ANTIGUIDADE
Programa emitido a 27 de Setembro 1981
Abertura
Ouvintorus de Portucalae, este é o Panum cum Manteigorum.
Das X às XIII, em numeração romana,
ou das 13 às 10, para quem atravessa a Mesopotâmia
em sentido contrário, hoje vamo-nos debruçar
sobre os povos da Antiguidade, desvendando os seus segredos.
A equipa de historiadores é a que todos já
conhecem: Artur Kéops e Santos, Bernardo Baco e Cunha,
Eduardorum Ferreirae, JoaKefren Furtado, José Mikerinos
Duarte, Nabucodonosor Fanha, Mário Péricles
Zambujal e Carlos Cronos, o filho mais novo do Céu
e da Terra, irmãos dos Titãs.
Limpámos o pé dos sóculos, aliás,
limpámos o pó dos óculos, limpámos
os pés dos brócolos ou limpámos o pó
dos séculos e decidimos investigar as civilizações
da Antiguidade: os helenos, que se viram gregos em Tróia,
os espertos dos espartanos, os texanos de Tebas ou os tebanos
do Texas, os Assírios ainda sem os Alvins, os Caldeus
célebres pelas suas excelentes caldeiradas, os Feniceus,
os Hebrais, os Semuscos, os Etrérios, os Eunucos,
os Seleucos, os Peloponesos e outros que tais. Dissecámos
as suas religiões: Zoroastro, Zaratrusta e Zambujal,
as suas profecias e encantamentos; Zéus, Baco, Éolo,
Diana e Carlos e todos os deuses do Olimpe-o que está
sujo; os grandes heróis da Antiguidade: Sansila e
Dalão, Golid e Davias, Abrainho, que depois se tornou
no grande Abraão, o famoso faraé Ramsós
II e muitos outros. Aproveitando-se do facto de todos os
caminhos irem dar a Roma, dois enviados do Panum com Manteigorum
partiram em direcção à Reboleira e
à Brandoa e, como tinham boca, chegaram a Roma rapidamente
visitando, in loco, as ruínas do Grande Império
Romano. Vamos recordar as Guerras Pérsicas e as Guerras
Túnicas, todos os grandes combates que levaram ao
engrandecimento e à destruição dos
nossos antepassados. Hoje, mais do que nunca, o Panum com
Manteigorum é um programa essencialmente cultural,
sobretudo dedicado aos intelectuais deste país. Alô
intelectuais! Vamos a isto! Vai ser vini, vidi, vinci!
O Antigo Egipto em 3 lições
1ª Lição – Os Impérios Egípcios
Portanto, foi assim: os primeiros habitantes do Egipto decidiram
chamar-se egípcios e isto é muito importante
porque o nome de um povo tem que ser muito bem escolhido
para não provocar a hilariedade geral. Essa a razão
que levou, por exemplo, os de Creta a chamarem-se cretenses
e não cretinos, e os de Marrocos a escolherem marroquinos,
e não marrecos.
Depois de terem um nome, os egípcios desataram a
juntar-se em clãs, porque sozinhos tinham mais medo.
Compreende-se... um tipo sozinho naqueles desertos, com
o Nilo a subir e a encher... Mas, como mesmo agrupados em
clãs, os egípcios continuaram e ter algum
medo, decidiram juntar alguns clãs e fundar os nomos
e, depois, juntar muitos nomos e formar o Alto e o Baixo
Egipto. E estamos a chegar à parte da História
que mete porrada. O Alto e o baixo Egipto nunca se deram
bem, quanto mais não fosse pela diferença
de alturas e seguiram-se muitos anos de bordoada e, provando
mais uma vez que os homens não se medem aos palmos,
foi o Baixo Egipto que ganhou a contenda, unificando-se
o país sob a batuta de Menés, que tomou a
designação de faraó e desatou a mandar
em todos.
Assim se iniciou o chamado Império Antigo ou menfita,
que se celebrizou através de Kéops, Kefren
e Mikerinos, os três faraós que construíram
aquelas pirâmides que vocês já viram
nas revistas e nas colecções de cromos. Construíram,
não, mandaram construir, com a ajuda de escravos
e de visitantes de outros planetas porque, naquele tempo,
os deuses eram astronautas ou vice-versa. Tudo ficou facilitado,
claro, com a invenção da alavanca –
invenção conseguida por Ramsés, um
escriba da classe mais baixa que, graças a intrigas
várias, conseguiu subir ao poder, tornando-se no
segundo faraó com aquele nome. Aqui, as coisas começam
a complicar-se e nem o compêndio do Sr. Mattoso nos
ajuda. Desculpem-nos as imprecisões, mas este período
da História foi muito turbulento ou, aliás,
muito turbo-rápido. Ora bem, estava hermenegildo,
rei dos Visigordos, muito descansado, a preparar a invasão
da Península Ibérica (na altura conhecida
pelo nome de Comiberlant), quando os Hicsos, povo que inventou
os soluços, decidiu conquistar a Núbia, que
era uma terra que ficava logo ali ao lado do Egipto. Vai
daí, os Hititas, que nada têm a ver com os
albaneses do sul, decidiram entrar na guerra que, nessa
altura, já ninguém sabia qual era, e os vários
príncipes egípcios aproveitaram a confusão
para destronar o faraó. O mais forte dos príncipes
era o de Tebas, assim chamado por ser oriundo da Caldeia,
embora tivesse parentes em Oliveira de Azeméis; e
como era o mais forte, derrotou os outros príncipes
todos e fundou o Império Médio do Egipto,
que corresponde ao auge daquela civilização.
Foi neste período que se inventaram o alambique,
o cavalo e o corta-unhas. Este último invento foi
muito aplaudido porque os egípcios deixaram de se
arranhar uns aos outros, além de que era muito difícil
e perigoso cortar as unhas com uma espada. Entretanto, os
Hititas, não confundir com os indo-indianos, subiram
para o planalto da Ásia Menor e colocaram-se na expectativa
e era assim: de 4 em 4 horas, um hitita ia à borda
do planalto e olhava para baixo, a ver se os egípcios
estavam distraídos. Mas não estavam. Pelo
contrário, alastraram o seu Império do mar
Vermelho ao rio Eufrates, construíram templos, desenvolveram
o comércio e intensificaram a navegação.
Mas acaba por surgir um novo problema, ao que parece, um
problema de torneiras que põe os egípcios
todos à porrada. Nessa altura, já os Hititas
se tinham cansado de estar na expectativa e os Assírios
aproveitaram a ocasião e invadiram o Egipto, subjugando
tudo e todos. Não foi nessa altura que surgiu Nabucodonosor,
nem tão pouco foi a vez de Assurbanípal intervir.
Foi um príncipe, cujo nome não ficou na História,
porque era feio, que conseguiu expulsar os Assírios
e fundar o Império Saíta, durante o qual todos
os egípcios foram obrigados a andar de saia –
o que, aliás, não os preocupou, porque já
estavam habituados a andar de tanga. Mas este Império
também não durou muito tempo. Meia dúzia
de séculos depois, mais precisamente, seis séculos
depois, os persas, que ainda não sabiam o que eram
xás e ayatollahs, tomaram conta do Egipto, assim
como de todo o próximo oriente, do Mediterrâneo
ao rio Indo, e foi o fim do Egipto.
2ª Lição – As classes sociais
O Egipto era governando por um monarca omnipotente (o sonho
de todos os machos!), denominado faraó. Não
se sabe ao certo porque foi escolhida esta designação,
mas convenhamos que faraó sempre é mais bonito
que taroé ou cacanó, ou mesmo tinoni. O faraó
descendia de Rá, que era o Sol, deus de todas as
coisas, , criador do céu e da terra, e do qual descendiam
todos os outros deuses egípcios, excepto baco, que
era grego e que foi expulso do Concílio dos Deuses,
em virtude do seu hálito pestilento. No entanto,
Baco nada tem a ver com Epicuro, que foi um filósofo
grego ou etrusco que estabeleceu a lei da impulsão
quando, deitado debaixo de uma pereira, numa cálida
tarde de Inverno, levou com uma maçã na cabeça.
Pensa-se que essa maçã tenha caído
directamente do paraíso, porque as pereiras não
dão maçãs e porque a referida maçã
estava ratada, donde se deduz tratar-se da maçã
de Adão. Portanto... portanto... ora, de que é
que eu estava a falar?... Ah! Já sei: das classes
sociais! Logo abaixo do faraó ficava a mulher do
faraó, por vezes e, logo a seguir, os sacerdotes,
que eram responsáveis pela correcta prestação
dos vários cultos, nomeadamente, o culto de Ísis,
o culto de Osíris, o culto de Ptah, o oculto e muitos
outros. Por aqui já se vê que os egípcios
eram um povo muito culto.
Depois dos sacerdotes estavam os guerreiros, que tinham
por obrigação derrotar os inimigos durante
as guerras e, nos períodos de paz, treinavam-se nos
escravos. A seguir vinham os escribas, que não eram
lá muito bons. Basta ver as coisas que os escribas
deixaram escritas – verdadeiros hieróglifos!
Depois dos escribas estavam os agricultores, que tinham
como obrigação cultivar as terras, ensinando-lhes
as primeiras letras; as letras seguintes eram ensinadas
pelos escribas, donde resulta que a taxa de analfabetismo,
no Egipto, conseguia ser ainda maior que a de Portugal.
Os artistas eram a classe mais baixa, já naquela
altura; a sua obrigação era fabricar os objectos
necessários à vida e que, naqueles tempos
eram muito poucos, tirando as pirâmides, os canais
do Nilo, os caixões e aqueles panos para enrolar
as múmias.
3ª Lição – A religião
A religião dos egípcios foi das mais complicadas
de sempre, se exceptuarmos as religiões dos persas,
caldeus, etruscos, gregos, assírios, romanos, hunos,
visigodos, servo-croatas e pigmeus da África Central.
Os deuses eram numerosos e os egípcios representavam-nos
quer sob a forma humana, quer metade humana, metade animal.
O deus Ptolocherque, por exemplo, tinha cabeça de
burro, olhos de lince, ouvidos de mercador, boca de xarroco,
pescoço de touro, braços de medusa, mãos
de fada, tronco de cone, rabo de peixe, pernas de alicate
e pés de atleta.
Rá era o deus dos deuses, como já tivemos
o prazer de revelar. Dos restantes, destacam-se Ísis,
Osíris e Hórus, que constituíam uma
trindade familiar. Hórus gostava da sua pinguita
e era comum ouvir-se dizer: “Lá está
o Hórus nos copos!” Começou, então,
a ser conhecido pelo Hórus dos copos, ou mais simplesmente,
Hóruscopos. Competia-lhe prever o futuro pela leitura
dos astros. Previa sempre a dobrar.
A lenda da guerra de Tróia
Menelau, filho de Jasão, irmão de Migrélia,
rei de Esparta, era casado com Helena, filha de Cólquida,
grega de nascimento e que, certo dia, foi raptada por Páris,
filho de Príamo, rei de Tróia, poderosa cidade
das costas da Ásia Menor. Para vingar a afronta,
Agamémnon, rei de Micenas, irmão de Menelau,
filho de Jasão, sobrinho de Migrélia, cunhado
de Helena, preparou uma grande expedição,
que desembarcou na Ásia e pôs cerco a Tróia.
O cerco demorou 10 anos, segundo uns historiadores e nunca
existiu, segundo outros. Helena, filha de Cólquida,
esposa de Menelau, rei de Esparta, não sabia o que
havia de fazer: se cair nos braços do seu marido,
Menelau, filho de Jasão, irmão de Agamémnon,
se preferir Páris, filho de Príamo, amigo
de Amilcar. Enquanto ela não se decidia, os guerreiros
matavam-se judiciosamente. Como a situação
nunca mais se resolvia, Ulisses, rei de Ítaca, marido
de Penélope, pai de Telémaco, dono de Argos,
conhecido de Fídias, primo de Xerxes, teve aquela
ideia do cavalo. Toda a gente já sabe a história
do cavalo de Tróia. Mas os troianos não sabiam
e foram completamente enrolados e a cidade destruída.
Helena, mulher de Menelau, amante de Páris, filha
de Cólquida, prima de Agripina, cunhada de Agamémnon,
amigo de Amilcar, primo de Príamo, pai de Telémaco...
Disposições desconhecidas
do Código de Hamurábi
1ª - Quando dois babilónios se encontrarem num
cruzamento, tem prioridade o que não tiver ascendência
hebraica, mesmo que se apresente pela esquerda.
2ª - Um babilónio pode, sempre que o desejar,
mostrar-se descontente com o governo da cidade, desde que
não seja apanhado.
3ª - Ao ladrão que for apanhado a roubar com
a mão esquerda, corta-se-lhe a direita. Quando ele
disser: “Mas não foi com essa mão que
eu roubei!”, corta-se-lhe a mão direita.
4ª Se algum casal de babilónios for apanhado
em atitudes indecorosas na via pública, será
obrigado a repetir tais actos perante um conselho, que ajuizará
da performance de cada um dos intervenientes. Se a performance
for má ou medíocre, o casal será açoitado
no Largo Principal. Se a classificação for
boa ou excelente, talvez se arranje qualquer coisa. Há
sempre trabalho para os artistas.
5ª - Será completamente proibido fumar nos recintos
desportivos fechados. Aliás, será proibido
fumar. Aliás, serão proibidos os recintos
desportivos.
6ª - Ninguém poderá tirar a liberdade
a ninguém, a menos que a isso seja obrigado.
7ª - O recolher passará a ser obrigatório.
O colher continuará facultativo.
8ª - Ao mentiroso ser-lhe-á cortada a língua,
a menos que a mentira seja muito boa.
9ª - Fica assente que os povos bárbaros não
somos nós.
10ª - Todas as disposições sobre trânsito
na babilónia serão transitórias. Ficam
proibidas as más disposições.
Frases
* Diana era a deusa da caça. Mais uma vez, a cedilha
salvou a História.
* Ur foi uma cidade da Babilónia muito útil
para as palavras cruzadas.
* Os gregos eram um povo muito desunido; apenas uma coisa
os unia: a mesma língua. Depravados!
* Aquiles, grande herói da Grécia Antiga,
reformou-se aos 45 anos. Sofria do seu calcanhar.
* Édipo sofria do famoso complexo de Freud.
* Júlio César tinha sede de poder porque
não conhecia, ainda, o gin tónico.
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