Coligações há muitas, seu palerma!

Paulo Portas propôs ontem, no debate do Estado da Nação, que se formasse um governo de coligação alargada, PS, PSD e CDS-PP, para os próximos 3 anos, mas sem o Sócrates a comandar o PS.

Provocação, claro.

Se Portas fosse humilde, teria proposto uma coligação PS, PSD, CDS-PP, mas sem o Portas.

Para o seu lugar, poderia nomear aquela minha colega dos cuidados paliativos, a Isabel Galriça Neto.

Que entusiasmo, o dela, a aplaudir todas as palavras do Portas!

Que embevecimento!

A senhora até saltava da cadeira, ao bater palmas, frenética com o discurso do seu líder.

Alguém a devia informar que o facto de ter sido medalhada no 10 de Junho não a obriga a ser tão apologética.

Este tipo de acólitos devia ser premiado. Por isso, Portas devia ter sugerido uma coligação alargada, mas com Assis a chefiar o PS, Relvas à frente do PSD e Galriça Neto pelo CDS-PP.

Os três actuais líderes retiravam-se pela direita baixa e deixavam os discípulos governarem.

Quanto a nós, é claro que emigrávamos…

“Como os Médicos Chegam ao Diagnóstico”, de Lisa Sanders

Lisa Sanders é professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale e publica, no New York Times, há 6 anos, uma rubrica intitulada “Diagnosis”, onde  conta algumas histórias clínicas interessantes e o modo como se chegou a certos diagnósticos.

A série televisiva “House” é, em parte, baseada na coluna de Lisa Sanders e ela é uma das consultoras da série. Claro que a personagem do Dr. Gregory House não tem nada a ver com a Dra. Lisa Sanders, já que esta se mostra muito compreensiva, preocupada com os doentes e acha que o exame clínico é essencial para se chegar a um diagnóstico, ao contrário do House que, se puder, nem sequer olha para o doente.

Socorrendo-se de meia dúzia de histórias clínicas, contadas como verdadeiras histórias (aliás, o título original do livro é “Every Pacient Tells a Story” e, mais uma vez, não compreendo por que razão o mudaram), Lisa Sanders aproveita para dissertar sobre o erro médico, a importância do exame clínico, a possibilidade de se evoluir para um diagnóstico “digital” e outros temas que, além de interessarem médicos, interessam, também, o leitor em geral.

Claro que as histórias clínicas aqui apresentadas não são tão mirabolantes como as de House, até porque, supostamente, serão todas verdadeiras.

House – 5ª temporada

A 5ª temporada de House tenta regressar às origens, apresentando alguns casos clínicos interessantes, apesar de raríssimos e altamente improváveis.

House continua intratável e consegue sempre fazer esquecer o doente e fazer centrar sobre si próprio as atenções de todos, desde a directora do hospital ao pobre do Dr. Wilson, que House manipula a seu belo prazer.

A meio da série, um dos seus discípulos suicida-se (devia querer mudar de emprego), House fica abalado, aumenta a dose de Vicodin, começa a ter alucinações (que o tradutor insiste em chamar “delírios”!) e faz um “cold turkey” com a ajuda da directora do hospital, acabando por ir para a cama com ela.

Vamos ver como os argumentistas descalçam esta bota na 6ª temporada: um House “clean” e tendo um caso com a Cuddy é capaz de não ter tanta graça.

Avaliações

A propósito da avaliação dos professores e do acordo finalmente conseguido, quero deixar aqui o meu testemunho, após 28 anos de carreira como médico.

Terminei o curso em 1977 com média de 15 e entrei no internado geral, passando pelos Hospitais D. Estefânia, Curry Cabral, Capuchos e S. José, fazendo, ainda 8 meses de Saúde Pública, no Centro de Saúde de Armamar, perto da Régua.

Em seguida, fiz Serviço Médico à Periferia, em Mourão, Alentejo, durante 8 meses, após o que fiz o Serviço Militar Obrigatório, no Hospital Militar de Évora.

Mais tarde, fiz o exame nacional para entrada na especialidade. O exame constava de 100 perguntas de resposta múltipla. Tive 64 respostas certas, o que me permitiu entrar na especialidade de psiquiatria no Hospital Miguel Bombarda. Estive lá 2 anos e meio mas a especialidade desiludiu-me. Decidi entrar na Medicina Geral e Familiar. Foi mais um concurso público e consegui colocação no Centro de Saúde de Almada.

Como não tinha formação específica em Medicina Familiar, frequentei a chamada Formação Específica em Exercício, que durou cerca de um ano e, no final da qual, fui sujeito a um exame público, com um júri composto por três membros, que me atribuiu a nota de 18 valores. Passei a ser assistente de Clínica Geral.

Alguns anos depois, fiz uma prova curricular que me permitiu subir à categoria de assistente graduado, onde ainda me mantenho.

Se quiser ascender ao topo da carreira, terei que aguardar que haja vagas para Chefe de Serviço e sujeitar-me a mais um exame público.

Neste momento, faço parte de Unidade de Saúde Familiar e o meu ordenado é composto por uma parte fixa e outra que varia consoante a minha prestação. Sou avaliado pela qualidade de seguimento das grávidas (devem ter 6 consultas durante a gravidez, revisão de parto efectuada e eco do 1º ou 2º trimestre registada), do seguimento de crianças (devem ter 6 consultas no 1º ano de vida e 3 no 2º ano), do seguimento de mulheres em planeamento familiar (devem ter uma consulta por ano com colpocitologia registada), do seguimento de diabéticos (devem ter 2 consultas anuais, com registo de tensão arterial, ficha lípidica e duas hemoglobinas glicosiladas, sendo que uma delas deve estar abaixo de 8.5%), do seguimento de hipertensos (devem ter duas consultas anuais, com dois registos de tensão arterial, sendo que um deles deve ser abaixo de 140/80 e registo da ficha lipídica). A equipa multiprofissional de que faço parte, é ainda avaliada pela percentagem de mamografias, de crianças com as vacinas em dia, de domicílios médicos e de enfermagem, etc, etc.

I rest my case…

Nip/Tuck – 5ª temporada, 2ª parte

niptuck5_2Já se sabe que Nip/Tuck é a série mais “kinky” da televisão.

Basta dizer que Matt, o filho do cirurgião McNamara que, afinal é filho do outro cirurgião, Christian Troy, uma vez que a sua mães, Julia, dormiu com os dois cirurgiões, muito antes de descobrir que era lésbica, pois Matt casou-se com uma ex-atriz porno, que já fora casada com o Dr. Troy e com ela teve uma menina que, aos 18 meses, já leva com Botox nos lábios para poder fazer campanhas publicitárias.

Depois, os casos clínicos vão desde o tipo que tem o corpo coberto de verrugas enormes, passando pela mulher que corta uma das mamas com uma serra eléctrica na recepção da clínica, e culminando com o tipo que quer fazer uma redução do pénis porque passa o tempo a fazer broche a si próprio.

Esta é mais uma daquelas séries que exige, do espectador, a aceitação do “setting”. Se o aceitarmos, divertimo-nos pela certa.

E a produção é excelente, com o guarda roupa dos actores a condizer com os sofás, ou os cortinados.

Por mim, pode continuar durante mais algumas temporadas.

A soberba de Catarina Carvalho

Não tenho atitudes corporativas.

Claro que há médicos incompetentes, assim como canalizadores, talhantes, jornalistas.

Não costumo comentar assuntos médicos no Coiso – já o disse várias vezes. Sinto-me demasiado envolvido.

Mas a sub-directora do Diário de Notícias, Catarina Carvalho, não me deixa alternativa.

Na sua coluna semanal, a senhora subdirectora conta a sua ida ao Centro de Saúde de Benfica.

Começa por dizer que ficou muito bem impressionada, que pagou apenas dois euros e 25 cêntimos e nem imagina quanto custará, ao Estado, uma consulta médica.

E acrescenta esta frase formidável:

“Esta minha incursão pelo SNS teve bons motivos: tinham-me a dizer que eu já tinha médica de família”.

Para além do uso do verbo “ter” duas vezes na mesma frase, acho curioso a Sra. Subdirectora usar o termo “incursão” para se referir a uma ida ao Centro de Saúde, como se fosse assim uma espécie de aventura, um safari, por exemplo. Será que ela ignora que há pessoas que vão ao Centro de Saúde desde que nascem?

Mas enfim… de que é que a Sra. Subdirectora não gostou?

Do atraso da médica. Diz a jornalista:

“Um atraso à portuguesa, 5, 10 minutos, aguenta-se sem bufar. 40, já doi.”

A Subdirectora do Diário de Notícias, portanto, bufa…

Adiante…

“Então ela chegou. E não me pediu desculpa. Não arranjou um alibi que explicasse o atraso. Acabei por não dizer nada. Fui cobarde, mas qualquer paciente sabe que está numa posição de inferioridade. Esperei para ver como seria a consulta. Nem sequer me auscultou.”

Aqui, passei-me! Conhecem a anedota do J. Cristo que vem à Terra mascarado de médico de família? Pois ele até faz com que um paralítico saia do consultório a andar, mas o paralítico exclama: “Este médico é a merda de sempre! Nem sequer me mediu a tensão!”

A Sra. Subdirectora queria ser auscultada e a médica não lhe fez a vontade! Claro que a médica não tem desculpa para ter chegado atrasada. Devia ser chicoteada em público, no mínimo e deviam ensinar-lhe que uma consulta médica inclui, sempre, uma auscultação!

E Catarina Caravalho não quereria, também, palpação abdominal, observação ginecológica, exame neurológico sumário, palpação mamária, observação da orofaringe, sinais meníngeos? Saberá ela o que deve e não deve ser feito em determinada consulta médica?

Continuando:

“Disse que estava saudável e mediu-me a tensão. Deve ter acabado aqui a minha relação com o SNS. Não por causa dele, coitado, mas por causa dos que não o servem em condições profissionais que me satisfaçam”.

Isto é soberba em estado puro!

Por causa de uma médica que chega atrasada e que não a ausculta, a subdirectora do Diário de Notícias deixa de ir ao Serviço Nacional de Saúde!

É como se eu deixasse de comprar o Diário de Notícias, só porque ele tem uma subdirectora tão obtusa!

A oftalmologia e o futebol

Como é que um árbitro mede a distância a que se deve posicionar a barreira, para a marcação de um livre?

A olhómetro.

Como se chamam os funcionários dos grandes clubes que andam por aí, pelas distritais, à procura de novos talentos?

São os olheiros.

Como se chama um dos clubes que desce à 2ª divisão, este ano?

Boavista.

Como se chama um dos clubes que sobe à 1ª Liga?

Olhanense.

O que se diz a um árbitro que não marca uma grande penalidade clara?

Entre outras coisas: “vai levar no olho!”

O que se grita ao fiscal de linha que não vê um fora de jogo evidente?

“Estás ceguinho ou quê?!”

Há aqui qualquer relação mística entre o futebol e a oftalmologia que ainda não foi bem estudada…

Nip/Tuck – 5ª série

Só esta linha do argumento chega para caracterizar a série mais “kinky” da televisão norte-americana: Matt, o filho do cirurgião plástico Sean McNamara que, afinal, é filho do outro cirurgião, Christian Troy, depois de se ter apaixonado por um(a) transexual, sem saber que ele(ela) o era, apesar de ter tido relações com ele(ela), casou-se com uma das ex-namoradas do seu pai verdadeiro, e ex-actriz porno, de quem teve uma filha mas, como ela voltou à indústria porno, começou a andar com uma israelita com a cara desfeita por um bombista suicida e, finalmente, com uma miúda gira, com uma hemangioma de nascença e que foi operada com muito sucesso por Christian Troy, mas só depois de a desvirginar descobriu que, afinal, era irmão ela, ao mesmo tempo que o seu pai verdadeiro se divertia na cama com a mãe da miúda, uma diabética amputada a ambas as pernas.

Uf!

As restantes linhas do argumento ainda são mais estranhas.

Levada ao extremo da bizarria, só falta mostrar sexo com animais, mas já não deve faltar muito. Talvez na sexta série…

House – 4ª série

Mais uma série em declínio, com muita pena minha.

Má opção, a dos responsáveis da série, ao acabarem com a equipa de três médicos que apoiava House. A tensão entre os seus elementos era um dos atractivos da série.

Metade dos episódios desta 4ª série é passada numa espécie de concurso, graças ao qual House vai escolher os seus novos colaboradores – e a coisa roça o absurdo, uma vez que House e os candidatos ao lugar, fazem experiências com os doentes, como se fossem cobaias. E isto poderia ser interessante, se House fosse cáustico, amargo, misógino, como nas três séries anteriores. Em vez disso, House quase parece patético e adopta um tom de comédia, que não fica nada bem neste tipo de série.

A segunda parte da série quase se safa, mas depois, os dois últimos episódios são novamente tão inverosímeis, que até irrita.

Nas três séries anteriores, os casos clínicos tinham pouca importância. O que importava era o mau feitio de House e o modo como ele (não) se relacionava com a sua equipa, com o oncologista Wilson e com a directora do hospital. Nesta série, os casos clínicos não interessam mesmo nada – ou é sarcoidose, ou lupus, ou amiloidose ou outra coisa qualquer, e isso tem pouca importância, desde que se possa fazer uma ressonância ou espetar uma agulha no cérebro para fazer uma biópsia.

Espero que a 5ª série retome a dinâmica das três primeiras, caso contrário, acabou-se o House.

Aldragripe

Não é meu hábito comentar assuntos relacionados com a minha área profissional.

Penso que estou demasiado envolvido para ter uma opinião isenta.

Mas esta história do surto da gripe, merece algumas palavras e muita reflexão.

Ontem, prolonguei o meu horário. Estive no Centro de Saúde das 8 da manhã às 22 horas. Fiz as minhas consultas programadas até às 16 horas e, depois, fiz a consulta aberta a todos os utentes que solicitam consulta no próprio dia, pertençam, ou não, à minha lista de utentes. Esta consulta – direccionada para os utentes que não puderam ser consultados pelo seu médico de família ou para situações agudas que surgem em horário post-laboral, funciona das 16 às 20 horas, com dois médicos.

No dia 16 de Dezembro – ainda a gripe não existia… – eu a e a minha colega Emília, atendemos 82 pessoas, nesse período de 4 horas.

Ontem, por determinação superior, prolongámos o horário até às 22 horas, devido ao surto de gripe.

Consultámos 56 utentes. Nenhum, entre as 20 e as 22 horas!

Dois médicos, duas enfermeiras, uma administrativa e um segurança, cobraram mais 2 horas extraordinárias ao SNS para satisfazer as paranóias dos jornalistas, que inventaram uma epidemia de gripe.

Dizia-me, ontem um dos doentes que consultei: “É pá! Isto hoje ainda está melhor do que é costume! O doutor chamou-me tão depressa que nem tive tempo para me sentar! Gripe?! Os gajos querem é vender as vacinas que ainda estão em stock! Dizem que ainda há 96 mil vacinas nas farmácias – deviam eram dá-las àquele tipo com risco ao meio, da Direcção-Geral. Todas!”

Quanto a mim, enquanto bocejava à espera dos doentes que nunca apareceram, pensei por que razão os jornalistas foram, a correr, ao Amadora-Sintra, na sexta-feira passada, para filmar a sala de espera cheia de doentes e nenhum apareceu ontem, no meu Centro de Saúde, para filmar a sala cheia… de moscas…