Não cultives canabis num campo agrícola e outros conselhos

O Correio da Manhã é um manancial de curiosidades.

Ficamos a saber, por exemplo, que uma mulher pode ser identificada pela polícia na Brandoa pelo simples facto de morder no marido. O pobre do homem foi “…transportado ao Hospital Amadora-Sintra com vários ferimentos no corpo” e tudo porque aconteceu um “…desentendimento doméstico”.

Pelo contrário, “…um homem de 55 anos foi detido pela GNR por agredir a ex-companheira e ter em sua posse uma faca em Tomar”. Se fosse na Brandoa, talvez se safasse…

Já em Oliveira de Azeméis, “…um homem de 34 anos foi preso pela PJ por obrigar a companheira a vender o corpo em casa”. Se o tivesse vendido na rua ou num jardim, talvez se safasse… Ou, se não tivesse sido tão garganeiro e, em vez de vender o corpo da mulher, tivesse vendido só partes, um braço ou uma perna, talvez a pena fosse mais leve.

Finalmente, no que í  droga diz respeita, dois conselhos do Correio da Manhã:

Segundo a notícia, “…um jovem de 19 anos foi detido pela GNR de Barcelos na posse de 25 doses de haxixe. Foi parado numa operação de trânsito e mostrou-se «nervoso»”.

Primeiro conselho: nada de nervos quando se transporta droga. Se se mantiver a calma, nada acontece, a bófia não chateia.

Segundo outra notícia: “…um homem de 57 anos foi detido no concelho da Guarda por cultivar canábis num campo agrícola”

Segundo conselho: se quiser cultivar canábis, escolha a varanda, por exemplo.

O Correio da Manhã sempre a ajudar o próximo!

Albuquerque, o vice-rei da Madeira

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Há arguidos e arguidos.

Prevaricações e prevaricações.

Suspeitas de corrupção e suspeitas disso mesmo.

Participações em negócio e negócios em participações.

Um parágrafo de um comunicado da PGR lixou o Costa, mas o Vice-Rei da Madeira está acima disso tudo. Com aquele ar de Frankenstein de risco ao meio, franze as sobrancelhas e diz que até calha bem ser arguido; desse modo, poderá explicar tudo quando for ouvido… daqui a uns meses.

Quanto a Montenegro, mantém aquele sorriso espúrio, conseguindo dizer uma coisa e o seu contrário, praticamente na mesma comunicação.

E o Ventura esfrega as mãos. Corrupção por todos os lados, menos por um, chamado Chega que, no entanto, alberga tipos que, vivendo em Coimbra, receberam subsídios de deslocação por terem casa em Luanda.

Ainda há dúvidas em quem votar?…

“Seios e í“vulos”, de Mieko Kawakami (2019)

Kawakami nasceu em Osaka (1976) e é conhecida como cantora, escritora e autora de um blog, aparentemente com muito sucesso.

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O livro “…Seios e í“vulos” parece ter agitado muito aa águas editoriais japonesas, que devem ser dominadas por homens, aparentemente como toda a sociedade. Murakami, outro autor japonês com muito sucesso, diz que “…nunca poderei esquecer a sensação de puro deslumbramento que senti quando li pela primeira vez (este livro)”.

É a opinião dele, claro.

Este calhamaço de quase 500 páginas está dividido em dois livros.

No Livro Um, a narradora, Natsuko, recebe na sua casa de Tóquio a irmã, Makiko e a filha desta, adolescente Midoriko. Natsuko está a tentar tornar-se escritora. Makiko é anfitriã num bar manhoso em Osaka, onde todas viviam inicialmente. Midoriko está zangada com a mãe e não lhe fala e responde í s suas perguntas escrevendo num caderno. As duas irmãs vêem televisão e bebem cerveja até cair para o lado. Makiko quer operar as mamas, está obcecada com isso. As duas irmãs viveram com a mãe e com a avó, que já faleceram. O pai era um calão alcoólico, que abandonou o lar.

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No Livro Dois, Natsuko já publicou um livro, que teve um sucesso relativo, mas está encalhada na escrita do segundo romance, mas, a partir de certa altura, nunca mais se fala nisso porque a sua obsessão é ter um filho a apetir de um dador mais ou menos anónimo. Em tempos, teve uma relação com um homem, mas nunca gostou de ter relações sexuais; doía-lhe e não tinha prazer. Nunca mais quer experimentar ““ daí, ter de recorrer a um dador para ter um filho. Pelos vistos, no Japão, é possível conhecer um dador num qualquer blogue, encontrar-se com ele num café e ficar com o seu esperma, que ele vai obter na casa de banho do café ““ ou é assim, ou há algum lost in translation…

Também neste segundo livro, os homens estão praticamente ausentes e as mulheres embebedam-se com frequência.

Na página 363, Rika, uma amiga de Natsuko, diz:

“…Quer dizer, um homem nunca pode perceber o que realmente importa para uma mulher. nunca. Quando se diz este tipo de coisas, as pessoas dizem logo que somos tacanhas ou que nunca conhecemos o verdadeiro amor ou qualquer coisa desse género. Dizem que não se podem enfiar todos os homens no mesmo saco assim, mas, infelizmente, é a verdade. Nenhum homem alguma vez compreenderá as coisas que são realmente importantes para uma mulher.

(…)

Estão num pedestal a partir do momento em que nascem. Só que não percebem isso. Sempre que precisam de alguma coisa, as mães vêm a correr. São ensinados a acreditar que os seus pénis os tornam superiores e que as mulheres só existem para eles as usarem como bem entenderem. Depois, saem para o mundo, onde tudo se centra neles e nas suas pilas. E são as mulheres que têm de arranjar forma de as coisas funcionarem. Afinal, de onde vem esta dor que os homens sentem? Na opinião deles: vem de nós. A culpa é toda nossa… por serem impopulares, estarem falidos, desempregados. Seja o que for, culpam as mulheres por todos os seus fracassos, por todos os seus problemas. Agora pensa nas mulheres. Independentemente da forma como vires as coisas, quem é realmente responsável pela maior parte da dor que as mulheres sentem? Se pensarmos nisso dessa forma, como é que um homem e uma mulher se podem entender? É estruturalmente impossível”

E esta não é apenas a opinião desta amiga na narradora ““ é o tom geral do livro. Há dois mundos totalmente separados: o dos homens e o das mulheres e é impossível, aparentemente, haver ligação entre eles.

Para além desta dicotomia, o livro relata alguns fenómenos que desconhecia existirem na sociedade japonesa, propagandeada como tão certinha e direitinha: os sem-abrigo, os bares das anfitriãs em todas as ruas, os banhos comunitários, etc.

Um livro curioso, proveniente de uma sociedade que talvez venha a conhecer melhor em breve.

“Como Mentem as Sondagens”, de Luís Paixão Martins (2023)

Que as sondagens mentem com quantos dentes têm, já a gente sabia, mas confirmámos agora, depois da leitura deste livrinho do consultor LPM, o tal careca de boné, que é apresentado como o tal que conseguiu a maioria absoluta para o António Costa.

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Exagero, claro ““ quem conseguiu essa maioria absoluta foram os eleitores que, borrifando-se nas sondagens que davam um empate técnico entre PS e PSD, decidiram votar em massa no PS.

Paixão Martins, com abundância de citações norte-americanas, explica como as sondagens têm tudo para induzir em erro: a amostra é pequena, o inquérito está mal conduzido, a interpretação dos jornalistas é abusiva e a distribuição dos indecisos é uma catástrofe!

Gostámos de ler e aconselhamos a todos, sobretudo a quem está í  espera da próxima sondagem para decidir em quem votar.

As redações do Correio da Manhã- 2

1. Cascais ““ Esfaqueado em rixa num Café – Um homem de 35 anos foi esfaqueado numa rixa num café na Parede, Cascais. Agressor foi detido e também hospitalizado.

– Esfaqueou-se?…

2. Guimarães ““ GNR e INEM ameaçados ““ Um homem, de 60 anos, foi detido após ter assustado familiares com duas facas em Selho São Lourenço, Guimarães, e de ter ameaçado uma equipa do INEM e uma patrulha da GNR. Acabou por ser detido.

– As facas eram de serrilha?…

3. Portalegre ““ Choque faz três feridos ““ Uma colisão entre dois carros, ocorrida ontem na EN371 entre Arronches e Degolados, Portalegre, causou três feridos. Um foi levado ao Hospital de Portaslegre.

– Terá sido o Degolado?…

4. Porto ““ Furta secador de cabelo ““ A PSP deteve, na Rua Fonte de Contumil, um homem de 23 anos, desempregado, que furtou um secador do interior de um cabeleireiro.

– Devia querer abrir um cabeleireiro, já que está desempregado. Se tivesse furtado um secador do exterior de um cabeleireiro, talvez não fosse detido…

“O Historiador”, de Elizabeth Kostova (2005)

Tinha este livro na estante desde 2005. Penso que lhe peguei, em tempos, que o comecei a ler, mas desisti, talvez porque o tema não me interessou e porque era demasiado volumoso para a minha vontade de o ler.

Com efeito, é um calhamaço de 598 páginas, em letra miudinha e o tema do livro não me entusiasma muito ““ vampiros, mais precisamente, Vlad III Tepes, o Impalador, também conhecido por Drácula.

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Elizabeth Kostova (New London, Connecticut, EUA, 1964) escreveu este romance ao longo de dez anos, tendo como inspiração o seu próprio pai, que era professor, e que lhe contava histórias sobre vampiros. Nessa altura, a família vivia na Eslovénia, mas viajava pela Europa, tal como o pai da protagonista do livro.

Histórias de vampiros, mortos-vivos e ofícios correlativos, não são da minha preferência e tive de fazer um esforço para ler este tijolo até ao fim, mas como o li em voz alta, e a minha audiência foi muito compreensiva, consegui ir até ao fim.

Por alguma razão os direitos do livro foram adquiridos pela Sony, por quase 2 milhões de dólares e o filme ainda não chegou sequer í  produção. E por alguma razão estava intocável na minha estante há 18 anos!

No fundo, o livro poderia ter um terço do tamanho se Kostova soubesse, ou quisesse, ser mais sintética. Repleto de referências históricas, o livro resume-se í  busca pela tumba do Drácula que, afinal, parece que fica em França ““ ou será que é em Istambul, Bulgária, Roménia, ou até Filadélfia?

Não aconselho.