Sol encoberto

O Sol é um jornal de direita.

Isto já toda a gente sabe.

Mas é, sobretudo, um mau jornal.

No que respeita a Comunicação Social, é quase tão mau como o Observador.

E só não é tão mau como o Observador porque só sai aos sábados, enquanto que o Observador está sempre on line.

Como sou masoquista, continuo a receber as mensagens do Observador, que são apenas de dois tipos: desgraças e coisas contra o governo do Costa…

Durante muitos meses, o Sol foi o jornal pró-Passos Coelho e anti-Sócrates.

Depois de Passos conseguir ser primeiro-ministro, o semanário passou a ser só anti-Sócrates.

Semanas a fio a palavra Sócrates figurava sempre na primeira página do Sol.

solcratesDe tal modo, que sugeri que mudasse de nome.

De Sol para Solcrates.

Agora, o Sol vive momentos difíceis.

Passos ganhou as eleições mas perdeu o governo.

Os partidos de esquerda entenderam-se e, pela primeira vez desde 1974, aprovaram o mesmo Orçamento.

Para cúmulo, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa parece estar a entender-se com António Costa.

Esta semana, Passos Coelho criticou Costa por se meter com a Banca, mas Marcelo veio em defesa do primeiro-ministro e, como disse Pacheco Pereira, deu uma grande estalada no líder do PSD.

Esta situação mereceu a atenção do Sol, com título de primeira página, que rezava assim:

“Esquerda desconfia do apoio de Marcelo ao governo”!

Não escolheram: “Direita zangada com Marcelo por apoiar governo”.

Ou: “Marcelo traidor!”.

Ou: “Passos decide expulsar Marcelo do PSD devido ao seu apoio ao governo”.

Não.

O Sol virou o bico ao prego e atirou com o odioso para a esquerda.

Jornalismo de merda, é o que é…

A direita com dor de corno

A direita está à brocha…

Pela primeira vez, na história da jovem democracia portuguesa (é mais nova que eu!), os partidos à esquerda do PS votaram a favor do Orçamento Geral do Estado.

Que confusão isto deve fazer a algumas cabeças…

Passos Coelho até já adoptou como slogan “social-democracia sempre!”.

Liberal de merda!…

Quanta à sucessora de Portas, a azougada Assunção Cristas, disse hoje que o CDS admite governo com PSD e PS, mas sem António Costa.

Infantil.

É o mesmo que dizer que António Costa admite governo de PS, PSD e CDS, mas sem Passos Coelho ou Assunção Cristas.

Ou que a Catarina Martins aceita governo BE, PS e PCP, mas sem o Jerónimo de Sousa.

Ou que o Jerónimo admite governo do PCP, PS e BE, mas sem o António Costa e a Catarina.

A Assunção é uma querida mas tem pouco jeito para isto.

Quanto ao ex-primeiro-ministro, continua a inaugurar e a visitar lares de terceira idade, como se continuasse no poder.

Todos os dias surge nos telejornais, a fazer declarações, com aquele ar solene de quem continua à frente dos destinos da Nação.

Ainda ontem, no jornal da RTP, aparecia num lar qualquer, a falar sobre a função social do Estado, ele, que tudo fez para eliminar essa parte das obrigações do poder central, entregando-a à caridadezinha. E a criatura disse coisas, atacando o governo actual.

Um pouco aflitos, os jornalistas da RTP, como contraditório, repetiram afirmações do ministro Vieira da Silva, que foi inaugurar três lares ou algo semelhante, mas que não teve direito a reportagem.

Passos Coelho parece que continua a ser primeiro-ministro.

Hoje mesmo, o DN publica uma longa reportagem sobre o novo dia-a-dia do Passos Coelho, titulando na primeira página: “A nova vida de Passos: não tem segurança, ganha menos e almoça no gabinete”.

Tenho uma novidade para vocês: quero que o Passos se foda!

Está quieto, ó Portas!

Agora ficámos a saber quem é o culpado pelas novas medidas de austeridade que o governo do Costa se viu obrigado a tomar.

E o culpado foi o Paulo Portas.

Sem que ninguém lhe encomendasse o sermão, o futuro ex-líder do CDS foi a Bruxelas falar com o presidente da Comissão Europeia e disse-lhe isto:

“Estive em Bruxelas esta semana, pedi ao senhor Juncker que não fosse intransigente porque se houvesse um desacordo grave o problema não era para o Governo, era para Portugal e os portugueses seriam os primeiros a ser prejudicados mais dia menos dia”.

E pronto, está-se mesmo a ver que Junker, perante este pedido, apertou com o Costa o mais que pôde, porque deve ter pensado que Portas estava a ser sarcástico.

E só podia ser: então o CDS ganhou as eleições em coligação com o PSD e o Costa é que formou governo e o Portas, ainda por cima, quer ser bonzinho e ajudá-lo, pedindo ao Junkers para não ser intransigente?

Estava a gozar, certamente!…

E toca de apertar o torno ao Costa.

Retira-te mas é para os teus negócios de família e deixa-nos em paz, ó Paulinho!…

Coisas do Orçamento

Confirma-se que António Costa recorreu à chantagem para conseguir que a Comissão Europeia aceitasse o Orçamento Geral do Estado.

De facto, Costa ameaçou propor o nome de Cavaco Silva para o cargo de Comissário europeu caso o Orçamento não fosse aprovado e Bruxelas não teve outro remédio senão pactuar.

Nem era mais por causa de Cavaco, mas sim por causa da Dona Maria, que gosta de meter o nariz em tudo.

No entanto, o acordo continua a não ser total.

Parece que há uma divergência de 200 milhões de euros.

Trocos.

Costa garantiu que vai conseguir tapar esse buraco de 200 milhões.

Sabe-se que há 280 portugueses que devem mais de um milhão de euros ao fisco.

Costa vai conseguir obrigar esses cidadãos a pagarem o que devem.

Como?

Recorrendo, mais uma vez, a Cavaco Silva.

Como ex-presidente, Cavaco tem direito a carro e motorista; em vez de ficar sentado no seu gabinete a criar bolor, vai fazer de cobrador de fraque.

Além de ficar entretido, fará qualquer coisa de útil e dará uma ajuda ao país.

Talvez assim consiga que o Presidente Rebelo de Sousa o condecore no 10 de Junho.

A carta do Costa

Vamos lá rever a matéria.

O Presidente Cavaco podia ter antecipado as eleições para Junho para evitar a confusão, mas achou que não valia a pena porque estudou todos os cenários possíveis e já sabia o que tinha que fazer.

As eleições foram em Outubro, a coligação PSD/CDS ganhou mas os partidos de esquerda tiveram mais deputados.

Isto deixou o Cavaco à brocha, porque ele tinha estudado todos os cenários, menos este.

Com efeito, o Presidente tinha previsto a vitória do PSD, ou a vitória do PSD ou, no máximo, a vitória do PSD. E sempre com maioria absoluta ou, pelo menos, com maioria absoluta.

Restava a hipótese de nomear António Costa, mas Cavaco não iria fazer isso sem, primeiro, ter a certeza que Costa não queria sair da Nato.

Como se sabe, Cavaco adora a Nato e a Nato não sobrevive sem a ajuda de Portugal, por isso, que se lixem os salários, que se lixem as reformas – temos é que preservar a Nato.

Então, Cavaco exigiu que Costa respondesse a seis questões fundamentais, antes de o indignar, perdão, indigitar para primeiro-ministro.

Costa respondeu em poucas horas, com uma carta, cujo conteúdo não foi revelado, mas que diz o seguinte:

Caro Aníbal:

Espero que esta carta te encontre bem, assim como a todos os teus. A Maria tem passado bem? E os netinhos? Já fizeram a árvore de Natal? E já têm uma lista de prendas? Era bom que fizessem uma lista porque cada vez é mais difícil arranjar prendas para vos dar – vocês têm tudo!

Nós, aqui pelo Rato, temos passado bem. O Sócrates lá continua a fazer almoços de desagravo, muito zangado com a justiça. Quem está muito contente é o João Soares, porque já lhe prometi o ministério da Cultura, caso faças a fineza de me indigitar. Já agora, se decidires indigitar-me, faz o favor de o fazer antes de sexta-feira porque já tinha planeado um fim de semana em família e não me dava jeito nenhum tomar posse nessa altura.

Além disso, o Jerónimo já prometeu que te oferece uma assinatura do Avante até morreres!

Assis ao ataque!

Assis assustou-se com a coligação de esquerda.

Diz que António Costa tem sede de poder – Assis deve ter fome de comer.

sao franciscoVai daí, organizou uma comezaina na Bairrada.

Os assissistas, seguristas e anti-costistas em geral, vão empanzinar-se de leitão e conspirar.

Assis assistiu à derrota eleitoral do rival e regozijou, mas o rival transformou a derrota em vitória, com a ajuda dos marxistas-leninistas e dos trotkistas.

Sacrilégio!

Assis assestou as suas críticas a partir de Bruxelas, para onde se auto-deslocalizou, e no fim de semana vai para a Bairrada fazer oposição interna.

Assis assustou-se, assistiu e assestou.

São muitos ésses.

Este Assis não é nenhum santo…