DIREITO
Programa emitido a 12 de Dezembro de 1982
Abertura
Pão Comanteiga – um programa humilde, escorreito
e direito, um programa feito por uma equipa de tesos.
Hoje, um domingo especial, em que os portugueses exercem
o direito do voto – todos, dos desempregados aos licenciados
em Direito, afluem às urnas para escolher os autarcas.
Pão Comanteiga – um programa que vai direitinho
ao assunto, mas que às vezes é torto, dizendo,
por exemplo, que todos os homens têm um fraco, mas
nem todos o têm no mesmo sítio.
E neste Estado de Direito e de direitos, uma palavra de
simpatia pelos canhotos. Bem hajam!
Pão Comanteiga – um programa maioritariamente
minoritário.
Frases
* Deus consegue escrever direito por linhas tortas. Por
isso mesmo e Deus...
* Se o não consegue pôr direito, peça
a alguém que o ajude... Colombo conseguiu...
* Um comunista às direitas é um paradoxo.
* E se recto é sinónimo de direito, onde
se põem os supositórios, afinal?
* Manter o membro superior direito é cansativo.
Diálogo
A – Bom dia.
B – Bom dia.
A – O senhor desculpe, mas podia indicar-me o caminho
para a farmácia?
B – Com certeza... é sempre a direito...
A – Sempre a direito? Então e aquele prédio
ali mesmo em frente?
B – Ah! Aquele!... tem um arco...
A – Já não tenho, não... Tive
um, quando era pequeno e passava tardes a brincar com o
arco e a gancheta... partiu-se...
B – Não, não... o senhor não
me compreendeu... O prédio é que tem um arco...
A – É natural... um prédio tão
alto tem, certamente, muitos inquilinos e, entre eles, existe
alguém que ainda tenha um arco... eu, por exemplo,
guardei o meu pião e um boneco de corda...
B – E o que faz?
A – Sou empregado de escritório.
B – Não é o senhor... o boneco...
A – Ah o boneco! Esse não trabalha...
B – Está estragado?
A – Um bocado... Ainda não cheguei aos 40 e
todos me dão 50...
B – E o senhor aceita?
A – Raramente... Bem me basta o que tenho...
B – E o que tem, se não é indiscrição?
A – Uma valente dor de cabeça!... Por isso
é que queria uma farmácia...
B – Eu costumo tomar comprimidos.
A – Está viciado?
B – Não, homem! Só quando tenho dor
de cabeça!
A – E não costuma ir à farmácia?
B – Nessas alturas, sabe-me bem ficar deitado, a descansar...
A – E passa?
B – Com certeza que sim! O arco é bastante
alto e o senhor não é nenhum calmeirão!
A – Quer dizer que sou baixo?
B – Não sei... talvez barítono...
A – Detesto ópera!
B – O senhor não sabe o que é bom, é
o que é!
A – Então – o que é bom, por exemplo?
B – Sei lá!... gin tónico, um bom livro,
gin tónico outra vez...
A – O senhor é um bêbado!
B – E você, um chato!
A – O sr. julga que lhe perguntei onde fica a farmácia
para ser insultado?!
B –Acho que sim...
A – Não há direito!
B – Não é à direita, homem! É
sempre em frente, já lhe disse!
A – Agora, já não quero uma farmácia
– quero um armeiro!
B – Para quê?
A – Para comprar uma pistola e dar-lhe um tiro!
B – Mas o armeiro fez-lhe algum mal?
A – A si, senhor! A si!
B – A mim é que ele não fez mal nenhum!
A – Que confusão! Diga-me, ao menos, as horas...
B – São horas de se pôr a mexer!
A – Mas não me apetece dançar!
B – Basta! Estou farto! Desampare-me a loja!
A – Ah! Então você sempre é comerciante!...
Se calhar até é armeiro!
B – Isto só a mim! Isto só a mim!...
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