Um livro de Julian Barnes é garantia de uma obra sólida.
Este The Only Story não foge í regra, embora, na minha opinião, a história se perca um bocado a meio do livro.
O autor diz-nos que todos temos muitas histórias para contar ao longo da vida, mas que só uma será a verdadeira história que interessa.
No caso, é a história de um rapaz de 19 anos que se apaixona por uma mulher casada de mais de 40 anos. Paul tem 19 anos quando conhece Susan num clube de ténis. Ela é casada, tem duas filhas, mas o casamento já não corre bem há muitos anos, de tal modo que ela e o marido barrigudo dormem em quartos separados.
Paul e Susan apaixonam-se e começam a ter um caso, mesmo nas barbas do marido de Susan.
Esta é a trama da primeira parte do livro e Barnes entretém-nos a contar os episódios que se sucedem, a reacção dos membros do clube de ténis, dos pais de Paul, das filhas de Susan.
Depois, Paul e Susan vão viver juntos e o livro perde-se um pouco. Susan começa a beber, torna-se numa alcoólica, nunca se percebe muito bem porquê (culpa?), e o livro arrasta-se até ao final, na minha modesta opinião.
Rui Rio já deu tantos tiros nos pés que deve ter as meias todas cheias de buracos e os pés em sangue.
Agora, escreveu no Twitter que a detenção do João Rendeiro, na ífrica do Sul, só foi possível porque vai haver eleições e desse modo, o director da Polícia Judiciária favoreceu o PS.
Claro que Rio não disse exactamente isso.
O presidente do PSD esclareceu em bombástica entrevista na RTP que o que ele critica é o facto do director da PJ ter aparecido em todas as televisões a fazer um foguetório, uma vez que não tem o dom da ubiquidade, porque esteve, simultaneamente na RTP e na SIC, é evidente que uma das declarações teve que ser gravada, para além do facto de quem prendeu o Rendeiro foi a polícia sul africana e não a PJ portuguesa e como o director da PJ foi nomeado pelo PS, é evidente que tudo isto favoreceu indirectamente o PS e, portanto, se o PS ganhar as eleições em janeiro, já sabemos que foi por causa destes foguetes que o director da PJ andou a amandar para o ar, e, ao fim e ao cabo, ninguém percebeu a ironia do Rio.
Rui Rio diz que aquilo que escreveu no Twitter é uma ironia.
Ora, sabendo que os dicionários dizem que ironia significa forma de humor que consiste em dizer o contrário daquilo que se pretende dar a entender, parece que, afinal, o líder do PSD queria dizer exactamente o oposto do que disse ““ ou não?…
Confusos?
O problema é que Rui Rio é um incompreendido. O seu sentido de humor é tão fino, tão fino que a gente passa por ele sem dar por isso…
Que Zeus nos livre de o ter como primeiro-ministro!
O Dr. Batista Leite, deputado do PSD, exige que a DGS divulgue os relatórios que sustentam a decisão de vacinar as crianças dos 5 aos 11, contra o covid.
O Dr. Leite, o PSD e a Iniciativa Liberal estão nisto juntos.
No que respeita í Iniciativa Liberal não me admira. Pelos vistos, o partido só tem o Cotrim para falar í comunicação social. Na minha opinião, o Cotrim não pode perceber de tudo. Basta olhar para ele para vermos que, para além de especialista em brilhantina, ele pouco deve perceber de vacinas.
Agora o Dr. Leite!
Fui ver o seu currículo.
Embora ainda não tenha conseguido acabar o doutoramento, o Dr. Leite já frequentou isto: Johns Hopkins University (MD, EUA), Harvard Medical School (MA, EUA), IESE Business School (Madrid, Espanha)/Harvard Kennedy School of Govenment (MA, EUA), Albert Einstein College of Medicine (NY,EUA), AESE Business School (Lisboa, Portugal), European Society of Infectious Diseases and Clinical Microbiology, Universitat Autonoma de Barcelona (Barcelona, Espanha), Universidade Nova de Lisboa e Universidade de Lisboa.
Mesmo assim, o homem ainda tem tempo para ser membro do Conselho de Fiscalização da Base de Dados de Perfis de ADN (eleito pela Assembleia da República); Vice-Presidente e Vereador da Câmara Municipal de Cascais (sem tempos); Membro da Assembleia Metropolitana de Lisboa; Membro da Assembleia de Freguesia de São Domingos de Rana ““ além de deputado do PSD, claro e membro da Comissão Parlamentar da Saúde, Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, Agricultura e Mar, Cultura e Comunicação.
E ainda, recordemos que o Dr. Leite até foi voluntário por um turno no Hospital de Cascais, onde assistiu ao maior número de mortos que jamais presenciara na sua vida profissional (um, para ser mais preciso…)
Como é que uma pessoa tão douta vem exigir os relatórios da Comissão de Vacinação sobre a vacinação contra a covid. Tem receio de quê? Que a Comissão de Vacinação tenha feito um conluio com a Pfizer? Que a indústria farmacêutica tenha pagado viagens para congressos aos membros da comissão, em troca de parecer favorável? Que a comissão esteja feita com os colegas norte-americanos e israelitas, espanhóis, italianos, alemães e madeirenses, que já aprovaram também a vacinação das crianças?
í“ Dr. Leite, isto é mesmo capaz de ser uma cabala contra si ““ todos estes países a aprovarem a vacina sem lhe mostrarem os relatórios!
A si, que até frequentou a John Hopkins!
Se fosse a si, pedia também os relatórios que aprovaram as vacinas da polio, do sarampo, tétano, tosse convulsa, papeira, rubéola, HPV, hepatite, meningite, difteria, pneumonia a pneumococos, etc, etc…
O pasquim Nascer do Sol dedica hoje seis páginas seis a uma entrevista ao líder do Chunga. São 71 perguntas que Vitor Raínho e Joana Mourão Carvalho fazem í criatura, enquanto Bruno Gonçalves é o autor das fotos. Numa delas, o Querido Líder surge de gravata azul e mãozinhas entrelaçadas, com um sorrisinho beatífico.
Longe de mim ler a entrevista ““ teria pesadelos esta noite, certamente. Li só as gordas. E já chunga!
O título da entrevista é “…Se fosse líder do PSD tinha maioria absoluta”, que é como quem diz “…Se cá nevasse fazia-se cá ski”.
Como o Querido Líder, recentemente, adoptou o lema “…Deus, Pátria, Família e Trabalho”, a conversa descambou para Salazar. Diz ele que “…nem Salazar foi tão mau como se diz, nem Soares foi tão bom como dizem”.
Pois claro… se repararmos bem, Salazar até foi bonzinho, embora agora não me lembre de nada em concreto.
Mas o André não quer confusões e diz que “…ao contrário do Presidente da República, nunca escrevi nenhuma carta a Salazar quando era pequeno”.
Ora aqui está uma revelação extraordinária. Sabendo que Salazar morreu em 1970 e que o Andrézinho só nasceu 13 anos depois, seria difícil que o tipo conseguisse escrever uma carta ao ditador. O homem até acrescenta que “…ele (Salazar) nunca esteve na minha casa.” Ingrato!
Mas a criatura tem algum sentido de humor. Nota-se isso quando diz, por exemplo, “…acho que Sá Carneiro hoje seria do Chunga”.
Sobre ele próprio diz: “…sou um animal de palco”.
Depois de ter lido Os Lança-Chamas, de Rachel Kushner, que falava da agitação política de Itália dos anos 70 e das Brigadas Vermelhas, este livro de Jennifer Egan, fala-nos do grupo Baader-Meinhoff, que foi protagonista de diversos atentados terroristas na Alemanha, também nos anos 70.
Este O Circo Invisível conta-nos a história de Phoebe, uma jovem de 18 anos, cuja irmã mais velha, Faith, viaja para a Europa e se suicida, numa pequena aldeia da costa italiana.
Faith é a irmã sempre alegre, provocadora, aventureira, a preferida do pai. O pai é um técnico da IBM, pintor nas horas vagas e pinta a filha mais velha de modo quase obsessivo. Morre de cancro e Faith sai de casa e vai para a Europa com o seu namorado da altura, a quem chama Lobo.
Phoebe, quando faz 18 anos, decide seguir as pisadas da irmã e tentar descobrir como ela morreu. Vai encontrar-se com Lobo e descobrir que, entre outras coisas, a irmã colaborou com o grupo Baader-Meinhoff.
Quem nos veja na rua, nos parques, junto aos monumentos, nas grandes praças da cidade ou nas esplanadas, pode pensar que somos desorganizados, caóticos, anárquicos. Nada de mais errado.
Eu sei que, por vezes, parece que não temos nenhum tipo de organização, sobretudo quando se vêem alguns de nós a saltar para cima das mesas dos McDonalds a debicar as batatas fritas e os restos dos Big Mac, que os clientes deixam abandonados.
Nesse caso, não se pode tomar a nuvem por Juno ““ são jovens, e todos sabemos como funcionam os jovens, ou melhor, como não funcionam, quebrando todas as regras.
Se reparem bem, esses são pombos jovens, ainda sem a maturação sexual que lhes permita procriar e, portanto, canalizam toda a sua energia para disparates, como devorar fast food que só lhes faz mal.
Aproveito para me apresentar. Chamo-me Pim e sou um pombo de segunda categoria. É verdade, estamos divididos por categorias, ou castas, a saber: a primeira categoria congrega os seniores, aqueles que já cumpriram a sua tarefa reprodutora e que aguardam, tranquilamente, a transferência para a vida eterna dos pombos, na qual quase todos acreditamos. Há uma pequena percentagem que diz que tudo acaba com a morte, mas a maioria acredita na passagem para uma vida melhor, onde só há estátuas e relvados e não há carros para nos esmagar nem funcionários camarários para nos esterilizar.
A segunda categoria é a mais representada e congrega todos os pombos em idade para reproduzir. É o meu caso. Nós só pensamos em comer e foder. Voamos do topo dos candeeiros para os muros, do alto das estátuas para a calçada, sempre em busca de migalhas ou da pomba mais próxima, que esteja disponível para receber o nosso adn.
A terceira categoria pertence aos jovens, aos tais que atacam as esplanadas e que cagam em qualquer lado, sem olhar a heróis do Estado ou a figuras altamente recomendáveis. Eu, por exemplo, nunca caguei em estátuas, preferindo sempre os símbolos do capitalismo, como BMW ou Mercedes. Durante alguns anos, vivi junto í estátua do D. José, ali no Terreiro do Paço, e um dos meus desportos favoritos era cagar nos carros dos ministérios. Sempre aquele meu fundo anarquista…
Finalmente, a quarta categoria de pombos refere-se aos borrachos, que ainda só têm penugem em vez de penas e que mal se têm em cima das patas.
Portanto, atenção: da próxima vez que vejam um dos nossos bandos, esvoaçar do alto de uma estátua para o passeio, em busca de migalhas, não nos olhem com desprezo.
Pertencemos a uma comunidade altamente organizada e que continuará por aqui, muito tempo depois do vosso desaparecimento…
Este foi o 3º livro de Rachel Kushner que li e, tal como os outros dois (Telex de Cuba e O Quarto de Marte), trata-se de um livro complexo, cheio de referências históricas e culturais, as mais diversas.
Kushner escreve regularmente sobre arte e este livro é prova disso. A maior parte do livro é narrada por uma jovem que se muda para Nova Iorque com o intuito de se tornar artista. Este é o ponto de partida para uma série de episódios que vão desde o recorde de velocidade em mota no deserto de sal do Utah, as vidas um pouco loucas dos artistas nova-iorquinos, com grandes bebedeiras e exposições de arte duvidosas (uma das personagens tira fotografias ao interior do forno da cozinha e diz que se trata de fotos do firmamento), e muitas outras coisas.
Uma boa parte do romance passa-se em Itália. A protagonista namora com o herdeiro das motas Valera, de Milão, que vive em Manhattan; depois, vão ambos para Itália e presenciam as grandes manifestações e os atentados das Brigadas vermelhas, já que a acção do livro decorre na década de 70.
Uma pequena passagem da página 220:
“…Pensei no discurso de Ronnie sobre o pão. Divertia-o que agora só se encontre pão integral nos mercados gourmet de Nova Iorque. Não é que Ronnie fizesse compras em lojas gourmet, mas tinha aberto uma no SoHo e ele percorreu os corredores para alimentar os habituais comentários. Disse que é uma ironia as pessoas terem decidido colectivamente que a farinha integral é mais desejável do que o pão branco que era há séculos o pão da nobreza. ““ Agora é tudo assim ““ disse ele. O refinamento seguira determinado curso e invertera-o. Neste caso, a farinha refinada para um pão branco super refinado, leve e fofo, outrora só alcance de reis e rainhas, obtém-se em toda a parte, pelo que os ricos tiveram que voltar a comer o rude pão integral que costumavam deixar aos camponeses. Agora, nenhuma pessoa instruída se deixa apanhar em flagrante a comer pão branco. Nem sequer uma pessoa da classe média”.
Ao longo do livro deparamos com citações deste género sobre os mais diversos assuntos, o que faz com que este livro de Rachel Kushner tenha sido considerado, pelo New York Times, um dos dez melhores livros de 2013.
Claro que não estou espantado, mas o semanário Expresso, antigamente, disfarçava melhor.
Agora, perdeu a vergonha toda e está totalmente ao serviço da direita.
Começa logo no editorial do seu director João Vieira Pereira que diz, por exemplo, que “…esta extrema-esquerda”… “…venderam a ideia de que vinham como heróis salvar-nos da troika que nos tinha tornado mais pobres, quando na realidade trabalharam para voltar ao pré-2011, aos anos que nos levaram í estagnação económica e í bancarrota”.
Portanto o primeiro super-avit da democracia e o crescimento acima da média da União Europeia nunca existiram.
Todo o editorial de JVP é um manifesto anti-esquerda. É a opinião do homem, pronto.
Mas o resto do jornal é o que se vê.
Toda a página 5 é ocupada com o habitual despacho do presidente: “…Marcelo quer compromisso sólido para pelo menos dois anos”.
Não chega o Marcelo fazer conferências de imprensa praticamente diárias, ainda tem o seu órgão oficial todos os sábados.
As páginas 6 e 7 são ocupadas com a zanga das comadres do PSD.
O título é “…Rio e Rangel não baixam armas”. No topo das páginas, uma foto dos dois candidatos a líderes e, para além do texto com o título já citado, há dois outros intitulados “…Candidatos sem tempo para detalhar programa” e “…Só Cavaco teve sucesso rápido em eleições, mas com mais tempo”.
Parece que estamos a ler um exemplar do Povo Livre, órgão oficial do PSD.
Nas páginas 8 e 9, duas páginas dedicadas í Direita ““ como se as outras também o não fossem.
Para além de uma ilustração representando os 4 partidos de Direita (PSD, IL, CDS e CH), podemos ler (salvo seja), os seguintes artigos: “…A minha legitimidade só se coloca na cabeça de quem nunca a aceitou”, diz Mota Soares, do CDS; “…Na prateleira da Direita, quem compra CDS?”; “…Chicão: O PP dos que querem subir a pulso”; “…Nuno Melo: regenerar para voltar a ser últil”; e “…Chega está capturado pelo sistema”, diz um fulano que se vai candidatar contra o Ventura.
Acham que já chega de Direita?
Ainda não.
Mas quem é que falta?
A Iniciativa Liberal, claro.
Vem logo na página seguinte. Toda a página 10 está preenchida com uma entrevista ao Cotrim Figueiredo.
Quanto ao PS, merece apenas um terço da página 12, com o título “…PS: ordem para acalmar contra a esquerda”.
Assim vai o jornalismo “…independente” do Expresso.