“Skyfall”, de Sam Mendes

Só em 1981 vi o meu primeiro 007. Foi o For Your Eyes Only, com o Roger Moore, no S. Jorge.

Antes disso, achava que os filmes do 007 eram mais um produto da decadência da sociedade burguesa, que eram uma patetice pegada, inverosímeis e inúteis.

E não é que são mesmo?

E não é que, por serem isso mesmo, os filmes do 007 são bem divertidos?

Depois daquele meu primeiro 007, vi todos os que ficaram para trás, graças ao dvd, e fui ao cinema ver todos os que vieram depois.

Digamos que é assim uma espécie de tradição, como ir à Feira do Livro – um tipo pode não comprar livro nenhum, mas acha piada ao passeio.

Gosto deste 007 interpretado pelo Daniel Craig. É duro à brava, machão quanto baste, raramente sorri, fala pouco e é mais humano, no sentido de que até chora!

E também gostei deste Skyfall.

A clássica cena de abertura, que é sempre uma perseguição, é bem esgalhada, e a cena final é épica, uma espécie de Home Alone para adultos. O argumento é engenhoso, mas não muito complexo (ninguém quer pensar muito, quando vai ver um 007), e Javier Bardem faz um vilão excelente.

Vale a pena.

“The Girl With The Dragon Tattoo” (2011), de David Fincher

Fincher conseguiu uma excelente adaptação do livro de Stieg Larsson. Li “Os Homens que Odeiam as Mulheres” em agosto de 2009 e ontem, ao ver o filme, recordei tudo o que li e pareceu-me que nada de importante ficou de fora.

The Girl With The Dragon Tattoo” é filmado a um ritmo alucinante, sem momentos de quebra. O ritmo é logo marcado pelo genérico, que nos dá muitas informações sobre a história, que só quem já leu o livro reconhece, e pelo tema musical que acompanha essa sucessão de imagem – a excelente “Imigrant Son”, dos Led Zeppelin, numa versão superior de Trent Reznor e Karen O.

E depois, a fotografia de Jeff Cronenweth, é cinzenta, quase a preto e branco, o que vai muito bem com a história e com a luz própria da Suécia, durante o Inverno.

Como já é público, Stieg Larsson morreu pouco depois de ter assinado o contrato para publicar a sua trilogia Millenium. Grande fumador, regressava à redacção da sua revista, a Fox, quando deparou com o elevador avariado. Decidiu subir os sete andares e morreu, pouco depois de chegar lá acima.

Se estivesse vivo, era bem capaz de aprovar a escolha de Rooney Mara para interpretar o papel de Lisbeth Salander, a verdadeira heroína desta história.

Mara pegou bem na personagem e, para quem leu o livro, é uma Lisbeth convincente.

Quanto a Daniel Craig, também não tem grande dificuldade em personificar o jornalista/investigador Mikael Blomkvist.

Mas o principal culpado do excelente resultado final deste filme é David Fincher.

Desta vez, tenho que aplaudir quem decidiu traduzir “The Girl with the Dragon Tattoo” por “Os Homens que Odeiam as Mulheres”, que é a tradução correcta do título original do livro, que é “Man Som Hatar Kvinnor”.

“Quantum of Solace”, de Marc Forster

Não gostei deste filme do 007.

Talvez tenha sido porque:

– a sala estava cheia e o calor era insuportável! a Lusomundo do Fórum Almada não deve saber onde fica o botão da temperatura do ar condicionado e, mesmo de t-shirt, senti um calor de ananases!

– o som estava tão alto que gramei as apresentações dos próximos filmes tapando os ouvidos ou ficava surdo. Como o filme do Bond é uma sucessão de explosões, saí da sala com um zumbido que se manteve até às 3 da manhã;

– durante todo o filme, ouvi o irritante som do “nha-nhac” da malta toda a empatnurrar-se com quilos de pipocas e o “shlurp-shlurp” da gajada a absorver quilolitros de Pepsi (bilhac!);

– o filme tem um intervalo idiota, que apenas serve para o “refill” das pipocas e da Pepsi;

– as cadeiras são incómodas.

Apesar disto:

A história deste “Quantum of Solace” é tão simples que eu não percebi nada. Entram uma série de organizações, tipo MI-6, CIA, PSP, GNR, BPN, MOSAD, FENPROF, CGTP e PCP-ML e, às tantas, um tipo já não sabe quem é que está a bater em quem.

O filme é uma sucessão alucinante de perseguições e explosões e cenas de porrada, tão rápidas, com uma montagem tão frenética que ninguém percebe nada do que se passa, de quem bate em quem, de quem mata quem.

O realizador diz, em entrevista, que este Bond é mais humano porque tem menos engenhocas. Ó pá! Estás a delirar: mais realista, mais humano? Deves estar a brincar comigo – o gajo leva tanta porrada que devia ter morrido a meio do filme! E um Bond sem engenhocas, não é um Bond – é como um Superman sem super-poderes!

A Bond girl não tem graça nenhuma. Está muito traumatizada porque a mãezinha dela e a mana mais velha foram violadas por um presidente boliviano que é um cliché ambulante e, por isso mesmo, devia pertencer a outro filme. Nos filmes de Bond, as gajas não estão traumatizadas – gostam é de porrada e de uma boa queca…

Enfim, o Daniel Craig é, de facto, um bom Bond – mas este Quantum é uma seca…