Schostakovich e a morte de Estaline

Foi este o título genérico escolhido para o concerto de ontem da Orquestra Metropolitana de Lisboa, na Reitoria da Aula Magna da Universidade de Lisboa.

Dois autores em foco: um, que não esteve para aturar o Estaline e emigrou para os States – Rachmaninov; e outro, que aguentou, ficou na União Soviética e encaixou as críticas, nomeadamente as do Congresso Nacional de Compositores soviéticos, que considerou, em 1948, a sua música formalista e adversa aos desígnios da Revolução.

Rachamninov, nos Estados Unidos, deu largas ao seu romantismo e ontem assistimos à execução do seu concerto para piano nº4, com António Rosado ao piano. Irrepreensível.

No final, como encore, Rosado tocou uma composição de Debussy, autor de que é especialista.

Mas, para mim, o melhor do concerto foi a segunda parte: a 10ª Sinfonia de Schostakovich.

Já a tinha visto, ao vivo, no Teatro São Luiz, nos anos 70 do século passado. Lembro-me que, nessa altura, sentados no 2º balcão, ficámos estarrecidos com a energia desta sinfonia. Mesmo no final, o músico encarregado da tarola, no frenesim de atacar o instrumento, perdeu uma baguete.

Ontem, também um segundo violino viu uma das suas cordas não aguentar a refrega a que é sujeita no último andamento e rebentar!

Segundo o folheto distribuído na aula magna, o segundo tema melódico do terceiro andamento, deriva do nome do compositor (D-S-C-H, isto é Ré, Mi bemol, Dó, Si). Mais à frente, a trompa irrompe com outro tema melódico, que terá sido inspirado pelo nome da sua aluna, porque quem estava apaixonado – E-Lá-Mi-Ré-A, isto é, Elmira (Nazirova).

Individualismo? Onde está o povo? – diria Estaline. Só que o ditador já estava morto quando Schostakovich compôs esta sinfonia.

O mesmo texto distribuído acrescenta que as sinfonias deste compositor “são propensas a uma obstinação que se afunda em angústia e resiliência, mas também são capazes de exaltações épicas, ou de embalarem no doce encanto da afectação melódica” (texto de Rui Campos Leitão).

Estou totalmente de acordo. Ao escutar esta 10ª Sinfonia de Schostakovich senti exaltação, angústia, raiva, opressão, libertação, alegria e, sinceramente, emocionei-me, como já tinha acontecido há 40 anos!

A Orquestra Metropolitana de Lisboa foi muito competente, sob a batuta do enérgico Pedro Neves.

Cinco estrelas!

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