sondas da Rádio Comercial: a sonda média, o FM e a sonda laser, para todo o espaço cósmico.
Antes de mais nada, daqui enviamos as nossas saudações a todos os ouvintes, sobretudo os que sobrevoam o espaço português. Duas saudações especiais: uma para a nave Enterprise, extensiva ao seu comandante James T. Kirk, ao seu imediato Mr. Spock e a toda a tripulação; outra saudação espacial para a nave Galáctica e para o seu comandante Adama. E, já agora, um conselho: se continua à procura da Terra, não vale a pena o esforço – isto aqui está a cair da boca aos cães...
O PcM de hoje apostado em contar como foi a estadia do ET no nosso país, mais precisamente, em Alhandra – facto que atraiu ao nosso país mais dois turistas do que o previsto. Um deles – um tal Spielberg – decidiu aproveitar-se deste acontecimento para realizar um filme, que tem constituído grande êxito de bilheteira, endireitando as finanças da administração Reagan.
Como se sabe, as autoridades portuguesas decidiram não intervir, a fim de não prejudicar as próximas eleições. Numa atitude de expectativa, o 1º ministro em exercício, para fazer dieta, decidiu não fazer sequer uma comunicação ao país, pelo que o país se tem mantido incomunicável.
De Alhandra para todo a Galáxia, PcM – um programa do princípio ao fim para ouvir de uma ponta à outra e E Tê cétera...

* Em casa, um grupo de adolescentes mostrava publicamente a sua necessidade de se afirmarem como homens de amanhã, 31 de Janeiro de 1983.
Em redor de uma mesa comem salsichas com molho picante, enquanto jogam à lerpa. Há dois adolescentes com borbulhas na gasosa.
A mãe anda de um lado para o outro, mas pouco, porque a casa é pequena. Vê-se que está preocupada. O marido fugiu para Marrocos com uma mulher desconhecida – dessas mulheres que destroem lares com bulldozers.
Por isso, a mãe está agitada e faz coisas que não devia fazer: corre um cortinado sem pernas, fecha a boca sem trinco e afaga um gato com “o” numa panela a ferver com água evaporada.
Um dos adolescentes, mais petulante que o anterior, joga um sete de paus e afirma, peremptório, que deseja mais gasosa. Dá um soco na mesa, numa demonstração de violência desnecessária, própria da juventude revoltada com os valores da sociedade dominada pelos adultos e berra! Quer outra gasosa! E com carica!
Os presentes entreolham-se e os míopes ficam a ver tudo nítido.
Durante alguns segundos, todos pensam que a mãe será a pessoa indicada para ir buscar a gasosa: é a mais velha da sala, tem número de contribuinte, direito a voto, experiência de vida. Mas a mãe está muito agitada e há o perigo de poder entornar a gasosa pelo caminho.
Foi o mais pequeno, o seu filho mais novo, o do meio, o segundo filho, mais novo que o primogénito, embora mais velho que a pequena, uma graciosa garota entre os 5 e os 60 anos, de totós e caracóis, tranças e rabo de cavalo.
E o miúdo não tem outro remédio, xarope ou supositório, senão ir buscar a gasosa.
Mas é graças a este simples facto que o encontro entre a criança anónima e o ET se vai dar, nas traseiras da home, perto do galinheiro, como será contado, com o devido pormenor, quando nos apetecer.

* A – Alô Artnianos!
B – Alô! Alô! Tudo na maior?
A – Alô povo de Artnus, com o qual entramos agora em contacto, graças ao satélite espacial instalado na estação João david Nunes – assim chamada em honra do grande pioneiro da rádio em Alhandra.
B – velhos tempos...
A – Ainda te lembras do Jota Dê Éne?
B – Claro que me lembro!... Curvado sobre a bengala, sempre pendurado no cachimbo...
A – Bom... deixemos essas recordações e saudemos uma vez mais os artnianos que, a partir deste momento, acompanham também o Pão Comanteiga, nesta sua edição espacial... como devem saber, estamos a relatar os célebres factos que sucederam aqui na terra, mais precisamente em Alhandra, quando o ET nos visitou pela primeira vez!
B – Velhos tempos...
A – Ainda te lembras do ET?
B – Claro que me lembro!... Curvado sobre a bengala, sempre pendurado no cachimbo...
A – Bom... deixemos essas recordações e continuemos com o nosso relato: não se pense que a criança não tentou mostrar o ET ao mundo dos adultos. De modo nenhum! Só que o mundo dos adultos não estava preparado para tal choque.
B – Velhos tempos...
A – Cala-te! Que irão dizer os artnianos?
B – Ora! Essas gajos estão a sintonizar a Renascença de certeza!
A – Continuando:_ e foi numa tarde que, tentando resolver o problema da calvície do ET, que a criança o levou ao barbeiro de Alhandra, o famoso Sr. Fonseca...
B – Que sou eu...
A – Boa tarde, Sr. Fonseca...
B – Olá, miúdo! Que trazes aí, uma máquina de costura?
A – A diesel...
B – Sai mais barato...
A – Precisava de um remédio para a calvície...
B – Qual remédio! Tu precisas é de um caldinho!
A – Tem moela?
B – Tenho, felizmente... mas sofro muito com as dores, filho...
A – Pai! Mas és tu, pai? Afinal não fugiste para Marrocos?
B – Vai chamar pai a outro!
A – Mas a quem? Não há mais ninguém na barbearia!
B – Então e essa coisa esquisita que trouxeste contigo?
A – Mas este não é o meu pai – é o extra-terrestre!
B – Pois – e eu sou o Luis Pereira de Sousa...
A – Não me diga! Dê-me um autógrafo, Sr. Luis! A minha mãe gosta tanto do seu programa de culinária!
B – Toca a andar, garoto! E leva essa coisa contigo!
A – E foi assim que a pobre criança e o silencioso ET tiveram o primeiro contacto com a espécie humana, na pessoa do barbeiro de Alhandra, Sr. Fonseca, pai da criança, afinal, apresentador de televisão.
A vida é tão complicada, caramba!

Actualizado em: 15 Fevereiro 2004
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